segunda-feira, 18 de junho de 2018

África XIII







Nas Florestas da África

Episódio XIII

Uma Decisão Ariscada

por Charlotte von Troeltsch

Sinopse de Fatos Transcorridos: Bu-anan, também chamada de “mãe branca”, como segurança local por proteção superior, estava ciente da vinda do céu de um Filho de Anu, estando agora em comentário a sua chegada na tribo desde ter sido encontrada ainda menina pelos caçadores; quando a vigilância informou que: um leão caíra numa vala camuflada como armadilha de proteção da comunidade...

(continuação)

Bu-anan deixou as mulheres e moças, que não mais desejavam ir até a vala, e seguiu, por sua vez, o pedido de Ur-wu, que não sabia ao certo como ele deveria se comportar.
Quando ela se encontrava no lugar do acidente, sobreveio em sua alma um grande sentimento de compaixão em relação à fera presa. Era um suntuoso leão adulto, com uma espessa juba.
Ele queria saltar a vala e caiu de barriga nos espinhos. Quanto mais ele se esforçava para sair, tanto mais ele se afundava e se emaranhava todo. Seu rugido transformara-se em gemidos de dor.
“Eu gostaria de matá-lo”, disse Ur-wu lamentando-se; pois também a ele o maravilhoso animal causava dó, “mas nós não podemos alcançá-lo. É horrível deixá-lo entregue a uma morte vagarosa. Bu-anan  nos aconselhe!”
Ela foi até a margem da vala e estendeu as mãos em oração sobre o animal em perigo.
“Anu, auxilie. Ele é também Tua criatura! Tu o criastes, assim como nos chamaste à vida. Mostra-me um caminho para livrar o amarelo.”
Ela permaneceu em silêncio por um curto tempo, a cabeça levemente inclinada. Os homens silenciaram com ela e até o animal parecia sentir do que se tratava. Ele havia parado de gemer.
Então ela falou-lhe.

“Amarelo, escute-me! Não te movimentes mais, pois tu afundarias devido isso, ainda mais profundamente. Nós queremos experimentar, colocar troncos de árvores, enfiando por baixo do teu corpo. Tu deves deixar tudo acontecer com paciência. Ninguém te quer algo de mal. Tu também não farás nada de mal aos homens, quando eles te salvarem.”
Ur-wu compreendeu o que devia ser feito. Agilmente ele instruiu os homens. Nas proximidades se encontravam troncos de árvores recentemente caídas. A metade dos homens passou para o outro lado da vala no lugar determinado. Enquanto os de cá empurravam o tronco para o outro lado, os outros tentavam apoderar-se dele.
Foi mais fácil do que se havia pensado primeiramente. Bu-anan viu como os homens tinham auxílios invisíveis. Os pequenos estavam sobre as plantas espinhosas e empurravam o tronco que Ur-wu colocava ao lado do amarelo naquele momento.
Mal o tronco tinha sido colocado, o amarelo colocou calmamente suas patas dianteiras sobre ele, e mostrou assim aos homens, que eles podiam desse modo prosseguir com o trabalho.
Mais três troncos foram colocados ao lado do primeiro. Então os pequenos se voltaram para Bu-anan e pediram-lhe que dissesse aos homens para colocar agora mais alguns troncos do outro lado do amarelo. Sobre esses ele colocou suas patas traseiras.
“Então chame sua gente de volta! Agora o rei dos animais deve tentar dar o pulo”, exclamaram os pequenos.
Bu-anan explicou às pessoas o que tinham que fazer e pediu-lhes para se distanciarem o mais longe possível da vala.
“Ele não pode pular para o outro lado?” perguntou Ur-wu preocupado. A ele não agradava ter o amarelo dentro do círculo de proteção.

Mas Bu-anan esclareceu-lhe que o gigantesco animal não podia se virar. Ele deveria pular na direção, na qual se encontrava agora.
“Ele poderá pular se soltarmos os troncos?” perguntou um dos homens.
Nisso ninguém havia pensado. Alguma coisa deveria servir de contrapeso nas pontas dos troncos. Com inesgotável esforço os homens arrastavam pedras e colocavam-nas sobre as pontas mais finas.
Depois disso eles se afastaram, mas voltaram todos outra vez, quando viram que Bu-anan não pensava em deixar a margem da vala.
Com palavras amáveis ela os mandou embora novamente.
“Eu me encontro sob a proteção de Anu”, disse ela, inúmeros pequenos seres me rodeiam. Nada irá me acontecer. Eu, porém, preciso ficar aqui para conversar com o amarelo.”
Então os homens se afastaram novamente. Bu-anan aproximou-se tanto quanto possível do animal e incentivou-o, com a ajuda dos prestimosos pequenos, a dar o pulo.
O gigantesco corpo se contraiu, a cabeça abaixou-se, o pulo realizou-se. Com o corpo tremendo o rei dos animais se encontrava diante de Bu-anan, que olhava para ele com dó. Seu corpo estava cheio de grandes espinhos. Como isso devia lhe doer.
Sem refletir a Mãe Branca estendeu a mão e retirou um dos espinhos. Os homens suaram frio. Mesmo que eles estivessem com a faca empunhada, pouco adiantaria. Uma única patada do grande animal seria suficiente para aniquilar Bu-anan.
Mas o que eles temiam não aconteceu. O animal soltou um som que quase soou como um som de bom grado e aproximou-se mais da auxiliadora. E os pequenos falaram a Mãe Branca para continuar calmamente a tirar o próximo, que não lhe aconteceria nada.

Ela não receou por nenhum momento.
Ela falava amavelmente com o amarelo, enquanto ela tirava espinho por espinho. Aí o fogo, cuja claridade lhe possibilitava esse serviço prazeroso, ameaçou apagar. Calmamente ela chamou dois dos mais corajosos homens, para trazer lenha. Eles trouxeram-na, mas o amarelo não parecia percebê-los.
Então Bu-anan perguntou, se um dos homens queria lhe ajudar iluminando com uma tocha de fogo. Imediatamente ambos se aproximaram, e Bu-anan conseguiu retirar ainda mais espinhos.
Ela falou para os demais homens voltarem para casa, para acalmarem as mulheres. Quase a metade seguiu esta proposta, os outros permaneceram, em parte preocupados com Bu-anan e em parte por curiosidade.
Até depois que o Sol tinha nascido a Mãe Branca teve que se ocupar com a retirada dos espinhos. Então ela disse ao amarelo, que ele deveria agora atravessar a vala sobre aqueles troncos e se deitar do lado de fora sob uma árvore. Ela mandaria lhe trazer a caça feita pelos homens para que pudesse se alimentar.
Obediente, o grande animal obedeceu suas palavras.
Ela, porém, indicou agora aos homens para puxar de volta os troncos e buscar carne crua para o animal ferido. Sobre o caminho habitual eles então, atravessaram a vala de espinhos e foram ao animal, cujo corpo ainda tinha um leve tremor.
“Tu, pobre”, disse ela amavelmente, “agora tu precisas comer. Também receberás água. Depois te deixarei a cargo dos pequenos enteais, que cuidarão de ti.”
Ela não deixou o lugar, antes que o amarelo tivesse recebido carne e água. Agradecido ele olhou para ela. Por nenhum momento ela receou que o amarelo utilizasse a passagem para invadir a aldeia
Quando os homens a perguntaram sobre isso, seu claro semblante anuviou.
“Assim mal agradecidos são apenas os seres humanos”, falou ela brevemente.
Antes que o Sol se pusesse, ela se dirigiu mais uma vez para o seu protegido, o qual ela encontrou dormindo tranquilamente. Muitos pequenos se encontravam com ele e agradeciam-lhe pelo seu amor.

(continua)




Uma obra traduzida diretamente do texto original alemão de 1937, o qual foi publicado nos cadernos 6 a 12 da revista Die Stimme (A Voz). 
A história está sendo publicada em episódios da coleção do G +: 

África. (Nas Florestas da África)

Por esse mesmo esquema já foram publicadas as obras como coleções do G +: