Encontro com o Senhor:
Meu Empenho na Libertação do Senhor
Por Hellmuth Müller − Schlauroth
(continuação)
Sobre o
altar, na sala de devoções, ainda se encontrava a taça do Graal, bem como a
toalha do altar, e ao lado da cadeira do Senhor estava a bandeira do Graal. O
medo tomara conta dos moradores locais, pois nesse ínterim apareceram na
Montanha 40 homens da SS, os quais formavam a tropa de ocupação, o que fez com
que ninguém se decidisse a tomar esses objetos sob sua guarda. Então eu o fiz,
simplesmente, em pleno dia, levando tudo para Schlauroth, a fim de que lá
ficassem guardados. Atualmente, por ocasião das Solenidades na Montanha, a
toalha do altar, a taça do Graal e a bandeira continuam sendo usadas;
dificilmente alguém ainda se recorda dos trajetos de fuga percorridos por elas.
Por
ocasião de outra reunião com o comissário Hilliges, ele deu a entender que eu
teria provavelmente maior possibilidade de sucesso para conseguir a liberdade
do Sr. Bernhardt, se me apresentasse diretamente em Berlim, na Repartição
Suprema do Reichsführer SS Heinrich Himmler. Uma vez que a desocupação da
Colônia se fez rapidamente, viajei para casa, a fim de preparar a investida em
Berlim.
Em
Innsbruck tive a certeza de que foram razões puramente políticas que causaram a
prisão preventiva do Senhor. Constatei ainda que o Senhor fora alojado na mesma
cela que o governador do Tirol, o qual também se encontrava em prisão
preventiva.
Nenhum
dos habitantes da Colônia se propôs a apoiar-me em Innsbruck. Também os adeptos
da Mensagem do Graal que residiam no Tirol não apareceram naquela época na
Montanha e muito menos se empenharam em favor do Senhor junto à Polícia Estatal
Secreta. Era evidente que reinava entre eles, preponderantemente, (assim como
ainda acontece atualmente), o mito fantástico, até mesmo presunçoso pensamento,
de que o “Facho de Luz” sob o qual a Montanha e seus habitantes se encontram,
vedaria, sem interferência humana, a possibilidade de serem atingidos pelas
trevas, e que a Luz tão-somente restabeleceria novamente a ordem. Uma concepção
errônea, um embelezamento da indolência, contra a qual o Senhor sempre e
repetidamente lutou, mas que os entusiastas fantasistas mantinham obstinadamente
arraigadas.
Providenciei
para que minha viagem para casa passasse por Berlim, a fim de discutir a
situação com meu amigo, o advogado Dr. Karl Linckelmann, e com o Dr. Kurt
Illig, o então “Cavaleiro Verde”. Lá, quase que simultaneamente, a Polícia
Estatal Secreta interrogou e prendeu temporariamente alguns membros do círculo
do Graal de Berlim, na época Sociedade Natural Philosófica. Também meu amigo
Linckelmann fora interrogado e advertido. Ele, então, não podia mais se
empenhar a favor do Senhor, além do que já havia feito no seu depoimento
durante o interrogatório. O Dr. Illig, porém, não fora molestado. Devido à sua
influente posição na firma Siemens, ele tinha acesso a algumas pessoas mais
graduadas da SS, a Polícia Estatal Secreta. (Daí em diante denominada Gestapo).
Tivemos alguns encontros com esses senhores, mas não logramos êxito. Pelo
contrário, o Dr. Illig comunicou-me, após algumas semanas, que fora prevenido
por um desses homens para que não continuasse a se empenhar no caso Bernhardt.
O Dr. Illig declarou-me textualmente: “Nós devemos descartar o Senhor como um
caso perdido, pois temos sua Mensagem; comunicaram-me indiretamente que nós
dois logo seremos presos.” Em vista disso esclareci que eu não desistiria, mas
continuaria a lutar sozinho.
Fiquei
sabendo que a irmã de Rudolf Hess, o substituto de Hitler, tinha relacionamento
social com o Dr. Friedrich Noack, em Potsdam, e que era especialmente amiga da
Sra. Noack. Fazia pouco tempo que o casal Noack era adepto do Graal. O Dr.
Noack, porém, era meu conhecido de épocas anteriores. Pedi a ele que me
possibilitasse um encontro em sua casa com a Srta. Hess, a fim de que pudesse
pedir, por intermédio dela, uma reunião com Himmler, para tratar dos interesses
do Senhor. Ele concordou. Em fins de abril realizou-se o encontro.
A Srta.
Grete Hess mostrou-se inicialmente muito reservada, porque seu irmão, “de
qualquer forma que agisse, era alvo de desconfiança de todos os lados”, e por
isso se negava a interferir em processos pendentes. Após eu ter mostrado a ela
que a Mensagem era absolutamente apolítica, e ter descrito com toda a
objetividade a retidão do Senhor, ela se dispôs a, pelo menos, informar-se
sobre o caso.
No início
de maio, pouco tempo depois do encontro com a Srta. Hess eu viajei para o
Tirol, com o objetivo de tentar chegar até o Senhor, o qual ainda se encontrava
retido no presídio policial de Innsbruck. Também isso eu consegui através do
comissário Hilliges. O Senhor fora trazido da cela até uma pesada grade de
ferro, que se estendia do chão ao teto, constituída de barras de 2 a 3 cm. de
espessura. Através dessa grade de ferro pude falar com ele. Eu lhe disse que
continuava empenhado na luta por sua libertação, que ele suportasse ainda por
algum tempo, pois havia esperanças. O Senhor estava muito deprimido. Não lhe
fora permitido usar colarinho. Fora tratado como um recluso que cumpre
sentença. Ele sofrera visivelmente com as maneiras rudes dos guardas. Mesmo
assim, nenhuma queixa saiu de seus lábios. O guarda que, com o relógio na mão,
ficou o tempo todo ali parado, portanto, ouvindo cada palavra, pôs término,
abruptamente, após quinze minutos, à minha visita.
Nos dias
seguintes empenhei-me para que fossem retirados da Montanha os móveis do Senhor
e de sua família. Naquele tempo muitas pessoas tinham receio, e medo até, de
entrar em contato com a Colônia do Graal. (A notícia da prisão do Senhor e do
confisco da Colônia do Graal, pela Gestapo, espalhou-se como fogo descontrolado
em todo o Tirol). Finalmente conseguimos guardar os móveis numa agência de
transportes em Innsbruck. Como nessa ocasião tinha ido com o meu carro até o
Tirol, as senhoras vieram comigo até Munique, quando voltei para Schlauroth.
Lá, se não me falha a memória, elas foram acolhidas pela Sra. Luft. O Sr.
Alexander, conforme me lembro, já estava com seu carro na propriedade da Sra.
von Nartius, onde deveria ficar aguardando os acontecimentos.
No início de julho de 1938 recebi uma intimação
da Polícia Estatal Secreta de Berlim, Rua Prinz Albrecht, para apresentar-me, a
fim de tratar do caso de Oskar Ernst Bernhardt, Vomperberg − Tirol. Parti por
volta das 6 horas com o trem expresso da manhã. O Dr. Hütter, de Görlitz, a
quem por telefone já deixara a par da intimação, encontrava-se na estação de
trem para a despedida, animando-me, desejando forças para a minha missão.
Afinal seria eu o único a enfrentar essas coisas, disse ele. Quando cheguei em
Berlim fui logo ao encontro de meu amigo, Karl Linckelmann, a fim de mais uma
vez discutir a situação. Ele previu uma recepção desfavorável, e estava
inteiramente convicto de que eu seria imediatamente preso; rapidamente ainda
introduziu o seu lanche matinal na minha pasta executiva.
(continua)
Trecho do texto: Encontro Com O Senhor - (nas Recordações
e pensamentos do discípulo: Hellmuth Müller – Schlauroth)
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