terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Sobre a Vida dos Celtas V




Para leitura do episódio anterior: Sobre a Vida dos Celtas IV

Sobre a vida dos Celtas – V
  
Por Charlotte von Troeltsch e Suzanne Schwartzkoff

Anteriormente: Seabhac Habicht mantém a ordem de proibição por exigência Superior da prática do sacrifício humano, no culto dos druidas, e se casa com Meinin, uma princesa vinda de um reino distante em busca de asilo...


Então havia chegado a época da lua cheia. A festa deveria ser celebrada. E por ocasião dela as mulheres e moças deveriam permanecer distantes, apenas os homens é que podiam orar juntos ao Pai Eterno.
— “Da próxima vez nós também estaremos lá” prometeu Meinin sorrindo e Seabhac também acreditava nisso.
De todas as redondezas da tribo afluíam homens para o grande local rodeado com pedras. Eles estavam curiosos a respeito da festa, pois se não havia prisioneiros, como seriam então realizados os sacrifícios?
Seabhac caminhou calmamente conforme era seu costume para um local de pedra mais elevado, na orla mais extrema e de onde todos os homens reunidos podiam avistá-lo. Exatamente no momento que ele quis se sentar sobre uma poltrona de pedra bruta coberta por uma espessa e branca pele de lobo, Nuado aproximou-se dele.





— “Ouça, Habicht” dirigiu ele a Seabhac a palavra, com uma voz que não era possível ser percebida por ouvidos humanos, mas que, porém, soava alta e nítida ao soberano: nesta festa tu deverás me emprestar teus lábios, pois o Pai Eterno quer que a festa e a adoração sejam realizadas de forma diferente do que até então. Padraic esforçou-se de fato por nos compreender, mas apenas por egoísmo. Ele não pode suportar que outro possa receber ordens do Pai Eterno. Ele acha que pode obrigar essa graça para si.
Reúna tua alma em oração e deixe todo o pensar e querer próprio totalmente de lado. Apenas assim eu posso atuar através de ti. A bênção do Pai Eterno estará contigo se tu mesmo renunciares a ti próprio.

Seabhac tomou seu lugar e Nuado permaneceu ao seu lado. Muita força afluía dele para o ser humano que fielmente procurava se aprofundar numa íntima oração, conforme a ordem recebida. Ele não sabia como tinha de fazer para se desligar, mas inconscientemente ele começou corretamente. 
Ele agradecia ao Pai Eterno pela elevada graça que lhe fora dada; ele louvava o dirigente de todos os mundos e, através disso, ele se esqueceu de si.
Batidas de gongo anunciavam o início da festa. Os gongos tinham diversos tamanhos e eram feitos de toda espécie de metais, de modo que cada um dava outro som. Era trabalho dos alunos dos sacerdotes fazer com que esses gongos soassem, fazendo com que estes se harmonizassem. Batidas curtas e longas, bem como a força empregada nelas colaboravam para evitar um som único. Lentamente os jovens que batiam nos gongos caminharam vestidos em longas vestes brancas para junto do aglomerado de pessoas, tomando lugar dentro do círculo dos homens em devoção que estavam lado a lado e que rodeavam o local e a pedra de sacrifícios.
Atrás deles caminhavam os druidas e em seu meio Padraic, o superior deles. Eles aproximaram-se da pedra de sacrifícios. Este era o sinal que cada ruído deveria desaparecer. No mesmo instante eles ergueram os braços e as mãos. As mangas compridas de suas vestes azuis estavam presas aos punhos. Com isso elas não caíam para trás, mas despertavam a impressão de um grande vibrar azul.
A oração inicialmente muda converteu-se, de repente, em palavras, que os sacerdotes falavam a todos de forma bem medida. Isso soava indescritivelmente solene e jamais deixava de impressionar os devotos, cujas almas eram arrastadas junto. Hoje, porém, a curiosidade era tão grande que muitos pensamentos se desviavam e roubavam a devoção da oração.

A oração soava sempre iniciando três vezes com a frase “Pai Eterno, ouça-nos!”. 
Com isso os sacerdotes afastavam-se um pouco, formando também, por sua vez, um círculo em torno da pedra de sacrifícios, à qual Padraic se encontrava ainda unicamente sozinho. 
Então, ele começou a falar. 
Ninguém notou quão difícil isso se lhe tornara, pois apesar de ter lutado e suplicado dia e noite, seus pedidos não haviam sido ouvidos, não lhe havia sido dado receber a menor ordem. 
Vazio encontrava-se ele diante dos homens, os quais esperavam tudo dele, e ele tinha de manter a aparência. Não lhe era uma questão de honra, mas muito mais uma necessidade de vida, valer algo perante as pessoas.
— “Ouvi-me, vós homens de nossa tribo” disse ele com as palavras que ele sempre utilizava.
Agora tinha de vir o novo. 
Como deveria ele formar isso, ele não sabia. 
Corajosamente ele prosseguiu:

— “O Pai Eterno falou a nós, seres humanos, Ele nos comunicou Suas ordens. Desde há longos tempos os filhos dos Celtas realizavam sacrifícios para a honra do Pai Eterno a fim de descobrir Sua vontade. Eles se transformaram de crianças em homens. O Pai Eterno inclina-se a eles e os honra, ao comunicar-se com eles por meio dos mensageiros luminosos. De forma diferente realizar-se-ão, então, as festas.”

Padraic calou-se. 
Ele não sabia mais o que dizer. 
Então seu olhar caiu sobre Seabhac, o qual havia se erguido de seu acento. 
O que o teria estimulado para falar rapidamente, vendo que Seabhac queria dizer algo, fez com que se calasse completamente. Ele sabia que o Pai Eterno preferia o príncipe aos druidas. 
Mais poderosa se tornou essa consciência, do que sua própria vontade. 
Ele indicou com as mãos trêmulas e exclamou: “Ouçam-no!”

Depois disso ele retrocedeu para junto do círculo dos druidas. O lugar junto a pedra de sacrifícios estava vazia. Os homens voltaram-se todos em direção ao acento do príncipe, sobre o qual Seabhac se encontrava. 
Um vento suave fez com que seus cabelos balançassem, de modo que a cabeça ficasse como que emoldurada por um brilho avermelhado. 
As mãos, o príncipe as havia colocado uma à outra. 
Então ele começou a falar e a sua voz soava a todos eles de forma nova e desconhecida, apesar de já terem ouvido muitas vezes Seabhac falar.

— “Servos do Pai Eterno, eu vos saúdo! Vós sois servos do dirigente dos mundos, servos sobre a Terra, assim como os luminosos nos céus. Vós deveis aprender dos servos luminosos a adorar em verdade ao Pai Eterno. Deixai o vosso modo humano de lado e aprofundai-vos naquilo que vos será anunciado.
Elevado é o Pai Eterno sobre todo o saber e a compreensão humana. A ele não agrada o sacrifício de criaturas, quer sejam pessoas ou animais. Se quiserdes realizar sacrifícios, então trazei a vós mesmos para esse ato. Renunciai a vós no servir ao Pai Eterno.
Colocai vossa vontade própria, vossa raiva incontida, vossa cobiça por honra, bens e poder sobre a pedra de sacrifícios. Deixai que essas coisas sejam consumidas nas chamas do fogo de sacrifícios, o qual arde dos recipientes para cima.
Tornai-vos seres humanos melhores por ocasião de cada festa, vós que vos reunis aqui.”

Seabhac calou-se. Ele não estava consciente disso. Nele vibravam os sons das palavras de Nuado, que haviam fluído através dele. Os homens, porém, consideraram o silêncio como um estímulo para que falassem o que eles pensavam. Por alguns momentos eles entreolharam-se como se quisessem decidir quem deveria começar. Então Goll, um dos mais velhos de todos, adiantou-se um passo e disse:
— “De fato tu, príncipe Seabhac, anuncias algo novo, mas nós nos alegramos sobre isso. Cruéis foram os sacrifícios, horrível o atuar dos druidas. Mal podia pensar nisso um de nós sem sentir horror. Tu tens razão: Nós apenas assistíamos e não fazíamos nada, a fim de honrar ao Pai Eterno. De hoje em diante isso deve se tornar diferente. Eu sou velho e jamais poderei me tornar novo, mas para me tornar melhor ainda não é tarde demais. Eu deposito sobre a pedra de sacrifício o orgulho de meus antepassados. Que a chama queira consumi-lo, para que este nunca mais se aposse de minha alma.”
Então Nuado exclamou através da boca de Seabhac: “O Pai Eterno ouviu tua promessa, Goll. Ele aceita o teu sacrifício. Ele irá te trazer bênçãos!”
Indescritivelmente solene soaram as palavras, que penetrou dentro do coração de todos. Mesmo Padraic não pôde se fechar à elas.

Então também Cairn, um dos mais jovens, ousou falar: “Eu não penso para falar e agir. Pai Eterno eu coloco minha própria vontade sobre a pedra de sacrifícios para que as chamas as façam desaparecer no ar. Mas eu tenho tanto disto! É possível que eu não seja capaz de exterminar com tudo isso através de minha própria vontade. Envia-me auxílio, pois estou seriamente resolvido à isso!”
E novamente Nuado falou: “Tu pedes com o coração verdadeiro por auxílio. O auxílio te será dado. O Pai Eterno considera o teu sacrifício e o aceita!”
Mais alguns se adiantaram com receio ou com coragem, conforme era de sua espécie.

(continua)

Texto da série especial denominada: Escritos Valiosos

Personagens e fatos processados dentro do contexto deste episódio:

Seabhac, Habicht: Se trata do personagem de destaque nos acontecimentos, que se situa como soberano de uma comunidade celta.

Muirne: velha mãe do príncipe dos celtas Seabhac, Habicht  

Muirne: esposa de Seabhac, Habicht que veio de outro reino salva e aceita para proteção.

Padraic: É o nome principal do ancião que surge neste episódio como druida da comunidade celta, sendo, portanto um personagem influente de seu meio.

Nuado Silberhand: No folclore irlandês, era reverenciado como rei e grande líder dos Tuatha Dé Danann. Possuía uma espada invencível, vindo da cidade de Findias e que fazia parte dos Tesouros de Dananns. Na primeira Batalha de Magh Turedh perdeu o braço ou a mão, órgão que foi restituído, mas fez com que ele perdesse o trono da tribo. Ficou conhecido como "Nuada, Braço de Prata" ou "Nuada, Mão de Prata". Nuada era o Deus da justiça, cura e renascimento; irmão de Dagda e Dian Cecht.
Pelo direcionamento dado a este enredo pelas autoras, este personagem se trata de um enteal de certa forma importante em sua ligação com os seres humanos.

Goban: deus ferreiro dos Tuatha Dé Danann; com Credne e Luchtain formavam o "Trí Dé Dana"; fez as armas que os Tuatha usaram para derrotar os Fomorianos. Equivalente a Goibniu e Govannon (galês).
Na mitologia irlandesa Goibniu ou Goibhniu era um dos filhos de Brigid e Tuireann e ferreiro dos Tuatha Dé Danann. Ele e seus irmãos Creidhne e Luchtaine tornaram-se conhecidos como os Trí Dée Dána, "os três deuses de arte", que forjaram as armas que os Tuatha Dé usaram para combater os Fomorianos. Suas armas eram sempre letais e seu hidromel concedia invulnerabilidade a quem o bebesse.

Brigit: é a Deusa dos ferreiros, dos artistas, das artes e da cura. Sendo uma Deusa solar, ela é padroeira do fogo e de tudo que envolva Inspiração e Artes. É uma Deusa tríplice, tendo três faces, a poetisa, a médica e a ferreira.


quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

O Alcance das Elevações







O Alcance das Elevações  

por Charlotte Von Troeltsch e Susanne Schwartzkopf

Sinopse de Fatos Transcorridos: Na decisão desde a infância de servir o Altíssimo, ainda contida do jovem Miang, após ter seu avanço no estudo inicial concluído, conseguiu em seguida se tornar aluno de Fong, que depois como príncipe afastado voltara com a difícil missão de dirigir seu reino sem mais poder ensiná-lo, mantendo, entretanto sua vontade dando-lhe ordens como seu mantido mestre; pelas quais na tarefa de mensageiro, empreendia sempre novas viagens com aventuras, em cuja uma delas, encontrou para se instruir por um longo tempo o seu terceiro mestre (Huang), estando na situação atual de socorrer pessoas comuns do cotidiano...

A missão de Miang nessa localidade parecia terminada, somente uma coisa ainda o ocupava muito: a crença da volta ao “reino intermediário”. Ele pediu clareza ao seu amigo luminoso sobre estas questões e ela também foi lhe dada.
Foi lhe permitido ver o caminho seguido pela alma de Hung, que estava partindo, quando esta pôde deixar seu corpo. Não podia afastar-se muito de seu invólucro antigo. Muitos fios resistentes, densos, ainda a deixavam presa a ele, pois os olhos da alma estavam direcionados para a matéria e para o retorno à Terra. Finalmente, ficaram mais fracos e caíram secos, pois a alma começou a observar o seu novo ambiente. Um grande número de figuras e formas a cercavam. De início, não conseguia orientar-se. Esse, portanto, deveria ser o “reino intermediário”! Porém, se era apenas um “reino intermediário”, situado entre dois reinos, dos quais um deveria ser a Terra, onde então estava o segundo?
Quando Miang chegou a essa ponderação, abriu-se uma fenda no “céu” que cobria o reino intermediário, e ele avistou muito distante desse mundo, uma luz brilhante e maravilhosos jardins, nos quais seres humanos felizes estavam atuando diligentemente. O coração de Miang jubilava. Esses luminosos jardins pareciam-lhe familiares, nestes deveriam ser o destino de muitas almas humanas que vagavam e procuravam no reino intermediário, sem saber o que realmente lhes faltava.
“Olhem para cima!” tentou Miang gritar para elas, mas ninguém o escutava. Quais formigas, que entram em seu formigueiro e dele saem novamente, assim pareciam a Miang as numerosas almas, que lá se detinham sem poderem prosseguir. De tempos em tempos desaparecia uma alma e Miang podia ver como ela retornava à Terra e lá iniciava uma nova vida. Mas o que adiantava a nova vida, se ela não chegasse a novos reconhecimentos? Deveria continuar um constante perambular entre a Terra e o reino intermediário? Qual seria o sentido disso?

Tristeza queria apoderar-se de Miang, sobre a inutilidade de tal vida humana, mas depois ponderou: “Para isso o Altíssimo enviou-me aos seres humanos, para que eu lhes mostre aonde deve levar a sua caminhada, sem que sejam retidos no reino intermediário, em continuando, ascendendo para os jardins eternos.”
Cinzento e turvo parecia tudo no reino do meio, nas alturas, porém, havia luz clara, beleza e alegria. Quem chegasse lá em cima, este certamente não precisaria retornar à Terra, este teria encontrado sua meta e poderia ser um servo do Altíssimo em felicidade e alegria. Miang estava agradecido pelo novo saber. Agora poderia ajudar aos homens ainda melhor, poderia adverti-los, para que não se prendessem à Terra, e mostrar-lhes o caminho para os jardins celestes.
Animado, retomou novamente a sua caminhada, que o levava ainda mais para o sul. O solo tornava-se cada vez mais fértil, a colheita era mais abundante, as árvores estavam carregadas de frutos doces. Que seres humanos felizes deviam morar neste paraíso! Ao passar, Miang os observava mais atentamente. Estavam vestidos mais ricamente e mais bonitos, portavam a cabeça mais erguida do que os pobres pastores no alto das montanhas e suas moradias demonstravam riqueza. Entretanto, eram eles também mais felizes? Com toda essa beleza que os cercava, deveria pairar sobre eles um brilho como o do sol. Mas nada disso se via. Ao contrário, aborrecidos olhavam por sobre todo esse esplendor que parecia não alegrá-los. Qual seria o motivo?
Miang aproximou-se de um pequeno templo, para o qual afluíam pessoas com grinaldas de flores nos cabelos e nas mãos. Entrou junto com elas. O ambiente era despojado e feio. Somente no fundo alguns degraus conduziam para um pedestal, entronado por uma imagem horrível. Era, em traços grosseiros, uma espécie de figura feminina, pintada toscamente. Diante dessa figura as pessoas colocavam suas flores, ajoelhavam-se e murmuravam algumas palavras, que deveriam formar uma oração. Depois se levantavam com fisionomias impassíveis e deixavam novamente o templo. Miang assustou-se profundamente. Isto seria um templo, um local de adoração? Como isso era possível? Para ele seria impossível orar neste ambiente. Sufocante era a opressão de muitas figuras grotescas, que estavam penduradas nas paredes e que também se prendiam nas pessoas presentes no templo.

Agora descobriu, atrás do ídolo, uma figura que lhe passara despercebida na turva penumbra do templo. Estava aí, imóvel, com os braços levantados. Parecia que toda vida tinha se evadido dela. Cheias de veneração, olhavam as pessoas para essa figura petrificada. Parecia-lhes algo magnífico, poder “rezar” dessa forma. Miang, porém, viu que a alma desse homem estava tão enrijecida quanto o seu corpo, que não havia mais vida nela e ele se horrorizou. O que poderia ser feito aqui?
Miang não conseguia desviar seu olhar dessa figura petrificada e parecia que o seu olhar ia perpassando a armadura dessa alma sem vida. O sacerdote começou a movimentar-se e, contrariado, voltou-se para Miang, deixou cair os braços e atravessou-o, por sua vez, com seu olhar. Era uma luta entre alma e alma, na qual o sacerdote foi vencido. Ele baixou os olhos e, aborrecido, deixou o templo por uma entrada na parede dos fundos.
Um homem aproximou-se de Miang.
“Tu foste mais forte do que o sacerdote!” sussurrou para Miang e indicou com a cabeça para o templo.
 Miang estava um pouco desconcertado.
“O que queres dizer com isso, amigo?” perguntou ele, para ganhar tempo.
“Ora, tu o expulsaste, tua força era maior. Isto ainda ninguém havia conseguido. Posso acompanhar-te por um trecho?”
Miang olhou o homem mais detalhadamente. Havia uma súplica em seus olhos, que exortou Miang a concordar. O homem conduziu-o, através de ruelas mais calmas, até uma casa situada num jardim grande.
“Entre em minha casa!” convidou a Miang e este aceitou. Ele ainda não sabia o que o aguardava lá, mas parecia-lhe correto atender o convite. Sentaram-se num aposento fresco, sombreado e, hesitante, o acompanhante de Miang começou a falar: “Eu te observava hoje no templo, ó forasteiro! Tu parecias ser diferente das pessoas daqui, diferente, principalmente, do sacerdote e tu não tinhas medo dele. Eu gostei disso, pois eu também não posso curvar-me diante do que os sacerdotes exigem de nós. E, principalmente, eles não conseguem me dar respostas às minhas perguntas.”
O homem fez uma pausa. Ele não sabia como fazer com que Miang percebesse qual era a sua ansiedade íntima. Miang, no entanto, viu o espírito atado que lutava para libertar-se e um desejo fervoroso de assisti-lo acordou logo em seu íntimo.
“O que te oprime, amigo?” perguntou cordialmente, e parece que essas palavras soltaram a língua do outro. Ele externou a ansiedade de seu coração com as palavras:

“Todos os dias eu vou ao templo, procuro rezar, trago minhas oferendas e ainda sempre volto com o coração vazio. O sacerdote está mudo, não me dá respostas, é assim também a divindade – será que não há ninguém que possa me dar respostas? Eu sou somente um pequeno homem, eu não posso ajudar a mim mesmo, eu necessito de alguém mais forte para me conduzir. Mas onde está esse tal mais forte? Por toda a minha vida eu o procurei, mas ninguém pôde mostrá-lo. Agora vieste tu hoje e foste mais forte que o sacerdote, eu o vi bem. Agora te peço: ajuda-me!”
Essas palavras continham um pedido tão suplicante, que Miang soube: lá ele poderia abrir o tesouro de seu saber e dar com mãos cheias.
Ansioso, Ma-tschi assimilava cada uma de suas palavras, não se cansava de escutar e profunda alegria o preenchia. Seus olhos brilhavam, tinha vontade de abraçar Miang. Algo, porém, o reteve. Apesar de sua juventude, pairava uma nobreza sobre Miang, que excluía qualquer intimidade. Por longo tempo os dois conversaram e cada vez mais leve, mais feliz, ficou o coração de Ma-tschi. Ele pediu a Miang para permanecer alguns dias com ele, pois ainda queria convidar amigos para que se deixassem instruir por Miang.
“Eles sentem o mesmo que eu,” disse Ma-tschi, esclarecendo, e Miang ficou satisfeito.
Ma-tschi era um comerciante abastado. Pela primeira vez em sua vida, Miang podia gozar do conforto e da comodidade de um lar rico.
Todos os ambientes eram ricamente ornamentados com tapetes macios, tecidos de seda e vasos preciosos. Beleza cercava-o nesta casa e ele alegrou-se com isso, sem que surgisse nele o desejo de querer possuir algo disso. Também, o que ele, em sua caminhada, poderia fazer com essas coisas belas, mas incômodas? Ao tentar imaginá-lo, Miang teve que sorrir. Não, quanto menos ele possuísse, tanto melhor seria para ele, mais desimpedido ele poderia entregar-se à sua missão.
Era uma noite de outono quente e úmida, em que Miang, Ma-tschi e alguns de seus amigos estavam reunidos na sala à meia luz. Servos tinham acendido um lampião suspenso, de cujas janelas de papel colorido a luz transparecia suavemente.
Ma-tschi foi o primeiro a falar: “Amigos,” disse ele, “vejam aqui o sábio, do qual vos relatei. Ele está disposto a ensinar-nos. Escutemos as suas palavras.”
Todos os olhares dirigiram-se para Miang, que ainda refletia em silêncio. Novamente surgiram imagens diante de sua alma. Ele viu diante de si uma montanha alta, íngreme, em cujo pico brilhava uma luz clara. Espalhava seus raios por sobre todas as encostas até ao vale lá embaixo, onde não se via nenhuma outra luz. Muitas pessoas caminhavam lá embaixo sem rumo. Alguns dirigiam seu olhar interrogativo para o alto, porém, a luz parecia-lhes muito alta e muito distante para que pudessem alcançá-la. Então surgiram de cavernas escuras da montanha, figuras com longos trajes. Carregavam figuras esculpidas diante de si e colocaram-nas sobre pequenas elevações no vale e chamavam as pessoas para junto de si.

“Aproximai-vos,” ouvia-se de sua boca, “ajoelhai-vos e adorai!”
E agitavam incensórios nas mãos, dos quais se elevava densa fumaça cinzenta, que se deitava, entorpecendo, sobre coração e mente das pessoas. Neste atordoamento, muitas ficavam paradas e obedeciam ao que lhes era ordenado e as figuras nas vestimentas longas acendiam pequenas lamparinas e gritavam: “Vejam a luz, a grande luz!”
No entanto, mal iluminava o ambiente próximo às imagens esculpidas e, poucos passos adiante, tudo permanecia no escuro. O coração de Miang estremeceu. Assim acontecia aqui nesta Terra, com estes seres humanos! Eles quase nada sabiam da luz clara, forte e pura no pico da alta montanha, porque fixavam seus olhos somente na Terra e abriam seus ouvidos somente às palavras dos sacerdotes da caverna. Agora Miang sabia o que tinha a fazer e a falar.
“Queridos amigos,” começou, e muita bondade estava contida no tom de suas palavras. “Todos vós sabeis que estais numa caminhada nesta vida. A caminhada já começou com o vosso nascimento e não termina com a vossa morte, pois, quando a vossa alma deixa o corpo terreno, ela ainda não alcançou a sua meta e não terá paz nem sossego até tê-la alcançado.”
Os homens escutavam atentos, familiares lhes soavam essas palavras.
“Vejam este aposento,” continuou Miang. “Lá fora é noite, tudo está no escuro e vós vos esforçais por espalhar um pouco de claridade ao redor de vós, para que não precisais permanecer no escuro. Mas veja como é fraca a vossa luz! Esta mal ilumina suficientemente o ambiente para se distinguir todos os objetos.
Porém, sendo dia e brilhando o sol, podeis enxergar claramente, não somente cada objeto, mas também a sua cor até o mínimo detalhe. Tudo ao redor de vós começa novamente a viver o que antes parecia cercar-vos sem vida. Não é assim?”
Tiveram que concordar com ele, e um homem mais jovem, com vivacidade em sua expressão, exclamou: “Está tão escuro no nosso interior, porque não temos um sol que nos ilumine!”
“No entanto, existe um sol grande, poderoso, luminoso, que pode tornar o vosso interior claro como o dia, desde que vós o deixeis entrar!” continuou Miang radiante. E ele descreveu-lhes a imagem que há pouco lhe foi mostrada. “A grande e clara luz ainda está em cima de nós, ela brilha e irradia para o espaço e ilumina tudo, como o faz o sol no céu. Porém, se escondermo-nos em cavernas escuras ou baixarmos o olhar constantemente para o solo, então não podemos vê-la e ela não nos fará alegres.”
Isto todos compreenderam e Miang continuou a contar-lhes de Deus, o Altíssimo, o Qual, como um grande sol, brilha sobre tudo o que é criado. “Para Ele vós deveis orar, Ele pode ajudar-vos!” exclamou Miang entusiasmado, “não para a figura repugnante no templo, confeccionada por homens!”
Foi Ele que te fez tão forte assim?” queriam saber os homens, aos quais Ma-tschi tinha contado sua vivência no templo.
“Sim!” confessou Miang. “Somente Dele recebi a força e também vós a podeis receber, se a Ele pedirdes.”

Miang encontrou um solo já preparado nos corações desses homens. Somente faltara ainda a mão do semeador, que deitasse as sementes douradas no solo. A semeadura logo brotou e cresceu. Foi um trabalhar e atuar alegre para Miang, mas não devia ficar assim por muito tempo. Pois devido ao seu esclarecimento contraiu a inimizade dos sacerdotes, que temiam perder sua influência sobre as pessoas. Ma-tschi e seus amigos pertenciam aos mais ilustres habitantes da cidade, e eles não guardaram segredo sobre aquilo que vivenciavam. Dessa forma propagou-se rapidamente a notícia do grande sábio e sempre mais pessoas afluíam para ele. Como que acordando de um pesadelo, assim se sentiam as pessoas, quando Miang anunciava Deus. Bem no fundo essas almas ainda não enrijecidas traziam uma saudade, não, um saber do Ser altíssimo, que era o Senhor de todos eles. Um profundo alívio foi sentido por esses seres humanos e os seus templos sombrios, com as horríveis imagens de ídolos, não os atraíam mais. Esvaziavam-se e os sacerdotes espumavam de raiva.
Eles deliberaram entre si e chegaram à conclusão de que Miang devia ser eliminado, como perigo para a fé e pelo seu poder sobre as pessoas.

(continua)


Trecho extraído do livro: Miang Fong, como relato sobre a vida do grande Portador da Verdade, que libertou o Tibete das trevas.

NARRATIVAS DESDE O INÍCIO PELO ÍNDICE (POR DATA) 

No próprio título encerram em síntese os acontecimentos anteriores:

O Menino e os Gigantes – 04/09/16
Os Gigantes Moram ao Lado – 16/09/16
Adeus aos Gigantes – 23/09/16
O Primeiro Mestre – 29/09/16
Pela Nova Busca... – 07/10/16
Servir o Altíssimo Como Serviçal – 13/10/16
Decisão nas Alturas – 20/10/16
A Graça Vinda do Trabalho – 26/10/16
No Momento certo se esclarece – 03/11/16
Surpresa e Renovação Imediata – 10/11/16
É Só Deixar-se Conduzir – 17/11/16
Quem Procura Encontra – 24/11/16
Graça Vinda do Altíssimo – 01/12/16
Servir Com Sensação de Alegria – 08/12/16
Com a Bolsa Vazia – 15/12/16
Outro Caminho a Seguir – 22/12/16
Por Confiança no Senhor – 28/12/16
Do Tirano ao Paciente – 04/01/17
Superar Desafios de Salvamento – 11/01/17
Um Auxílio Redentor – 18/01/17


terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Sobre a vida dos Celtas – IV






Para leitura do episódio anterior: Sobre a Vida dos Celtas III

Sobre a vida dos Celtas – IV


Por Charlotte von Troeltsch e Suzanne Schwartzkoff


Anteriormente: Seabhac Habicht passa a Padraic a ordem de proibição como exigência do alto da prática do sacrifício humano, no culto dos druidas, e ainda recebe em sua cabana um estranho acompanhado de uma moça (Meinin), como oferta para casar...


Assim Seabhac ficou sentado sozinho ao fogo e refletia. Quão rápido e de que maneira singular seu pedido havia sido ouvido. Ele podia realmente se alegrar, pois se a própria Brigit lhe havia deixado conduzir a moça, então esta também era a mulher certa para ele.
Ele abriu então o feixe (o dote recebido) que continha uma quantidade de ouro bruto, um pouco de prata e inúmeras pedras preciosas e pérolas. Eram haveres principescos! Cuidadosamente ele guardou o tesouro novamente no feixe enterrando-o sob seu leito, no solo. Ninguém o havia visto nem iria procurar por ele.
No dia seguinte Muirne não podia contar-lhe o suficiente de quão maravilhosamente bela era a moça Meinin. Sua fala era de fato parecida com a deles, contudo, distinguia-se um pouco, de forma que ela, Muirne, não podia compreender a moça. Também Sile não entendia tudo o que a bela hóspede dizia. Contudo, a moça era muito amável e procurava auxiliar Sile.

Seabhac, porém, tinha muito que fazer com a escolha dos homens que ele deveria mandar para a forja na floresta, para Gobban. Ele tinha de entregar-lhes metais e pedras nobres, confiando-as com eles. Então, havia também toda sorte de coisas para apaziguar. Com tudo isso ele quase esqueceu a futura esposa. Ela estava-lhe segura, já que havia sido determinada para ele. Ele iria vê-la tão logo tivesse chegada a hora para isso.
Muirne balançava a bela cabeça perante tanta indiferença. Na sua época os homens haviam sido diferentes, dizia ela sempre e sempre de novo para si.
Seabhac havia refletido que o melhor seria se ele contasse a alguns homens a respeito da modificação da festa, lhes estimulando a passarem adiante a notícia. Ele lhes anunciou que desta vez o sacrifício ficaria excluído por ordem do Pai Eterno. Portanto, não seria necessária que fosse empreendida uma cruzada para captura de presos. Aí os homens resmungaram. Fazer presas sempre havia sido uma grande modificação do dia a dia deles, além disso, com os presos, sempre eram trazidas também toda a sorte de coisas, as quais podiam dividir depois da volta. Agora isto não deveria mais ser assim? Isto não lhes agradava.
Seabhac, porém, irou-se com eles que não tinham de resmungar diante das ordens do Pai Eterno. Eles tinham que se calar e só obedecer. Então, eles se encolheram e silenciaram. Ele, porém, refletiu: ‘como é que se deu dessas pessoas tão obedientes ousarem resmungar’. “Lug, o mal, deve ter se aproximado de suas almas” disse Seabhac à meia voz. “Eu tenho de pedir a Silberhand um meio para manter Lug distante.”

Alguns dias mais tarde Colm, o marido de Sile, voltou com ricas presas. Era costume que as presas da caçada sempre fossem divididas com os vizinhos. Tendo se esgotado a provisão, então sempre um ou outro dos homens saía para tentar a sua sorte. Agora, porém, não havia mais nenhum lugar para Meinin na cabana de Sile. O que deveria acontecer?
Seabhac encontrou Sile junto a Muirne. Elas confabulavam entre si, onde poderiam colocar a bela moça estranha. Por toda a parte havia homens nas cabanas e só existia uma única mulher que vivia sozinha, esta, porém, devido ao seu gênio mal, era temida.

— “Meinin tem de se casar” disse Muirne finalizando.

— “Isto eu também já lhe disse” concordou Sile. “E Eu também já tenho um homem para ela. O pescador Burke é um homem vistoso e suficientemente abastado, a fim de poder desposar uma nobre mulher, a qual, provavelmente, ele ainda poderia ter totalmente de graça. Ou será que tu sabes a quem deve ser pago o preço de compra?” perguntou ela ao irmão, o qual a olhou admirado.

— “E em mim, tu não pensas, irmã?” perguntou ele cheio de censura. “Eu não tenho esposa e estou mais em condições de desposar uma moça nobre do que o pescador Burke.”

As duas mulheres tiveram dificuldade para esconder sua alegria. Exatamente isso elas haviam planejado ouvir. Agora tudo acontecia como elas haviam desejado. Elas achavam que podiam atribuir isso à sua esperteza e não sabiam nada a respeito da influência de Brigit.

Seabhac, porém, foi juntamente com Sile à cabana dela e colocou-se à frente de Meinin. Ele havia imaginado uma moça amável, contudo com tal beleza ele não havia esperado. Ele estava como que ofuscado.
Ele queria ficar sozinho com ela ao desposá-la. Então pensou em contar tudo a ela, mas ao invés disso, ela que começou a falar com voz suave e agradável. Ele podia compreendê-la muito bem. Ela lhe disse que era a filha do príncipe Fionn e que seu país ficava bem distante. O servo de seu pai lhe havia salvado e ela havia ido voluntariamente com ele, pois Brigit lhe havia prometido cuidar dela. Depois ela deveria desposar um homem que, igual ela, acreditasse no Pai Eterno. Unida então com ele, eles poderiam se esforçar executando as ordens do Pai Eterno, para que cada vez mais almas no povo se tornassem realmente criaturas Dele. Por isso ela também estava disposta a desposar Seabhac e se tornar para ele uma boa esposa.
Então ele não necessitava esclarecer mais nada. Alegremente a conduziu à sua cabana, levando-a para dentro como era costume. Lá dentro Muirne havia adornado o local de dormir e preparado uma refeição simples. Ela cumprimentou a nova filha e então se retirou alegremente para o seu quarto, que, igual aos dos servos, era construído mais atrás.
Seabhac e Meinin, contudo, encontravam-se sentados junto ao fogo e olhavam para as chamas que se extinguiam lentamente. Eles não sabiam o que deviam falar um com o outro. Então, de repente, Brigit se encontrava lá entre eles, e olhava de um para o outro. Assim até quando ela começou a falar:

— “Vosso matrimônio é o primeiro que será abençoado pelo Pai Eterno, pois obedecendo à ordem Dele vós o consumastes. Vós dois sois escolhidos para serem verdadeiros servos do Pai Eterno. Vós dois podeis ver a nós, Seus servos (enteais), de modo que tudo vos seja facilitado. Mostrai aos seres humanos o que significa levar uma vida dentro dos Mandamentos do Pai Eterno. Jamais pensai em vós próprios. “Sede incansáveis e ativos no servir ao Pai Eterno, então vos tornareis bem-aventurados já aqui mesmo sobre a Terra.”

Brigit dirigiu-se a Meinin e tocou seus olhos e seus lábios.

— “Tu deves receber o dom de poder cantar e dizer em palavras sonantes aquilo o que teus olhos vêem e o que o teu coração sente. Ensinai as moças de vossa tribo a fazer o mesmo. Isso as manterá puras se utilizarem da dádiva apenas para a honra do Pai Eterno. Abençoadas sejam também as tuas mãos. Tu poderás curar doente e consolar os que estiverem tristes.”

Comovidos, ambos haviam ouvido. Rico, reconhecidamente rico, Seabhac se imaginava com esta agraciada mulher. Nos dias seguintes, porém, ele passou a notar de forma cada vez mais nítida que tesouro ele possuía em casa.

Muirne havia mantido a cabana limpa e cuidado para que houvesse comida suficiente. Meinin, porém, sabia envolver tudo com beleza. As comidas mais simples ela preparava de tal forma que Seabhac mal ousava tocá-las.

(continua)

Texto da série especial denominada: Escritos Valiosos

Personagens e fatos processados dentro do contexto deste episódio:

Seabhac, Habicht: Se trata do personagem de destaque nos acontecimentos, que se situa como soberano de uma comunidade celta.

