terça-feira, 1 de maio de 2018

Dos Mistérios XII





Dos Mistérios da Atuação de Deus:

Discórdia a Partir de Troia


por um convocado

E aconteceu que o pastor foi ter com Príamos e lhe contou, o que de tão maravilhoso lhe havia sucedido.
Príamos o ouviu atentamente. Em seu modo claro e bondoso, ele deixou o pastor contar tudo. Mas ele mesmo era um homem de existência terrena prática, para poder compreender toda profundidade desta vivência.
Ele sabia: os pastores são um povo maravilhoso por si mesmo. Ele acreditava de fato neles e já tinha ouvido muitas coisas boas sobre a sabedoria de Péricles. Mas como era simples, ingênuo e estava preenchido com as preocupações da existência terrena, ele se preocupou pouco com aqueles fenômenos finos e meditativos da alma.
“Tu trouxeste uma mensagem no mesmo momento em que nasceu minha filha, Péricles. A criança deve estar sob proteção especial dos deuses. Outra coisa o gênero humano não entende. Queremos fazer fielmente o que é certo, então também estaremos servindo aos deuses. O que é eterno tem tempo até para depois da morte.”
Então foi como se uma tempestade se levantasse no espírito do pastor:




“Acautela-te, Príamos! Reflita, atenta a cada uma das minhas palavras; pois elas pesam muito. Não fui eu quem as falou, mas o mensageiro de Deus e ele não vem por causa de pequenas coisas do dia-a-dia. Não penses apenas na proteção divina para a criança, lembra também das palavras ameaçadoras que acompanham sua anunciação: “Nasce uma luz sobre Tróia! Se reconhecerdes esta luz, então ela vos dará a abundância da vida. Se, porém, não a reconhecerdes, então encontrareis a morte!”” – Ameaçadora soou a voz do pastor.



Nesta hora iniciou-se, vibrando, o prosseguimento do curso de um poderoso destino da humanidade, mas os seres humanos não perceberam nada disso.
Péricles não encontrava sossego. Ele andava pela cidade, ia ter com os pastores, os camponeses, largava o seu rebanho, por causa da palavra do anjo. Ele se aproximou dos pescadores, pois estes deviam levar a notícia pelo mar afora, para as ilhas. Ele visitava os comerciantes que aportavam na praia de Tróia, para que também eles levassem a mensagem do anjo através dos mares.
Mas a rainha Hekuba, a mãe da menina, não quis permitir isto. Primeiro veio dela uma ordem para que houvesse silêncio, a fim de não incitar o povo. Depois, Péricles foi ameaçado e da terceira vez, ele foi expulso do país.
Péricles caminhava aflito pela cidade de Tróia e sacudia o pó de seus pés; deixou até mesmo na beira da praia suas peles para os pés.




“Diga a Hekuba: O destino de Tróia provará que a mensagem do anjo não é uma mentira, mas as palavras se cumprirão, se vós não vos modificardes: Se, porém, não reconhecerdes esta luz, ficareis entregue à morte!”
Ele incumbiu um dos seus com estas palavras, como última mensagem.





Descia uma nuvem escura e pesada, anunciando desgraça sobre Tróia; enquanto que a única pessoa, em quem o grão de verdade germinava, abandonava o país. —
A humanidade restringida, não deu atenção aos chamados de sabedoria de Kassandra. Por isso tinha que vir a queda de Tróia, junto com o falhar da geração inteira.


(continua)

Editora Der Ruf“ G.m.b.H. Munique – 1934