Encontro com os seres da natureza
por Eduard Hosp Porto
(continuação)
Entes da Natureza na Bíblia (complemento)
No
”Evangelho da Paz de Jesus Cristo através do discípulo João” – este texto em
armênio fora escrito bem na época inicial do cristianismo – são mencionados
anjos do ar, da água e da luz solar, os quais os seres humanos deveriam chamar
para receberem efeitos curativos destes elementos.
No “Livro de Enoque”, o qual por diversas
vezes é mencionado na Bíblia, existem anjos que também são responsáveis pelos
elementos. Entre outras coisas Enoque descreve em suas visões: “E o espírito do
mar é másculo e forte e de acordo com a intensidade de sua força ele o refreia
e igualmente impele para frente, dispersando-o por todas as partes da Terra. E
o espírito da geada é anjo seu, e o espírito do granizo é um bom anjo. E o
espírito da neve deixou sua câmara por causa de sua força e um espírito
especial encontra-se dentro dela; e o que sai dali é como uma fumaça e seu nome
é frio. E o espírito da neblina não participa com eles de suas câmaras pois seu
percurso mostra clareza na luz e escuridão, no inverno e no verão, e em sua
câmera há um anjo.” (Livro de Enoque 60, 16-20).
Indiferente se eles são mencionados
como anjos ou espíritos dos elementos, todos esses textos indicam que existem
forças da natureza formadas e atuantes e que todos os fenômenos naturais são
dirigidos por esses seres. Pensando-se a partir deste ponto de vista, a ligação
entre anjos e seres da natureza encontra-se realmente próxima: Em ambos os
casos tratam-se de servos de Deus, que executam sua sagrada Vontade Criadora.
Misturas
Naturalmente
podemos nos perguntar no estudo de escritos bíblicos, ou seja, inspirados, se o
conceito “anjo”, que traz à expressão algo especialmente elevado, próximo a
Deus, se justifica em todo ou qualquer caso.
Ele também não fora utilizado
injustamente, condicionado por dificuldades de tradução ou simplesmente porque
não se encontrou nenhuma expressão melhor, para descrever a atuação de
entealidades invisíveis, André Chouraqui, um famoso tradutor
francês da Bíblia e do Corão, designa a palavra hebráica para anjo, segundo o
sentido, como um ser que “executa um trabalho”. Isto não tem de ser uma tarefa
como mensageiro, mas pode abranger também uma atividade em conexão com os
elementos da natureza.
Mas é evidente que seres que
possuem sua origem no reino Divino não podem ser comparados com aqueles seres
da natureza, que atuam como forças elementares desta pequena Terra. A mistura
conceitual dos anjos e seres da natureza foi favorecida pelo fato da igreja
católica combater outrora com todas as forças todos os cultos dedicados às
criaturas enteais, ou seja, aos deuses. No século VI, em um decreto de Justiniano
contra a doutrina de Originies – com a qual fora banida ao mesmo tempo a crença
na reencarnação – dizia entre outras coisas que cada um que afirmasse que o
céu, o sol, as estrelas etc. fossem vivificados, ou seja, possuísem seres
conscientes, seria excomungado (proposta 6 do decreto). Isto deixa supor que os
tradutores de textos bíblicos esbarraram em algumas dificuldades. Pois sempre
de novo fala-se nos escritos, por exemplo, das “legiões do Senhor”, com o que
não se tem em vista apenas anjos.
Na vedade a Bíblia também menciona
expressamente sobre as “legiões dos anjos” (Mateus 26,53), contudo, designa
também outros seres com a expressão “exército”. Isto mostra, por exemplo, os
versos 19, 20 e 21 do salmo 103:
“O
Senhor estabeleceu Seu Trono no céu, e o Seu Reino domina sobre tudo. Louvai ao
Senhor vós,
anjos seus, vós
fortes heróis,
que cumpris as suas ordens, para que se obedeça à voz de Sua Palavra! Louvai ao
Senhor, todo o seu exército,
vós
seus servos, que executais Sua Vontade!”
Em outra passagem o autor dos salmos exorta todas criaturas
de Deus, para louvar ao Senhor. Ele faz isso, ao chamar uma após outra, começando com aquelas que
habitam “nas alturas” e finalizando com aquelas
que se encontram sobre a Terra. Na longa lista de criaturas mencionadas podemos
constatar que os anjos e o exército de entes do Senhor são chamados separadamente:
“Aleluia! Louvai no céu o
Senhor; louvai-O nas alturas! Louvai-O todos os seus anjos, todo seu exército!”
(Salmos 148,1-2).
Observemos os seres da
natureza e seus grandes guias enteais, como pertencendo ao exército do Senhor e
admitamos que certos textos bíblicos possuam uma mistura de conceitos,
resultantes de problemas de tradução, mas também diante de um fundo histórico
descrito.
Na
história do Velho Testamento a respeito da tomada de Jericó por Josué e as
tropas israelitas, podemos classificar o exército ali mencionado, sem mais
receio como o atuar de forças enteálicas.
Pois quem veio a auxílio de Josué diante da cidade rigorosamente cerrada?
Nenhum anjo, mas alguém que se designava como “príncipe do exército do Senhor”
(Josué 5,14). E durante os sete dias que os israelitas tocavam trombetas
rodeando a cidade, as forças da natureza se preparavam – através da modificação
no subsolo – para a queda do muro da cidade.
Seres Elementares
Se
a natureza não fosse vivificada e movimentada por forças purificadoras – como
deveríamos compreender aquelas declarações bíblicas, nas quais os elementos são
observados ou invocados como seres?
Quando
está escrito: “Quando as estrelas da manhã juntas me louvam...” (Jó 38,7); ou
também: “Louvai ao Senhor sobre a Terra... fogo, granizo, neve e nuvens, ventos
tempestuosos que executam a sua vontade” (Salmos 148,7-8), então só se pode
supor que atrás das formas que se manifestam – fogo, granizo, vento, estrelas –
encontram-se seres conscientes que executam servindo, a Vontade de Deus, Sua
Palavra.
No
evangelho de Mateus é descrito como Jesus atravessou o mar da Tibéria de barco,
juntamente com seus discípulos. Naquela ocasião, enquanto Jesus dormia, um
forte vento ameaçou o barco em que eles se encontravam, fazendo que os
discípulos tivessem medo de naufragar e assim acordaram-no.
“Então
ele lhes disse: ‘Por que temeis homens de pouca fé?’ Então, levantou-se e
repreendeu os ventos e o mar, e houve grande bonança. Aqueles homens, porém,
admiraram-se dizendo: “Quem é este homem, que até os ventos e o mar lhe
obedecem?” (Mateus 8, 26-27).
Devemos
nos perguntar por que este texto expressa que o vento e o mar ameaçavam o barco
de Jesus, a quem por meio de sua origem Divina os elementos já são submissos? A
Onipotência de sua vontade deveria por si só bastar, para modificar o curso dos
fenômenos da natureza, portanto acalmar os elementos. Contudo, a palavra
“ameaçar” indica para o fato que Jesus se dirigia a uma consciência. Expressa
que ele apresentou sua vontade perante os entes responsáveis pela tempestade,
para que eles se conscientizassem a respeito do que ele exigia que
interrompessem o curso de seu atuar.
(continua)
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