A
Luta na Natureza
por
Abdrushin
Tolos, vós que sempre de novo perguntais se é certa a luta na
Criação, vós que a considerais apenas como crueldade, não sabeis vós que com
isso designais como fracalhões, como nocivos para qualquer possibilidade atual
de ascensão?
Despertai finalmente dessa moleza inaudita, a
qual só deixa o corpo e o espírito afundar lentamente, jamais, porém,
elevar!
Olhai ao vosso redor, observando, reconhecendo, e
tereis de abençoar a grande força impulsionadora que impele para a luta
e, com isso, para a defesa, para a cautela, para o estar alerta e para a
vida! Ela protege a criatura do envolvimento pela indolência mortífera!
Acaso poderá um artista atingir um ponto
culminante e mantê-lo, se não se exercitar constantemente, e lutar por isso?
Não importa com o que se ocupe, quão fortes sejam as capacitações que possua. A
voz de um cantor logo se enfraqueceria, perderia sua firmeza, se não pudesse
obrigar-se a exercitar e aprender sempre de novo.
Um braço só pode se fortalecer quando se esforça
continuamente. No esmorecer nisso, tem que enfraquecer. E assim também cada
corpo, cada espírito! Voluntariamente, porém, pessoa alguma se deixa levar a
isso. Alguma pressão deve existir!
Se tu quiseres ser sadio, então cuida de
teu corpo e do espírito. Quer dizer, mantém-no em rigorosa atividade!
Aquilo que o ser humano hoje e desde sempre tem
na conta de “cuidar” não é o certo. Ou entende sob “cuidar” um doce ócio, no
qual, já por si só, encontra-se o que é enfraquecedor, paralisante, ou pratica
o “cuidar” apenas de modo unilateral, como em cada esporte, isto é, o cuidar
torna-se “esporte”, excesso unilateral, e com isso se transforma em
abusos levianos, ambiciosos, que são indignos de um humanismo sério. Verdadeiro
humanismo deve, pois, ter diante dos olhos o último alvo, que com salto
em altura, natação, corridas, equitação, dirigir insensatamente não se pode alcançar.
A humanidade e a Criação inteira não lucram coisa alguma com semelhantes
façanhas individuais, para as quais tantas pessoas sacrificam, mui
freqüentemente, a maior parte de seus pensamentos, de seu tempo e de sua vida
terrena!
Que tais abusos pudessem se formar mostra como é
falso o caminho, que a humanidade segue, e como ela novamente também tem
direcionado essa grande força impulsionadora na Criação somente para trilhos
errados e com isso a malbarata em brincadeira fútil, senão até em prejuízo devido
à obstrução do progresso sadio, para o qual todos os meios repousam na Criação.
O curso das fortes correntezas do espírito, as
quais devem beneficiar o impulso ascendente, eles torcem em sua presunção
humana de tal modo que, em lugar do benefício desejado, surgem estagnações que
atuam como obstáculos, os quais, retroagindo, aumentam o impulso para a luta e,
por fim, rebentando, arrastam tudo consigo para as profundezas.
É isso com que o ser humano se ocupa hoje
predominantemente em suas vazias brincadeiras e fúteis ambições consideradas
por eles científicas. Como perturbador da paz em toda a harmonia da
Criação!
Já há muito ele teria caído no sono indolente da
ociosidade, ao qual deve seguir a podridão, se não existisse na Criação
felizmente ainda o impulso para a luta, que o obriga, todavia, a
se mexer! Do contrário, já há muito tempo teria chegado à arrogância de que
Deus deve cuidar dele através de Sua Criação, como nos sonhos do país das
delícias. E se, para tanto, expressa seu agradecimento em uma oração, sem
participação do espírito, então seu Deus está com isso altamente recompensado,
pois existem muitos que nem Lhe agradecem por isso!
Assim é o ser humano, e de fato nada
diferente!
Ele fala de crueldade na natureza! Não lhe ocorre
a idéia de, antes de tudo, examinar-se uma vez a si próprio. Só quer sempre
apenas criticar.
Também na luta entre os animais só existe bênção,
nenhuma crueldade.
Basta que se observe bem qualquer animal.
Tomemos, por exemplo, o cão. Quanto mais cuidadosamente for tratado tal cão,
tanto mais comodista se tornará, mais preguiçoso. Se um cão vive na sala de
trabalho de seu dono e este atenta, diligentemente, para que o animal jamais
seja pisado, ou apenas empurrado, mesmo que se deite em lugares onde
constantemente esteja em perigo de poder ser machucado sem intenção, como junto
à porta, etc., isso redunda apenas em prejuízo do animal.
Em bem pouco tempo o cão perderá sua própria
vigilância. Pessoas “de bom coração” dizem, atenuando “afetivamente”, talvez
até comovidas, que com isso ele mostra uma “confiança” indizível! Sabe que
ninguém o machucará! Na realidade, porém, nada mais é do que uma grave
diminuição da capacidade de “vigilância”, um acentuado retrocesso da
atividade anímica.
Se, no entanto, um animal tiver de estar constantemente
alerta e em prontidão de defesa, ele não somente torna-se e permanece
animicamente vigilante, mas progredirá continuamente em inteligência, lucra
de toda maneira. Permanecerá vivo em todos os sentidos. E isso é progresso!
Assim se dá em relação a cada criatura! Senão sucumbe; pois nisso também
o corpo enfraquece pouco a pouco, torna-se mais facilmente acessível às
doenças, não tem mais resistência alguma.
Que o ser humano, também nisso, tem e exerce em
relação ao animal uma atitude totalmente errada, em vários sentidos, não
surpreenderá um observador atento, uma vez que o ser humano, sim, tem se
sintonizado contra tudo, também contra si próprio e contra toda a
Criação, de modo totalmente errôneo, causando espiritualmente apenas prejuízo
em toda parte, ao invés de trazer benefício.
Se hoje não existisse mais o impulso para a luta
na Criação, o qual tantos indolentes denominam como cruel, há muito tempo a
materialidade já se encontraria em apodrecimento e em decomposição. Atua ainda
como algo anímica e fisicamente conservador, jamais como algo
destruidor, conforme superficialmente apenas aparenta. De outra maneira, nada
mais manteria essa inerte matéria grosseira em movimento e, com isso, no
saneamento e no vigor, depois que o ser humano, devido ao seu
desencaminhamento, torceu de modo tão ignominioso o efeito reparador, a isso
especificamente destinado, da força espiritual que tudo perpassa, de
modo que ela não pode atuar assim como realmente devia! (Compare
dissertações anteriores.)
Se o ser humano não houvesse malogrado tanto em
sua destinação, muita coisa, tudo mesmo, apresentar-se-ia hoje de modo
diferente! Inclusive a assim chamada “luta” não se encontraria nesta
forma em que se apresenta agora.
O impulso para a luta seria enobrecido,
espiritualizado pela vontade ascendente das criaturas humanas. O efeito,
primitivamente bruto, em vez de aumentar como se dá agora, ter-se-ia modificado
com o tempo devido à influência espiritual e correta, para um impulso
comum e alegre do desenvolvimento mútuo, que requer a mesma intensidade de
energia que a mais violenta luta. Apenas com a diferença de que da luta
sobrevém cansaço, do desenvolvimento, porém, em efeito retroativo, maior
intensificação ainda. Por fim, ter-se-ia estabelecido através disso, também na cópia
da Criação, onde a vontade espiritual do ser humano constitui a
influência mais forte, o estado paradisíaco da verdadeira Criação, para todas
as criaturas, onde não se faz mais necessária luta alguma e nenhuma aparente
crueldade! O estado paradisíaco, porém, não é acaso ociosidade, mas, pelo
contrário, equivale à mais enérgica atividade, à vida real, pessoal e
plenamente consciente!
Que isso não pôde acontecer é culpa do espírito
humano! Nisso, volto sempre de novo ao incisivo pecado original, que descrevo
detalhadamente na dissertação “Era uma vez...!”. *(Dissertação
Nº 80)
Somente o total falhar do espírito humano na
Criação, com o emprego abusivo da força espiritual a ele concedida,
através do desvio dos efeitos para baixo, em vez de em direção às alturas
luminosas, conduziu aos abusos errados de hoje!
Até mesmo a capacidade de reconhecer o erro, o
ser humano já desperdiçou, perdeu-a. Assim, eu só pregaria a ouvidos surdos,
se quisesse falar ainda mais a tal respeito. Quem realmente quiser
“ouvir” e puder procurar com sinceridade, encontra na minha Mensagem tudo
quanto precisa! Por toda parte foi dado também esclarecimento sobre o grande
falhar, que acarretou tão indizível desgraça em tão múltipla configuração.
Quem, todavia, é espiritualmente surdo, como tantos, tem, pois, apenas o
riso inexpressivo da incompreensão, que deve aparentar saber, mas
preconiza, na realidade, apenas leviana superficialidade, equivalente à máxima
estreiteza mental. A quem hoje o riso idiota dos que são espiritualmente restritos
ainda causa alguma impressão, este, ele próprio, nada vale. Neste posto
cabe a palavra de Cristo: “Deixai, pois, que os mortos enterrem seus mortos!”
Pois quem é espiritualmente surdo e cego, equivale a espiritualmente
morto!
O espírito humano podia, com a sua capacidade,
transformar o mundo terreno como cópia da Criação, em um Paraíso! Não o fez e
por isso vê agora o mundo diante de si assim como ele o deformou, devido
à sua influência errada. Nisso se encontra tudo! Por conseguinte, não
insulteis por falsa moleza um fenômeno tão importante como a luta na natureza,
que necessariamente ainda equilibra algo que o ser humano negligenciou! Não
ouseis designar vossa moleza doce-abafadiça ainda com a expressão “amor”, na
qual a criatura humana procura, de tão bom grado, enfileirar as suas fraquezas!
A falsidade e a hipocrisia terão de vingar-se amargamente!
Por isso ai de ti, ó criatura humana, como obra
corroída de tua arrogância! Caricatura daquilo que deverias ser!
Contemplai uma vez com calma o que costumais
chamar de natureza: as montanhas, lagos, bosques, prados! Em todas as estações
do ano. Os olhos podem saciar-se com a beleza de tudo aquilo que contemplam. E
então refleti: o que tanto vos consegue alegrar e proporcionar restabelecimento
são os frutos de um atuar de tudo quanto é enteal, que se encontra na
Criação abaixo do espiritual, cuja força vos foi proporcionada!
Depois procurai os frutos de vosso atuar,
vós que sois espirituais e nisso denominais como sendo vossas muito mais
aptidões, mas, por isso, também teríeis de efetuar algo mais elevado do que o
enteal que vos antecede.
O que vedes aí? Apenas uma imitação sem vida de
tudo aquilo, que o enteal já fez, mas nenhum desenvolvimento contínuo em
direção à altura ideal no que é vivo e, com isso, na Criação! Com instintos
criadores simplesmente atrofiados, procura a humanidade imitar formas sem vida,
na maneira mais baixa, enquanto que, de espírito livre e consciente, com o
olhar voltado para o divinal, seria capaz de formar algo absolutamente diferente,
muito mais grandioso!
Da grandeza, que só provém do espírito livre,
os seres humanos privaram-se criminosamente, e por isso, além de imitações
pueris, conseguem somente fazer ainda... máquinas, construções, técnica. Tudo,
como eles próprios: preso à Terra, inferior, vazio e morto!
Esses são os frutos que os seres humanos
agora, como sendo espirituais, podem contrapor à atuação do enteal. Assim
cumpriram a missão espiritual na Criação posterior presenteada a eles para
tanto!
Como querem agora subsistir na prestação de
contas? Pode aí então causar espanto, que o elevado Paraíso tenha de
permanecer fechado para as criaturas humanas com o pendor pelo que é inferior?
Deve ainda causar surpresa, se agora, no fim, o enteal, reagindo, destrói
completamente a obra tão erradamente conduzida pelo espírito humano? —
Quando tudo vier a desmoronar sobre vós, em
conseqüência de vossa incapacidade manifesta, então cobri vosso rosto,
reconhecei envergonhados a imensa culpa, com que vos sobrecarregastes!
Não tenteis, por causa disso, acusar novamente vosso Criador ou chamá-Lo de
cruel, de injusto!
Tu, porém, ó perscrutador, examina-te com
sinceridade, sem piedade, e então procura sintonizar todo o teu pensar e
intuir, sim, todo o teu ser, de modo novo sobre base espiritual,
a qual não mais vacilará como a base até agora intelectiva e por isso muito
restrita! Quem disso não for capaz, este estará condenado por toda a
eternidade! —
extraído do livro:
“Na Luz da Verdade” – dissertação Nº 76 - edição 1931
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