segunda-feira, 16 de abril de 2018

Dos Mistérios X





Dos Mistérios da Atuação de Deus:

A Bravura de Maria


por um convocado

Branco como cristal e irradiando de forma transparente, como um grande diamante, assim reinava o Rei Parsival sobre o elevado assento dourado luminoso. De sua cabeça, que portava o elmo prateado com a coroa, resplandecia a Pomba. Seus olhos eram claros  como ouro e a abundância de seus cabelos de luz alcançava até os seus ombros. Nas mãos, transparentes como alabastro, ele segurava a espada.
À sua direita estava sentada Maria em vestes resplandecentemente brancas. Irmingard, porém, seguida de um grupo de amáveis mulheres, saiu de uma sala à esquerda do grande salão, descendo sobre degraus largos e luminosos.
Em suas mãos erguidas, ela trazia a taça luminosa, que, ajoelhando, ela ofereceu ao Rei do Santo Graal.
Nisso soava como coros de sinos e sons de órgãos. O soar se propagava, embora em ondas incontáveis, e sempre novas correntes da mais pura luz seguiam estas ondas.
Os amplos salões de colunas estavam repletos de grupos incontáveis de espíritos irradiantes. Em todo este brilho e este som da luz, reinava adoração bem-aventurada a Deus através do Burgo sagrado.
E uma nova, mais fortalecida e bramante vibração da luz dourada fluía para lá, enviada do mistério de Deus com as palavras do Pai:

“Que assim aconteça!”

E desceu a mão de Deus sobre a cabeça do Filho e separou o amor da justiça. E sobre os ombros de Maria se deitou um manto de um maravilhoso preto irradiante.
Maria incandescia igual à luz da taça sagrada nas mãos de Irmingard. De cima fluía a força do Pai e Maria colocou suas duas mãos sobre o Santo Graal. Ela orava.
Inflamando-se, a luz branca de sua coroa se intensificou, semelhante a um ramo de rosas cintilantes. A Rainha primordial aproximou-se dela, envolvendo-a ainda mais firme em seu manto, cuja constituição só tem seu efeito protetor na força dos cumprimentos. Ao baixar para a materialidade da Criação, o manto se modifica sempre na espécie correspondente, necessária para a proteção de Maria.  Pois o amor oriundo da justiça é tão puro que sem invólucro ele jamais poderia subsistir na materialidade, na corrente dos mundos escuros. Ele sempre seria atacado e obscurecido pelo mal oriundo de Lúcifer.

A oração de Maria ao Senhor intensificou-se até a força máxima. Como línguas de chamas sagradas os espíritos bem-aventurados encontravam-se em torno de seu Rei Parsival. Maria continuava a orar e, lentamente,  sobre os raios que o Lírio Puro enviava para baixo, no querer de sua própria espécie, de plano a plano, Maria desceu em oração gradativamente à Terra! 
Em cada um dos planos ela provocava um forte afluxo de força luminosa. Como se fossem preenchidos com nova vida, era assim que os puros Criados intuiam a passagem do amor celeste. — —
No tempo destes acontecimentos vivia na Terra, nas proximidades de Tróia, um pastor solitário: Péricles. Ele tinha o dom de poder ver e ouvir muitas coisas com o espírito, que permaneciam ocultas aos outros.
A noite já descia sobre Tróia; nas campinas reinava silêncio. As ovelhas e as cabras se reuniam e todas encontravam o seu lugar. Elas respiravam baixinho, como se estivessem ouvindo atentamente. As flautas ecoavam apenas de modo fraco, só para dar a saudação noturna aos pastores espalhados por ali. E também já apareciam as primeiras estrelas brilhantes no céu noturno. A alma de Péricles ficou silenciosa e solene.
Para ele era como se do oriente longínquo se aproximassem, cada vez mais claros, exércitos por sobre as montanhas, rios, florestas; como se ele ouvisse um cantar jubiloso de vozes, algo que ele nunca tinha ouvido antes.

Então ele se sentiu, repentina e delicadamente tocado em sua fronte, como que por delicados e frescos dedos, e então levantou o olhor. Ofuscado, porém, ele teve de fechar os olhos. Apenas depois de alguns momentos receosos ele pode reconhecer nitidamente, que diante dele, num resplendor irradiante, encontrava-se um belo jovem dirigindo-lhe a palavra. Mas a voz era tão enorme e poderosa, que devido ao seu bramir, ele mal podia assimilar o sentido do que era dito.
“Eu sou um mensageiro de Deus!”, falou o luminoso. “Eu vos anuncio uma grande alegria. Vá, Péricles, e diga a todos que querem crer: nasce uma luz sobre Tróia! Se reconhecerdes esta luz, então ela vos dará a abundância da vida. Se, porém, não a reconhecerdes, ficareis entregue à morte!”

(continua)

Editora Der Ruf“ G.m.b.H. Munique – 1934