Encontro com o Senhor:
Meu Empenho na Libertação do Senhor V
Por Hellmuth Müller − Schlauroth
(continuação)
O Senhor
sempre foi a naturalidade, a simplicidade e a clareza em perfeição. Seu saber
universal perante o qual só se podia ficar admirado, em profunda humildade, não
era somente espiritual; também em muitas coisas práticas e trabalhos
profissionais ele mostrava ter tanta experiência, como se ele mesmo já os
tivesse executado. Ele repelia todas as coisas místicas, mesmo quando realizava
atos que não nos eram compreensíveis e que, por isso, eram considerados
sobrenaturais. (Ainda falarei sobre dois destes fatos).
Nas
ocasiões em que fiquei a sós com ele, diria mesmo, somente quando não havia a
presença de terceiros, pude intuir, profundamente, que o Senhor provinha de um
plano bem diferente do qual provinham os seres humanos. Que ele estava longe e
muito acima de nós. Reconheci que ele era o Senhor, o Filho do Homem, não
somente através da intuição, mas também intelectivamente. Também na vida diária
e no relacionamento com pessoas que lhe eram distantes, pessoas estranhas, o
Senhor era de uma simplicidade natural e de uma nobre discrição, que a cada um,
quisesse ou não, inspirava respeito. Era nobre no verdadeiro sentido da
palavra. Escrevo isso livre de qualquer mistificação e glorificação. Escrevo
isso, tendo, provavelmente, mais do que qualquer outro, um abrangente
conhecimento de toda a baixeza, difamação e maldade usadas contra o Senhor, com
o objetivo de obrigá-lo a se calar.
Muitas
vezes, nas longas noites de inverno, o Senhor lia para nós suas peças de teatro
e nos contava passagens de suas viagens. Nessas noites também o nosso pessoal
doméstico participava. Era uma alegria especial para o Senhor quando meus pais
vinham nos visitar. Minha mãe tinha o dom de narrar alegre e cativante também ao
contar vivamente acontecimentos de sua vida. O Senhor lhe pedia isso, sempre
que ela nos visitava. Ele explicou-me em certa ocasião que assim o fazia porque
minha mãe lembrava-o mui intensamente da dele; disse que quando fechava os
olhos, parecia-lhe ser a mãe dele que estava falando. Eu teria ainda muitas
vivências pessoais com o Senhor, válidas para serem relatadas, que ocorreram
durante sua estada em Schlauroth. Contarei, porém, somente dois fatos, já
mencionados de passagem anteriormente.
A
casa-sede de Schlauroth tinha aproximadamente 250 anos, conforme já afirmei. As
dependências, no andar térreo, eram todas grandes e os tetos formavam pesadas
abóbadas. No 1º andar situava-se somente uma sala com o teto em arcos
pontiagudos, relativamente pequena; os demais cômodos tinham tetos retos,
cobertos por estuque. Usávamos a pequena sala abobadada como sala de música. Em
séculos passados ela tinha sido a capela da casa-sede.
Logo após
ter assumido Schlauroth (isso em 1919, ainda quinze anos antes de conhecer o
Senhor e sua Mensagem), todas as vezes que estava sozinho na sala de música e
tocava piano, tão logo começasse a tocar, eu tinha a impressão de que alguém
entrava na sala. Quando me virava não encontrava ninguém. Caso eu não me
virasse, continuando a tocar, sentia quase que fisicamente que alguém entrava e
se postava atrás de mim. Se eu continuasse a tocar, percebia que uma pessoa se
sentava na poltrona, ao lado do piano; chegava até a escutar o leve estalar da
poltrona feita de uma espécie de taquara. Eu tinha, na época, um cão
especialmente fiel que dificilmente saía de perto de mim, mas que muito
contrariado me acompanhava até a sala de música, aproveitando sempre a primeira
oportunidade, quando não se sentia vigiado, para sair e ficar esperando-me na
sala de jantar ao lado. Inicialmente não contei a ninguém a respeito do que
havia observado, até que percebi que a minha enteada, de oito anos, quase não
estudava para suas aulas de piano. Fiquei sabendo que Inge não ficava sozinha
na sala de musica, porque imediatamente após tocar as teclas, tinha sempre a
pavorosa impressão de que alguém entrava na sala; quando então ela se virava,
nunca encontrava ninguém. Alguns anos mais tarde aconteceu o mesmo com um dos
meus primos − cuja profissão era professor e organista − quando tocava piano e
se encontrava sozinho na sala. Este primo era antropossofista. Ele julgava
possuir aptidões mediúnicas, e seria, conforme afirmara, um psicógrafo. Segundo
o seu desejo, ele passou a noite seguinte na sala de música. De manhã
mostrou-me suas anotações, nas quais podia-se ler que naquela sala
encontrava-se um espírito, (de nome “Nobre de Schlauroth”), preso à Terra,
porque estuprou ali uma menina de 10 anos, matando-a em seguida. Ao ser
perguntado o seu nome o espírito se denominou “Nobre de Schlauroth”. Eu nunca
tinha ouvido esse nome, não existia uma crônica da casa, e os velhos livros de
registros da comunidade eram incompletos e apresentavam grandes lacunas. Algum
tempo depois, porém, uma jardineira de Schlauroth, que nada sabia das anotações
de meu primo, contou-me que descobriu no velho cemitério de Nicolai, em
Görlitz, uma lápide envelhecida pelo tempo, na parede externa da igreja, com a
inscrição “Nobre de Schlauroth”. No dia seguinte fui à procura da lápide. O
nome correspondia; o ano, infelizmente, não era mais reconhecível; também o
padre da igreja não podia dar informações mais precisas.
Numa noite de inverno, quando estávamos reunidos
em nossa sala de jantar, eu contei tudo isso ao Senhor, que com grande
interesse acompanhou minhas explanações. Ele então se levantou, caminhou até a
sala de música e disse: “Por favor, deixe-me por vinte minutos sozinho na sala
de música.” Após esse tempo voltou a sentar-se conosco e falou: “Esse espírito
preso à Terra não perturbará mais ninguém. Eu o libertei.” Realmente nunca mais
tive essas extraordinárias vivências, nem mesmo minha enteada ou meu primo. O
Senhor não se alterou com o que ocorrera, não demonstrando qualquer sinal de
exaltação, tratando esse fenômeno como um acontecimento comum e absolutamente
normal.
(continua)
Trecho do texto: Encontro Com O Senhor - (nas Recordações
e pensamentos do discípulo: Hellmuth Müller – Schlauroth)
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