Desperta a Natureza – Desperta o
Espírito
por Friedrich Rauber
O ser humano moderno toma como
algo evidente o fato da natureza despertar sempre de novo na primavera.
Simplesmente tem de ser assim.
Ele está habituado a isto.
Toda alternância das estações do
ano é para ele um fenômeno que se repete sempre de novo da forma automática, o
qual está relacionado com os movimentos
que a Terra faz em sua órbita.
Como os movimentos da Terra
deixam-se calcular de forma bem precisa, ele quer reconhecer a partir daí que
isso seja um fenômeno puramente mecânico.
Ele reconhece de fato o sistema organizador que perpassa a Criação
inteira, contudo, não pensa mais a respeito sobre isso.
Certas pessoas nem intencionam denominar esse princípio organizador e
movimentador de Deus.
Com isso estão esgotadas suas
relações com Ele.
Suponhamos que a natureza não viesse a despertar na primavera.
Quais seriam as consequências?
Continuaríamos a ter inverno, a
natureza continuaria em seu estado adormecido.
Não haveria um verdejar das campinas, um florescer
das plantas, dos arbustos e das árvores.
Não haveria ventos mais amenos,
que nos envolvem de forma tão benfazeja.
Os pássaros migratórios
continuariam a permanecer no sul, a natureza permaneceria desolada.
Devido a ausência do verdejar e
do florescer também não haveria mais
frutas, necessárias ao nosso corpo como alimento.
E do que deveriam viver os
animais se nada mais crescesse?
“Então buscaríamos as coisas necessárias dos países do sul, onde então
haveria um contínuo verão e onde haveria um contínuo crescer e
amadurecer”, assim responderia o ser humano esclarecido.
Contudo, ele não percebe que isso
não pode ser um estado contínuo, de longo prazo.
Certamente, na proximidade do
equador a alternância das estações do ano mal pode ser notada, mas apesar disso ainda existe.
Contudo, nas principais zonas
habitadas com clima intermediário, tanto da metade norte como também da metade
sul do planeta, uma estagnação das estações do ano teria de se mostrar de forma
catastrófica. Toda a vida sofreria sob esta situação e, por fim, seria impossível.
A Terra tornar-se-ia inabitável para nós, como seres humanos.
Não é absolutamente tão errado
seguir uma vez tais pensamentos em uma época onde o ser humano da metade norte
do planeta anseia tão incessantemente por calor, florescimento, sol e nova vida
na natureza.
Ele teria então que apresentar a
si mesmo a pergunta, se esse processo de movimento automático da Terra, o qual
ele aceita, “sem quebrar a cabeça” como simplesmente evidente e
continuamente existente, não é efetuado por uma força onisciente e onipotente.
Deus, que não apenas deixou
surgir e mantém a Terra e tudo o que existe acima dela, mas também todas as
outras partes universais e todos os astros.
Mas felizmente ela ainda continua
a movimentar-se, nossa velha, sim, a -muitíssimo velha mãe Terra, e
também continua a oferecer-nos possibilidade de vida.
Por isso estamos realmente
felizes e alegramo-nos de todo o coração. Na verdade, não há outra estação do
ano tão sintonizada à alegria como de fato a Primavera.
Que beleza é apresentada aí aos
nossos olhos nos campos e campinas, nas montanhas e nos vales! Se olhássemos de
forma um pouco mais atenta e observássemos mais pensativamente como tudo
cresce, então teríamos de ser indubitavelmente conduzidos ao Criador e
Mantenedor de toda a vida sobre a Terra – Deus.
Observai apenas uma vez como as
plantas e as flores crescem, tornando as mais diversas formas de acordo
com sua espécie, como dos botões surgem as flores que nos levam sempre de novo
a ficarmos admirados com sua beleza, sua abundância e diversidade.
Observai apenas uma vez como as plantas e as flores crescem...
Que ser humano consegue privar-se destas impressões?
Nenhum, nem mesmo um materialista
aferrado.
Aqui seu raciocínio poderia ser
de grande utilidade para ele, se seguisse uma vez com um pensar lógico até o
fundo, que se lhe apresentam de forma ricamente abundante junto às plantas,
animais e também seres humanos na natureza que desperta.
Tudo isso surge e realiza-se sem
ajuda do ser humano.
E que sabedoria, que maravilha desenvolve-se aí!
Aqui devem existir forças em
atividade, forças que não conseguimos perceber com nossos órgãos sensoriais
corpóreos.
Como então poderia haver
crescimento, como poderia se realizar o florescimento?
Nós seres humanos não crescemos
também como plantas e não florescemos também como elas, não apenas de forma
corpórea, mas também anímica?
E não é exatamente este
crescimento anímico, este florescimento, algo que quase nos força a uma
admiração ainda maior do que o formar e florescer formal, figurado?
Também aqui o pensar racional
deve nos levar a reconhecimentos e a conexões que nos trazem à proximidade
daquela grande inteligência que chamamos de Deus – que é Deus.
Vós, espertos e até tão eruditos
“senhores da Criação”, vós tendes de ser capazes de reconhecer também com a
agudeza de vosso raciocínio que necessitais de Deus, se quiserdes tornar e ser
alguma coisa.
Refleti, podeis apenas moldar,
formar de maneira nova as coisas, ma não podeis consegui-las ou até criá-las
por vós próprios, ao contrário, elas têm de ser presenteadas a vós pelo
Criador!
Quem, pois, vos consegue a
matéria prima para a modificação e a transformação?
A natureza.
E de onde vem a natureza?
Da força universal – de Deus.
Por que não quereis reconhecer
isto, por que vos rebelais contra esse reconhecimento?
Porque vos falta a humildade!
Se tivésseis humildade, teríeis
tudo; então não seríeis capazes de fazer nada mais do que reconhecer, mais
ainda, de admirar a sublimidade, a onipotência
e a onisciência de Deus.
Vossa suposta grandeza humana se
desfaria então em nada em consideração ao Criador, às Suas obras, ao Seu atuar.
Apenas quando tiverdes atingido
este ponto, começareis a tornar-vos seres humanos.
A tornar-vos, não a ser.
Para ser um ser humano ainda é
preciso mais, para isso esta humildade tem de ser transformada em ação.
Isto é, o reconhecimento da
sublimidade e da perfeição do Criador tem de se mostrar na vida anímica de um
ser humano, a qual, por sua vez, forma a base para a vida prática, a vida
cotidiana na profissão, na família, no povo, em todos os setores da vida na
Terra inteira.
Assim o despertar da natureza nos leva, numa sintonização correta,
*ao
despertar de nosso espírito.
Toda alternância reside no
movimento e tem também por si próprio, movimento como consequência.
Por que a alternância das
estações do ano não deveria levar igualmente a movimentação do espírito?
Tais mudanças na natureza não
tocam de forma especial todos os corações?
Muitos dos nossos semelhantes não
começam, em vista do esplendor da Primavera, a tornarem-se poetas?
Não se amolece o coração de
inúmeras pessoas, não se move algo em seu íntimo, algo que de preferência elas
tentam esconder de todo mundo?
E nessas pessoas não se faz notar
seu espírito, do qual elas muitas vezes se envergonham assim que entram em
contato com seus semelhantes, os quais também deixaram que ele (seu verdadeiro
núcleo pessoal) se atrofiasse?
Ó seres humanos! Não vos
envergonheis dessa comoção interior, ao contrário, agarrai-a, segurai-a firme e
cultivai-a, assim como quem cuida de uma planta preciosa: pois na realidade, vosso espírito é uma planta preciosa!
Ó seres humanos! Não vos
envergonheis...
Sim, vosso espírito é uma planta preciosa!
É ele que faz de vós seres
humanos, se vós o despertardes e o mantiverdes acordado.
E quão mais bela tornar-se-á
vossa vida terrena com isso!
A verdadeira beleza reside apenas no atuar de Deus.
E esta vida, por sua vez, vós só
sois capazes de reconhecer com vosso espírito vivo.
Se deixardes que ele adormeça ou
até se atrofie, então tereis de andar pela vida sem essa beleza, a qual, unicamente,
pode presentear-vos a pura alegria e a verdadeira felicidade.
Aquilo que um ser humano de
raciocínio chama de alegria e felicidade, não
o é.
São apenas atrativos exteriores,
que andam junto à vida sentimental, portanto, novamente apenas junto ao raciocínio,
contudo, não junto ao coração, ao espírito.
A alegria pura e o sentimento
puro de felicidade são de espécie espiritual, assim como o amor.
E essas três dádivas afastastes
arrogantemente de vós, através de vosso querer saber melhor!
Vós apenas ainda não chegastes a
esclarecer-se por vós mesmos a esse respeito; pois do contrário seria
impossível explicar como vós descartais sem hesitar tais provas de amor do Criador.
Refleti uma vez a respeito!
Utilizai agora a oportunidade que
se oferece a todos no vivenciar da
natureza que desperta!
Ide ao campo e à campina, saís de
casa, vós que habitais as grandes cidades.
Onde vos encontrais excluídos de
toda natureza e da verdadeira beleza!
Caminhai então pelas montanhas e
pelos vales, usufrui da bela à beira de um lago, na campina, na floresta, bebei
cheios de saudade dessa beleza e tomai dela tanto quanto fordes capazes de
tomar!
Não vos custa nenhum centavo,
tudo isso a natureza vos oferece de graça de forma inesgotável.
Mas usufrui com prudência, com
ardor e com coração, para que esse usufruir seja duradouro, para que isso
continue a atuar e não se desvaneça novamente já na manhã seguinte, quando
retornardes ao vosso local de trabalho, na habitual lida diária!
Criai em vós um estoque dessa beleza,
a qual vos é doada em abundância pelo esplendor da natureza!
Vosso coração tornar-se-á assim
um depósito, que também será capaz de vos presentear com ela, quando parecer
que todas as coisas belas tenham desaparecido da vida cotidiana.
Por isso bebei da magnificência
que vos é oferecida agora tão abundantemente, de mãos cheias! Ela não se vos
tornará apenas alegria e felicidade, mas também um grande auxílio.
Ela vos iluminará as horas
sombrias, deixará que supereis dias difíceis, sem que sejais oprimidos por
estes.
A fé no auxílio de Deus
ressurgirá ou se fortalecerá de novo em vós, se não estiver totalmente
soterrada.
A vida se tornará novamente digna
de ser vivida.
Ela obterá então um significado,
para cada pessoa que restabeleceu dessa forma sua ligação com o Criador.
Apenas quando tiverdes conseguido
isso, é que reconhecereis quão bela a vida pode ser e que graça e felicidade se
incluem em ser um ser humano.