quarta-feira, 9 de maio de 2018

África VII






Nas Florestas da África

Episódio VII

Por Medidas de Segurança

por Charlotte von Troeltsch

(continuação)

Na manhã seguinte ela procurou Pau-ru para falar-lhe, por causa do estranho que tinha sido preso...
Bu-anan acalmou-a e pediu-lhe, porém, que nunca mais se envolvesse novamente com estranhos.
À noitinha retornaram os homens. Habitualmente, eles permaneciam vários dias fora. Ao meio-dia, porém, ergueu-se uma tempestade de areia que os impeliu de volta para casa. Era do agrado de todos que eles realmente estivessem de volta à aldeia.
Eles trouxeram consigo, da caçada, muitas presas. Ninguém conseguia pensar em dormir.
Os homens arrumavam as peles e os couros dos animais para secar, as mulheres enterravam fundo no chão a carne de diversos animais embrulhada em grandes folhas, onde esta se conservava por vários dias, enquanto o cheiro forte das folhas mantivesse afastado os bichos. Outras carnes eram cortadas e preparadas para assar.
Nunca sobrava tanto tempo para preparar desses petiscos uma refeição, apesar de que jovens e velhos trabalhavam com as mãos aplicadamente.
Assim, para Bu-anan, o tempo ainda não havia chegado para contar aos homens sobre o prisioneiro. Até a metade do dia seguinte todos trabalharam com bastante vontade. Bu-anan mandou perguntar se as pessoas queriam dormir e a noite comer e festejar, ou se a fome era tão grande que a refeição em comum precisasse ser realizada naquele momento.
Eles resolveram se encontrar à noitinha para um momento em comum, pois sabiam que ao meio-dia Bu-anan ficaria afastada da refeição.
Já que foram trazidas tantas presas grandes, a Mãe Branca tinha permitido assar mais carne do que de costume. Todos se alegraram pela festança.
E quando anoiteceu, eles se sentaram, como há três dias atrás, em torno do fogo ardente e olhavam como a refeição era preparada.
Como sempre, o rufar de tambores chamavam Bu-anan para lá, e como sempre a refeição fora consumida em silêncio, mas com grande prazer.
Aí chegou o momento em que a Mãe Branca contou aos homens aquilo que aconteceu nesse meio tempo. Ela o fez, com palavras simples. Claro e de fácil compreensão ela ilustrou a eles, diante dos olhos, o perigo que existia no fato de estranhos poderem se aproximar tanto deles de forma despercebida.
“É certo que nós estamos sob a proteção dos negros quando vós homens estais distantes”, disse Bu-anan, “mas nós só podemos chamar por esta proteção quando descobrimos o perigo. Por isso, nós precisamos nos precaver melhor. Será necessário que todos nós pensemos como poderemos alcançar esta segurança. Amanhã à mesma hora nós nos encontraremos novamente e vós me participareis então, o que houverdes pensado.”
 Com isso todos estavam de acordo, mesmo que a maioria entre eles estivessem convencidos de que nada lhes viria à mente. Por fim, era sempre o pensar de Bu-anan que encontrava a saída.
A Mãe Branca já queria pronunciar a oração da noite, aí, então, algumas vozes suplicaram:
“Ainda é cedo. Tu ainda não nos contastes nada. O dia inteiro nos alegramos pela narração.”
“O que devo vos contar?” perguntou a mulher.
Ela bem que sabia que tinha coisas grandiosas para lhes anunciar, mas para isto tinha que esperar até que a segurança da colônia estivesse resolvida. Muitas coisas, as cabeças de suas grandes crianças não podiam assimilar ao mesmo tempo.
“Conta-nos como aconteceu que os Tuimahs tornaram-se senhores dos negros”, pediu um homem mais velho.

“Isto eu já vos contei várias vezes”, deu-lhes Bu-anan a pensar. “Isto, todos vós sabeis.
” “Nós esquecemos de novo!” asseguraram alegremente.
Eles gostariam tanto de ouvir novamente, inúmeras vezes poderia ser relatado que ainda não seria suficiente. Bu-anan sorriu.
“E se eu vos contar agora, vós tereis esquecido amanhã novamente?” brincou ela. “Que valor teria minha narração?
” Apesar disso, ela começou, quando sentiu todos os olhos fixos direcionados a ela:
“Muito tempo se passou, aí viviam nessa região só negros.” Uma jovem mulher interrompeu-a com a pergunta:

“Eles eram como os nossos negros?”

“Sim, eles eram muito semelhantes a eles. Apenas eram menos vivazes no espírito do que nossos servos. Os Tehenus, assim chamavam-se as tribos, dormiam a maior parte do tempo. Quando acordavam, olhavam ao redor de si para ver se havia algo para comer. Não encontrando nada, eles se deitavam para dormir novamente, até que, finalmente, a fome impelia um ou outro para a caçada.
Passou-se muito tempo dessa forma, aí Anu não quis mais tolerar uma vida assim. Ele enviou seus pequenos servos, os quais deveriam acordar e ensinar os Tehenus. Mas, apesar do grande empenho dos pequenos, os negros não acordavam. Aquilo que se encontra bem no interior do ser humano, eles deixaram adormecer. Também os mensageiros de Anu não conseguiram fazer nada.
Aí Anu decidiu utilizar meios mais enérgicos. Ele permitiu aos Tuimahs, que viviam num país distante, bem menos bonito e bem mais pobre, virem para cá.
‘Se dominares os Tehenus sem derramar sangue’, mandou Anu lhes dizer, ‘então podereis ser os senhores do país.’”
Bu-anan fez uma pausa. Ela sabia, então, que todos eles se alegrariam pela continuação, a qual conheciam palavra por palavra, e que eles novamente sempre queriam ouvir. Os olhos dos homens brilhavam no claro do fogo. Aqui e acolá ouvia-se uma reprimida e impaciente exclamação.
“Os Tuimahs imigraram para cá guiados pelos pequenos servos de Anu, com os quais eles eram bons amigos. Observaram toda extensão do país sem que os Tehenus se importassem com isso. Depois disso, eles refletiram. Muitas propostas foram feitas e novamente postas de lado.
Então teu antepassado, Wu-tu, tomou a palavra e esclareceu que o mais simples, seria se pegassem as armas dos dorminhocos, e então, os acordassem. Depois disso, dever-lhes-ia ser prometido que nunca mais eles precisariam sair para caçar. Com isso os preguiçosos certamente concordariam.”
Wu-tu estava orgulhoso de que seu antepassado tivesse encontrado um plano tão bom. Feliz ele olhou ao redor. Também isso acontecia toda vez da mesma maneira, e o homem ficaria muito triste e desolado se Bu-anan tivesse deixado de lado seu antepassado.

Após alguns instantes ela continuou narrando:

“Aconteceu exatamente assim como o antepassado de Wu-tu havia imaginado. Todas as armas foram pegas e escondidas, depois disso, os dorminhocos foram acordados e perguntados sobre quem era o chefe. Os negros não tinham nenhuma resposta.
‘Quem vai à frente de vós?’ perguntou-se e recebeu-se a resposta:
‘Aquele! Aquele que vai primeiro!’
Aí viram os Tuimahs quão tolos os Tehenus eram, e como era bom que uma outra tribo viesse aqui para dominar. Eles anunciaram que, de agora em diante, eles eram os senhores no país e os negros deveriam servi-los e, em troca disso, eles receberiam sempre alimentação suficiente.
 Com isso os Tehenus concordaram muito contentes. E assim foi tomado o país sem que fosse derramada uma gota de sangue”, finalizou Bu-anan.
Todos se alegraram muito, então alguém perguntou:
“Como aconteceu que os negros, hoje, realizam trabalhos forjados tão bons?”

(continua)






Uma obra traduzida diretamente do texto original alemão de 1937, o qual foi publicado nos cadernos 6 a 12 da revista Die Stimme (A Voz). 
A história está sendo publicada em episódios da coleção do G +: 


Por esse mesmo esquema já foram publicadas as obras como coleções do G +: