quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Encontro com o Senhor V






Encontro com o Senhor:

Meu Empenho na Libertação do Senhor V

Por Hellmuth Müller − Schlauroth


(continuação)

O Senhor sempre foi a naturalidade, a simplicidade e a clareza em perfeição. Seu saber universal perante o qual só se podia ficar admirado, em profunda humildade, não era somente espiritual; também em muitas coisas práticas e trabalhos profissionais ele mostrava ter tanta experiência, como se ele mesmo já os tivesse executado. Ele repelia todas as coisas místicas, mesmo quando realizava atos que não nos eram compreensíveis e que, por isso, eram considerados sobrenaturais. (Ainda falarei sobre dois destes fatos).

Nas ocasiões em que fiquei a sós com ele, diria mesmo, somente quando não havia a presença de terceiros, pude intuir, profundamente, que o Senhor provinha de um plano bem diferente do qual provinham os seres humanos. Que ele estava longe e muito acima de nós. Reconheci que ele era o Senhor, o Filho do Homem, não somente através da intuição, mas também intelectivamente. Também na vida diária e no relacionamento com pessoas que lhe eram distantes, pessoas estranhas, o Senhor era de uma simplicidade natural e de uma nobre discrição, que a cada um, quisesse ou não, inspirava respeito. Era nobre no verdadeiro sentido da palavra. Escrevo isso livre de qualquer mistificação e glorificação. Escrevo isso, tendo, provavelmente, mais do que qualquer outro, um abrangente conhecimento de toda a baixeza, difamação e maldade usadas contra o Senhor, com o objetivo de obrigá-lo a se calar.

Muitas vezes, nas longas noites de inverno, o Senhor lia para nós suas peças de teatro e nos contava passagens de suas viagens. Nessas noites também o nosso pessoal doméstico participava. Era uma alegria especial para o Senhor quando meus pais vinham nos visitar. Minha mãe tinha o dom de narrar alegre e cativante também ao contar vivamente acontecimentos de sua vida. O Senhor lhe pedia isso, sempre que ela nos visitava. Ele explicou-me em certa ocasião que assim o fazia porque minha mãe lembrava-o mui intensamente da dele; disse que quando fechava os olhos, parecia-lhe ser a mãe dele que estava falando. Eu teria ainda muitas vivências pessoais com o Senhor, válidas para serem relatadas, que ocorreram durante sua estada em Schlauroth. Contarei, porém, somente dois fatos, já mencionados de passagem anteriormente.

A casa-sede de Schlauroth tinha aproximadamente 250 anos, conforme já afirmei. As dependências, no andar térreo, eram todas grandes e os tetos formavam pesadas abóbadas. No 1º andar situava-se somente uma sala com o teto em arcos pontiagudos, relativamente pequena; os demais cômodos tinham tetos retos, cobertos por estuque. Usávamos a pequena sala abobadada como sala de música. Em séculos passados ela tinha sido a capela da casa-sede.

Logo após ter assumido Schlauroth (isso em 1919, ainda quinze anos antes de conhecer o Senhor e sua Mensagem), todas as vezes que estava sozinho na sala de música e tocava piano, tão logo começasse a tocar, eu tinha a impressão de que alguém entrava na sala. Quando me virava não encontrava ninguém. Caso eu não me virasse, continuando a tocar, sentia quase que fisicamente que alguém entrava e se postava atrás de mim. Se eu continuasse a tocar, percebia que uma pessoa se sentava na poltrona, ao lado do piano; chegava até a escutar o leve estalar da poltrona feita de uma espécie de taquara. Eu tinha, na época, um cão especialmente fiel que dificilmente saía de perto de mim, mas que muito contrariado me acompanhava até a sala de música, aproveitando sempre a primeira oportunidade, quando não se sentia vigiado, para sair e ficar esperando-me na sala de jantar ao lado. Inicialmente não contei a ninguém a respeito do que havia observado, até que percebi que a minha enteada, de oito anos, quase não estudava para suas aulas de piano. Fiquei sabendo que Inge não ficava sozinha na sala de musica, porque imediatamente após tocar as teclas, tinha sempre a pavorosa impressão de que alguém entrava na sala; quando então ela se virava, nunca encontrava ninguém. Alguns anos mais tarde aconteceu o mesmo com um dos meus primos − cuja profissão era professor e organista − quando tocava piano e se encontrava sozinho na sala. Este primo era antropossofista. Ele julgava possuir aptidões mediúnicas, e seria, conforme afirmara, um psicógrafo. Segundo o seu desejo, ele passou a noite seguinte na sala de música. De manhã mostrou-me suas anotações, nas quais podia-se ler que naquela sala encontrava-se um espírito, (de nome “Nobre de Schlauroth”), preso à Terra, porque estuprou ali uma menina de 10 anos, matando-a em seguida. Ao ser perguntado o seu nome o espírito se denominou “Nobre de Schlauroth”. Eu nunca tinha ouvido esse nome, não existia uma crônica da casa, e os velhos livros de registros da comunidade eram incompletos e apresentavam grandes lacunas. Algum tempo depois, porém, uma jardineira de Schlauroth, que nada sabia das anotações de meu primo, contou-me que descobriu no velho cemitério de Nicolai, em Görlitz, uma lápide envelhecida pelo tempo, na parede externa da igreja, com a inscrição “Nobre de Schlauroth”. No dia seguinte fui à procura da lápide. O nome correspondia; o ano, infelizmente, não era mais reconhecível; também o padre da igreja não podia dar informações mais precisas.

Numa noite de inverno, quando estávamos reunidos em nossa sala de jantar, eu contei tudo isso ao Senhor, que com grande interesse acompanhou minhas explanações. Ele então se levantou, caminhou até a sala de música e disse: “Por favor, deixe-me por vinte minutos sozinho na sala de música.” Após esse tempo voltou a sentar-se conosco e falou: “Esse espírito preso à Terra não perturbará mais ninguém. Eu o libertei.” Realmente nunca mais tive essas extraordinárias vivências, nem mesmo minha enteada ou meu primo. O Senhor não se alterou com o que ocorrera, não demonstrando qualquer sinal de exaltação, tratando esse fenômeno como um acontecimento comum e absolutamente normal.

(continua)
  
Trecho do texto: Encontro Com O Senhor - (nas Recordações e pensamentos do discípulo: Hellmuth Müller – Schlauroth)


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