quarta-feira, 25 de abril de 2018

África V







Nas Florestas da África

Episódio V

Na Lei da Selva

(continuação)

Depois então ela soltou um alto e lamentoso som de coruja, o qual repetiu mais duas vezes. Como que um encanto, pareceu isto ao homem: de todos os lados vieram homens negros seminus, correndo e transpondo todos os obstáculos. Num instante ele estava cercado tão estreitamente que não podia se mexer, mesmo sem ninguém tê-lo agarrado. Como uma trincheira de pedra, em tomo dele ficaram os pequenos, mas robustos e fortes corpos. Todos eles viraram-lhe as costas e olhavam para para Bu-anan, que interiormente respirava mais aliviada.
“Levem este homem com vocês!” ordenou ela num tom que ninguém pôde notar sua hesitação interior de alívio. “Ele é um estranho, que se imiscuiu entre nós com uma mentira. Ele veio para nos espionar. Não o deixem escapar!”
Uma exclamação à meia voz dos negros atendeu-lhe, então o estranho sentiu-se agarrado e sem poder se defender, foi arrastado embora.
Ele não foi maltratado, mas o domínio era tão forte que teria sido inútil uma resistência.
Com grande rapidez saíram da região habitada.
Um bom trajeto da estrada foi rapidamente percorrido. Aí os homens pararam.
O estranho achava-se diante da entrada que dava para uma caverna subterrânea. Indicaram-lhe para que entrasse. Por curiosidade, ele obedeceu. Muitos homens o acompanharam e o empurraram para frente através de passagens estreitas, que pareciam seguir adiante sinuosamente por baixo da Terra.
“Que vós fazeis aqui?” perguntou o homem. Contudo não obteve resposta.
Seu caminho tinha atingido o alvo. Ele se encontrava em uma câmara bastante grande, na qual de forma alguma penetrava a luz do dia.
Um grande amontoado de lascas de madeira se encontrava ali. Uma dessas foi acesa com uma tocha que eles haviam trazido e enfiada numa fresta na rocha. Então, um homem indicou para uma pedra que estava coberta com peles gastas. Mal o estranho tinha se sentado, os outros fecharam a entrada para a câmara com um enorme pedaço de rocha, que se encaixava exatamente e o deixaram.  Aparentemente esta caverna era a prisão da tribo.
Dois dos negros se acomodaram ao pé desta entrada e arreganharam os dentes satisfeitos. Eles precisavam vigiar o estranho, mas com certa alegria maliciosa, pois essa prisão até tornava a tarefa agradável.

Os outros se apressaram quase correndo para o trabalho deixado por causa do chamado de emergência. Da mesma forma, debaixo da terra, encontrava-se uma forja bem instalada, que tinha sua saída de fumaça para cima. Na verdade havia várias forjas que estavam juntas em conexão uma com as outras: em uma delas eram feitas facas de bronze e punhais, nas outras eram confeccionadas coisas mais finas, como por exemplo, largos aros de bronze trabalhados para os braços e tornozelos e pequenos anéis que alguns homens colocavam de enfeite no nariz.
No terceiro compartimento produziam-se recipientes rasos e fundos igualmente de bronze e uma mistura que brilhava mais que o escuro bronze. A brasa ainda ardia. Rapidamente os fogos foram novamente acesos e o trabalho iniciou em grande alegria. As chamas cintilavam fantasmagoricamente sobre os corpos negros e seminus. Bastante tempo já devia ter passado quando soou um estridente apito pelos compartimentos, que sobrepujou todo o barulho do trabalho. Vários homens deixaram suas ferramentas e se puseram com passos rápidos através de um corredor estreito em direção a um compartimento bem grande e especialmente ventilado. Ferramentas e adornos acabados e semi-acabados ficaram espalhados por toda parte, metal e pedras preciosas estavam acumulados em grandes e pequenos montes.
No meio de todas essas coisas estava um homem muito velho e pequeno. Uma longa barba branca alcançava-lhe o joelho, também os cabelos eram grisalhos e apareciam por baixo de um pontudo gorro de couro de cabra que cobria a cabeça. Igualmente de couro de cabra era a veste justa que ele usava, a qual consistia de saia e saia-calça. Até os pés estavam enfiados dentro do couro. Sem aguardar um chamado, reuniram-se os homens em volta do velho, que em silêncio pegou um trabalho de metal e mostrou-lhes. Era uma ferramenta bem afiada de metal claro, presa a um cabo de madeira que se assemelhava ao machado. Eles o admiravam sem, entretanto, pressentir para que finalidade esta coisa pudesse ser utilizada. Provavelmente também não lhes era importante. Eles só sabiam: Mostrava o velho a eles tais objetos e assim eles tentariam fazê-los iguais. Instruções eles recebiam para isso.

Então o velho pegou um pedaço de madeira disposto ali, colocou-o de pé e rachou-o com a nova ferramenta. Um grito de alegria mostrou quão entusiasmados os homens ficaram com o efeito. Muitas mãos tencionaram pegar ao mesmo tempo o objeto. O velho puxou-o rapidamente de volta e examinou os homens. Depois disso, ele o entregou a um deles, que olhava com olhos mais claros que os outros. Como um precioso tesouro este o recebeu. Depois, os homens saíram calados, assim como vieram. Também o velho não havia dito nenhuma palavra.


(continua)





Uma obra traduzida diretamente do texto original alemão de 1937, o qual foi publicado nos cadernos 6 a 12 da revista Die Stimme (A Voz). 
A história está sendo publicada em episódios da coleção do G +: 


Por esse mesmo esquema já foram publicadas as obras como coleções do G +: