terça-feira, 16 de outubro de 2018

Encontro com o Senhor II






Encontro com o Senhor:

Meu Empenho na Libertação do Senhor

Por Hellmuth Müller − Schlauroth



(continuação)

Sobre o altar, na sala de devoções, ainda se encontrava a taça do Graal, bem como a toalha do altar, e ao lado da cadeira do Senhor estava a bandeira do Graal. O medo tomara conta dos moradores locais, pois nesse ínterim apareceram na Montanha 40 homens da SS, os quais formavam a tropa de ocupação, o que fez com que ninguém se decidisse a tomar esses objetos sob sua guarda. Então eu o fiz, simplesmente, em pleno dia, levando tudo para Schlauroth, a fim de que lá ficassem guardados. Atualmente, por ocasião das Solenidades na Montanha, a toalha do altar, a taça do Graal e a bandeira continuam sendo usadas; dificilmente alguém ainda se recorda dos trajetos de fuga percorridos por elas.
Por ocasião de outra reunião com o comissário Hilliges, ele deu a entender que eu teria provavelmente maior possibilidade de sucesso para conseguir a liberdade do Sr. Bernhardt, se me apresentasse diretamente em Berlim, na Repartição Suprema do Reichsführer SS Heinrich Himmler. Uma vez que a desocupação da Colônia se fez rapidamente, viajei para casa, a fim de preparar a investida em Berlim.
Em Innsbruck tive a certeza de que foram razões puramente políticas que causaram a prisão preventiva do Senhor. Constatei ainda que o Senhor fora alojado na mesma cela que o governador do Tirol, o qual também se encontrava em prisão preventiva.
Nenhum dos habitantes da Colônia se propôs a apoiar-me em Innsbruck. Também os adeptos da Mensagem do Graal que residiam no Tirol não apareceram naquela época na Montanha e muito menos se empenharam em favor do Senhor junto à Polícia Estatal Secreta. Era evidente que reinava entre eles, preponderantemente, (assim como ainda acontece atualmente), o mito fantástico, até mesmo presunçoso pensamento, de que o “Facho de Luz” sob o qual a Montanha e seus habitantes se encontram, vedaria, sem interferência humana, a possibilidade de serem atingidos pelas trevas, e que a Luz tão-somente restabeleceria novamente a ordem. Uma concepção errônea, um embelezamento da indolência, contra a qual o Senhor sempre e repetidamente lutou, mas que os entusiastas fantasistas mantinham obstinadamente arraigadas.
Providenciei para que minha viagem para casa passasse por Berlim, a fim de discutir a situação com meu amigo, o advogado Dr. Karl Linckelmann, e com o Dr. Kurt Illig, o então “Cavaleiro Verde”. Lá, quase que simultaneamente, a Polícia Estatal Secreta interrogou e prendeu temporariamente alguns membros do círculo do Graal de Berlim, na época Sociedade Natural Philosófica. Também meu amigo Linckelmann fora interrogado e advertido. Ele, então, não podia mais se empenhar a favor do Senhor, além do que já havia feito no seu depoimento durante o interrogatório. O Dr. Illig, porém, não fora molestado. Devido à sua influente posição na firma Siemens, ele tinha acesso a algumas pessoas mais graduadas da SS, a Polícia Estatal Secreta. (Daí em diante denominada Gestapo). Tivemos alguns encontros com esses senhores, mas não logramos êxito. Pelo contrário, o Dr. Illig comunicou-me, após algumas semanas, que fora prevenido por um desses homens para que não continuasse a se empenhar no caso Bernhardt. O Dr. Illig declarou-me textualmente: “Nós devemos descartar o Senhor como um caso perdido, pois temos sua Mensagem; comunicaram-me indiretamente que nós dois logo seremos presos.” Em vista disso esclareci que eu não desistiria, mas continuaria a lutar sozinho.
Fiquei sabendo que a irmã de Rudolf Hess, o substituto de Hitler, tinha relacionamento social com o Dr. Friedrich Noack, em Potsdam, e que era especialmente amiga da Sra. Noack. Fazia pouco tempo que o casal Noack era adepto do Graal. O Dr. Noack, porém, era meu conhecido de épocas anteriores. Pedi a ele que me possibilitasse um encontro em sua casa com a Srta. Hess, a fim de que pudesse pedir, por intermédio dela, uma reunião com Himmler, para tratar dos interesses do Senhor. Ele concordou. Em fins de abril realizou-se o encontro.
A Srta. Grete Hess mostrou-se inicialmente muito reservada, porque seu irmão, “de qualquer forma que agisse, era alvo de desconfiança de todos os lados”, e por isso se negava a interferir em processos pendentes. Após eu ter mostrado a ela que a Mensagem era absolutamente apolítica, e ter descrito com toda a objetividade a retidão do Senhor, ela se dispôs a, pelo menos, informar-se sobre o caso.
No início de maio, pouco tempo depois do encontro com a Srta. Hess eu viajei para o Tirol, com o objetivo de tentar chegar até o Senhor, o qual ainda se encontrava retido no presídio policial de Innsbruck. Também isso eu consegui através do comissário Hilliges. O Senhor fora trazido da cela até uma pesada grade de ferro, que se estendia do chão ao teto, constituída de barras de 2 a 3 cm. de espessura. Através dessa grade de ferro pude falar com ele. Eu lhe disse que continuava empenhado na luta por sua libertação, que ele suportasse ainda por algum tempo, pois havia esperanças. O Senhor estava muito deprimido. Não lhe fora permitido usar colarinho. Fora tratado como um recluso que cumpre sentença. Ele sofrera visivelmente com as maneiras rudes dos guardas. Mesmo assim, nenhuma queixa saiu de seus lábios. O guarda que, com o relógio na mão, ficou o tempo todo ali parado, portanto, ouvindo cada palavra, pôs término, abruptamente, após quinze minutos, à minha visita.
Nos dias seguintes empenhei-me para que fossem retirados da Montanha os móveis do Senhor e de sua família. Naquele tempo muitas pessoas tinham receio, e medo até, de entrar em contato com a Colônia do Graal. (A notícia da prisão do Senhor e do confisco da Colônia do Graal, pela Gestapo, espalhou-se como fogo descontrolado em todo o Tirol). Finalmente conseguimos guardar os móveis numa agência de transportes em Innsbruck. Como nessa ocasião tinha ido com o meu carro até o Tirol, as senhoras vieram comigo até Munique, quando voltei para Schlauroth. Lá, se não me falha a memória, elas foram acolhidas pela Sra. Luft. O Sr. Alexander, conforme me lembro, já estava com seu carro na propriedade da Sra. von Nartius, onde deveria ficar aguardando os acontecimentos.
No início de julho de 1938 recebi uma intimação da Polícia Estatal Secreta de Berlim, Rua Prinz Albrecht, para apresentar-me, a fim de tratar do caso de Oskar Ernst Bernhardt, Vomperberg − Tirol. Parti por volta das 6 horas com o trem expresso da manhã. O Dr. Hütter, de Görlitz, a quem por telefone já deixara a par da intimação, encontrava-se na estação de trem para a despedida, animando-me, desejando forças para a minha missão. Afinal seria eu o único a enfrentar essas coisas, disse ele. Quando cheguei em Berlim fui logo ao encontro de meu amigo, Karl Linckelmann, a fim de mais uma vez discutir a situação. Ele previu uma recepção desfavorável, e estava inteiramente convicto de que eu seria imediatamente preso; rapidamente ainda introduziu o seu lanche matinal na minha pasta executiva.



(continua)
  
Trecho do texto: Encontro Com O Senhor - (nas Recordações e pensamentos do discípulo: Hellmuth Müller – Schlauroth)


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