quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

O Tributo





O Tributo

por Susanne Schwartzkopff


Marcos 12, 13-17

Ali estava o bando de seus inimigos ao redor do Filho de Deus, com feições hipócritas e palavras lisonjeiras nos lábios, no coração, porém, um ódio ardente contra o incômodo anunciador da Verdade, que não os poupava, não os reconhecia como um poder, que, pelo contrário, desmascarava sua hipocrisia onde se encontrava.
O que eles não dariam se pudessem impossibilitá-lo de falar!
Pois o povo já se voltava a ele e se desligava deles, os quais eram os legítimos administradores das doutrinas e dos estatutos transmitidos, em relação às quais não se poderia mudar nem um triz, pois com isso eles próprios também desabariam.
O poder em suas mãos, o único que eles podiam exercer, não queriam perder por nenhum preço.
Até a morte de Jesus os fariseus não cederam nessa luta por sua valia.

É-nos narrado que seus inimigos queriam pegá-lo “com palavras”.
Portanto, eles queriam aniquilá-lo naquilo que consistia sua missão, na Palavra da Verdade, eles queriam usá-la contra ele e atingi-lo mortalmente no ponto mais decisivo.
Se eles pudessem apresentar a palavra de sua boca, a qual já conduzira muitos para o reconhecimento da Verdade, como errônea e prejudicial, então o poder, que reclamavam para si próprios, lhe seria tirado.
E, por esse poder eles estavam sedentos.

Num cálculo astucioso, a armadilha espertamente armada, de modo que ele não pudesse escapar, assim eles se aproximaram do Filho de Deus e asseguraram a ele, mentirosamente, que acreditavam na verdade de suas palavras e na legitimidade de sua doutrina.
E então veio a pergunta na qual residia uma armadilha oculta para ele:

“É lícito pagar o tributo a César? Devemos pagar, ou não?”

Um olhar bastou para Jesus reconhecer a falsidade deles.
Mas ele não se desviou da pergunta.
Ele não se esquivou.
Avidamente seus inimigos estavam presos à sua boca – ele prenderia?
Se ele dissesse: “Não deveis nenhum tributo a Roma, vós sois judeus e apenas súditos forçados do Imperador”, assim publicamente, ele seria apresentado como agitador contra Roma e poderia ser tornado inofensivo, se, contudo, clamasse aos judeus que eles precisassem pagar o tributo ao imperador, então atrairia o ódio deles para si, pois de forma faiscante ardia o ódio no coração dos judeus contra o opressor romano.
Desta ou daquela maneira – de qualquer forma a resposta seria contra ele.
Assim eles julgavam.
Ocorreu, porém, de forma bem diferente.

Com uma superioridade e uma tranquilidade Divina, Jesus rompeu a rede de astúcia tecida hostilmente.
Com a moeda romana que se encontrava em circulação ele mesmo deixou reconhecer que o tributo cabia ao imperador que cunhava as moedas que serviam a todos.
Curta e decisiva foi a resposta:

 “Daí a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus!”  

Quão surpreendente, quão inesperada foi essa solução!
Novamente vivenciamos como o Filho de Deus coloca tudo dentro dos grandes limites das Leis Divinas, tudo no lugar que lhe é determinado.
E nesse caso significa:
Onde e como o ser humano tem obrigação?
Seu dedo indicava para ambos os lugares, para a autoridade terrena e para Deus, o Criador, a quem o ser humano deve sua existência.
A ambos o ser humano se encontra numa situação de obrigação, de precisar dar. Isto é uma verdade manifesta, que não pode ser posta em dúvida, e como ambas pertencem uma à outra – uma única e pequena palavrinha mostra isso, a palavrinha “e” – assim nada pode ser objetado contra a obrigação terrena.
Sem a obediência para com Deus o ser humano não é o que deve ser:
Sua criatura, que se curva agradecida e voluntariamente a Ele.
Sem a obediência terrena ele não é um cidadão terreno como deve ser, mas sim um perturbador da paz.
Estando o ser humano inserido na ordem Divina, bem como na terrena, então ele se encontra em seu lugar, e na verdade, sempre como um ser que tem a obrigação de dar.
Seu tributo é a obediência que ele deve, para com os Mandamentos de Deus, obediência perante as leis do Estado.
Novamente a Verdade havia sido dita e não existia nenhuma contestação contra ela.
Até mesmo os astutos inimigos cheios de ódio precisavam se retrair abatidos e envergonhados.
De um posto mais elevado sua pequenez fora rechaçada.

“E admiraram-se dele”, assim está escrito.
Isto é bem compreensível, pois aqui fora falado de uma superioridade que lhe era inalcançável e que lhes fazia sentir sua inferioridade.

Jesus expôs ai, de forma clara, o dever fundamental do ser humano.
Contra isso não havia uma oposição.
Contudo, uma pressuposição deve existir: que a ordem terrena não contrarie a ordem Divina.
E com isso chegamos à pergunta, que se encontra tão próxima de nós, seres humanos modernos:
Nós não vivenciamos que a ordem mundial, que possuía o poder nas mãos, exigia de seus súditos descrença em Deus?
Nascia como uma má sementeira, envenenava muitos e derrubava inúmeros na desgraça.

Como era possível isso?

Isso pôde acontecer pelo fato de que muitos esqueceram que não se deve colocar César (o soberano) no lugar de Deus e unicamente a ele pagar tributo.
Que ambas as coisas são necessárias: dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.
Contudo, se ambas as coisas não puderem ser conciliadas então a preferência deve ser dada à obrigação mais elevada, à obrigação Divina, pois de outra forma as ordens eternas e regulares da Criação são destruídas:
Ao imperador é dado o tributo de Deus que não lhe cabe, e a obrigação para com Deus é posta de lado, para desgraça de todos.

Tenhamos sempre em mente: nós estamos obrigados a dar. À Deus e à autoridade terrena.
Não é impossível obedecermos a Deus e a autoridade terrena, pois um negligente da ordem terrena está contra a Vontade de Deus.
Contudo, é muito bem possível que tenhamos que obedecer mais a Deus do que aos seres humanos, a saber, quando é exigido de nós um agir e uma obediência contra Deus.
Em tais casos só existe uma possibilidade de decisão: a análise da consciência.

Apenas a consciência pode escolher de forma clara e inequívoca a correta decisão, que dá a Deus Seu tributo, o qual jamais deve faltar.

Através da história da humanidade seguiu-se uma longa corrente de mártires que preferiram morrer a agir contra sua consciência.
O agir deles fortaleceu inúmeras pessoas no bem, seu exemplo entusiasmou muitos a ter semelhante coragem e ajudou a manter de pé o poder do bem sobre a Terra.

Todos nós nos encontramos atualmente várias vezes diante da pergunta:

devo obedecer a esta ou àquela lei?
Eu não me despojo de algo que poderia ser vantajoso e que não devo, se eu obedecer aqui?
Não posso contornar esta lei, sem maiores prejuízos?
Muitos fazem isto, porque eu também não posso?
O que há de mal?    

Assim fala o ser humano que não reflete porque uma lei fora dada, que vê apenas sua própria vantagem aí.
Mas quando observamos de modo mais preciso, então geralmente encontramos o motivo pelo qual uma determinação precisou ser decretada.
Ela já está em ordem, apenas não nos serve.
Gostamos muito mais de nos permitir uma exceção.
Mas exceções são o começo de uma violação e é estranho e surpreendente quão rápido essas “exceções” encontram ressonância em tantas pessoas e são imitadas!

Se analisarmos as presentes perguntas com o coração de maneira correta, então temos que dizer: “se a lei é justa, então nós não temos nenhum direito de burlá-la.
Temos que a obedecer, mesmo que ela nos seja difícil e incômoda.”
Devemos então nos lembrar da clara exigência de Jesus:

Daí a César o que é de César.

O lugar de muitas negligências no pensar e no compreender seria ocupado por uma saudável ordem, que só pode beneficiar a todos nós, jamais prejudicar, se cumprirmos esse mandamento.
E com isso também cumpriremos a Vontade de Deus.
Negligência e amor próprio não se coadunam com a Vontade de Deus.
Eles esquivam-se das últimas consequências, e exatamente essas são decisivas, pois elas são a conhecida pedra que dá início à avalanche.

Começando, porém, a dar nosso tributo terreno de forma integral, então reconheceremos de forma melhor e mais clara, em que também nossa dívida está em falta para com Deus.
Então novamente ambos se completarão – o tributo terreno e o tributo que temos que pagar a Deus.
Um ajuda ao outro.
E até que ambos não se encontrarem “em ordem” e não forem pagos pontualmente, nosso mundo humano não encontrará a paz.