sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Destino




Destino

dissertação na íntegra conforme a primeira edição do livro no Brasil em 1934.

por Abdrushin  

Os homens falam de destino merecido e imerecido, recompensa e castigo, remuneração e Carma.
Tudo isso são  designações dos componentes de uma Lei da Criação: a Lei da Reciprocidade.
Uma Lei que existe em toda a Criação desde a origem primordial, tramada inextricável e continuamente no íntimo desse grande e infinito ser que se transforma como parte integrante da própria Criação e da evolução. Igual a um sistema gigantesco de nervos finíssimos ela mantém e alimenta o poderoso Universo, dando-lhe movimento constante. É um eterno dar e receber sem tréguas!
Com simplicidade e singeleza, porém tão acertado, Cristo Jesus, o grande Portador da Verdade, já disse: “O que o homem semeia isso colherá!”   
Essas poucas palavras ilustram por modo tão brilhante a atividade e a vida de toda Criação, que seria difícil encontrar outras mais adequadas. O sentido das palavras se encontra ferrenhamente entrelaçado com o Ser: inabalável, constante, incorruptível em seu alcance permanente.
Podereis vê-la, se o quiserdes! Começai pelo que visivelmente vos cerca. O que chamais Leis da Natureza são as Leis Divinas, é a Vontade do Criador. Reconhecereis rapidamente que essas Leis são imutáveis em suas manifestações permanentes, pois que semeando trigo não colhereis centeio, e semeando centeio não podereis colher arroz! Tudo isto parece tão natural que ninguém liga a mínima importância. Ninguém percebe, por consequência, a grandiosa e severa Lei em que tudo se baseia. No entanto a chave do enigma aí está, sem que haja necessidade de que o enigma continue como tal.
Essa mesma Lei que fostes capaz de observar neste domínio particular, atua com a mesma consequência e força nas coisas mais delicadas, como as que só podem ser alcançadas com o auxílio de lentes, e mais amplamente na matéria fina de toda Criação, aliás, a porção mais extensa da mesma. Encontra-se irrevogável em todos os domínios, até mesmo na evolução mais delicada de vossos pensamentos possuidores, observe-se de passagem, de certa materialidade, sem o que seriam incapazes de atuação.   
Como é possível que chegásseis a pensar que as coisas se passassem de outro modo, onde o quereis? Vossas dúvidas, de fato, não são mais do que desejos intimamente formulados.
Em todo ser visível ou invisível tudo se firma neste princípio de que cada espécie sempre dá origem à mesma espécie, indiferente qual a matéria. São igualmente perduráveis os processos de crescimento e de frutificação, de desenvolvimento e de reprodução da mesma espécie. Este fato se processa uniformemente em todas as coisas, sem exceção ou falha, sem lacunas, sem se deter em qualquer parte da Criação, levando sempre avante sua atuação como fio ilacerável, sem descanso ou interrupção. Se a maioria da humanidade, por falta de inteligência ou por arrogância se insulou do Universo, as Leis Divinas ou naturais não deixam de considerá-la por esse motivo como pertencente ao mesmo Universo, continuando sua ação do mesmo modo, calma e regularmente.
A Lei da ação recíproca condiciona também que, tudo o que o indivíduo semeia o que quer dizer, todo efeito de determinada causa por ele motivada, assim ele terá que colher.
O homem só dispõe da resolução livre, a decisão no começo de cada ato, quanto à orientação que deve ser dada à Força Divina que circula por todo seu ser. Esse terá que sofrer então as consequências da direção por ele dada à força. Suas serão as consequências. No entanto há ainda quem se aferre à ideia de que o indivíduo não tem livre arbítrio quando sujeito a determinado destino.
Semelhante tolice só pode visar uma espécie de auto-atordoamento, ou uma rendição rancorosa, ou sujeição à conjuntura inevitável, sendo principalmente uma auto-justificação, porque cada uma dessas reações de retorno teve um início, e é nesse início justamente que se encontra a causa do efeito ulterior a qualquer ação de retorno, logo, a qualquer destino!  Com o primeiro ato volitivo o indivíduo dá origem a algo que virá a influir mais tarde em sua existência, com mais ou menos demora. É questão inteiramente diversa saber quando isso se dará. Pode ser nesta vida terrena, sede do início do ato volitivo, mas pode ser também depois de despido o invólucro material, no mundo de matéria fina, ou mais tarde novamente ainda em uma existência na matéria grosseira. As variações não representam nenhum papel neste particular; não isentam o indivíduo de seu efeito. Sempre o homem carrega em si os ligamentos inevitáveis até conseguir livrar-se dos mesmos, isto é “libertar-se”, pelo último efeito consequente à Lei da ação recíproca ou de retorno.  
O indivíduo criador está ligado à sua criação mesmo que a tenha dedicado a outrem!
Quando por consequência uma pessoa resolve fazer um mal a qualquer outra pessoa, seja em pensamento ou por palavras e atos, “coloca com isso alguma coisa no mundo”, sendo de nenhuma importância se essa alguma coisa é comumente visível ou não, de matéria fina ou grosseira. Trata-se de algo vivo, dotado de força que continua a se desenvolver e agir conforme a direção determinada.
O modo por que o efeito se dá na pessoa almejada depende de sua conformação psíquica, podendo ser de mais ou menos intensidade, talvez mesmo de maneira diversa da que foi intentada, ou até de nenhum efeito. O que decide neste particular é somente o estado psíquico do paciente. Ninguém se encontra, portanto, desarmado em semelhantes ocorrências.
O mesmo, porém, não se dá com o causador do movimento. O produto de sua resolução e vontade lhe fica intimamente ligado, voltando ao ponto de partida depois de maior ou menor digressão pelo Universo, assim como uma abelha carregada volta atraída por seus semelhantes. É quando se manifesta a Lei da Reciprocidade, atraindo cada produto sua igual espécie em todo o percurso ou sendo atraído por eles, de cuja união se origina uma fonte de energia que irradia força da mesma espécie, como de uma estação central, em direção a todos os que por suas ações se ligam a esse ponto central. Graças a esse reforço produz-se uma condensação cada vez maior, até que afinal se forma disso um sedimento de matéria grosseira no qual o primitivo executor terá que viver, de acordo com sua própria determinação, para que posteriormente consiga libertar-se. É esta a origem e a marcha do tão temido e desconhecido destino!
É justo até à mais ínfima e à mais fina gradação porque só poderá ocasionar em sua ação de retorno o mesmo que motivou a ação. Pouco importa se individual ou coletivo; porque o processo é idêntico, quer o indivíduo vise com seus atos determinada pessoa, ou mais de uma, quer queira algo de modo geral.
A qualidade do ato volitivo é que decide dos frutos da colheita. Dessa maneira fica o indivíduo preso por fios de matéria fina que fazem refluir sobre ele os resultados daquilo que outrora determinou seriamente. Essas correntes dão origem a uma mistura que com o decorrer do tempo adquirem influência decisiva na formação do caráter individual.
Deste modo são inúmeras as coisas no poderoso mecanismo do Universo que atuam no “destino” das pessoas; mas não há nada que não haja sido ocasionado primitivamente por essa mesma pessoa.
É ele que fornece os fios para ser tecido no infatigável tear do Ser o manto com que há de vestir-se.
Cristo exprimiu a mesma coisa, clara e energicamente, quando disse: “O que o homem semeia, isso colherá”. Não disse “poderá colher”, mas “terá que colher”. É o mesmo que se dissesse: é obrigado a colher o que semeia.
Quantas vezes não ouvimos de pessoas ajuizadas: “Não posso compreender como Deus consente nisso ou naquilo!”
O que é incompreensível é haver quem pense tais absurdos. Que noção mesquinha a que têm de Deus! O que dão provas é que concebem Deus como um Ser que age arbitrariamente.
Deus, porém, não toma parte direta nessas ocupações humanas, grandes ou pequenas, como guerras, miséria, e o que mais houver. Ele imprimiu de início suas Leis Perfeitas na Criação, as quais eternamente desempenham seu trabalho automaticamente e sem desconcerto, de forma que tudo se realiza com a maior perfeição, não havendo preferências ou prejuízos, sendo impossível a menor injustiça.
Deus por consequência não tem necessidade de incomodar-se com semelhantes coisas. Sua Obra é Perfeita.
O erro principal de muitos indivíduos é formarem seus juízos segundo as normas da matéria grosseira, considerando-se como ponto central, como também só contarem com uma vida terrena, quando na verdade já tem atrás de si várias existências terrenas. Estas existências juntamente com os intervalos no mundo da matéria fina formam um ser unificado através do qual, tesos fios se distendem sem que se rompam, de forma que na evolução de uma vida terrena só fica perceptível uma parte desses fios. É um grande erro admitir que com o nascimento principia uma existência inteiramente nova, que uma criança, por conseguinte, é “inocente”, e que todos os acontecimentos ficarão adstritos apenas à fugaz passagem pela Terra. Se assim fosse, as causas, os efeitos e as reações deviam atuar naturalmente, havendo justiça, no curto espaço dessa existência terrena.
Desviai-vos de semelhante concepção, e descobrireis imediatamente em tudo o que se passa a lógica e a justiça de que tanto carecemos.
Muitos se atemorizam e tremem diante do que ainda lhes tocará de acordo com essa Lei da reação de retorno.
Vãos receios para os que se empenham seriamente nas normas da boa vontade: pois nas Leis automáticas está incluída simultaneamente a garantia da graça e do perdão!
Abstraindo o fato de que com a firme resolução para a boa vontade fica levantada imediatamente uma barreira ao afluxo das más reações no ponto em que deve terminar o cordão que lhe está indissoluvelmente ligado, – entra em cena mais um acontecimento de imenso valor. Pela constância do bem querer em todos os atos e pensamentos forma-se igualmente uma ação constante de reforço na mesma fonte de energia, de forma que o bem se implanta cada vez com mais firmeza no homem, transborda, conformando em primeiro lugar o ambiente de matéria fina que o cerca como um manto protetor, do mesmo modo que a atmosfera protege o globo terrestre.
Mesmo que venham efeitos reativos do passado sobre a referida pessoa, terão que esbarrar na pureza desse invólucro, sendo por ele desviado. Se as irradiações conseguem atravessar a camada, serão desfeitas imediatamente, ou pelo menos enfraquecidas, com o que a ação nociva se atenua ou neutraliza.
Além disso, em virtude da transformação operada já não se trata da mesma pessoa, pois graças ao esforço constante para o bem se tornou muito mais leve e purificada, de forma que não poderá ser contraposta à densidade de correntes nocivas e inferiores, por achar-se já num plano mais elevado, do mesmo modo que um aparelho telégrafo sem fio quando o receptor não corresponde à força emissora.
A consequência natural disso é que as irradiações mais densas, porque de natureza diversa, não podem implantar, tornando-se consequentemente inócuas.
Por esse motivo, mãos à obra sem perda de tempo! O Criador vos entregou, na Criação, tudo nas próprias mãos! Aproveitai o tempo! Cada segundo representa para vós a ruína ou lucro!


O conteúdo deste livro como tradução nos conformes da obra original: Na Luz da Verdade escrita por Abdrushin, publicada na íntegra, sem alterações, exclusivamente pela edição de 1931, se deve ao resgate da cópia do primeiro volume em português publicado em 1934, portanto, com aspecto de autêntica raridade para a Mensagem do Graal no Brasil.