Ciência e Humanidade
Pergunta: Existe
algo não pronunciado entre a ciência e a humanidade em geral, que não age
ligando, mas separando, ao passo que a humanidade, enfim, tem um direito direto
à ciência.
Resposta: Naturalmente
a humanidade inteira tem pleno direito à ciência, pois esta procura apenas
tornar mais compreensível a dádiva de Deus, a Criação. A atividade propriamente
de cada ramo da ciência se encontra na tentativa de perscrutar mais de perto as
leis do Criador, a fim de que essas, pelo seu conhecimento mais apurado, possam
ser utilizadas mais proveitosamente para o bem da humanidade.
Tudo
isso não é nada mais do que um submeter-se à vontade divina.
Visto
que a Criação e as leis da natureza ou de Deus, as quais a mantêm, são tão
nítidas e simples em sua perfeição, devia resultar como consequência lógica uma
explicação singela e simples por parte de quem realmente as tenha reconhecido.
Estabelece-se
aqui, porém, uma diferença sensível que por sua natureza malsã abre um abismo
cada vez mais amplo entre a humanidade e os que se cognominam discípulos da
ciência, isto é, discípulos do saber ou da Verdade.
Estes
não se expressam de modo tão simples e natural como corresponderia à Verdade,
portanto ao verdadeiro saber, sim, como a Verdade, acima de tudo, requer como
consequência natural.
Tem
isso duas causas ou, mais precisamente, três. Pelos esforços, especiais segundo
sua opinião, dedicados aos estudos, esperam uma posição de destaque. Não querem
se convencer de que tais estudos constituem também apenas um empréstimo tomado
à Criação formada, conforme semelhantemente faz um simples camponês pela serena
observação da natureza, para ele necessária, ou outras pessoas em seus
trabalhos práticos o devam fazer.
Além
disso, um discípulo da ciência sempre terá de se expressar sem clareza, pela natureza
da coisa, enquanto não se aproximar direito da Verdade em seu saber. Só quando
tiver compreendido realmente a própria Verdade, tornar-se-á, também por causa
da natureza da coisa, necessariamente simples e natural em suas descrições. Não
é, pois, segredo algum que exatamente os que nada sabem, em suas fases
transitórias para o saber, gostam de falar mais do que os próprios entendidos e
terão aí de se servir sempre da falta de clareza, porque de outra maneira não
são capazes, se ainda não tiverem diante de si a Verdade, isto é, o real saber.
Em
terceiro lugar, existe realmente o perigo da maioria das criaturas humanas dar
pouco apreço à ciência, se esta quiser mostrar-se com o manto natural da
Verdade. Os seres humanos a achariam “natural demais” para poder dar-lhe muito
valor.
Não
raciocinam que exatamente isso é o único certo, proporcionando
inclusive o padrão para tudo quanto é legítimo e verdadeiro. A garantia da
Verdade reside, tão-só, na sua evidência natural.
Mas
para tanto os seres humanos não serão tão facilmente convertidos, pois também
não quiseram reconhecer em Jesus o Filho de Deus, porque ele lhes veio
“demasiadamente simples”.
Os
discípulos da ciência sempre estiveram muito bem a par desse perigo. Por isso
fecharam-se cada vez mais, por sagacidade, à simplicidade natural da Verdade. A
fim de fazer valer a si mesmos e a sua ciência, criaram, em suas reflexões
cismadoras, obstáculos cada vez mais difíceis.
O
cientista, destacando-se da massa, desprezava finalmente expressar-se de modo
simples e compreensível a todos. Muitas vezes apenas pelo motivo, por ele
próprio mal conhecido, de que certamente não lhe restaria muito de destaque, se
não formasse um modo de expressão que, necessariamente, só em longos anos de
estudos poderia ser aprendido de modo especial.
O
fato de não se tornar compreensível a todos, criou-lhe, com o tempo, uma
primazia artificial, que foi conservada a qualquer preço pelos alunos e
sucessores, visto que do contrário, para muitos, os estudos de anos e os
sacrifícios monetários a isso ligados, realmente, teriam sido em vão.
Chegou-se
assim hoje a tal ponto que nem é mais possível a muitos cientistas se
expressarem perante pessoas simples de modo claro e compreensível, isto é, de
maneira simples. Tal empenho, agora, exigiria decerto o estudo
mais difícil e tomaria mais tempo do que uma geração inteira. Antes de
tudo, para muitos resultaria desagradavelmente, pois então apenas sobressairiam
ainda aquelas pessoas que tivessem algo a dar à humanidade com real capacidade,
estando com isso dispostas a servi-la.
Atualmente,
para a generalidade, é característica marcante do mundo dos cientistas a
mistificação por incompreensibilidade como semelhantemente já foi hábito em
assuntos eclesiásticos, onde os servidores de Deus terrenalmente escolhidos
como guias e condutores só falavam em latim a todos quantos buscavam devoção e
elevação, o que estes não entendiam e, portanto, também não podiam abranger nem
assimilar, somente com o que conseguiriam obter algum lucro. Os servidores de
Deus poderiam ter falado igualmente em siamês na ocasião, com o mesmo insucesso.
O
verdadeiro saber não deve precisar tornar-se incompreensível, pois encerra em
si ao mesmo tempo a faculdade, a necessidade, sim, de se expressar com palavras
singelas. A Verdade é, sem exceção, para todas as criaturas
humanas, pois estas se originam dela, porque a Verdade é viva no
espírito-enteal, o ponto de partida do espírito humano. Daí se infere que a
Verdade pode ser compreendida também em sua singeleza natural por todas as criaturas
humanas. Tão logo, porém, ao ser transmitida se torne complicada e
incompreensível, não permanece mais pura e verdadeira, ou então as descrições
se perdem em coisas secundárias que não têm aquele sentido como núcleo. Esse
núcleo, o autêntico saber, tem de ser compreensível a todos. Algo
artificialmente arquitetado, por sua distância da naturalidade, pode conter em
si apenas pouca sabedoria. Quem não é capaz de transmitir o verdadeiro saber de
modo simples e natural, não o compreendeu, ou então procura
encobrir algo involuntariamente, ou se apresenta como um boneco enfeitado e sem
vida.
Quem
na lógica ainda deixar lacunas e exigir crença cega, reduz a um ídolo
defeituoso o Deus perfeito e prova que não se acha no caminho certo, não
podendo, portanto, guiar com segurança. Seja isso uma advertência a cada
perscrutador sincero!
Abddrushin
Publicação
original em Folhetos do Graal (Gralsblätter)