segunda-feira, 4 de junho de 2018

África XI




Nas Florestas da África

Episódio XI

De Volta a Infância

por Charlotte von Troeltsch

Sinopse de Fatos Transcorridos: Bu-anan, também chamada de “mãe branca” conduzia a segurança local com proteção superior, e com isso tinha o auxílio também dos pequenos entes invisíveis da natureza, tendo sido informada por Anu, sobre a vinda  de seu Filho do céu, cuja chegada era ansiosamente aguardada por todos...

(continuação)

Desde então passou muito tempo. As plantas espinhosas na vala haviam crescido bastante alto. Como uma espessa cerca - viva elas contornavam de forma arredondada a colônia. Quem não sabia que elas cresciam dentro de uma vala, para cima, tinha que infalivelmente se emaranhar nelas, tão logo quisesse procurar abrir um caminho através delas para passar.
Só havia dois caminhos e também nesses, elas cresciam tanto que sempre novamente precisavam ser podadas, tão logo os rebanhos tivessem que passar por eles. Algumas pessoas podiam facilmente se movimentar entre elas. Fielmente era feita a vigilância, mesmo que jamais um espião tivesse se deixado ver. Aquele homem que outrora fora preso havia morrido antes que se lhes tornasse claro o que deveria ser feito em relação a ele.
Bu-anan, porém, preocupou-se para que os homens jamais esquecessem quão importante era que a tribo pudesse se desenvolver sossegada.
Aqueles, deles, que saíam bem longe para caçar, traziam muitas vezes notícias de como eram rudes os costumes dos povos da vizinhança, de como as mulheres eram corrompidas. Isso não podia acontecer com eles, pois eles eram um povo de Anu!
Com estes pensamentos eles haviam se ocupado especialmente bastante nestes últimos tempos, pois, assim pensavam eles, se eles eram o povo de Anu, e, como tal vivesse então, Ele certamente iria enviar seu Sagrado Filho para eles.
Eles pensavam vagarosamente. Precisava bastante tempo até que um pensamento seguisse com outro. Porém, ao haverem alcançado alguma coisa, eles se agarravam tenazmente e cismavam de novo sem parar sobre isso.

Uma noite perguntaram a Bu-anan sobre sua opinião.
Ela falou que estava reservado a Anu determinar para onde Ele enviaria Seu Filho. Ela acreditava que ainda havia muito mais povos que viviam na Sagrada Vontade de Anu, os quais, talvez, até agissem melhor do que os Tuimahs.
“Ainda mais povos?” perguntaram os homens decepcionados.
“Vocês não iriam querer que Anu só tivesse a nós, poucas pessoas, que acreditam Nele?” perguntou Bu-anan cheia de censura. “Desejemos que ainda haja muitos desses!”
Sobre isso eles precisaram novamente refletir bastante tempo. Eles compreenderam o que a Mãe Branca quis dizer, mas lhes era doloroso que não pudessem servir a Anu sozinhos. Assim eles o interpretaram desde então.
Demorou bastante tempo até que Bu-anan lhes tornou claro o errado, sim, o pecaminoso de esse tal pensar. Então eles se lembraram de mais outra coisa:
“Bu-anan, conta-nos de você”, pediram eles uma noite. “Como você veio até nós?”
“Isso os velhos dentre vós devem saber melhor do que eu” - sorriu a interrogada. “A mim, me parece como se eu sempre estive convosco.”
“Eu sei bem, como você foi encontrada!” exclamou uma mulher velha. “'Na margem do lago você estava deitada dormindo tranquilamente. Os homens que te encontraram, disseram que perto de você olhava fora d'água a boca de um horrível crocodilo. E que foi um milagre que ele te deixou a salvo.”
“Então você foi trazida para a casa da viúva Amma-na, que tanto queria ter um filho.”

“Amma-na”, falou Bu-anan lembrando, “ela era muito boa para mim. Uma mãe não poderia cuidar melhor de mim.”
“Você nunca ficou sabendo quem eram seus pais, Bu-anan?” perguntaram outros. “Desde cedo você estava em contato com os luminosos, eles nunca te disseram?”
“Não”, respondeu Bu-anan, “isso também não é importante. Para mim o mais significativo era que eu estava com vocês. Eu suponho que o próprio Anu me enviou a vocês para que eu O sirva aqui.”
“Para que você nos trouxesse a ligação com Ele”, disse Ur-wu. “Assim é, pois. Sem você não saberíamos nada sobre Anu, seríamos tão broncos como nossos vizinhos. Se nos tomamos servos de Anu, ternos que agradecer a você. Você era ainda uma pequena menina quando nos falou pela primeira vez Dele.”
“Como foi isso? Conta Ur-wu!” insistiram alguns dos mais jovens.
“Sim, como foi isso?” refletiu o chefe. “Não é bonito contar sobre isso. Não nos é elogiável. Eu havia saído com os adultos pela primeira vez para caçar. Nós retornamos cansados, mas felizes por causa do nosso sucesso.
As mulheres haviam acendido um fogo e esperavam as presas para preparar a refeição. Aí houve uma briga como muitas vezes naquele tempo. Alguma coisa as mulheres haviam deixado de fazer, os homens batiam-nas, de modo que seus gritos de dor passavam por sobre todas as cabanas.
Então, de repente, se encontrava a pequena Bu-anan entre nós. Ela havia subido sobre um leão abatido, para melhor poder ver e ser vista. Contudo, ela parecia imponente, aquela bonita menina encima do rei dos animais!”
O narrador aparentemente havia esquecido que esta criança se encontrava sentada entre seus ouvintes. Ele estava completamente voltado ao passado.

Todos nós amamos Bu-anan mais do que tudo o mais. Quando nós víamos a criança, nossos corações se tornavam mais leves. Naquela noite, porém, nós nos assustamos, quando os grandes e acusadores olhos estavam dirigidos a nós.
‘O que fazeis vós homens, vós, homens maus?’ clamou a criança com voz clara. ‘Se tiverem vontade de mostrar vossas forças, então se batam mutuamente! As mulheres irão agora comigo. Nós não queremos mais nada de vós! Venhais vós, vós, pobres mulheres. ’
E o milagre aconteceu: as mulheres se libertaram dos homens que, estupefatos, ficaram sem ação e seguiram a criança, que as levou de volta para as cabanas.

“Eu sei”, exclamou uma mulher vivamente. “Bu-anan mandou-nos acender um fogo próximo às cabanas. Nós comemos pão e tomamos leite, porque não tínhamos carne. Mas para nós estava melhor assim. Depois disso, porém, começou a criança a falar de Anu, o Senhor de todos os mundos, que criou a mulher para que ensinasse os homens, abrandasse seus costumes e para que captassem o raio dourado, o qual Anu envia da sua magnificência para baixo. ‘Mãos de homens são muito grosseiras para isso’, disse a menina. ‘Vós mulheres precisais mantê-lo em vossos corações, precisais orar a ele, para que ele não se afaste novamente de vós!’ Naquela noite nenhuma de nós voltou à cabana, para junto do marido!”

(continua)




Uma obra traduzida diretamente do texto original alemão de 1937, o qual foi publicado nos cadernos 6 a 12 da revista Die Stimme (A Voz). 
A história está sendo publicada em episódios da coleção do G +: 

África. (Nas Florestas da África)

Por esse mesmo esquema já foram publicadas as obras como coleções do G +: