Lembrança Mortificante
por Otto Ernst Fritsch
Descrevo aqui as Palavras do Senhor, infelizmente apenas de lembrança e por isso somente de acordo com o sentido, mas, segundo minha convicção, reproduzidas com grande fidelidade:
(continuação)
②⑨ Quando o Senhor
foi preso pelos nazistas em 11 de março de 1938 e os portadores da
Cruz de todo o mundo souberam disso, em pouco tempo ocorreu uma separação
automática. Muitíssimos, melhor dizendo, todos os portadores da Cruz
acreditaram sempre e apenas na vitória incondicional do Senhor e do movimento do Graal. Mas então, subitamente, as trevas
golpearam triunfantemente e parecia como se o Senhor e o movimento do Graal estivessem liquidados para sempre.
Isso foi naquela época, para muitos portadores da Cruz, a “prova”: “Portanto, este Oskar Ernst Bernhardt não é o
Filho do Homem!” E foi abalador ter que assistir como mesmo elevados
convocados, também apóstolos e discípulos caíram e desviaram-se. Dos quase 800
portadores da Cruz, pois, pelos meus cálculos, era mais ou menos este número,
naquela época no mínimo 600 tornaram-se – não quero dizer de forma direta –
caídos, mas pelo menos mornos e cismadores. A maioria também não retornou mais
tarde.
Para o Senhor
foi a maior dor ter que vivenciar que a maioria dos portadores da Cruz
mostrou-se, na fase de teste, apenas como varas oscilantes ao vento, mas não
batalhadores convictos e lutadores da Luz. Assim como Pedro naquela época negou
a Jesus, assim, desta vez não foi somente um, mas foram muitos os que negaram
ao seu Senhor e, de repente, nada mais quiseram saber de Abdrushin e da
Mensagem do Graal. Foi como se naquele tempo as trevas tivessem reunido todas
as energias para destruir completamente o Senhor
e Sua obra. Nove graves processos foram levantados contra Ele.
O pior e mais perigoso deles acusava-O de que Ele havia desejado chegar
politicamente ao poder. Enquanto o Senhor
estava sob esta acusação perante a GESTAPO, havia o grande perigo de que fosse
“liquidado”. Mas, depois que todas as acusações comprovaram-se infundadas no
processo judicial e caíram pouco a pouco por terra, foi comunicado ao Senhor, em 17 de setembro de
1938, que Ele estava livre com base na inocência comprovada.
Mas como isso aconteceu num sábado à tarde, as
autoridades do presídio negaram-se a soltá-Lo (em sua própria folga), e Ele
teve que passar ainda o sábado e o domingo na prisão de Innsbruck.
Meu pai providenciou logo no domingo as passagens de primeira
classe de Innsbruck para Dresden, para o Senhor,
Frau Maria, Srta. Irmingard e para si próprio. Ainda em tempo, no sábado, ele
havia encomendado na firma Hörtnagel, em Innsbruck, uma bela cesta com iguarias
para segunda-feira de manhã. Na segunda-feira, ele foi buscar o Senhor no presídio. Este lhe disse
brincando: “Agora o senhor nem deveria mais se relacionar comigo, pois eu
estive na prisão”.
Meu pai, que sempre foi muito brincalhão e com as
respostas na ponta da língua, deu uma resposta tão acertada e tão cheia de
humor que o Senhor riu com gosto
sobre ela. Infelizmente eu esqueci o comentário, do qual Frau Maria disse:
“Esta palavra um dia vai entrar para a história!”
Havia sido ao mesmo tempo comovedor e abalador – assim
contou meu pai – como o Senhor e
Frau Maria ficaram de mãos dadas durante toda a viagem, como se tivessem estado
separados por longos anos.
De Dresden, o Trígono prosseguiu sua
viagem para Görlitz, onde morava o discípulo Müller-Schlauroth e
ali permaneceram durante um período maior como hóspede, pois foi imposto pela
Gestapo que Abdrushin não retornasse mais ao Tirol.
O dia da partida de Innsbruck foi o dia 19 de setembro
de 1938. Na noite de 19 para 20 de
setembro, foi realizado um apagão total em Innsbruck, já como
preparação para a guerra. Pelo que sei, foi esta a única vez que isso foi feito
no Tirol. Da casa de meus pais, por cima dos telhados de Innsbruck indo até o
Hungerburg na Villa Waldrand, tínhamos uma vista maravilhosa sobre a cidade e
sobre o panorama da Montanha em toda a volta e, todas as noites, eram possíveis
ver um mar de luzes logo após o anoitecer. Na noite depois da partida do
Trígono, minha mãe e eu estávamos abalados na varanda e olhávamos para baixo,
para Innsbruck mergulhada na escuridão. Minha mãe disse trêmula: “A Luz
abandonou o Sagrado solo do Tirol”. E realmente trata-se neste acontecimento,
de um fato de profundo simbolismo, como pôde ser observado mais de uma vez na
vida do Senhor. Um outro exemplo
sobre isso:
Depois da guerra, o
historiador inglês Bullrock publicou vários livros, dentre eles,
reconhecidamente, uma das melhores biografias de Hitler. Nesta biografia de
Hitler, o autor descreve mais ou menos o seguinte:
❝Em 6 de dezembro de 1941, às 3 horas da tarde, iniciou a ofensiva soviética contra o exército alemão, já há bastante tempo preparada e planejada, que mais tarde culminou na completa queda e derrocada do reino de Hitler. Consequentemente, assim escreve Bullrock, “esta hora foi a hora da morte do reino alemão”. ❞
− Mas, esta hora também foi a hora do falecimento do Senhor, a hora em que o Senhor deixou-nos terrenalmente.
(continua)
Extraído (em continuação) da Cópia de um manuscrito de Otto-Ernst Fritsch