quarta-feira, 2 de maio de 2018

África VI






Nas Florestas da África

por Charlotte von Troeltsch

Episódio VI

Apelo Prontamente Acolhido

(continuação)


Quando o dia queria terminar, uma parte dos negros saiu para buscar na aldeia a refeição. Eles voltaram carregados de pão, leite e frutas e todos se dirigiram ao ar livre para consumir as dádivas em comum. Antes disso, dois dos homens trouxeram para o prisioneiro sua parte. Encontraram-no mais humilde e de poucas palavras no seu leito e o deixaram deitado. Os alimentos eles colocaram a sua frente, no chão. Cuidadosamente, fecharam depois disso novamente a entrada. Mais tarde mostrou-se que estes negros também dormiam ali debaixo da terra. Nos corredores que levavam para a gruta do estranho e para as forjas, se deitaram sobre esteiras rapidamente estendidas e logo o respirar uniforme anunciava que eles dormiam.
Também na colônia o silêncio se fez. Em cabanas isoladas soava o choro rapidamente acalentado de uma voz de criança. Caso contrário, não se ouvia nenhum barulho.
Bu-anan se encostou em frente a sua habitação e olhava o céu noturno. As vivências do dia oprimiam-na. Ela estava alegre em poder finalmente, no silêncio, procurar ajuda e auxílio.
 “Ummu eddonit, Ummu eddonit,” sussurravam seus lábios, “Mãe Celeste da Terra, ajude-me!

 Eu sou pequena e fraca e, contudo, deveria ser grande e forte para poder conduzir as mulheres para cima, para Anu, ao poderoso Deus.
 Às mulheres tu deves ensinar e aos homens defender, assim soava o chamado de Anu para mim, quando Ele me fez Sua serva na Terra.
Ummu eddonit, se tu não me ajudares eu não poderei realizar minha obra!”
Muitas vezes ela ainda murmurou o sagrado nome em profunda veneração e fervor.
Então, DEPOIS fechou os olhos e esperou.
Radiante claridade fez com que ela levantasse o olhar.

Diante dela pairava uma figura quase transparente, semelhante a Bu-anan na forma, porém, maior do que esta.

“A Mãe Celeste me enviou para ficar ao teu lado, criança dos jardins luminosos”, soou consoladoramente.
As palavras caíam suavemente na hesitante alma de Bu-anan.
De repente pareceu-lhe pequeno, o que há pouco ainda lhe parecia insuperável.
Ela lhe relatou à meia voz o que o dia havia lhe trazido.
Sabia muito bem que não havia necessidade de palavras, mas foi-lhe um alívio deixar ressoar aquilo que oprimia sua alma.
“Eu agi direito ao mandar prender o estranho?” encerrou ela seu relato.
A figura luminosa perguntou ao invés de responder: “O que temes dele?” “Tu o sabes Adana, é sempre o mesmo. Nós estamos rodeados de tribos selvagens que saem para raptar mulheres. Se esse homem espionou nossas cabanas e conduzir seus guerreiros até nós, haverá uma luta ruim e sucumbiremos, e, assim, estaremos perdidos. Todo o trabalho para com as mulheres teria sido então, em vão. Isto Anu não quer!” “Tu falaste corretamente Bu-anan,” respondeu seriamente Adana: “Isto Anu não quer!
Mas tu acreditas nisso?
Se tu acreditaste de toda a alma, como poderias então recear?
Anu não é suficientemente poderoso para vos proteger?
Teria Ele te instituído em tua missão terrena para que ela te fosse arrancada das mãos por tribo selvagens?
Reflita Bu-anan!!
É injusto desanimar por causa dos seres humanos.
 O Senhor do Céu e da Terra, que convocou-te como serva é suficientemente poderoso para te ajudar. Contudo, Ele apenas realiza isso se tu acreditares.”
Bu-anan compreendeu onde errou.
Não que era errado o fato dela querer se preocupar com a proteção exterior da colônia, mas sim, pelo fato de se atormentar com tais pensamentos inquietantes, os quais a impediam de realizar de maneira correta sua obra nas almas dos seres humanos a ela confiados.

“Adana, agradeço-te!
Eu vejo meu caminho novamente claro diante de mim e quero trilhá-lo mais alegre, e, ainda melhor.”
“Não é a mim que precisas agradecer amiga.” repreendeu Adana suavemente, “agradeça a Ummu eddonit, a Mãe Celeste da Terra, que me permitiu procurar-te para te trazer consolo!
 Também posso anunciar algo que tu poderás dizer a tua gente, tão logo tu aches que o tempo para isso tenha chegado.”

Longo tempo permaneceram as duas diferentes e, contudo, parecidas figuras femininas, em confiante intercâmbio de suas intuições.
Quando a manhã quis despontar, Adana desapareceu novamente. Bu-anan, porém, entrou consolada e novamente fortalecida em sua cabana.
Na manhã seguinte ela procurou Pau-ru para falar, por causa do estranho. No dia anterior ela estava muito preocupada para manter tal entrevista. A primeira impressão que obteve da totalmente abalada mulher, convenceu-a que Pau-ru fora realmente uma vítima da astúcia calculista do homem. Ele tinha escolhido a mais boba entre todas as mulheres.
Suas primeiras perguntas mostraram-lhe o que deveria dizer para ganhar a confiança dela. Agora estava abalada por seu  comportamento ter sido o motivo dos acontecimentos dos últimos dias.


(continua)





Uma obra traduzida diretamente do texto original alemão de 1937, o qual foi publicado nos cadernos 6 a 12 da revista Die Stimme (A Voz). 
A história está sendo publicada em episódios da coleção do G +: 


Por esse mesmo esquema já foram publicadas as obras como coleções do G +: