sexta-feira, 4 de maio de 2018

Minhas Vivências V








Minhas Vivências em Vomperberg

por Helene Westphal


(continuação)

Na viagem de volta para Gardone paramos então em Torino. O senhor Kovar e eu fizemos compras para um piquenique, enquanto o carro do Trígono foi à frente. As compras demoraram relativamente muito tempo, de modo que tivemos que nos apressar para encontrar novamente o Trígono. Contudo, imperava junto a nós a tal alegria e com a tal vibração, que o senhor Kovar encontrou o seu caminho com uma certeza infalível. Nós então também encontramos o Trígono em um local muito bonito e quando as compras foram desempacotadas, a disposição aumentou visivelmente. Havia legítima mortadela, legítimo Formaggio e, acompanhando, um bom copo de vinho. De acordo com minhas lembranças eu só posso dizer que raramente na vida eu senti essa tal alegria e fiquei tão feliz, e o Senhor também disse para mim: “Senhora Westphal, a senhora já foi alguma vez em sua vida tão feliz?” Esta felicidade de estar em companhia do Trígono, eu certamente jamais havia intuído.
Chegamos então, à tarde, bem no Hotel Fasano e até conseguimos nossos antigos quartos, de modo que todos nós nos sentimos como que em casa. Nós também despertávamos a atenção, e algumas pessoas perguntavam quem era Aquele estrangeiro senhor. Também nós, mulheres, chamávamos atenção com nossos vestidos longos. Contudo, isso provavelmente tinha de ser assim.
Na manhã seguinte todos nós nos encontramos na mesa do café. À noite houvera um forte temporal, que havia refrescado a natureza, após o dia de ontem muito quente, e o sol encontrava-se sorridente no céu. Depois do café o senhor Kovar propôs um passeio a pé, e o Senhor, de quem se dizia que Ele nunca saía para passear a pé, concordou; e assim fizemos um belo passeio, subindo até a praça Del Vittorial, onde o escritor d’Annunzio tinha sua casa. Lá em cima, próximo à igreja, ofereceu-se uma vista maravilhosa. Frau Maria, que gostava muito de visitar igrejas, fora indagada pelo Senhor, se ela não queria visitar essa igreja, mas ela respondeu: “Não, aqui está muito sujo para mim!” E sentou-se com a senhora Reckleben em um banco com as costas para a igreja. Repentinamente levantou-se e disse para a senhora Reckleben: “Aqui eu não posso ficar sentada, queima como fogo.” Nós outros estávamos de pé com o Senhor diante da igreja. Havia também uma atmosfera singular, solenemente sombria ao nosso redor – e isso fora o fechamento do círculo de um acontecimento, por causa do qual o Senhor tivera de fazer esta viagem. Submersos em pensamentos, tomamos o caminho de volta.
No almoço éramos então novamente como uma alegre mesa redonda, pois era algo bem especial poder almoçar com o Trígono. Imperava sempre uma grande harmonia e irradiava tanto amor e bondade deles, o que nem é possível explicar com palavras. O Senhor disse que nenhuma viagem havia sido tão bela quanto esta e o senhor Kovar recebeu um elogio especial pela sua função de guia turístico. Como o Senhor riu, quando o senhor Kovar narrou sobre seus passeios noturnos que fazia, depois que nos despedíamos do Trígono à noite. Para todos nós foi um período de verdadeiro relaxamento. Habitualmente, depois do café da manhã, Frau Maria e a senhorita Irmingard sentavam-se à beira do lago e nós, as outras mulheres, fazíamos companhia a Elas. Contava-se e ria-se, pois Frau Maria falava sempre francamente; Ela era muitas vezes bem sincera. O Senhor passeava nesse meio tempo com os senhores no jardim e nós também gostávamos de ir até lá, pois tudo sobre o que o Senhor falava era para nós novo, significativo e instrutivo.


(continua)

Trecho do escrito Minhas Vivências em Vomperberg