segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

O Jovem Rico





O jovem rico


por Susanne Schwartzkopff

Mateus 19, 16-22
E eis que, aproximando-se dele um homem, disse-lhe: Bom Mestre, que devo fazer de bom para conseguir a vida eterna?
Ele, porém, lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão um só, que é Deus. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os Mandamentos.
Disse-lhe ele: Quais? E Jesus disse: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não darás falso testemunho.
Honra pai e mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Disse-lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade, que me falta ainda?
Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu. Então vem, e segue-me.
E o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades.


Deixemos o jovem rico surgir mais uma vez diante dos nossos olhos, assim como ele fora a Jesus, com anseio e esperança no coração.
Não é uma parábola o que a escritura nos narra aqui. É um fato verdadeiro que Mateus esboçou para a posteridade. E ainda hoje ele tem algo a nos dizer.
O que será que levou o jovem a perguntar pela vida eterna? Ele não tinha tudo o que o ser humano pode desejar para si: dinheiro e propriedade, reputação perante as pessoas e uma vida despreocupada?
Mas aí é que está o problema. Falta a essa vida a pressão do precisar lutar, a qual mantém desperta as forças, o estímulo para conquistar algo. Assim a vida tornou-se-lhe vazia e sem graça. Saturado ele estava disso, supersaturado. E assim despertou mais outra fome – a fome pelo que é imperecível, eterno. Para isto deveria ser encontrada uma satisfação, que fosse permanente. E a ele, o rico, não deveria ser difícil “fazer o bem”, com o que abriria para si o caminho para a vida eterna. Até agora tudo havia lhe caído no colo, tudo fora conquistado facilmente. Apenas isto ainda lhe faltava. E veio-lhe um pressentimento que apenas poderia encontrar a resposta ao seu anseio junto a Jesus. Assim ele partiu e foi a sua procura. E agora estava diante dele e lhe apresentava, suplicando, a pergunta.
Mas a resposta “guarda os Mandamentos”, o decepcionou. Isto não era nada de novo. Os Mandamentos ele conhecia desde criança, e os havia guardado. Ele não se tornou ladrão, assassino e adúltero. Ele dava de sua riqueza aos pobres, portanto, amava seus semelhantes. Não, esta resposta não o satisfez. Cansado, respondeu que tudo isso ele já tinha feito.
Será que o Filho de Deus queria analisá-lo com sua resposta? Será que queria ver quão sério o jovem tomava seu anseio? Ele olhou-o profundamente no seu coração e ali encontrou aquilo que era um obstáculo para a ascensão desse ser humano. Sua riqueza era o que ele amava, apesar de tudo a que estava acostumado a fazer. Aqui, neste lugar ele precisava se soltar, libertar-se, então poderia tomar o novo caminho, e Ele, o Filho de Deus, ofereceu-lhe a mão: Vem, e segue-me!
Mas a condição que ele apresentou era muito difícil para este ser humano, a quem a riqueza já havia amolecido. Consternado ele se virou. A única coisa que ele não podia, era-lhe exigido – não, não era possível!
E triste, o Filho de Deus viu mais uma vez o funesto poder que tinha a posse, que era mais forte do que o anseio pela liberdade do espírito.
E desta história se quis interpretar uma renúncia pela riqueza. Na história do cristianismo acham-se muitos exemplos de renúncia voluntária para se ficar na pobreza. Ainda hoje, muitas vezes, a pobreza tomada sobre si voluntariamente é considerada como especialmente agradável a Deus.
Mas o Filho de Deus falara apenas para este jovem que havia se acorrentado aos seus bens. Ele mesmo não vivia na miséria, como se acredita muitas vezes erroneamente. Sua vida de peregrinação se dava pela necessidade de divulgar sua doutrina verbalmente o mais distante possível. Jesus provinha de uma casa abastada e não conhecia nenhuma necessidade. Será que o Criador deixara surgir os bens desta Terra, para que nós os evitássemos? Não podemos nos alegrar com toda a abundância que a Terra produz? Devemos recusar e desprezar as dádivas do Onipotente? Não, isso não pode repousar em Sua vontade cheia de amor. Apenas devemos utilizá-las direito.
Há duas espécies de riqueza. Uma é apenas uma posse rígida, um ter e não querer mais soltar. Essa riqueza é morta. E há uma riqueza que não é uma posse rígida, mas sim uma obrigação, e essa é viva. Ela cria para muitas pessoas a possibilidade de fazerem algo para se libertar e se desenvolver para tornarem-se membros independentes da sociedade. Se ela for utilizada assim, então a riqueza é urna bênção e ela aumentará na mão certa. Se, porém, ela for utilizada apenas para fins de poder e prazer, então ela se acaba assim como foi ganha.
O que esta história quer nos dizer? “Nós não somos ricos”, sai rapidamente de nossos lábios.
Será que realmente não? Será que, talvez, não tenhamos uma riqueza, da qual também não queremos nos desfazer? Analisemo-nos: como estamos em relação a isso?
Aí, um não quer se separar de seus sucessos, ele se apraz na estima das pessoas. Quando sua capacidade começa a diminuir, ele não quer acreditar. Quão rico ele se sente, e essa riqueza ele deve entregar? De forma alguma!
Então há pais que não querem deixar seus filhos tornarem-se independentes. Estes devem permanecer crianças ainda por muito tempo; os pais não querem dar o passo para o próximo degrau do amadurecimento. Pessoas hábeis, que produzem muito, separam-se com muita dificuldade de seu campo de atividade. Elas “pendem” em seu serviço com uma tenacidade que não pode ser quebrada. E, com isso, elas negligenciam o próximo passo que as levaria a uma nova etapa. Por medo de perder algo, nós, seres humanos, atamo-nos a invólucros mortos e vazios. E um dia não nos é poupado reconhecer o vazio, a aparência não se deixa manter por muito tempo. Então teremos negligenciado bastante – na verdade, a oportunidade de ter dado, na hora certa, o próximo passo na nossa peregrinação através da vida.
Para cada idade, para cada grau de amadurecimento há novas tarefas na vida humana. Mas para isso precisamos ser capazes de não nos prendermos. A história do jovem rico quer nos mostrar, de forma séria e exortadora, que não devemos querer nos prender ao que é perecível e nem nos atar à riqueza morta.
Apenas uma vez ele pôde apresentar essa pergunta decisiva, apenas uma vez ofereceu-se a oportunidade. Então a sorte foi decidida e o portal para o caminho, que o teria conduzido para cima, fechou-se para ele.
Não negligenciemos a oportunidade! Muito depende disso. Larguemos o que tem um fim. Larguemos o que quer nos atar, fiquemos livres e também deixemos a liberdade aos outros. Isso pode decidir destinos.



Extraído do livro: Petri Fischzug – Gedanken zu Gerichten der Bibel (A Pesca de Pedro – Pensamentos sobre relatos da Bíblia).