Nas
Florestas da África
Episódio
VII
Por Medidas de
Segurança
por Charlotte von
Troeltsch
(continuação)
Na manhã seguinte ela
procurou Pau-ru para falar-lhe, por causa do estranho que tinha sido preso...
Bu-anan acalmou-a e
pediu-lhe, porém, que nunca mais se envolvesse novamente com estranhos.
À noitinha retornaram
os homens. Habitualmente, eles permaneciam vários dias fora. Ao meio-dia,
porém, ergueu-se uma tempestade de areia que os impeliu de volta para casa. Era
do agrado de todos que eles realmente estivessem de volta à aldeia.
Eles trouxeram consigo,
da caçada, muitas presas. Ninguém conseguia pensar em dormir.
Os homens arrumavam as
peles e os couros dos animais para secar, as mulheres enterravam fundo no chão
a carne de diversos animais embrulhada em grandes folhas, onde esta se
conservava por vários dias, enquanto o cheiro forte das folhas mantivesse
afastado os bichos. Outras carnes eram cortadas e preparadas para assar.
Nunca sobrava tanto
tempo para preparar desses petiscos uma refeição, apesar de que jovens e velhos
trabalhavam com as mãos aplicadamente.
Assim, para Bu-anan, o
tempo ainda não havia chegado para contar aos homens sobre o prisioneiro. Até a
metade do dia seguinte todos trabalharam com bastante vontade. Bu-anan mandou
perguntar se as pessoas queriam dormir e a noite comer e festejar, ou se a fome
era tão grande que a refeição em comum precisasse ser realizada naquele
momento.
Eles resolveram se encontrar
à noitinha para um momento em comum, pois sabiam que ao meio-dia Bu-anan
ficaria afastada da refeição.
Já que foram trazidas
tantas presas grandes, a Mãe Branca tinha permitido assar mais carne do que de
costume. Todos se alegraram pela festança.
E quando anoiteceu,
eles se sentaram, como há três dias atrás, em torno do fogo ardente e olhavam
como a refeição era preparada.
Como sempre, o rufar de
tambores chamavam Bu-anan para lá, e como sempre a refeição fora consumida em
silêncio, mas com grande prazer.
Aí chegou o momento em
que a Mãe Branca contou aos homens aquilo que aconteceu nesse meio tempo. Ela o
fez, com palavras simples. Claro e de fácil compreensão ela ilustrou a eles,
diante dos olhos, o perigo que existia no fato de estranhos poderem se
aproximar tanto deles de forma despercebida.
“É certo que nós
estamos sob a proteção dos negros quando vós homens estais distantes”, disse
Bu-anan, “mas nós só podemos chamar por esta proteção quando descobrimos o
perigo. Por isso, nós precisamos nos precaver melhor. Será necessário que todos
nós pensemos como poderemos alcançar esta segurança. Amanhã à mesma hora nós
nos encontraremos novamente e vós me participareis então, o que houverdes
pensado.”
Com isso todos estavam de acordo, mesmo que a
maioria entre eles estivessem convencidos de que nada lhes viria à mente. Por
fim, era sempre o pensar de Bu-anan que encontrava a saída.
A Mãe Branca já queria
pronunciar a oração da noite, aí, então, algumas vozes suplicaram:
“Ainda é cedo. Tu ainda
não nos contastes nada. O dia inteiro nos alegramos pela narração.”
“O que devo vos
contar?” perguntou a mulher.
Ela bem que sabia que
tinha coisas grandiosas para lhes anunciar, mas para isto tinha que esperar até
que a segurança da colônia estivesse resolvida. Muitas coisas, as cabeças de
suas grandes crianças não podiam assimilar ao mesmo tempo.
“Conta-nos como
aconteceu que os Tuimahs tornaram-se senhores dos negros”, pediu um homem mais
velho.
“Isto eu já vos contei
várias vezes”, deu-lhes Bu-anan a pensar. “Isto, todos vós sabeis.
” “Nós esquecemos de
novo!” asseguraram alegremente.
Eles gostariam tanto de
ouvir novamente, inúmeras vezes poderia ser relatado que ainda não seria
suficiente. Bu-anan sorriu.
“E se eu vos contar
agora, vós tereis esquecido amanhã novamente?” brincou ela. “Que valor teria
minha narração?
” Apesar disso, ela
começou, quando sentiu todos os olhos fixos direcionados a ela:
“Muito tempo se passou,
aí viviam nessa região só negros.” Uma jovem mulher interrompeu-a com a
pergunta:
“Eles eram como os
nossos negros?”
“Sim, eles eram muito
semelhantes a eles. Apenas eram menos vivazes no espírito do que nossos servos.
Os Tehenus, assim chamavam-se as tribos, dormiam a maior parte do tempo. Quando
acordavam, olhavam ao redor de si para ver se havia algo para comer. Não
encontrando nada, eles se deitavam para dormir novamente, até que, finalmente,
a fome impelia um ou outro para a caçada.
Passou-se muito tempo
dessa forma, aí Anu não quis mais tolerar uma vida assim. Ele enviou seus
pequenos servos, os quais deveriam acordar e ensinar os Tehenus. Mas, apesar do
grande empenho dos pequenos, os negros não acordavam. Aquilo que se encontra
bem no interior do ser humano, eles deixaram adormecer. Também os mensageiros
de Anu não conseguiram fazer nada.
Aí Anu decidiu utilizar
meios mais enérgicos. Ele permitiu aos Tuimahs, que viviam num país distante,
bem menos bonito e bem mais pobre, virem para cá.
‘Se dominares os
Tehenus sem derramar sangue’, mandou Anu lhes dizer, ‘então podereis ser os
senhores do país.’”
Bu-anan fez uma pausa.
Ela sabia, então, que todos eles se alegrariam pela continuação, a qual
conheciam palavra por palavra, e que eles novamente sempre queriam ouvir. Os
olhos dos homens brilhavam no claro do fogo. Aqui e acolá ouvia-se uma reprimida
e impaciente exclamação.
“Os Tuimahs imigraram
para cá guiados pelos pequenos servos de Anu, com os quais eles eram bons
amigos. Observaram toda extensão do país sem que os Tehenus se importassem com
isso. Depois disso, eles refletiram. Muitas propostas foram feitas e novamente
postas de lado.
Então teu antepassado,
Wu-tu, tomou a palavra e esclareceu que o mais simples, seria se pegassem as
armas dos dorminhocos, e então, os acordassem. Depois disso, dever-lhes-ia ser
prometido que nunca mais eles precisariam sair para caçar. Com isso os
preguiçosos certamente concordariam.”
Wu-tu estava orgulhoso
de que seu antepassado tivesse encontrado um plano tão bom. Feliz ele olhou ao
redor. Também isso acontecia toda vez da mesma maneira, e o homem ficaria muito
triste e desolado se Bu-anan tivesse deixado de lado seu antepassado.
Após alguns instantes
ela continuou narrando:
“Aconteceu exatamente
assim como o antepassado de Wu-tu havia imaginado. Todas as armas foram pegas e
escondidas, depois disso, os dorminhocos foram acordados e perguntados sobre
quem era o chefe. Os negros não tinham nenhuma resposta.
‘Quem vai à frente de
vós?’ perguntou-se e recebeu-se a resposta:
‘Aquele! Aquele que vai
primeiro!’
Aí viram os Tuimahs
quão tolos os Tehenus eram, e como era bom que uma outra tribo viesse aqui para
dominar. Eles anunciaram que, de agora em diante, eles eram os senhores no país
e os negros deveriam servi-los e, em troca disso, eles receberiam sempre
alimentação suficiente.
Com isso os Tehenus concordaram muito
contentes. E assim foi tomado o país sem que fosse derramada uma gota de
sangue”, finalizou Bu-anan.
Todos se alegraram
muito, então alguém perguntou:
“Como aconteceu que os
negros, hoje, realizam trabalhos forjados tão bons?”
(continua)
Uma obra traduzida diretamente do texto original alemão de 1937, o qual foi publicado nos cadernos 6 a 12 da revista Die Stimme (A Voz).
A história está sendo publicada em episódios da coleção do G +:
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