quarta-feira, 14 de março de 2018

Sal da Terra







Sal da Terra


por Susanne Schwartzkopff

Mateus 5, 13

Vós sois o sal da Terra. Mas se o sal se tornar insípido, com que há de se salgar? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e pisado pelos homens.


                                                     


Em seu sermão da montanha, cuja anunciação feita de uma elevação é simbólica, Jesus inseriu nas bem-aventuranças fortes apoios para nós, seres humanos, nos quais podemos nos apoiar em todos os tempos. Ele dirigiu essas palavras às muitas pessoas que haviam se reunido ali em torno Dele.
Então Ele voltou-se para seus discípulos, que estavam assentados aos seus pés e falou-lhes com as significativas palavras: “Vós sois o sal da Terra”.
Como sempre Ele deu uma nova verdade em forma de imagem, a qual se cunhava indissoluvelmente na memória e a qual também estimulava sua receptividade, muito mais do que uma palavra usual. Uma imagem nós observamos de todos os ângulos, sempre de novo, até que a tenhamos pesquisado bem, até que se tenha tornado nossa propriedade. Uma palavra nos escapa novamente de forma fácil.
As imagens e parábolas de Jesus estão cheias de um profundo sentido. É necessário tempo e silêncio para que possamos compreendê-las. Assim também os discípulos devem ter levado consigo a sentença “sal da Terra” e refletido sobre ela até compreenderem seu profundo sentido. 
Como seria nossa vida sem o sal, esse tempero simples e modesto, a nós tão evidente e necessário? 
Plantas, animais, bem como os seres humanos necessitam dele para a construção e manutenção de seus corpos. Ele é essencial à vida. 
E eles, os discípulos, também deveriam ser sal - sal da Terra? 
Eles também seriam necessários para a vida da Terra? 
Certamente eles devem ter levantado o olhar, admirados, quando isso lhes veio à mente. Deve tê-los estremecido: sem sal não há comida. Ele dá o tempero, o gosto, ele exalta a qualidade da comida. Se uma refeição tiver que nos agradar o paladar, então ela deve ser temperada com sal. Se não tivéssemos mais nenhum sal, então teríamos que adoecer. E – nós devemos ser sal? 
Qual é a comida que devemos temperar e tornar saborosa para a Terra?
Os discípulos de Jesus estavam acostumados que Ele lhes esclarecesse fenômenos e leis espirituais com suas parábolas e imagens. Portanto, a comida que Ele determinara seus discípulos como um complemento necessário, deveria ser de espécie espiritual. 
Como, porém - seriam eles necessários para tornar essa comida acessível aos seres humanos? A palavra de sua boca, da boca de Jesus, já não era tão clara, tão convincente e arrebatadora, de forma que não precisasse mais de seus auxílios para torná-la compreensível às criaturas humanas?
Com essas perguntas devem ter surgido aos discípulos algumas recordações de acontecimentos que eles vivenciaram junto: como o Filho de Deus se retraíra para o silêncio e como deixara os insistentes seres humanos a cargo dos discípulos. Como o fogo de Pedro, a prontidão cheia de amor de André e a profunda compreensão de João auxiliaram tantas pessoas a compreenderem a Verdade que se lhes tornara tão estranha. A palavra humana que, conforme sua espécie estava bem mais próxima deles, era-lhes mais compreensível do que a Palavra de Deus.
Os discípulos nessas oportunidades teriam sido o “sal”? 
Teria Jesus, por fim, lhes oferecido essas oportunidades para que se tornassem sal da Terra?
Assim deveria ser. Ele havia experimentado se eram capazes, havia lhes ensinado isso de forma despercebida e sem que isso se lhes tornasse consciente. 
Hoje, porém, nessa hora Ele havia pronunciado isso, havia lhes dado urna incumbência - pois se tratava de uma - e a sentença “sal da Terra” havia-lhes repentinamente revelado sua finalidade e lançado sua luz ainda num futuro mais distante. Pois sem dúvida Jesus também havia pensado no tempo em que Ele não mais estaria junto deles. Então, também nesse tempo eles deveriam ser sal para os outros, principalmente aí. 
Sal é sempre sal, ele tempera e cumpre sua finalidade. Se, contudo, faltar, então a comida se torna insípida e sem sabor, e não a queremos mais.
Exatamente assim aconteceria com a Palavra de Deus. Se os discípulos não adicionassem seu sal, então ela se retiraria cada vez mais dos seres humanos, até que por fim se afastasse totalmente. O mediador faltaria, aquele que prepararia o alimento espiritual para todos.
Com essa finalidade o Filho de Deus ensinou e instruiu seus discípulos. Para serem mediadores, pontes para a humanidade, mediadores que ela necessitava em sua fraqueza. Com esse fim sua presença os havia fortalecido diariamente, devido a isso ainda receberiam, após o seu falecimento, a força do Espírito Santo. 
No dia do Sermão da Montanha Jesus havia instituído seus discípulos em seus cargos, o qual era público a todos e do qual ninguém poderia se excluir. 
“Vós sois, não deveis primeiramente tornar-vos, pensai nisso em todo o futuro, é a vossa missão!” Isso residia nas breves palavras! A Palavra da Verdade necessitava deles como auxiliadores.
A Verdade está por toda a parte, não apenas sobre nós em alturas distantes e inalcançáveis. Ela está ao nosso lado, à nossa frente, em torno de nós. Ela nos é revelada pela natureza em milhares de imagens. Vivências e consequências de nosso agir expressam sua clara linguagem. Elas falam: Essa é a Verdade, examinai-a, aprendei através dela.
Mas raramente ainda compreendemos sua linguagem. De fato, a Verdade se encontra por toda parte, mas nós precisamos de alguém que a interprete para nós, alguém que nos seja “sal”. Que seja mais conhecedor, mais sábio, que veja mais do que nós. Seres humanos que nos possibilitem compreender a Verdade, pois eles são seres humanos como nós.
Poucos grãozinhos de sal perpassam uma grande quantidade de alimento. Assim também, comparando-se com a grande quantidade de seres humanos, apenas poucos escolhidos foram necessários para manter viva e retransmitir a doutrina de Jesus. A força do sal puro é tão grande que ele pode preparar muitas coisas.

Assim é quando o sal é sal

Mas Jesus entrelaçou uma séria advertência em sua incumbência aos discípulos: o sal não deve se tornar insípido
Se isso acontecer, então se estragará para sempre, pois - o sal não pode ser ressalgado, não pode ser recuperado. Só pode ser lançado fora e pisado como imprestável e inútil. - Que grave seriedade! 
Se os discípulos deixassem de ser sal, então não retransmitiriam mais de maneira correta a Verdade para outrem, não cumpririam sua missão. Teriam se mostrado imprestáveis para o Reino de Deus. E algo que é imprestável não é tolerado dentro dele.
Aqui é pronunciada uma verdade, perante a qual nós, seres humanos, gostamos sempre de nos esquivar, a verdade que um dia pode haver um “tarde demais”, do qual não há um retorno. 
Assim como um corpo morto não pode se encher de vida novamente, também o sal estragado não pode se tornar de novo um bom sal. 
Nenhum milagre pode devolver novamente sua determinação. Perdeu sua vida. Velai, adverte Jesus aqui. 
Não negligenciai vossa missão, cumpri aquilo de que fostes incumbidos
Apenas na vigilância o conseguireis. Permanecei como um bom sal, não vos tornais indolentes.
Quanto não repousa na sentença “sal da Terra”. Os discípulos não a esqueceram; fora esboçada também para nos advertir. 
Pois não devemos nos contentar em reconhecer aí apenas uma incumbência para os discípulos de Jesus - nós também podemos nos tornar sal para nossos semelhantes. Podemos temperar e perpassar nosso ambiente com alegria, contentamento e gratidão e, com isso, tornar a vida mais alegre e mais frutífera. 
E como o sal penetra totalmente uma comida, podemos também tentar compreender amplamente nosso próximo e não julgá-lo unilateralmente. 
Apenas quando chegarmos a ver mais do que apenas a parte exterior, quando tivermos nos tornado mais justos aí, mais observador, mais pacífico, teremos contribuído com uma parte para que o sal de nossa compreensão produza paz
Com isso também aproximaremos mais da Verdade, e “sal” tem sempre a ver com a Verdade. 
Quantas vezes um único ser humano já fez com que tudo se voltasse para a Verdade com sua ardente vontade, ajudando-a a romper onde milhares se encontravam com a indolência do deixar-se levar, pois “é assim”. 
Sua coragem pessoal, sua prontidão, sua ardente convicção os tornara sal da Terra, sal que impôs a Verdade a despeito de todos os obstáculos. 
Assim a escravidão fora abolida contra a oposição de seus usufrutuários, assim certo poeta ou homem do Estado ergueu destemidamente sua voz a favor da Verdade e fez valer sua opinião. Pois ele era sal, tinha a coragem de ser sal!
Que não nos possa faltar coragem para sermos sal da Terra na hora certa. Isso pertence como pré-condição para um mundo melhor sobre a Terra.