segunda-feira, 14 de maio de 2018

África VIII




Nas Florestas da África

Episódio VIII

Encontro com Entes da Natureza

por Charlotte von Troeltsch

Todos se alegraram muito, então alguém perguntou:
“Como aconteceu que os negros, hoje, realizam trabalhos na forja tão bons?”

(continuação)

“Isso Anu dispôs assim”, esclareceu Bu-anan. “Ele ordenou que os Tehenus
devessem ouvir sobre Ele, mesmo que custasse muito esforço, até que alguma coisa
desse saber encontrasse acolhida em suas restritas cabeças. Mas, apenas quando eles
aprenderam a chamar por Anu, é que, alguns deles, puderam ver os pequenos servos de
Deus. Eles aprendiam deles, como ainda hoje o fazem. Devagar, eles foram encontrando
alegria nesse trabalho.

“Existiam antigamente mais Tehenus do que hoje?” havia sido perguntado. Rapidamente respondeu Bu-anan:
“Deveria ter havido bem mais, muito mais do que hoje há de Tuimahs. Mas eles tinham poucas mulheres e não queriam formar nenhuma família. E assim eles foram, ao longo dos tempos, diminuindo cada vez mais. Aos poucos, extinguir-se-ão completamente, pois vós sabeis, nós só temos apenas vinte mulheres pretas.”

“Conta-nos ainda sobre Anu”, pediram algumas moças, que não viam com prazer chegar o fim da bonita noite. Bu-anan, porém, consolou-as para uma outra vez e pronunciou a bênção da noite. —
Quando os homens se reuniram na noite seguinte, muitos deles tinham pensado alguma coisa, mas, apesar da quantidade das sugestões, somente duas se sobressaíram como úteis.
Um dos homens havia visto em certa outra tribo que ao redor da colônia fora cavado uma profunda valeta, na qual foram plantadas matas providas com grandes espinhos que cresciam rapidamente. Quem não conhecia as estreitas passagens, sobre as quais se podiam caminhar, caía nessas valas.
Conforme outro ao ter certa vez se perdido muito longe e sido atacado por um bando de animais ensinados, que queriam defender a colônia. Tais tipos de animais poderiam também se amestrar.
Ambas as sugestões encontraram grande aprovação.
Ficou determinado que os homens, logo no dia seguinte, deveriam começar a cavar a valeta. Eles poderiam pegar tantos negros quanto precisassem para ajudar, tantos quantos eles pudessem fiscalizar.
“Nós queremos pedir a Anu que nos envie instrução”, disse Bu-anan de forma bem evidente.
De modo mais difícil mostrou-se a execução da segunda sugestão. Ninguém sabia opinar que animais pudessem ser. Não restava nada mais além de pedir imediatamente por auxílio, antes que se dividisse o trabalho.
Todos os homens se levantaram e estenderam, como Bu-anan, os braços horizontalmente, para frente de si. Ela, porém, pronunciou alto:

“Anu, o povo está diante de Ti! Nós não sabemos como deve ser feito o trabalho que Tu nos ordenaste. Não sabemos quais os animais que devem nos defender. Se Tu não nos enviares um de Teus servos, então não poderemos fazer nada. Compadeça-Te de nós e ajuda-nos. Nós Te suplicamos!”

Longo tempo os homens ainda permaneceram de pé sem se movimentar, depois que Bu-anan finalizou. Bem devagar, um após o outro abaixou os braços. Depois disso fizeram um círculo e olharam para a mulher no centro.
Bu-anan continuava suplicando interiormente. Ela pediu com bastante fervor para que Anu pudesse enviar auxílio e não deixou de suplicar até que lhe veio a certeza de ser atendida. Então ela mostrou-se alegre e falou:

“Ide agora para casa, vós homens! Amanhã quando Ra-na estiver sorrindo no céu, então deveis estar aqui com vossas ferramentas. Os servos de Anu estarão a postos.”
Como Bu-anan tinha esperado, assim aconteceu. Todos os homens ainda não haviam se reunido e os prometidos ajudantes lá se encontravam. Eram figuras pequenas e robustas com rostos idosos. Suas roupas justas e apertadas pareciam consistir de couro de cabra e tinham a cor da terra.
Um do povo dos Tuimahs que era uma espécie de chefe se entendia especialmente bem com estes entes. Eles rodeavam-no com movimentos vivazes das pequenas e firmes mãos. Era como se eles quisessem, através de sinais, auxiliarem na sua linguagem.
Ele se dirigiu para os seus irmãos de tribo:
“Povo” chamou ele ressoando, “nós queremos agradecer a Anu por Ele ter nos enviado seus mensageiros!”
Ele falou uma curta e fervorosa oração e depois prosseguiu:
“Os pequenos querem nos mostrar o que nos é necessário. Aproximadamente doze de nós, e igualmente tantos negros, devem sair com alguns dos pequenos para pegar os animais. Eles dizem que é perigoso, por isso precisam se apresentar homens que não percam a coragem.”
Em maior número que o exigido, os homens se apresentaram. Os pequenos indicavam aqueles que queriam levar consigo e imediatamente partiu o grupo, para ainda no caminho pegar os negros.

Enquanto isso Ur-wu, o chefe, tinha dividido os outros, pois os pequenos entes se colocariam agora em círculo fora da colônia. Os homens deviam, imediatamente, começar a cavar ao lado de cada um dos pequenos enteais, assim o local cavado formaria um círculo e se localizaria suficientemente distante da colônia.
Quando eles se dirigiam para este trabalho um dos homens perguntou:
“Como pode ser que hoje vemos esses pequenos, com os quais tu, Ur-wu, podes até conversar? Caso contrário, nenhum de nós nem os vê?”
“Nós somente os vemos quando pedimos por auxílio”, respondeu o chefe. “Meu antepassado esclareceu-me outrora, sobre essa pergunta, que, quando Anu envia os pequenos entes através da Sua ordem, eles poderiam modificar sua constituição.”
“Isso eu não compreendo”, reconheceu sinceramente o interlocutor, enquanto os outros exclamavam: “Sua constituição se modifica?” – “Como acontece isso?” – “Nós também podemos fazê-lo?”
O saber de Ur-wu tinha se esgotado. Ele ficou contente por eles terem chegado aonde os pequenos esperavam, de modo que assim, não mais precisasse responder.
“Nós perguntaremos a Bu-anan”, disse ele encerrando o assunto.

(continua)0






Uma obra traduzida diretamente do texto original alemão de 1937, o qual foi publicado nos cadernos 6 a 12 da revista Die Stimme (A Voz). 
A história está sendo publicada em episódios da coleção do G +: 


Por esse mesmo esquema já foram publicadas as obras como coleções do G +: