sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Responsabilidade




Responsabilidade

dissertação na íntegra conforme a primeira edição do livro no Brasil em 1934.

por Abdrushin

O problema da responsabilidade é de magna importância.
Em geral, a maioria das pessoas procura tirar de si a responsabilidade, para lançar a carga em cima de qualquer outra, contanto que se veja aliviada. Pouco importa se semelhante proceder redunda em uma desvalorização própria. Neste particular mostram-se bem modestos e humildes, mas isso somente para que possam prosseguir no modo de vida alegre e desenfreado.
Seria muito belo poder realizar “todos” os desejos e apetites, até mesmo em detrimento de outrem, sem que nenhum castigo resultasse de tudo isso. As leis terrenas podem ser facilmente burladas e conflitos evitados, quando a necessidade o requer. Os espertalhões podem mesmo, à socapa, empreender trapaças que escapam ao mais acurado exame. Chegam até a adquirir fama de pessoas de grande reputação.
Tudo isso mostra que com um pouco de habilidade poderíamos levar uma vida folgada, de acordo com nossos próprios caprichos, se... se não fosse haver em qualquer parte uma qualquer coisa que desperta em nós uma sensação de mal estar, e se de vez em quando uma inquietação crescente não se fizesse sentir, como a provar que muita coisa deve ser conformada por maneira diversa da que os desejos pessoais o concebem.
E, de fato, assim é. A realidade é séria e inexorável.
Os desejos dos homens não podem neste particular trazer nenhuma modificação. Como uma construção de aço, mantém se a Lei que nos admoesta: “O que o homem semeia, colherá aumentado muitas vezes!”
Essas poucas palavras têm um significado muito mais profundo do que em geral se pensa. Correspondem com a máxima precisão aos processos do efeito recíproco que se firmam na Criação. Seria difícil encontrar expressão mais adequada para o fato. Exatamente como uma colheita dá o múltiplo duma sementeira, da mesma forma o homem vai encontrar muitas vezes aumentado o que ele despertou e expediu em seus próprios sentimentos intuitivos, tudo conforme a natureza de seu modo de pensar.
O homem, portanto, acarreta espiritualmente a responsabilidade de tudo o que faz. Esta responsabilidade começa no momento da resolução, e não depois de concluído o ato que não passa de uma consequência daquela. A resolução é o despertar de um querer sincero.
Não há separação entre este Mundo e o denominado Além, porém tudo é um Ser único e grandioso. A Criação grandiosa que o homem percebe como sendo parte visível e parte invisível engrena-se, como algo maravilhoso e eficaz que jamais vem a falhar. Trata-se de uma compenetração e não de uma simultaneidade no espaço. Leis uniformes mantêm o todo, as quais, do mesmo modo que um sistema nervoso, penetram por toda parte, tornando-as coesas e de ação recíproca constante.
A Igreja e a Escola falam verdade quando se referem ao Céu e Inferno, a Deus e ao Diabo. O equívoco está na explicação de forças boas e más, o que leva à dúvida e ao erro qualquer investigador sincero; porque onde há duas forças devem logicamente existir dois soberanos, que neste caso seriam dois deuses, um bom e outro mau.
E isto não é o caso!
Existe somente um Criador, um Deus, e por consequência, uma só força que transmite a todos os seres, os anima e os faz progredir!
Esta pura Força Divina criadora circula constantemente em toda a Criação, incorpora-se nela, sendo-lhe inseparável. Encontra-se em toda parte, no ar, em cada gota d’água, nos rochedos que se formam, nas plantas que crescem, nos animais, e, naturalmente, também no homem. Nada existe sem ela.
E como circula por tudo, assim percorre o homem sem interrupção. O homem, porém, é por tal modo constituído que se assemelha a uma lente. Assim como esta concentra os raios solares que a atravessam, imprimindo-lhes determinada direção, de forma que os raios caloríficos, ao se reunirem em um só ponto produzem fogo, – da mesma forma o homem, graças à sua constituição especial, acumula a Força Divina por meio de sua intuição, e a canaliza concentrada por intermédio de seus pensamentos.
De acordo com a conformação dessa faculdade intuitiva e dos pensamentos que dela derivam, essa Força Divina é dirigida para boas ou más ações.
Eis a responsabilidade com que o homem tem de arcar!
Para que acumular tantas dificuldades no caminho, oh! Vós que vos esforçais por maneira tão penosa! Imaginai em toda sua simplicidade o fenômeno da circulação da Força pura do Criador através de vosso ser, e que a estais guiando por meio de vossos pensamentos para boas ou más direções. Eis tudo! Considerai que depende da simplicidade de vosso pensar e dos sentimentos intuitivos que vos caracterizam vir a produzir com essa força, bons ou maus efeitos. Que poder vos é dado, benéfico ou nocivo ao mesmo tempo!
Não há necessidade de esforços extremados; não tendes de recorrer às chamadas práticas do ocultismo para que através de deformações possíveis e inconcebíveis possais finalmente atingir a camada necessária a vosso desenvolvimento espiritual.
Abandonai essas brincadeiras, que vos roubam tanto tempo, e que muitas vezes têm redundado em tormentos aflitivos. Não passam de uma nova feição dos antigos enclausurados e das mortificações que não vos poderão proporcionar a mínima vantagem.     
Os chamados mestres e os adeptos do ocultismo são modernos fariseus, na mais lata expressão do termo. Reproduzem fielmente os fariseus do tempo de Jesus de Nazaré.
Considerai com pura alegria que depende de vós imprimirdes direção à força criadora, sem nenhum esforço, graças ao vosso singelo e bondoso sentimento intuitivo. Age por si; deveis simplesmente guiá-la, o que pode ser feito com a máxima simplicidade e lisura. Não se faz mister a erudição, nem mesmo saber ler e escrever. Todos vós possuís em igual quinhão. Não há a mínima diferença.
Da mesma forma que uma criança pode ligar brincando a corrente elétrica por meio do comutador, ocasionando efeitos tremendos, assim também vos é dada a faculdade de guiar a Força Divina por meio de vossos pensamentos simples. Regozijai-vos e orgulhai-vos, uma vez que a utilizais a bom fim. Mas ai de vós, se a desperdiçais ou se a empregais em práticas profanas! Então não podereis fugir às Leis do efeito da reciprocidade em que se firmam tudo o que existe. Mesmo que fosseis dotados de asas da Aurora, a mão do Senhor, cuja Força abusastes, vos atingiria por intermédio desse efeito recíproco que atua automaticamente, onde quer que vos ocultásseis.
O bem e o mal são praticados pela mesma Força Divina.
O livre arbítrio na aplicação dessa Força Divina uniforme encerra em si a responsabilidade da qual ninguém foge. Por isso advirto aos que procuram: “Conservai puro o foco de vossos pensamentos. Deste modo estabelecereis a paz e sereis felizes!”
Regozijai, ignorantes e fracos, porque vos é dado o mesmo poder que aos fortes! Nada de desânimo! Lembrai-vos sempre que a Força Divina criadora também circula através de vós e de que como homem estais apto para imprimir determinada direção a essa Força, de acordo com a conformação de vosso íntimo, logo, de vossa vontade, semeando o bem ou o mal, devastando ou construindo, espalhando alegria ou sofrimento.
A existência dessa única Força Divina vem esclarecer o segredo por que em toda luta vence afinal a Luz sobre as Trevas, o bem sobre o mal. Guiai a Força Divina para o bem. Com isso ele conservará sua pureza primitiva, desenvolvendo desse modo uma potência muito mais eficaz; ao passo que se a guiardes para a impureza, turvar-se-á, enfraquecendo sua atividade. Desse modo vencerá sempre de maneira decisiva e radical a pureza da força numa luta final.
É desnecessário explicar o que seja o bem ou o mal; todos o sentimos com a máxima clareza e distinção. Comentários trariam confusão. Sofismas inadequados e obtusos são desperdício de energia, como o pântano cheio de lodo viscoso que afoga tudo o que está a seu alcance, ao passo que a alegria sã desfaz esses liames do pensamento. Não precisais ser tristes e acabrunhados. A todo momento podeis iniciar o caminho que conduz às alturas e reparar o passado, seja ele qual for. Bastar-vos-á pensar na existência dessa pura Força Divina que vos percorre constantemente. Então vós mesmos vos envergonhareis de canalizá-la pelos caminhos imundos dos maus pensamentos, pois sem maior esforço podereis da mesma forma alcançar o que há de mais elevado e sublime. Basta-vos servir de guia. A força agirá sozinha na direção traçada por vosso pensamento.
Tendes, portanto, em vossas próprias mãos a felicidade ou infelicidade. Elevai por consequência a cabeça, num gesto de audácia e liberdade. Só vos acontecerá o que quiserdes!

O conteúdo deste livro como tradução nos conformes da obra original: Na Luz da Verdade escrita por Abdrushin, publicada na íntegra, sem alterações, exclusivamente pela edição de 1931, se deve ao resgate da cópia do primeiro volume em português publicado em 1934, portanto, com aspecto de autêntica raridade para a Mensagem do Graal no Brasil.