Muirne: velha mãe do príncipe dos celtas Seabhac, Habicht  

Nuado Silberhand: No folclore irlandês, era reverenciado como rei e grande líder dos Tuatha Dé Danann. Possuía uma espada invencível, vindo da cidade de Findias e que fazia parte dos Tesouros de Dananns. Na primeira Batalha de Magh Turedh perdeu o braço ou a mão, órgão que foi restituído, mas fez com que ele perdesse o trono da tribo. Ficou conhecido como "Nuada, Braço de Prata" ou "Nuada, Mão de Prata". Nuada era o Deus da justiça, cura e renascimento; irmão de Dagda e Dian Cecht.
Pelo direcionamento dado a este enredo pelas autoras, este personagem se trata de um enteal de certa forma importante em sua ligação com os seres humanos.

Goban: deus ferreiro dos Tuatha Dé Danann; com Credne e Luchtain formavam o "Trí Dé Dana"; fez as armas que os Tuatha usaram para derrotar os Fomorianos. Equivalente a Goibniu e Govannon (galês).
Na mitologia irlandesa Goibniu ou Goibhniu era um dos filhos de Brigid e Tuireann e ferreiro dos Tuatha Dé Danann. Ele e seus irmãos Creidhne e Luchtaine tornaram-se conhecidos como os Trí Dée Dána, "os três deuses de arte", que forjaram as armas que os Tuatha Dé usaram para combater os Fomorianos. Suas armas eram sempre letais e seu hidromel concedia invulnerabilidade a quem o bebesse.

Padraic: É o nome principal do ancião que surge neste episódio como druida da comunidade celta, sendo, portanto um personagem influente de seu meio.

Brigit, é a Deusa dos ferreiros, dos artistas, das artes e da cura. Sendo uma Deusa solar, ela é padroeira do fogo e de tudo que envolva Inspiração e Artes. É uma Deusa tríplice, tendo três faces, a poetisa, a médica e a ferreira.



quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Um Auxílio Redentor








Um Auxílio Redentor   

por Charlotte Von Troeltsch e Susanne Schwartzkopf

Sinopse de Fatos Transcorridos: Com a decisão formada desde a infância em servir o Altíssimo, ainda buscava o jovem Miang, a partir de seus passos iniciais concluídos, tendo em diante se tornado aluno de Fong, que depois por ser também um príncipe encontrara a difícil tarefa de dirigir seu reino para não mais poder ensiná-lo, continuando ainda a ditar-lhe ordens; pelas quais na missão de mensageiro, permanecia sempre entre aventuras através de viagens, em cuja uma delas, encontrou para se instruir durante algum tempo o seu terceiro mestre (Huang), estando vivendo da situação atual na missão de auxiliar pessoas comuns dos ambientes públicos...

Para continuar narrando o acontecido com sua mulher o homem prosseguiu contando em detalhes o caso:

Quando, porém, cheguei mais perto dela, ouvi um leve choro que saia da trouxa em seus braços, e eu me assustei muito. Tive que parar um momento para respirar fundo e esse momento foi suficiente para mais distante torná-la novamente inalcançável. Como que se não sentisse cansaço, nem tontura, subia ela sem parar até a borda saliente de um alto rochedo e, de lá, jogou a trouxa para baixo. Depois se debruçou para olhar sua queda.
Deu-me arrepios. Juntei minhas últimas forças e consegui agarrá-la ainda na manga, quando ela estava prestes a jogar-se também para baixo. Parecia como se agora todas as forças a tivessem abandonado, ela caiu em meus braços e eu a puxei para longe da borda perigosa.

“Hu-na, o que fizeste?” exclamei sacudindo-a.
Então ela despertou como de um sonho.
“A criança!” gritou ela. “Eu tinha que sacrificar uma criança, para que os deuses me dessem outra!”
“De onde tiraste a criança?” perguntei horrorizado.
E, olhando-me, ela respondeu:
“Ninguém me viu, entrei bem silenciosamente e tirei a criança de Fu-sa. Ela ainda tem muitos filhos, não lhe fará falta.”
Sacudi-a novamente com força e gritei horrorizado:
“E tu jogaste a pobre criança no abismo? Não escutaste o seu choro?”
“Escuta!” disse Hu-na e, no silêncio ao redor, ouvimos claramente um choro lamentoso vindo lá de baixo. Soava miseravelmente abandonado e Hu-na tremia no corpo todo, quando ouviu. “Os deuses não aceitaram o sacrifício!” murmurou ela e depois caiu desmaiada aos meus pés.
Eu a levantei e a levei para casa. Não podia cuidar da criança, senão Hu-na teria morrido, e não havia caminho do alto para o abismo, no qual a trouxa havia caído. Com grande esforço consegui levá-la para casa, mas desde então ela está deitada aqui como vês, ó sábio. Eu te rogo, agora que sabes da verdade, ajuda-a, a pobre Hu-na!”

Profundamente abalado, Miang escutava o relato sobre o extravio dessa alma humana. Como uma maldição paralisante pesava sobre ela a grave culpa e não a deixava restabelecer-se. O que podia ser feito aqui? Ele sentiu que a mulher ficava mais calma quando a tocava com a mão, quando a colocou na sua testa quente. Por longo tempo a deixou aí e refletia sobre o relatado. Assim os seres humanos se enredam em culpa e não conseguem livrar-se dessa rede sozinhos. Novamente gemeu a enferma. Ela abriu os olhos e, pela primeira vez, havia neles algo como um reconhecimento.
Miang curvou-se sobre ela.
“Hu-na,” disse ele, e sua voz soante parecia encher todo o ambiente; “Hu-na, arrependes-te daquilo que fizeste?”
Assustada, a mulher levantou o braço em defesa. Miang, porém, não cedeu e obrigou o olhar dela se dirigir para o seu.
“Tu roubaste um filho de uma mãe, no delírio de que seu sacrifício pudesse te ajudar! Não sabes que com isso te sobrecarregaste com uma grave culpa? Veja a mãe que chora pelo seu filho perdido e isso deveria ajudar-te a obter uma criança? Com isso barraste o caminho da alma que queria aproximar-se de ti. Ela agora não pode chegar até ti, a tua culpa se interpôs entre vós duas.”
Hu-na irrompeu num choro compulsivo. Parecia que, com isso, dissolvia-se a convulsão, que há tanto tempo a dominava.
“O que devo fazer?” lamentou-se ela.
“Corrija o teu erro,” disse Miang.
“Isso eu não posso,” lamentou Hu-na novamente, e seu choro aumentou.
“Sempre se pode corrigir alguma coisa,” consolou Miang.
“Eu vou ajudar-te para isso, porém, antes de tudo, peça perdão ao Altíssimo, o Qual de ti se zangou com a tua má ação.”
Agora, Hu-na estava disposta a tudo e Miang podia semear os primeiros grãos de um melhor reconhecimento na alma perturbada da pobre mulher. Depois se dirigiu ao homem.
“Trata-a bem, para que ela possa recuperar suas forças,” ordenou ele. “Então eu voltarei e continuarei ajudando.”
O homem queria agradecer efusivamente, mas Miang recusou. Ele tinha que respirar ar puro, nada mais o segurava ali.
Ele saiu da tenda e respirou fundo. Sentiu-se melhor fora ao ar livre e, involuntariamente, dirigiu seus passos para longe do pequeno povoado. Logo havia deixado as choupanas para trás.

Encontrava-se num caminho que o levava através de arbustos floridos de média altura. Respirava fundo o perfume das flores. Como era refrescante depois do ar abafado no quarto da enferma.
De repente, veio ao seu encontro um estranho cortejo. Homens vieram com um tipo de maca. Nela parecia haver um doente. Ele estava coberto, não se podia ver o que estava sendo escondido embaixo. Miang parou e quis deixar passar os carregadores, mas um impulso inexplicável fez com que perguntasse o que estavam carregando. Solícitos, os carregadores colocaram a maca no chão e secaram o suor de suas testas. Um pequeno intervalo pareceu-lhes bem-vindo.
“Estamos levando Hung para o sacerdote, ele está velho e sua alma está disposta a entrar no reino intermediário,” responderam.
“Posso vê-lo?” pediu Miang, e os carregadores levantaram a coberta.
Miang viu um rosto de ancião no qual estavam estampados os vestígios de uma idade avançada. O homem estava deitado tranquilamente e sua respiração era leve. Miang já queria prosseguir, mas teve que fazer mais uma pergunta:
“Para onde o levam, homens?”
“Ao templo, para o sacerdote, para que esse possa rezar suas preces e ajudá-lo a encontrar o caminho,” responderam naturalmente.
“Para o reino intermediário?” perguntou Miang. “E o que ele vai fazer lá?”
“Lá ele aguarda até que haja novamente um corpo, no qual ele possa de novo habitar. O seu corpo atual ficou muito velho.”
“E assim vós sempre voltareis em um corpo novo?” perguntou Miang. “Podeis escolhê-lo?”
“Isto nós não sabemos,” foi a resposta dos carregadores e, com isso, levantaram a maca e queriam seguir caminho. Ao levantar a maca, porém, algo se moveu na extremidade inferior desta, deslocou-se a coberta e Miang viu que ali havia mais uma pessoa, uma criança pequena, que o mirava com seus olhos grandes.
“Quem é essa criança?” perguntou ele e mais uma vez os carregadores deram informação.
“Hung encontrou-a nos arbustos há algumas semanas. Estava chorando e ele atendeu seus lamentos. Então subiu e apanhou-a. Ele quer entregá-la agora ao sacerdote.”

Miang estremeceu. Poderia ser essa a criança que foi atirada por Hu-na, e seria possível um salvamento tão maravilhoso? Pediu que os homens descrevessem o local onde Huang a havia encontrado. Não havia dúvidas, ocorrera um milagre e a alma de Hu-na estava libertada em parte, da culpa mais grave.
“Entreguem a criança a mim,” disse ele aos homens admirados. “Eu sei a quem ela pertence e eu vou levá-la até sua mãe.”
Eles concordaram e assim Miang acolheu a leve carga e levou-a de coração feliz até a choupana de Hu-na.
Lá, ele não era esperado. Tanto maior a surpresa de ele retornar tão depressa que, ao colocar a criança nos braços de Hu-na, suas lágrimas correram abundantemente e afastaram consigo a última teimosia, a última perturbação.
“Agora podes reparar o teu erro, Hu-na,” disse Miang muito feliz. “Devolva a criança à mãe e peça-lhe perdão.”
“Desaparecerá com isso o obstáculo entre mim e a alma que quer vir?” perguntou Hu-na receosa.
Miang confirmou. “Se te arrependeres sinceramente do teu delito e prometeres nunca mais fazer tal coisa, então tudo pode ficar bem. Agora o teu marido deve chamar a mãe da criança, pois tu estás muito fraca para ir até ela.”
E assim aconteceu. Fu-sa apertou seu filho nos braços e, na alegria de tê-lo de volta, esqueceu de sentir raiva de Hu-na. Miang, porém, pôde mostrar às pessoas, agora novamente felizes, que maravilhoso auxílio havia salvado a criança e de Quem, assim tão poderoso partiu essa ajuda. Ele encontrou corações abertos para ouvir, pois o sofrimento, assim como a alegria, os havia amolecido.
Miang teve de prometer que voltaria para contar mais ainda sobre o Altíssimo.

(continua)


Trecho extraído do livro: Miang Fong, como relato sobre a vida do grande Portador da Verdade, que libertou o Tibete das trevas.

NARRATIVAS DESDE O INÍCIO PELO ÍNDICE (POR DATA) 

No próprio título encerram em síntese os acontecimentos anteriores:

O Menino e os Gigantes – 04/09/16
Os Gigantes Moram ao Lado – 16/09/16
Adeus aos Gigantes – 23/09/16
O Primeiro Mestre – 29/09/16
Pela Nova Busca... – 07/10/16
Servir o Altíssimo Como Serviçal – 13/10/16
Decisão nas Alturas – 20/10/16
A Graça Vinda do Trabalho – 26/10/16
No Momento certo se esclarece – 03/11/16
Surpresa e Renovação Imediata – 10/11/16
É Só Deixar-se Conduzir – 17/11/16
Quem Procura Encontra – 24/11/16
Graça Vinda do Altíssimo – 01/12/16
Servir Com Sensação de Alegria – 08/12/16
Com a Bolsa Vazia – 15/12/16
Outro Caminho a Seguir – 22/12/16
Por Confiança no Senhor – 28/12/16
Do Tirano ao Paciente – 04/01/17
Superar Desafios de Salvamento – 11/01/17