O Tributo
por Susanne Schwartzkopff
Marcos 12, 13-17
Ali estava o bando de seus
inimigos ao redor do Filho de Deus, com feições hipócritas e palavras
lisonjeiras nos lábios, no coração, porém, um ódio ardente contra o incômodo
anunciador da Verdade, que não os poupava, não os reconhecia como um poder,
que, pelo contrário, desmascarava sua hipocrisia onde se encontrava.
O que eles não dariam se pudessem
impossibilitá-lo de falar!
Pois o povo já se voltava a ele e
se desligava deles, os quais eram os legítimos administradores das doutrinas e
dos estatutos transmitidos, em relação às quais não se poderia mudar nem um
triz, pois com isso eles próprios também desabariam.
O poder em suas mãos, o único que
eles podiam exercer, não queriam perder por nenhum preço.
Até a morte de Jesus os fariseus
não cederam nessa luta por sua valia.
É-nos narrado que seus inimigos
queriam pegá-lo “com palavras”.
Portanto, eles queriam
aniquilá-lo naquilo que consistia sua missão, na Palavra da Verdade, eles
queriam usá-la contra ele e atingi-lo mortalmente no ponto mais decisivo.
Se eles pudessem apresentar a
palavra de sua boca, a qual já conduzira muitos para o reconhecimento da
Verdade, como errônea e prejudicial, então o poder, que reclamavam para si
próprios, lhe seria tirado.
E, por esse poder eles estavam
sedentos.
Num cálculo astucioso, a
armadilha espertamente armada, de modo que ele não pudesse escapar, assim eles
se aproximaram do Filho de Deus e asseguraram a ele, mentirosamente, que
acreditavam na verdade de suas palavras e na legitimidade de sua doutrina.
E então veio a pergunta na qual
residia uma armadilha oculta para ele:
“É lícito pagar o tributo a César? Devemos pagar, ou não?”
Um olhar bastou para Jesus
reconhecer a falsidade deles.
Mas ele não se desviou da
pergunta.
Ele não se esquivou.
Avidamente seus inimigos estavam
presos à sua boca – ele prenderia?
Se ele dissesse: “Não deveis
nenhum tributo a Roma, vós sois judeus e apenas súditos forçados do Imperador”,
assim publicamente, ele seria apresentado como agitador contra Roma e poderia
ser tornado inofensivo, se, contudo, clamasse aos judeus que eles precisassem
pagar o tributo ao imperador, então atrairia o ódio deles para si, pois de
forma faiscante ardia o ódio no coração dos judeus contra o opressor romano.
Desta ou daquela maneira – de
qualquer forma a resposta seria contra ele.
Assim eles julgavam.
Ocorreu, porém, de forma bem
diferente.
Com uma superioridade e uma
tranquilidade Divina, Jesus rompeu a rede de astúcia tecida hostilmente.
Com a moeda romana que se
encontrava em circulação ele mesmo deixou reconhecer que o tributo cabia ao
imperador que cunhava as moedas que serviam a todos.
Curta e decisiva foi a resposta:
“Daí a César o que é de César, e
a Deus o que é de Deus!”
Quão surpreendente, quão
inesperada foi essa solução!
Novamente vivenciamos como o
Filho de Deus coloca tudo dentro dos grandes limites das Leis Divinas, tudo no
lugar que lhe é determinado.
E nesse caso significa:
Onde e como o ser humano tem
obrigação?
Seu dedo indicava para ambos os
lugares, para a autoridade terrena e para Deus, o Criador, a quem o ser humano
deve sua existência.
A ambos o ser humano se encontra
numa situação de obrigação, de precisar dar. Isto é uma verdade manifesta, que
não pode ser posta em dúvida, e como ambas pertencem uma à outra – uma única e
pequena palavrinha mostra isso, a palavrinha “e” – assim nada pode ser objetado
contra a obrigação terrena.
Sem a obediência para com Deus o
ser humano não é o que deve ser:
Sua criatura, que se curva
agradecida e voluntariamente a Ele.
Sem a obediência terrena ele não
é um cidadão terreno como deve ser, mas sim um perturbador da paz.
Estando o ser humano inserido na
ordem Divina, bem como na terrena, então ele se encontra em seu lugar, e na
verdade, sempre como um ser que tem a obrigação de dar.
Seu tributo é a obediência que
ele deve, para com os Mandamentos de Deus, obediência perante as leis do
Estado.
Novamente a Verdade havia sido
dita e não existia nenhuma contestação contra ela.
Até mesmo os astutos inimigos
cheios de ódio precisavam se retrair abatidos e envergonhados.
De um posto mais elevado sua
pequenez fora rechaçada.
“E admiraram-se dele”, assim está
escrito.
Isto é bem compreensível, pois
aqui fora falado de uma superioridade que lhe era inalcançável e que lhes fazia
sentir sua inferioridade.
Jesus expôs ai, de forma clara, o
dever fundamental do ser humano.
Contra isso não havia uma
oposição.
Contudo, uma pressuposição deve
existir: que a ordem terrena não contrarie a ordem Divina.
E com isso chegamos à pergunta,
que se encontra tão próxima de nós, seres humanos modernos:
Nós não vivenciamos que a ordem
mundial, que possuía o poder nas mãos, exigia de seus súditos descrença em
Deus?
Nascia como uma má sementeira,
envenenava muitos e derrubava inúmeros na desgraça.
Como era possível isso?
Isso pôde acontecer pelo fato de
que muitos esqueceram que não se deve colocar César (o soberano) no lugar de
Deus e unicamente a ele pagar tributo.
Que ambas as coisas são necessárias: dar a César o que é de César e
a Deus o que é de Deus.
Contudo, se ambas as coisas não
puderem ser conciliadas então a preferência deve ser dada à obrigação mais
elevada, à obrigação Divina, pois de outra forma as ordens eternas e regulares
da Criação são destruídas:
Ao imperador é dado o tributo de
Deus que não lhe cabe, e a obrigação para com Deus é posta de lado, para
desgraça de todos.
Tenhamos sempre em mente: nós
estamos obrigados a dar. À Deus e à
autoridade terrena.
Não é impossível obedecermos a
Deus e a autoridade terrena, pois um negligente da ordem terrena está contra a
Vontade de Deus.
Contudo, é muito bem possível que
tenhamos que obedecer mais a Deus do que aos seres humanos, a saber, quando é
exigido de nós um agir e uma obediência contra Deus.
Em tais casos só existe uma
possibilidade de decisão: a análise da consciência.
Apenas a consciência pode
escolher de forma clara e inequívoca a correta decisão, que dá a Deus Seu
tributo, o qual jamais deve faltar.
Através da história da humanidade
seguiu-se uma longa corrente de mártires que preferiram morrer a agir contra
sua consciência.
O agir deles fortaleceu inúmeras
pessoas no bem, seu exemplo entusiasmou muitos a ter semelhante coragem e
ajudou a manter de pé o poder do bem sobre a Terra.
Todos nós nos encontramos
atualmente várias vezes diante da pergunta:
❝devo obedecer a esta ou àquela
lei?
Eu não me despojo de algo que
poderia ser vantajoso e que não devo, se eu obedecer aqui?
Não posso contornar esta lei, sem
maiores prejuízos?
Muitos fazem isto, porque eu
também não posso?
O que há de mal? ❞
Assim fala o ser humano que não
reflete porque uma lei fora dada, que vê apenas sua própria vantagem aí.
Mas quando observamos de modo
mais preciso, então geralmente encontramos o motivo pelo qual uma determinação
precisou ser decretada.
Ela já está em ordem, apenas não
nos serve.
Gostamos muito mais de nos
permitir uma exceção.
Mas exceções são o começo de uma
violação e é estranho e surpreendente quão rápido essas “exceções” encontram
ressonância em tantas pessoas e são imitadas!
Se analisarmos as presentes
perguntas com o coração de maneira correta, então temos que dizer: “se a lei é
justa, então nós não temos nenhum
direito de burlá-la.
Temos que a obedecer, mesmo que
ela nos seja difícil e incômoda.”
Devemos então nos lembrar da
clara exigência de Jesus:
Daí a César o que é de César.
O lugar de muitas negligências no
pensar e no compreender seria ocupado por uma saudável ordem, que só pode
beneficiar a todos nós, jamais prejudicar, se cumprirmos esse mandamento.
E com isso também cumpriremos a
Vontade de Deus.
Negligência e amor próprio não se
coadunam com a Vontade de Deus.
Eles esquivam-se das últimas
consequências, e exatamente essas são decisivas, pois elas são a conhecida
pedra que dá início à avalanche.
Começando, porém, a dar nosso
tributo terreno de forma integral, então reconheceremos de forma melhor e mais
clara, em que também nossa dívida está em falta para com Deus.
Então novamente ambos se
completarão – o tributo terreno e o tributo que temos que pagar a Deus.
Um ajuda ao outro.
E até que ambos não se encontrarem “em ordem” e não
forem pagos pontualmente, nosso mundo humano não encontrará a paz.