segunda-feira, 11 de junho de 2018

África XII







Nas Florestas da África

Episódio XII

Moralizando a Tribo

por Charlotte von Troeltsch

Sinopse de Fatos Transcorridos: Bu-anan, também chamada de “mãe branca” que conduzia a segurança local com proteção superior, tendo sido informada por Anu, sobre a vinda do céu de seu Filho, agora era assunto a origem e o motivo de sua chegada na tribo desde quando fora encontrada ainda menina pelos caçadores...

(continuação)

“Sim”, disse Ur-wu, um pouco constrangido. “Primeiro tínhamos que ver como íamos assar a carne. Nós achávamos, porque as mulheres o sabiam, que deveria ser um trabalho fácil. Mas, naquela noite, nós tivemos que comer um alimento horrivelmente queimado. Isto nos tornou pensativos. Nós nos envergonhamos profundamente diante de Bu-anan, a criança com seus olhos claros. Os homens adultos se decidiram a voltar para suas cabanas o mais tarde possível e não falar nada com as mulheres sobre o acontecido. Então veio a segunda humilhação: ninguém achou sua mulher em casa.”
“Todas elas se encontravam sentadas em torno de um fogo e a criança contava casos.” Ur-wu fez uma pausa e refletiu. Então um outro homem tomou a palavra.
“O que vem agora, eu sei melhor”, exclamou ele. “Ur-wu naquela época era solteiro. Ele sabia o que se seguiu somente pela narração dos outros. Eu mesmo vivenciei isso com minha própria mulher. Se ela ainda vivesse, poderia ela mesma vos relatar, como ela na manhã seguinte retornou à nossa cabana com passos leves, como se não tivesse acontecido nada. Eu pedi-lhe por leite e pão. Ela me deu ambos e me olhou amavelmente.

Então peguei sua mão e perguntei se ela queria esquecer a surra. Novamente me foi dirigido um olhar amável, que me deixou muito admirado. As palavras, porém, me surpreenderam muito mais ainda:
‘Vós, pobres homens, não o sabeis melhor. Vós precisais aprender primeiro!’
Eu fui para o meu trabalho, mas o dia todo estas palavras me perseguiram. Nós, os senhores da tribo devíamos primeiro aprender, porque éramos ignorantes. Um autêntico sentimento de compaixão havia soado destas palavras!
No entardecer nós, homens, nos reunimos e Mur-nu, que naquela época era chefe, propôs para que se chamassem as mulheres, para que elas preparassem o fogo e assassem a carne. Mas o mensageiro que fora enviado voltou sem as mulheres.
Nós temos que nos virar sem elas, disse ele, elas precisam das noites para aprender de Bu-anan. Mais tarde elas nos ensinarão.
Então mostrou-se, que quase todas as mulheres, em casa, falaram assim como a minha!”
“Vós não deveis pensar que Bu-anan nos mandou dizer assim”, tomou novamente a palavra a mulher, veio espontaneamente de nós, após a criança ter nos contado sobre Anu.
Nós vimos o quanto tínhamos para aprender, e queríamos primeiramente nos defrontar novamente com nossos homens quando nós pudéssemos lhes anunciar o que ocorreu conosco.

Por isso, também nós permanecemos ainda muito tempo separados deles. Durante o dia cuidávamos das crianças e daquilo que era necessário fazer. À noite, porém, sentávamos com Bu-anan junto ao fogo e aprendíamos. De noite dormíamos juntas, próximas ao fogo. Era um bonito tempo!
“A nós não pareceu assim”, continuou Ur-wu a narrar. “Naquela época eu havia construído a minha cabana para desposar uma moça. Mas esta retraiu-se de mim, exatamente como faziam as mulheres. Nós sentávamos à noite sozinhos junto ao fogo. E a caça foi tão grande que não tínhamos sequer um motivo para sair novamente para caçar!”
Alguns dos homens mais jovens riram. Eles podiam imaginar o desamparo daqueles que haviam sido abandonados.
“É, pois, estranho, que uma criança tivesse esse tal poder sobre as mulheres!” opinou um deles.
“Diga logo que ela tinha poder sobre todos; pois nós, homens, obedecíamos à pequena igualmente, sem discutir. Só ela nos impedia de buscar as mulheres à força. Nós não queríamos ouvir novamente que éramos homens maus.
Mas Tu, que sabes de Anu, não pode realmente compreender porque foi dado um poder tão grande a uma criança?”
Àquele que foi dirigido a pergunta, silenciou. Mas quando todos os olhares se dirigiram para ele, compreendeu que tinha que falar.
“A força de Anu estava com ela”, disse ele embaraçado.

“Sim, certamente!” disse Ur-wu seriamente. “A força estava com ela, bem como, com todo aquele que é puro. A Luz sempre será mais forte do que as trevas. Não é assim, Bu-anan?”
A indagada que se encontrava em profunda reflexão sobressaltou-se.
“Fraco só é aquele que perdeu a ligação com Anu”, concordou ela. Então ela prosseguiu falando:
“É tão estranho, que nós hoje falemos sobre isso, o que já se passou há tanto tempo. Não posso mais me lembrar de tudo, porém sei que naquele tempo tive que anunciar, junto ao fogo, o que Adana me dissera. Quando ela me dizia, era sempre como se despertasse algo bem profundo em mim, algo que sempre viveu ali.”
“Assim tu também falavas”, disse novamente a mulher, na qual nessa noite o passado havia se tornado vivo. “Tu falavas, como se visses com os próprios olhos, tudo o que nos anunciava. Anu deve ter se alegrado com a criança que falava Dele!”
“Quando, pois, os homens receberam novamente suas mulheres de volta?” indagou um homem mais jovem.
“Demorou até a próxima caçada”, relatou Ur-wu. “Nós viemos carregados com animais caçados, completamente cientes, que nós tínhamos que realizar todo o trabalho novamente sozinhos, então encontramos um fogo ardendo em labaredas, junto ao qual as mulheres e as moças nos esperavam.
Quando a refeição tinha sido servida, nós buscamos Bu-anan e pedimos-lhe para nos anunciar Anu. E ela o fez.”
“Algum dia tu também partirás de nós assim como tu viestes, Bu-anan?” perguntou uma jovem senhora medrosamente.

“Eu poderei permanecer, até que a minha missão com vocês esteja cumprida”, respondeu a Mãe Branca. “Quanto tempo ainda irá demorar, eu não posso dizer. Porém seria maravilhoso se eu pudesse vivenciar a vinda do Filho de Deus!”
Altos brados dos vigias a interromperam. Isso nunca havia ocorrido.
Qualquer coisa importante deveria ter acontecido que a vigilância pedia por reforço. Os homens levantaram-se num salto, pegaram as facas que estavam ao seu lado e correram para junto dos vigias.
Uma parte das mulheres queria seguir em auxílio, mas uma palavra de Bu-anan as reteve. Ela mesma ansiava por ficar sabendo o que acontecia lá fora na vala, mas ela podia esperar.
Depois de um pequeno tempo vieram dois mensageiros com a notícia, de que um enorme leão havia se prendido no espinheiro. Agora podia-se ouvir o rugido dele.

(continua)






Uma obra traduzida diretamente do texto original alemão de 1937, o qual foi publicado nos cadernos 6 a 12 da revista Die Stimme (A Voz). 
A história está sendo publicada em episódios da coleção do G +: 

África. (Nas Florestas da África)

Por esse mesmo esquema já foram publicadas as obras como coleções do G +: