quinta-feira, 29 de março de 2018

O Prefeito de Vomperberg






O Prefeito de Vomperberg

por Otto Ernst Fritsch

Descrevo aqui as Palavras do Senhor, infelizmente apenas de lembrança e por isso somente de acordo com o sentido, mas, segundo minha convicção, reproduzidas com grande fidelidade:

(continuação)

     O Senhor disse-me que meu pai, na época de Cristo, foi o capitão romano que liderava a tropa que levou Cristo ao Gólgota e que tinha que comandar a execução. Foi o mesmo capitão romano que, abalado e surpreso pelo acontecimento colossal – já que ele não absorveu o acontecimento apenas de forma terrena, mas também espiritual – exclamou depois do assassínio: “Em verdade, em verdade, este era o Filho de Deus!
Depois de seu reconhecimento, este capitão romano, ao falar outrora estas palavras, foi ligado ao grande acontecimento da Luz que abrange mundos e, por isso, também com a atuação de Abdrushin. Minha mãe e eu, muitos anos antes de encontrarmos a Mensagem do Graal, éramos buscadores e havíamos conhecido várias linhas espirituais: Lorber, antroposofistas, teosofistas, ateístas, mórmons, etc. Lemos o Talmud, ocupamo-nos com o Corão e com a ciência cristã e os Testemunhas de Jeová, mas em parte alguma encontramos a Verdade por nós ansiada, aquela completa, sem lacunas, sem possibilidades de contestação. Finalmente, estudamos também o espiritismo e o ocultismo. Estas duas correntes não foram condenadas na Mensagem do Graal, como muitos portadores da Cruz e também pessoas de fora pensam, mas a crítica dirige-se contra a dependência, a ignorância e a vaidade das pessoas, que não conseguem fazer nada com esta ajuda espiritual e, muitas vezes, até mesmo arriscam-se muitas vezes em grandes perigos inúteis. No espiritismo e no ocultismo também acontece a transmissão de mensagens muito surpreendentes.  Cavaleiros, apóstolos e muitos discípulos, por exemplo, foram conduzidos ao Graal através destas mensagens ou através de mensagens de espíritos do Além. Também meus pais e eu trilhamos este caminho em 1931. No nosso círculo espírita em Wiesbaden, um espírito que foi uma vez uma princesa indiana, preparou-nos gradativamente, em várias sessões, para a recepção da Mensagem do Graal. Textualmente ela nos disse certo dia: “Quando a lua arredondar-se onze vezes, vocês irão receber uma notícia que irá mudar tudo, de uma só vez!” E realmente, depois de passado o tempo previsto, em 16 de setembro de 1931, minha mãe e eu tomamos conhecimento da Mensagem do Graal e do Filho do Homem. Eu me decidi espontaneamente em viajar imediatamente até Vomperberg e permanecer ali para sempre. Mas, por algum motivo, meu pai não queria saber nada da Mensagem do Graal. O casamento de meus pais, que já durava quase 30 anos e era feliz e harmônico, sofreu com isso grandes tensões e dificuldades. Minha mãe até disse com toda a seriedade: “Se tu me dificultares o caminho que eu considero como certo, então nossos caminhos separam-se”. Então meu pai leu a Mensagem e reconheceu bem rapidamente que o portador desta Palavra não era um homem comum. Em fevereiro de 1932, também meu pai solicitou por escrito a Cruz do Graal. No início de maio, ele fez então uma visita a Vomperberg e pediu uma entrevista com Abdrushin.
Assim como meu pai, em sua encarnação anterior, foi o primeiro a reconhecer publicamente: “Em verdade, em verdade, este era o Filho de Deus!”, assim, nesta vida terrena, ele também foi o primeiro espírito humano que não mais chamou Abdrushin de  “Abdrushin”, ou o Senhor Bernhardt, ou como alguns faziam, de “Mestre”, mas abalado, ele disse foi: “Senhor”. − Desde então, o tratamento “Senhor” para o portador da Mensagem do Graal passou a ser usual entre os portadores da Cruz, os quais, também nas conversas que mantinham entre si, sempre falavam do Senhor.

Como meu pai ocupava uma convocação elevada e de grande responsabilidade na proximidade do Senhor, e como ele também pressentiu de forma imediata esta convocação em seu íntimo, ele pediu: “Senhor, será que eu também poderei ficar para sempre nas proximidades do Senhor?” Este confirmou e disse: “Isso depende unicamente do senhor”. Apesar de meu pai ter acabado de comprar uma mansão muito bonita no Kurpark em Wiesbaden e de tê-la arrumado completamente, ele se decidiu por permanecer para sempre junto com sua esposa em Vomperberg. Como o número de portadores da Cruz aumentava de mês a mês e, por consequência, havia cada vez mais correspondência comercial, requerimentos e trocas comuns de correspondência, meu pai foi imediatamente introduzido nas atividades de “administrador”. Em 30 de maio de 1932, ele não somente recebeu o selamento, mas também ao mesmo tempo sua convocação, o que, pelo que sei, ocorreu então pela primeira vez. ¾
Certo dia, o Senhor disse ao meu pai, o qual, mais ou menos de acordo com o sentido, contou então conforme adiante: que a nova construção somente poderia ser realizada por Ele, o Senhor, e a partir daqui de cima, de Vomperberg. Assim como para um ser humano é muito honroso ser o prefeito de Berlim ou de Nova Iorque, assim meu pai seria o prefeito da comunidade que se formava aqui em cima. Ele não deveria menosprezar esta tarefa, pois ela seria grande. − O Senhor escreveu, abaixo da foto que Ele lhe presenteou, as seguintes palavras, que ainda ressaltam o que foi dito acima: “Qualquer serviço para o Santo Graal é grande e, em seu valor, supera a compreensão humana”. Mesmo não tendo ele, o Sr. Fritsch, tarefas grandes e abrangentes a realizar aqui, assim como o prefeito de Nova Iorque ou de qualquer outra grande cidade, ainda assim tudo o que partisse da Montanha seria muito maior em sua importância espiritual do que a maior tarefa terrena em qualquer parte desta Terra.

Devido à incompreensão sobre os acontecimentos espirituais, muitos portadores da Cruz muitas vezes gracejavam ou zombavam carinhosamente, chamando meu pai de “Senhor Prefeito”. Em 08.11.1932, muitos portadores da Cruz parabenizaram meu pai pelo seu aniversário e, como ele era bem humorado, brincalhão e aberto para cada brincadeira, assim como um cidadão típico da região do Reno, as pessoas que o congratularam chegaram numa marcha meio carnavalesca e o cumprimentaram de “Senhor Prefeito”.
No domingo, depois de 08 de novembro, na Casa de Devoção, o Senhor deu-nos a todos uma séria advertência, que atingiu o nosso coração. As palavras do Senhor, eu não sei mais dizer de forma acertada, mas elas testemunharam uma grande dor sobre o fato de que nós teríamos transformado em algo ridículo o que somente era sério e de grande importância espiritual, mesmo que nós, pequenos portadores da Cruz, não pudéssemos ver isso. O quanto éramos broncos mostrou-se através do fato de, a princípio, nem mesmo compreendermos esta advertência ao pensarmos: “Por que não podemos fazer uma brincadeira de vez em quando e sermos descontraídos?” Não havíamos reconhecido uma tarefa espiritual em sua real importância, porque terrenalmente ela não trazia honrarias e, em seu aspecto externo, realizava-se em âmbitos bem modestos. Aqui mais alguns pensamentos a respeito:

Quem viveu naquela época na Montanha, pôde ver e reconhecer sempre de novo, que todos nós, sem exceção, não estávamos aptos a compreender as orientações, as recomendações, os mandamentos e as palavras do Senhor, sim, nem mesmo pressenti-las em seu verdadeiro significado espiritual. O esforço de muitos portadores da Cruz, de inteirar-se da Mensagem, era sincero, então por que estes malogros, que tão facilmente podem ser motivo de desânimo? Eu o esclareço para mim com a ajuda de uma comparação: Quando uma pessoa, depois de uma farta refeição, está plenamente satisfeita, então ela não está mais em condições de ingerir outros alimentos, mesmo que estes sejam da melhor qualidade. Nós, portadores da Cruz, que chegamos à Montanha na década de trinta, ainda estávamos – vistos pela Luz – plenamente repletos, não somente com coisas erradas que trazíamos dentro de nós há milênios, mas também com as coisas erradas que havíamos absorvido desde crianças, na casa paterna, na escola, etc. Encharcados de erros como uma esponja molhada, ainda não estávamos prontos para receber o novo daquela forma como era necessária. Somente de forma gradativa podia ocorrer uma modificação em direção a algo melhor. Na medida em que, através de lutas internas e através do anseio por reconhecimento e pela verdadeira humanidade tornamo-nos humildes e largamos mão do errado, principalmente do circular dos nossos pensamentos em torno do nosso pequeno eu, somente nesta medida conseguimos penetrar, passo a passo, na Mensagem, estando então preparados para absorver o alimento espiritual que aqui nos é oferecido. Mas ainda existe mais outra dificuldade, pois não estamos acostumados a processar este alimento tão nutritivo e por isso precisamos primeiro tomar em pequena quantidade, não devemos sobrecarregar nossa capacidade de absorção. O estudante do ensino fundamental ainda não consegue compreender o conteúdo do estudante do ensino médio e este, por sua vez, não o do estudante do ensino superior. Este fato ficou bem evidente para a maioria dos portadores da Cruz por diversas vezes através da própria vivência. Quando, por exemplo, ouvimos ou lemos novamente uma dissertação da Mensagem depois de certo tempo, então esta, por ocasião de um maior amadurecimento, atua de forma totalmente diferente do que da última vez e nós descobrimos até mesmo sentenças e pensamentos que antes nunca havíamos pensado ter lido ou ouvido, porque seu significado repentinamente se ilumina e se nos torna consciente.

(continua)

Extraído (em continuação) da Cópia de um manuscrito de Otto-Ernst Fritsch