quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Lembranças do Graal VI







Lembranças das minhas vivências do Graal

por Elisabeth Gecks

(continuação)


Assim, na manhã do dia 30 de maio, eu entrei novamente fundo na silenciosa floresta, aprofundada em devoção, e da qual eu recebi um maravilhoso fortalecimento. Havia um suave tecer à minha volta, como se toda a natureza participasse da dádiva de graça dessa hora luminosa, a qual esse acontecimento também é. Eu intuí novamente, como na época do jardim de infância, esse suave e alegre tecer e viver ao meu redor.

Uma vez, na primeira vez, também foi no jardim, sobreveio-me novamente o pensamento em Estevão, aquele que fora apedrejado por causa de sua fé em Jesus. “Ah”, disse eu na alegre compreensão de sua convicção plena de força, a qual permitiu que ele vivenciasse isso, “quão belo deve ser poder sofrer e morrer por sua convicção, quão feliz ele fora! Eu queria que isso também me fosse permitido. Algo mais bem-aventurado não pode haver!” Aí o Senhor disse: “Não é desejado pela Luz que as criaturas humanas devam experimentar sofrimento e morte por sua convicção, isso só ocorre através da perseguição por meio dos seres humanos. Dor e aflição são coisas estranhas à Luz. Deus quer alegria e felicidade para as criaturas humanas. Ele também não quer que elas sofram por Ele, essa é uma concepção errada. Todo o sofrimento veio ao mundo por meio do querer e agir malévolos dos seres humanos, por terem perdido o caminho certo. E todas as trevas odeiam, portanto, a Luz.”

Mais tarde surgiu uma conversa a respeito dos seres humanos “santos” e, sobretudo, a respeito dos “mártires”, que a Igreja Católica cunhou como “santos”. Então o Senhor disse para mim: “A Luz não quer ter de sofrer, Deus deseja a felicidade dos seres humanos. Os mártires não devem ser denominados de santos. Não existem seres humanos “santos”, tal suposição é um atrevimento da Igreja. Os mártires realizaram apenas o seu dever. Eles foram pessoas corretas, verdadeiras, como todos devem ser. Eles se tornaram assim exemplos, mas não devem ser chamados de “santos”. Eles viveram e morreram como seres humanos verdadeiros que aspiram à Luz, nos quais viveu a convicção pela Verdade. Isso foi a expressão natural de sua gratidão e de seu amor para com o Filho de Deus. Eles nem conheciam aí algo diferente. Denominá-los, contudo, de “santos” é um atrevimento. Eles foram seres humanos e permanecerão sempre espíritos humanos. “Santo” é um conceito que jamais se deixa utilizar para as criaturas humanas.”

Na época inicial de minha estada em Igls eu me encontrava certa vez, com anseio no coração, sobre uma pequena elevação na floresta e olhava para baixo, para a estrada, quando o Senhor, de repente, virou a esquina e veio andando com Frau Maria e as crianças. Eles acenaram para o alto, para mim, e isso foi como um convite. Contudo, eu estava à beira de um rochedo íngreme, do qual não havia nenhuma trilha que descesse para a estrada. Mas o pensamento que eu poderia descer e ir junto com eles, não deixou que isso fosse um impedimento para mim; eu desci a encosta com uma leveza tal, sem vertigem e insegurança, que já há anos haviam-me dado trabalho devido a uma insolação. Foi como se eu tivesse sido apoiada. Eu estava usando nesse dia quente um vestido bem leve, sem mangas, como se usava naquela época e nem pensei em nada aí. Contudo, então eu me assustei, pois cumprimentar o Senhor assim de braços despidos era impossível, não podia ocorrer. Eu vesti rapidamente o casaco, que trazia comigo para me sentar sobre o solo da floresta. O intuir de minha grande veneração havia me ordenado isso. Com um alegre sorriso ele me cumprimentou e disse para Frau Maria: “Veja, como ela não teme nenhum obstáculo para vir até nós.” Havia uma grande alegria em mim. – E então eu vivenciei algo novo: o senhor e a senhora Bernhardt em sua família. Frau Maria com sua alegre naturalidade, que atuava sobre mim como uma límpida nascente da montanha, de forma tão incrivelmente revigorante, que eu podia vivenciar quase todos os dias, presenteando-me novas forças salutares. O Senhor eu só tinha vivenciado até agora em sua elevada existência. Ali eu o encontrei pela primeira vez, totalmente como ser humano, bem simples e singelo, sim, também alegre com Frau Maria e as crianças. E eu pude caminhar junto, de forma natural, nesse caminho da floresta e me deixar ainda alegrar especialmente por essa naturalidade e alegria em relação à natureza. – Sim, essa naturalidade singela, o ser tão simples do Senhor, que não falava nada que não tivesse uma necessidade espiritual e do qual, porém, irradiava uma harmonia e uma Luz, que não era de espécie humana, quando ele se encontrava sentado em silêncio, sem palavras, ou andava, e irradiava como ouro de seus olhos, isso me tocava sempre de novo durante todos os anos.

(continua)



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