Nas
Florestas da África
Episódio
XII
Moralizando a Tribo
por
Charlotte von Troeltsch
Sinopse
de Fatos Transcorridos: Bu-anan, também chamada de “mãe branca” que conduzia
a segurança local com proteção superior, tendo sido informada por Anu, sobre a
vinda do céu de seu Filho, agora era assunto a origem e o motivo de sua chegada
na tribo desde quando fora encontrada ainda menina pelos caçadores...
(continuação)
“Sim”, disse Ur-wu, um pouco
constrangido. “Primeiro tínhamos que ver como íamos assar a carne. Nós
achávamos, porque as mulheres o sabiam, que deveria ser um trabalho fácil. Mas,
naquela noite, nós tivemos que comer um alimento horrivelmente queimado. Isto
nos tornou pensativos. Nós nos envergonhamos profundamente diante de Bu-anan, a
criança com seus olhos claros. Os homens adultos se decidiram a voltar para
suas cabanas o mais tarde possível e não falar nada com as mulheres sobre o
acontecido. Então veio a segunda humilhação: ninguém achou sua mulher em casa.”
“Todas elas se encontravam
sentadas em torno de um fogo e a criança contava casos.” Ur-wu fez uma pausa e
refletiu. Então um outro homem tomou a palavra.
“O que vem agora, eu sei melhor”,
exclamou ele. “Ur-wu naquela época era solteiro. Ele sabia o que se seguiu
somente pela narração dos outros. Eu mesmo vivenciei isso com minha própria
mulher. Se ela ainda vivesse, poderia ela mesma vos relatar, como ela na manhã
seguinte retornou à nossa cabana com passos leves, como se não tivesse
acontecido nada. Eu pedi-lhe por leite e pão. Ela me deu ambos e me olhou
amavelmente.
Então peguei sua mão e perguntei
se ela queria esquecer a surra. Novamente me foi dirigido um olhar amável, que
me deixou muito admirado. As palavras, porém, me surpreenderam muito mais
ainda:
‘Vós, pobres homens, não o sabeis
melhor. Vós precisais aprender primeiro!’
Eu fui para o meu trabalho, mas o
dia todo estas palavras me perseguiram. Nós, os senhores da tribo devíamos
primeiro aprender, porque éramos ignorantes. Um autêntico sentimento de
compaixão havia soado destas palavras!
No entardecer nós, homens, nos
reunimos e Mur-nu, que naquela época era chefe, propôs para que se chamassem as
mulheres, para que elas preparassem o fogo e assassem a carne. Mas o mensageiro
que fora enviado voltou sem as mulheres.
Nós temos que nos virar sem elas,
disse ele, elas precisam das noites para aprender de Bu-anan. Mais tarde elas
nos ensinarão.
Então mostrou-se, que quase todas
as mulheres, em casa, falaram assim como a minha!”
“Vós não deveis pensar que
Bu-anan nos mandou dizer assim”, tomou novamente a palavra a mulher, veio
espontaneamente de nós, após a criança ter nos contado sobre Anu.
Nós vimos o quanto tínhamos para
aprender, e queríamos primeiramente nos defrontar novamente com nossos homens
quando nós pudéssemos lhes anunciar o que ocorreu conosco.
Por isso, também nós permanecemos
ainda muito tempo separados deles. Durante o dia cuidávamos das crianças e
daquilo que era necessário fazer. À noite, porém, sentávamos com Bu-anan junto
ao fogo e aprendíamos. De noite dormíamos juntas, próximas ao fogo. Era um
bonito tempo!
“A nós não pareceu assim”,
continuou Ur-wu a narrar. “Naquela época eu havia construído a minha cabana
para desposar uma moça. Mas esta retraiu-se de mim, exatamente como faziam as
mulheres. Nós sentávamos à noite sozinhos junto ao fogo. E a caça foi tão
grande que não tínhamos sequer um motivo para sair novamente para caçar!”
Alguns dos homens mais jovens
riram. Eles podiam imaginar o desamparo daqueles que haviam sido abandonados.
“É, pois, estranho, que uma
criança tivesse esse tal poder sobre as mulheres!” opinou um deles.
“Diga logo que ela tinha poder
sobre todos; pois nós, homens, obedecíamos à pequena igualmente, sem discutir.
Só ela nos impedia de buscar as mulheres à força. Nós não queríamos ouvir
novamente que éramos homens maus.
Mas Tu, que sabes de Anu, não
pode realmente compreender porque foi dado um poder tão grande a uma criança?”
Àquele que foi dirigido a
pergunta, silenciou. Mas quando todos os olhares se dirigiram para ele,
compreendeu que tinha que falar.
“A força de Anu estava com ela”,
disse ele embaraçado.
“Sim, certamente!” disse Ur-wu
seriamente. “A força estava com ela, bem como, com todo aquele que é puro. A
Luz sempre será mais forte do que as trevas. Não é assim, Bu-anan?”
A indagada que se encontrava em
profunda reflexão sobressaltou-se.
“Fraco só é aquele que perdeu a
ligação com Anu”, concordou ela. Então ela prosseguiu falando:
“É tão estranho, que nós hoje
falemos sobre isso, o que já se passou há tanto tempo. Não posso mais me
lembrar de tudo, porém sei que naquele tempo tive que anunciar, junto ao fogo,
o que Adana me dissera. Quando ela me dizia, era sempre como se despertasse
algo bem profundo em mim, algo que sempre viveu ali.”
“Assim tu também falavas”, disse
novamente a mulher, na qual nessa noite o passado havia se tornado vivo. “Tu
falavas, como se visses com os próprios olhos, tudo o que nos anunciava. Anu
deve ter se alegrado com a criança que falava Dele!”
“Quando, pois, os homens
receberam novamente suas mulheres de volta?” indagou um homem mais jovem.
“Demorou até a próxima caçada”,
relatou Ur-wu. “Nós viemos carregados com animais caçados, completamente
cientes, que nós tínhamos que realizar todo o trabalho novamente sozinhos,
então encontramos um fogo ardendo em labaredas, junto ao qual as mulheres e as
moças nos esperavam.
Quando a refeição tinha sido
servida, nós buscamos Bu-anan e pedimos-lhe para nos anunciar Anu. E ela o
fez.”
“Algum dia tu também partirás de
nós assim como tu viestes, Bu-anan?” perguntou uma jovem senhora medrosamente.
“Eu poderei permanecer, até que a
minha missão com vocês esteja cumprida”, respondeu a Mãe Branca. “Quanto tempo
ainda irá demorar, eu não posso dizer. Porém seria maravilhoso se eu pudesse
vivenciar a vinda do Filho de Deus!”
Altos brados dos vigias a
interromperam. Isso nunca havia ocorrido.
Qualquer coisa importante deveria
ter acontecido que a vigilância pedia por reforço. Os homens levantaram-se num
salto, pegaram as facas que estavam ao seu lado e correram para junto dos
vigias.
Uma parte das mulheres queria
seguir em auxílio, mas uma palavra de Bu-anan as reteve. Ela mesma ansiava por
ficar sabendo o que acontecia lá fora na vala, mas ela podia esperar.
Depois de um pequeno tempo vieram
dois mensageiros com a notícia, de que um enorme leão havia se prendido no
espinheiro. Agora podia-se ouvir o rugido dele.
(continua)
Uma obra traduzida diretamente do texto original alemão de 1937, o qual foi publicado nos cadernos 6 a 12 da revista Die Stimme (A Voz).
A história está sendo publicada em episódios da coleção do G +:
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África. (Nas Florestas da África)
Por esse mesmo esquema já foram publicadas as obras como coleções do G +: