Encontro com o Senhor:
Meu Empenho na Libertação do Senhor VI
Por Hellmuth Müller − Schlauroth
(continuação)
A segunda
realização do Senhor ocorreu por ocasião de uma enfermidade de Walter Fox.
Realização esta, aliás, para nós, seres humanos, incompreensível. Aconteceu o
seguinte: Fox tinha o costume, durante o manuseio com cereais, de colocar grãos
na boca e mastigá-los. Eu vinha observando isso há tempo e disse-lhe que
poderia contrair facilmente uma actinomicose,
a qual geralmente era mortal, pois raramente se conseguia fazer regredir o
crescimento do fungo. (Na época ainda não existia antibióticos e sulfamidas).
Fox, porém, não abandonou o seu hábito. Certo dia sentiu um mal-estar na boca e
foi ao médico. Voltou desanimado e disse que o médico diagnosticou uma
actinomicose; no dia seguinte teria de ir para o hospital. Encontrei o Senhor
em sua sala de trabalho e lhe contei o que ocorria. Ele respondeu: “Por favor,
traga-me um copo d’água.” Eu o trouxe, colocando-o sobre a mesa. O Senhor
empurrou-o para o centro e, levantando-se, chegou bem perto da mesa. Ergueu as
mãos sobre o copo, juntando-as em posição de oração. E então eu vi um facho de
luz dourada baixar dentro do copo, e a água começou lentamente a girar em torno
desse facho de luz. A água girava com rapidez, cada vez mais rapidamente, até que
nela se formou um pequeno funil. O Senhor, então, baixou suas mãos estendidas
em bênção. O movimento giratório da água diminuiu e em instantes ela ficou tão
calma como antes. Em seguida, como se nada de especial tivesse acontecido, o
Senhor ordenou-me: “Dê este copo d’água a Walter Fox, ele deve beber tudo. Mas
fique junto dele, para que ele realmente o beba.” Assim fiz. Na manhã seguinte
Fox apressou-se para ir ao hospital em Görlitz. Não acreditei no que via! Perto
do meio-dia Fox estava na minha frente, relatando: “Fui examinado por dois
médicos; ambos disseram que não havia indícios de actinomicose. Eles
comunicaram isso por telefone ao médico que consultei ontem, e o mesmo quis
ver-me. Também ele não pôde constatar nenhum sintoma da enfermidade.” E assim
Walter Fox ficou livre desse perigoso parasita de maneira milagrosa. Ele ainda
permaneceu alguns anos comigo, voltando depois para sua terra natal, a
Westfália.
Essas
realizações de sucesso assombroso, que para nós seres humanos são consideradas
milagrosas, foram executadas pelo Senhor com a tal serenidade, como se fossem
as coisas mais naturais desse mundo. Tudo aconteceu de maneira simples, quase
simples demais. Tão simples como somente ele, o Senhor, podia fazê-lo, porque
ele era a Palavra, o Saber e a Verdade.
Relatei
esses fatos pessoais, com o único objetivo de transmitir uma imagem da
personalidade do Senhor a todas as pessoas que não tiveram ou não mais puderam
ter a grande felicidade de conviver com ele aqui na matéria. Com essas
narrações, porém, eu quero também, sobretudo, combater as divagações
fantásticas e nebulosas que infelizmente se fixaram em muitos adeptos da
Mensagem do Graal. Por muitas vezes, pessoas de fora se chocam com essas
fantasias, rejeitando por isso a Mensagem.
Não me podia
escapar, após algum tempo de convivência diária com o Senhor, que às vezes ele
se sentia oprimido. Essa opressão temporária devia-se ao fato de o Senhor não
ter mais rendimentos próprios. A venda de seus livros era proibida, a Colônia
na Montanha fora confiscada. Ele se recusou a receber dinheiro, oferecido por
portadores da Cruz, por não poder oferecer nada em troca. Por essa razão o
Senhor fez contato com vários teatros, a fim de ver se eles se interessavam por
suas peças teatrais, há tempo prontas e guardadas. Lembro-me de uma tentativa
em Dresden. Fomos para lá em meu carro, acompanhados também de Frau Maria e
Irmingard. O Senhor tinha em Dresden um conhecido de épocas passadas que, nesse
ínterim, tornou-se administrador do mundialmente conhecido Circo Sarrassani.
Não tendo encontrado o mesmo em sua residência, fomos ao circo e entramos ali
num turbilhão de artistas, domadores, um pessoal que gritava descontroladamente.
Entre eles encontramos, após enorme procura, o administrador. Essa situação
turbulenta era para mim pouco agradável, mas o Senhor não se importava. Pelo
contrário, eu tinha a impressão de que todo aquele movimento divertia-o.
Provavelmente alegrou-o vivenciar algo espontâneo, sem artifícios, algo que se
mostrava assim como realmente é. O administrador ainda se lembrava do Senhor,
mas a entrevista, infelizmente, não deu resultado, bem como as demais
tentativas em outros teatros. O Senhor, evidentemente, apenas esperava que o
administrador abrisse caminho por intermédio de pessoas conhecidas. As peças
teatrais do Senhor, naturalmente, não eram apropriadas para apresentação num
circo.
Devido ao
fato de o Senhor sempre procurar o equilíbrio, sempre estando disposto a ajudar
onde lhe fosse possível, ele induziu-me a encarregar o Sr. Alexander da
escrituração do livro diário do empreendimento rural e do processamento da
folha de pagamento.
Conforme
fora instruído, recusei com determinação todos os visitantes que tentaram
novamente aproximar-se do Senhor. Logo ficou claro que isso não agradou as
senhoras nem ao Sr. Alexander. Eu tinha a nítida intuição de que o Senhor, na
minha casa, sentia-se abrigado e seguro. A vida da casa, porém, parecia
restrita às senhoras. Também fizeram contato com outros adeptos do Graal,
dentre eles com o Sr. Giesecke, de Berlim. O Sr. Giesecke era proprietário da
“Fábrica Berlinense de Eixos para Vagões”, com filial em Grosshain, na Saxônia.
Além disso, possuía, pode-se dizer como refúgio, em Kipsdorf, Erzgebirge, uma
pequena propriedade agrícola e perto desta uma casa de campo. Com exceção de um
quarto para uso dele e de sua senhora, o Sr. Giesecke colocou essa casa à
disposição do Senhor e de sua família. Dependia de mim, então, obter da Gestapo
uma autorização para a mudança do Senhor para Kipsdorf e, além disso, conseguir
o transporte dos móveis de Innsbruck para Kipsdorf. Consegui ambos. Não fui
desvinculado, porém, de minha responsabilidade pessoal para com o Senhor.
Fui a Kipsdorf diversas vezes, devido a reforma
da casa, acompanhado pelo Senhor e sua família; logo após o Pentecostes de 1939
eles mudaram-se definitivamente. O Senhor mandou arrumar um pequeno quarto para
que eu dispusesse dele como quisesse. Usei-o duas vezes. Depois, porém, quando
sempre mais visitantes iam para Kipsdorf, poucas vezes me dirigi ao local. A
última vez em que encontrei o Senhor ainda com saúde − acho que foi no início
de agosto − perguntei-lhe por que recebia outra vez tantas visitas. Quando
chegou em Schlauroth o Senhor tinha me ordenado diretamente que não deixasse
nenhuma pessoa se acercar dele. O Senhor respondeu-me com as seguintes
palavras: “Sim, tudo isso se tornou agora totalmente diferente.” Ele proferiu
essas palavras com profunda tristeza, a qual não pôde passar despercebida. Com
ela não somente eu fiquei surpreso, mas também meu amigo Karl Linckelmann, que
se encontrava em Kipsdorf. Ambos ficamos perplexos. Isso aconteceu logo após o
último interrogatório do Senhor, feito pela Gestapo de Dippoldiwalde, em
26.06.1940. Eu sabia do motivo desse interrogatório, bem como conhecia seus
causadores, sabendo também de que espécie eram essas pessoas. Esse processo em
andamento, a malícia das pessoas, o aumento das visitas em Kipsdorf, a contínua
pressão de ser vigiado pela Gestapo, e, não por último, a amarga decepção,
devido ao fato de bem poucos seres humanos, ao contrário do que o Senhor
esperava, assimilarem sua Palavra, parece-me que foram as principais causas da
sua, considerada para nós muito prematura, morte terrena.
(continua)
Trecho do texto: Encontro Com O Senhor - (nas Recordações
e pensamentos do discípulo: Hellmuth Müller – Schlauroth)
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