Responsabilidade
dissertação na
íntegra conforme a primeira edição do livro no Brasil em 1934.
por Abdrushin
O
problema da responsabilidade é de magna importância.
Em
geral, a maioria das pessoas procura tirar de si a responsabilidade, para
lançar a carga em cima de qualquer outra, contanto que se veja aliviada. Pouco
importa se semelhante proceder redunda em uma desvalorização própria. Neste
particular mostram-se bem modestos e humildes, mas isso somente para que possam
prosseguir no modo de vida alegre e desenfreado.
Seria
muito belo poder realizar “todos” os desejos e apetites, até mesmo em
detrimento de outrem, sem que nenhum castigo resultasse de tudo isso. As leis
terrenas podem ser facilmente burladas e conflitos evitados, quando a
necessidade o requer. Os espertalhões podem mesmo, à socapa, empreender
trapaças que escapam ao mais acurado exame. Chegam até a adquirir fama de
pessoas de grande reputação.
Tudo
isso mostra que com um pouco de habilidade poderíamos levar uma vida folgada,
de acordo com nossos próprios caprichos, se... se não fosse haver em qualquer
parte uma qualquer coisa que desperta em nós uma sensação de mal estar, e se de
vez em quando uma inquietação crescente não se fizesse sentir, como a provar
que muita coisa deve ser conformada por maneira diversa da que os desejos
pessoais o concebem.
E,
de fato, assim é. A realidade é séria e inexorável.
Os
desejos dos homens não podem neste particular trazer nenhuma modificação. Como
uma construção de aço, mantém se a Lei que nos admoesta: “O que o homem semeia,
colherá aumentado muitas vezes!”
Essas
poucas palavras têm um significado muito mais profundo do que em geral se
pensa. Correspondem com a máxima precisão aos processos do efeito recíproco que
se firmam na Criação. Seria difícil encontrar expressão mais adequada para o
fato. Exatamente como uma colheita dá o múltiplo duma sementeira, da mesma
forma o homem vai encontrar muitas vezes aumentado o que ele despertou e
expediu em seus próprios sentimentos intuitivos, tudo conforme a natureza de
seu modo de pensar.
O
homem, portanto, acarreta espiritualmente a responsabilidade de tudo o que faz.
Esta responsabilidade começa no momento da resolução, e não depois de concluído
o ato que não passa de uma consequência daquela. A resolução é o despertar de
um querer sincero.
Não
há separação entre este Mundo e o denominado Além, porém tudo é um Ser único e
grandioso. A Criação grandiosa que o homem percebe como sendo parte visível e
parte invisível engrena-se, como algo maravilhoso e eficaz que jamais vem a
falhar. Trata-se de uma compenetração e não de uma simultaneidade no espaço.
Leis uniformes mantêm o todo, as quais, do mesmo modo que um sistema nervoso,
penetram por toda parte, tornando-as coesas e de ação recíproca constante.
A
Igreja e a Escola falam verdade quando se referem ao Céu e Inferno, a Deus e ao
Diabo. O equívoco está na explicação de forças boas e más, o que leva à dúvida
e ao erro qualquer investigador sincero; porque onde há duas forças devem
logicamente existir dois soberanos, que neste caso seriam dois deuses, um bom e
outro mau.
E
isto não é o caso!
Existe
somente um Criador, um Deus, e por consequência, uma só força que transmite a
todos os seres, os anima e os faz progredir!
Esta
pura Força Divina criadora circula constantemente em toda a Criação,
incorpora-se nela, sendo-lhe inseparável. Encontra-se em toda parte, no ar, em
cada gota d’água, nos rochedos que se formam, nas plantas que crescem, nos
animais, e, naturalmente, também no homem. Nada existe sem ela.
E
como circula por tudo, assim percorre o homem sem interrupção. O homem, porém,
é por tal modo constituído que se assemelha a uma lente. Assim como esta
concentra os raios solares que a atravessam, imprimindo-lhes determinada
direção, de forma que os raios caloríficos, ao se reunirem em um só ponto
produzem fogo, – da mesma forma o homem, graças à sua constituição especial,
acumula a Força Divina por meio de sua intuição, e a canaliza concentrada por
intermédio de seus pensamentos.
De
acordo com a conformação dessa faculdade intuitiva e dos pensamentos que dela
derivam, essa Força Divina é dirigida para boas ou más ações.
Eis a
responsabilidade com que o homem tem de arcar!
Para
que acumular tantas dificuldades no caminho, oh! Vós que vos esforçais por
maneira tão penosa! Imaginai em toda sua simplicidade o fenômeno da circulação
da Força pura do Criador através de vosso ser, e que a estais guiando por meio
de vossos pensamentos para boas ou más direções. Eis tudo! Considerai que
depende da simplicidade de vosso pensar e dos sentimentos intuitivos que vos
caracterizam vir a produzir com essa força, bons ou maus efeitos. Que poder vos
é dado, benéfico ou nocivo ao mesmo tempo!
Não
há necessidade de esforços extremados; não tendes de recorrer às chamadas práticas do ocultismo para que através
de deformações possíveis e inconcebíveis possais finalmente atingir a camada
necessária a vosso desenvolvimento espiritual.
Abandonai
essas brincadeiras, que vos roubam tanto tempo, e que muitas vezes têm
redundado em tormentos aflitivos. Não passam de uma nova feição dos antigos
enclausurados e das mortificações que não vos poderão proporcionar a mínima
vantagem.
Os
chamados mestres e os adeptos do ocultismo são modernos fariseus, na mais lata
expressão do termo. Reproduzem fielmente os fariseus do tempo de Jesus de
Nazaré.
Considerai
com pura alegria que depende de vós imprimirdes direção à força criadora, sem
nenhum esforço, graças ao vosso singelo e bondoso sentimento intuitivo. Age por si; deveis simplesmente guiá-la,
o que pode ser feito com a máxima simplicidade e lisura. Não se faz mister a erudição,
nem mesmo saber ler e escrever. Todos vós possuís em igual quinhão. Não há a
mínima diferença.
Da
mesma forma que uma criança pode ligar brincando a corrente elétrica por meio
do comutador, ocasionando efeitos tremendos, assim também vos é dada a
faculdade de guiar a Força Divina por meio de vossos pensamentos simples. Regozijai-vos
e orgulhai-vos, uma vez que a utilizais a bom fim. Mas ai de vós, se a
desperdiçais ou se a empregais em práticas profanas! Então não podereis fugir
às Leis do efeito da reciprocidade em que se firmam tudo o que existe. Mesmo
que fosseis dotados de asas da Aurora, a mão do Senhor, cuja Força abusastes,
vos atingiria por intermédio desse efeito recíproco que atua automaticamente,
onde quer que vos ocultásseis.
O
bem e o mal são praticados pela mesma Força Divina.
O
livre arbítrio na aplicação dessa Força Divina uniforme encerra em si a
responsabilidade da qual ninguém foge. Por isso advirto aos que procuram:
“Conservai puro o foco de vossos pensamentos. Deste modo estabelecereis a paz e
sereis felizes!”
Regozijai,
ignorantes e fracos, porque vos é dado o mesmo poder que aos fortes! Nada de
desânimo! Lembrai-vos sempre que a Força Divina criadora também circula através
de vós e de que como homem estais apto para imprimir determinada direção a essa
Força, de acordo com a conformação de vosso íntimo, logo, de vossa vontade, semeando
o bem ou o mal, devastando ou construindo, espalhando alegria ou sofrimento.
A
existência dessa única Força Divina vem esclarecer o segredo por que em toda
luta vence afinal a Luz sobre as Trevas, o bem sobre o mal. Guiai a Força
Divina para o bem. Com isso ele conservará sua pureza primitiva, desenvolvendo
desse modo uma potência muito mais eficaz; ao passo que se a guiardes para a
impureza, turvar-se-á, enfraquecendo sua atividade. Desse modo vencerá sempre
de maneira decisiva e radical a pureza da força numa luta final.
É
desnecessário explicar o que seja o bem ou o mal; todos o sentimos com a máxima
clareza e distinção. Comentários trariam confusão. Sofismas inadequados e
obtusos são desperdício de energia, como o pântano cheio de lodo viscoso que
afoga tudo o que está a seu alcance, ao passo que a alegria sã desfaz esses
liames do pensamento. Não precisais ser tristes e acabrunhados. A todo momento
podeis iniciar o caminho que conduz às alturas e reparar o passado, seja ele
qual for. Bastar-vos-á pensar na existência dessa pura Força Divina que vos percorre
constantemente. Então vós mesmos vos envergonhareis de canalizá-la pelos
caminhos imundos dos maus pensamentos, pois sem maior esforço podereis da mesma
forma alcançar o que há de mais elevado e sublime. Basta-vos servir de guia. A
força agirá sozinha na direção traçada por vosso pensamento.
Tendes, portanto, em
vossas próprias mãos a felicidade ou infelicidade. Elevai por consequência a
cabeça, num gesto de audácia e liberdade. Só vos acontecerá o que quiserdes!
O conteúdo deste livro como
tradução nos conformes da obra original: Na Luz da Verdade escrita por
Abdrushin, publicada na íntegra, sem alterações, exclusivamente pela edição de
1931, se deve ao resgate da cópia do primeiro volume em português publicado em
1934, portanto, com aspecto de autêntica raridade para a Mensagem do Graal no
Brasil.