Destino
dissertação
na íntegra conforme a primeira edição do livro no Brasil em 1934.
por
Abdrushin
Os
homens falam de destino merecido e imerecido, recompensa e castigo, remuneração
e Carma.
Tudo
isso são designações dos componentes de
uma Lei da Criação: a Lei da Reciprocidade.
Uma
Lei que existe em toda a Criação desde a origem primordial, tramada inextricável
e continuamente no íntimo desse grande e infinito ser que se transforma como
parte integrante da própria Criação e da evolução. Igual a um sistema
gigantesco de nervos finíssimos ela mantém e alimenta o poderoso Universo,
dando-lhe movimento constante. É um eterno dar e receber sem tréguas!
Com
simplicidade e singeleza, porém tão acertado, Cristo Jesus, o grande Portador
da Verdade, já disse: “O que o homem semeia isso colherá!”
Essas
poucas palavras ilustram por modo tão brilhante a atividade e a vida de toda
Criação, que seria difícil encontrar outras mais adequadas. O sentido das
palavras se encontra ferrenhamente entrelaçado com o Ser: inabalável,
constante, incorruptível em seu alcance permanente.
Podereis
vê-la, se o quiserdes! Começai pelo que visivelmente vos cerca. O que chamais
Leis da Natureza são as Leis Divinas, é a Vontade do Criador. Reconhecereis
rapidamente que essas Leis são imutáveis em suas manifestações permanentes,
pois que semeando trigo não colhereis centeio, e semeando centeio não podereis
colher arroz! Tudo isto parece tão natural que ninguém liga a mínima
importância. Ninguém percebe, por consequência, a grandiosa e severa Lei em que
tudo se baseia. No entanto a chave do enigma aí está, sem que haja necessidade
de que o enigma continue como tal.
Essa
mesma Lei que fostes capaz de observar neste domínio particular, atua com a
mesma consequência e força nas coisas mais delicadas, como as que só podem ser
alcançadas com o auxílio de lentes, e mais amplamente na matéria fina de toda
Criação, aliás, a porção mais extensa da mesma. Encontra-se irrevogável em
todos os domínios, até mesmo na evolução mais delicada de vossos pensamentos
possuidores, observe-se de passagem, de certa materialidade, sem o que seriam
incapazes de atuação.
Como
é possível que chegásseis a pensar que as coisas se passassem de outro modo,
onde o quereis? Vossas dúvidas, de fato, não são mais do que desejos
intimamente formulados.
Em
todo ser visível ou invisível tudo se firma neste princípio de que cada espécie
sempre dá origem à mesma espécie, indiferente qual a matéria. São igualmente
perduráveis os processos de crescimento e de frutificação, de desenvolvimento e
de reprodução da mesma espécie. Este fato se processa uniformemente em todas
as coisas, sem exceção ou falha, sem lacunas, sem se deter em qualquer parte da
Criação, levando sempre avante sua atuação como fio ilacerável, sem descanso ou
interrupção. Se a maioria da humanidade, por falta de inteligência ou por
arrogância se insulou do Universo, as Leis Divinas ou naturais não deixam de
considerá-la por esse motivo como pertencente ao mesmo Universo, continuando
sua ação do mesmo modo, calma e regularmente.
A
Lei da ação recíproca condiciona também que, tudo o que o indivíduo semeia o
que quer dizer, todo efeito de determinada causa por ele motivada, assim ele
terá que colher.
O
homem só dispõe da resolução livre, a decisão no começo de cada ato, quanto à
orientação que deve ser dada à Força Divina que circula por todo seu ser. Esse
terá que sofrer então as consequências da direção por ele dada à força. Suas
serão as consequências. No entanto há ainda quem se aferre à ideia de que o
indivíduo não tem livre arbítrio quando sujeito a determinado destino.
Semelhante
tolice só pode visar uma espécie de auto-atordoamento, ou uma rendição
rancorosa, ou sujeição à conjuntura inevitável, sendo principalmente uma
auto-justificação, porque cada uma dessas reações de retorno teve um início, e
é nesse início justamente que se encontra a causa do efeito ulterior a qualquer
ação de retorno, logo, a qualquer destino! Com o primeiro ato volitivo o indivíduo dá
origem a algo que virá a influir mais tarde em sua existência, com mais ou
menos demora. É questão inteiramente diversa saber quando isso se dará. Pode
ser nesta vida terrena, sede do início do ato volitivo, mas pode ser também
depois de despido o invólucro material, no mundo de matéria fina, ou mais tarde
novamente ainda em uma existência na matéria grosseira. As variações não
representam nenhum papel neste particular; não isentam o indivíduo de seu
efeito. Sempre o homem carrega em si os ligamentos inevitáveis até conseguir
livrar-se dos mesmos, isto é “libertar-se”, pelo último efeito consequente à
Lei da ação recíproca ou de retorno.
O
indivíduo criador está ligado à sua criação mesmo que a tenha dedicado a
outrem!
Quando
por consequência uma pessoa resolve fazer um mal a qualquer outra pessoa, seja
em pensamento ou por palavras e atos, “coloca com isso alguma coisa no mundo”,
sendo de nenhuma importância se essa alguma coisa é comumente visível ou não,
de matéria fina ou grosseira. Trata-se de algo vivo, dotado de força que
continua a se desenvolver e agir conforme a direção determinada.
O
modo por que o efeito se dá na pessoa almejada depende de sua conformação
psíquica, podendo ser de mais ou menos intensidade, talvez mesmo de maneira diversa
da que foi intentada, ou até de nenhum efeito. O que decide neste particular é
somente o estado psíquico do paciente. Ninguém se encontra, portanto, desarmado
em semelhantes ocorrências.
O
mesmo, porém, não se dá com o causador do movimento. O produto de sua resolução
e vontade lhe fica intimamente ligado, voltando ao ponto de partida depois de
maior ou menor digressão pelo Universo, assim como uma abelha carregada volta
atraída por seus semelhantes. É quando se manifesta a Lei da Reciprocidade,
atraindo cada produto sua igual espécie em todo o percurso ou sendo atraído por
eles, de cuja união se origina uma fonte de energia que irradia força da mesma
espécie, como de uma estação central, em direção a todos os que por suas ações
se ligam a esse ponto central. Graças a esse reforço produz-se uma condensação
cada vez maior, até que afinal se forma disso um sedimento de matéria grosseira
no qual o primitivo executor terá que viver, de acordo com sua própria
determinação, para que posteriormente consiga libertar-se. É esta a origem e a
marcha do tão temido e desconhecido destino!
É
justo até à mais ínfima e à mais fina gradação porque só poderá ocasionar em
sua ação de retorno o mesmo que motivou a ação. Pouco importa se individual ou
coletivo; porque o processo é idêntico, quer o indivíduo vise com seus atos
determinada pessoa, ou mais de uma, quer queira algo de modo geral.
A
qualidade do ato volitivo é que decide dos frutos da colheita. Dessa maneira
fica o indivíduo preso por fios de matéria fina que fazem refluir sobre ele os
resultados daquilo que outrora determinou seriamente. Essas correntes dão
origem a uma mistura que com o decorrer do tempo adquirem influência decisiva
na formação do caráter individual.
Deste
modo são inúmeras as coisas no poderoso mecanismo do Universo que atuam no
“destino” das pessoas; mas não há nada que não haja sido ocasionado
primitivamente por essa mesma pessoa.
É
ele que fornece os fios para ser tecido no infatigável tear do Ser o manto com
que há de vestir-se.
Cristo
exprimiu a mesma coisa, clara e energicamente, quando disse: “O que o homem
semeia, isso colherá”. Não disse “poderá colher”, mas “terá que colher”. É o
mesmo que se dissesse: é obrigado a colher o que semeia.
Quantas
vezes não ouvimos de pessoas ajuizadas: “Não posso compreender como Deus
consente nisso ou naquilo!”
O
que é incompreensível é haver quem pense tais absurdos. Que noção mesquinha a
que têm de Deus! O que dão provas é que concebem Deus como um Ser que age
arbitrariamente.
Deus,
porém, não toma parte direta nessas ocupações humanas, grandes ou pequenas,
como guerras, miséria, e o que mais houver. Ele imprimiu de início suas Leis
Perfeitas na Criação, as quais eternamente desempenham seu trabalho
automaticamente e sem desconcerto, de forma que tudo se realiza com a maior
perfeição, não havendo preferências ou prejuízos, sendo impossível a menor
injustiça.
Deus
por consequência não tem necessidade de incomodar-se com semelhantes coisas.
Sua Obra é Perfeita.
O
erro principal de muitos indivíduos é formarem seus juízos segundo as normas da
matéria grosseira, considerando-se como ponto central, como também só contarem
com uma vida terrena, quando na verdade já tem atrás de si várias existências
terrenas. Estas existências juntamente com os intervalos no mundo da matéria
fina formam um ser unificado através do qual, tesos fios se distendem sem que
se rompam, de forma que na evolução de uma vida terrena só fica perceptível uma
parte desses fios. É um grande erro admitir que com o nascimento principia uma
existência inteiramente nova, que uma criança, por conseguinte, é “inocente”, e
que todos os acontecimentos ficarão adstritos apenas à fugaz passagem pela
Terra. Se assim fosse, as causas, os efeitos e as reações deviam atuar
naturalmente, havendo justiça, no curto espaço dessa existência terrena.
Desviai-vos
de semelhante concepção, e descobrireis imediatamente em tudo o que se passa a
lógica e a justiça de que tanto carecemos.
Muitos
se atemorizam e tremem diante do que ainda lhes tocará de acordo com essa Lei
da reação de retorno.
Vãos
receios para os que se empenham seriamente nas normas da boa vontade: pois nas
Leis automáticas está incluída simultaneamente a garantia da graça e do perdão!
Abstraindo
o fato de que com a firme resolução para a boa vontade fica levantada
imediatamente uma barreira ao afluxo das más reações no ponto em que deve
terminar o cordão que lhe está indissoluvelmente ligado, – entra em cena mais
um acontecimento de imenso valor. Pela constância do bem querer em todos os atos
e pensamentos forma-se igualmente uma ação constante de reforço na mesma fonte
de energia, de forma que o bem se implanta cada vez com mais firmeza no homem,
transborda, conformando em primeiro lugar o ambiente de matéria fina que o
cerca como um manto protetor, do mesmo modo que a atmosfera protege o globo
terrestre.
Mesmo
que venham efeitos reativos do passado sobre a referida pessoa, terão que
esbarrar na pureza desse invólucro, sendo por ele desviado. Se as irradiações
conseguem atravessar a camada, serão desfeitas imediatamente, ou pelo menos
enfraquecidas, com o que a ação nociva se atenua ou neutraliza.
Além
disso, em virtude da transformação operada já não se trata da mesma pessoa, pois
graças ao esforço constante para o bem se tornou muito mais leve e purificada,
de forma que não poderá ser contraposta à densidade de correntes nocivas e
inferiores, por achar-se já num plano mais elevado, do mesmo modo que um
aparelho telégrafo sem fio quando o receptor não corresponde à força emissora.
A
consequência natural disso é que as irradiações mais densas, porque de natureza
diversa, não podem implantar, tornando-se consequentemente inócuas.
Por esse motivo, mãos
à obra sem perda de tempo! O Criador vos entregou, na Criação, tudo nas
próprias mãos! Aproveitai o tempo! Cada segundo representa para vós a ruína ou
lucro!
O conteúdo deste livro como
tradução nos conformes da obra original: Na Luz da Verdade escrita por
Abdrushin, publicada na íntegra, sem alterações, exclusivamente pela edição de
1931, se deve ao resgate da cópia do primeiro volume em português publicado em
1934, portanto, com aspecto de autêntica raridade para a Mensagem do Graal no
Brasil.