O
Silêncio
dissertação na íntegra conforme a primeira edição do livro no Brasil em
1934.
por Abdrushin
Não
exterioriza imediatamente um pensamento, todas as vezes que começar a palpitar
em teu íntimo, mas alimenta-o. Detém no, porque o silêncio o reforça, do mesmo
modo que se reforça o vapor d’água quando comprimido.
A
pressão e a compressão dão nascimento à propriedade magnética segundo a Lei de
serem os mais fracos atraídos pelos mais fortes. As formas mentais semelhantes
serão atraídas de todas as partes, retidas, reforçando com isso cada vez mais o
pensamento primitivo, sem impedir, no entanto, que a forma primeira se
modifique, adquirindo polimento e traços maduros e definidos. Sentes
perfeitamente tudo isto, mas sempre pensas que somente a tua vontade é que
impera, quando de fato, em todas as coisas nunca dás inteiramente tua própria
vontade; sempre há algo estranho.
Que
poderás concluir disso?
A
certeza de que somente com a junção de muitas unidades poderás criar algo
perfeito. Criar? Será essa a expressão adequada? Não, porém dar forma, porque,
de fato, nunca se opera criação, mas apenas reformação das coisas, pois tudo já
se encontra como existente na Criação grandiosa. Resta apenas conduzir essas
unidades ao caminho do aperfeiçoamento, condicionado pela conjunção de todas
elas.
Conjunção!
Não passa apressado por semelhante conceito, mas aprofunda-o, porque a
perfeição e o amadurecimento são alcançados por intermédio da conjunção.
Encontra-se semelhante asserção no Universo como uma jóia que deseja ser
levantada! Está intimamente relacionada com a Lei de que somente em dar recebe-se.
E que condiciona a justa apreensão de semelhante sentença? Vivê-la
profundamente? O Amor! Por esse motivo o amor constitui a força mais poderosa e
ilimitada dentro do mistério do grande Ser!
Assim
como a conjunção dá forma e polimento a um único pensamento, do mesmo modo os
indivíduos e o conjunto da Criação passam, pelo poder do querer, por novas
transformações, em conexões inumeráveis, seguindo assim na trilha do
aperfeiçoamento.
Um
indivíduo isolado não pode oferecer-te a perfeição; mas sim, a humanidade
inteira, na multiplicidade de suas características! Cada um de nós possui algo
que pertence incondicionalmente ao conjunto. É isso que explica o fato de uma
pessoa que já alcançou considerável progresso – tendo superado todos os
apetites terrenos – sentir amor por toda a humanidade, e não por este e por
aquele indivíduo isolado, pois somente toda humanidade pode fazer vibrar em
harmonia celeste as cordas libertadas de sua alma. Possui a harmonia em seu
íntimo porque todas as cordas vibram harmonicamente!
Retornemos
ao pensamento que atraiu a si as formas estranhas, tornando-se assim cada vez
mais forte. Finalmente, transborda em ondas de força, energicamente
concentradas, saindo de ti, rompendo a aura que te envolve e fazendo sentir uma
influência sobre o teu ambiente mais próximo.
É
o que se chama comumente magnetismo pessoal.
Os
leigos dizem: “Irradias algo!” Conforme o indivíduo essa alguma coisa é
agradável ou não, atrativa ou repulsiva, mas o que é inegável é que todos
sentem!
Nada
irradias, porém! O que ocasionou o tal sentimento em outras pessoas foi de
atraíres os de igual espécie, magneticamente, e é isso que as demais pessoas
sentem. No fundo, porém, há a ação recíproca, percebendo claramente essa pessoa
a tua força, uma vez em ligação contigo, do que resulta o despertar da
“simpatia”.
Jamais
esqueças o seguinte: Tudo o que é espiritual (expresso em nossos conceitos) é
magnético; e bem sabes que sempre o mais franco é atraído pelo mais forte, que
o sobrepuja e absorve. Por esse motivo “é tirado dos pobres (fracos) até mesmo
o pouco que possuem”. Encontra-se dependendo dos outros.
Não
há nisso nenhuma injustiça, mas apenas a Lei Divina. Basta que o indivíduo
saiba decidir-se e querer com acerto para que fique a coberto de tudo isso.
Certamente
lançarás a pergunta: e se todos desejarem ser fortes? E se não houver mais
ninguém a quem possa ser tirado algo? Então, meu caro, haverá um intercâmbio
espontâneo, porque tudo repousa na Lei de que somente dando é que se pode
receber. Não haverá por esse motivo solução de continuidade; apenas tudo o que
tiver um valor inferior, será aniquilado.
Acontece,
porém, que a indolência faz que muitos se tornem espiritualmente dependentes,
chegando frequentes vezes a se tornarem incapazes de elaborar pensamentos próprios.
O
que convém salientar é que somente o de igual espécie é atraído. Daí o
provérbio: “Cada um procura seus semelhantes”. Os que gostam de bebidas sabem
como encontrar-se; os fumadores nutrem “simpatias” mútuas; os faladores, os
jogadores do mesmo modo, etc. Mas os nobres também se encontram para intuitos
alevantados.
Ainda
há mais: Todo esforço espiritual termina por uma ação física, pois há transição
entre o espírito e a matéria grosseira, razão por que convém ter em mente
sempre a Lei da ação de retorno, porque o pensamento se conserva sempre ligado
à fonte inicial, ocasionando essa ligação de efeitos retroativos.
Refiro-me
apenas aos pensamentos reais, os que encerram em si a força vital da intuição
psíquica, e não ao desperdício da substância cerebral confiada a ti como
instrumento, desperdício que consiste na formação de pensamentos que em
balbúrdia selvagem se assemelham a emanações imprecisas que se desfazem
felizmente em pouco tempo. Semelhantes pensamentos te custam tempo e força, e
com isso desperdiças um bem que te fora confiado.
Se, por exemplo, meditares, sinceramente sobre
determinado tema, semelhante pensamento se reforçará no teu íntimo
magneticamente, graças ao poder do silêncio; atrairá todos os seus semelhantes,
frutificando. Amadurece e sai do círculo das coisas banais, penetra mesmo em
outras esferas, adquirindo ai a afluência de pensamentos mais elevados... a
inspiração. Na inspiração é necessário que o pensamento fundamental parta de ti
próprio em oposição à mediunidade, pois por meio daquela o pensamento amadurece
em teu íntimo. Avanças para a realização e trazes condensado por tua força o
que já pairava anteriormente no conjunto cósmico como formas de pensamentos em
inúmeras unidades dispersas.
Desse
modo crias uma nova forma por meio da conjunção e da condensação do que
espiritualmente já existia, pois no conjunto da Criação tudo é eterno e indestrutível;
somente as formas variam.
Acautela-te
dos pensamentos confusos e superficiais!
A irreflexão é amargamente paga, porque em pouco tempo te verás reduzido à
condição de arena de influências estranhas, com o que facilmente te tornarás
irritável, caprichoso e injusto para com os que te cercam.
Se
fores senhor de um pensamento real e se retiverdes, a força assim retida e
ampliada tomará finalmente rumo da realidade, porque todos os processos têm seu
reflexo no Espírito, uma vez que toda força é apenas espiritual! O que tua
vista alcança são apenas as últimas manifestações de um processo magnético
espiritual anterior que segue sua marcha predeterminada e uniforme.
Senão
observa; e, se pensares e se sentires obterás em pouco tempo a prova de que a
verdadeira vida é na verdade a espiritual, base única da origem e do
desenvolvimento das coisas. Chegarás desse modo à conclusão de que tudo o que
vês com os olhos do corpo não passa, de fato, de efeitos do Espírito que
eternamente impulsiona o conjunto da Criação.
Até
mesmo as menores ações e movimentos de uma pessoa são sempre precedidos de uma
vontade puramente espiritual. O corpo não passa de um instrumento vivo que só
adquiriu consistência por intermédio da força do Espírito.
O
mesmo acontece com as árvores, as pedras e toda a Terra: tudo é animado pelo
Espírito criador que penetra em todas as partes e as impulsiona.
Mas, uma vez que toda a matéria – isto é, o que é
visível aos olhos do corpo – não passa de manifestações da vida espiritual, não
te seria difícil concluir que as relações terrenas serão condicionadas pelo
modo de ser da vida espiritual que nos envolve proximamente. A conclusão lógica
é evidente: essa disposição sábia das coisas entrega à própria humanidade o
poder de formar autonomicamente essas relações com a própria Força do Criador.
Feliz do que a sabe aproveitar para o bem; mas ai dos que a transviam para o
mal!
Os desejos terrenos envolvem e obscurecem o
Espírito, aderindo como escórias que o sobrecarregam e deprimem. Seus
pensamentos são, por consequência, atos de vontade nos quais repousa a força do
Espírito. O homem traz consigo o arbítrio de pensar para o bem ou para o mal,
podendo por consequência dirigir a Força Divina para uma das duas direções! Nisso
se baseia a responsabilidade, porque a recompensa ou o castigo não deixarão de
vir, uma vez que todas as consequências do pensamento voltam ao ponto de
partida pela Lei da Reciprocidade que jamais falha, sendo inamovível e
inexorável, portanto: justa, severa, de não se corromper.
E não serão estes os atributos que emprestamos a
Deus?
O fato de inúmeros ímpios negarem qualquer Divindade
não modifica em nada a asserção acima enunciada. Basta que os homens abandonem
a pequenina palavra “Deus” e mergulhem com sinceridade no estudo da ciência:
irão encontrar aí justamente a mesma coisa expressa em outros termos. Não é,
portanto, irrisório brigar por essa tal coisa? Ninguém consegue ir de encontro
às Leis Naturais; ninguém pode escapar à sua influência. Deus é a Força que
impulsiona as Leis Naturais, a Força que ninguém ainda apreendeu ou viu, cujas
ações, porém, todos vemos diariamente, a todas as horas, até mesmo nas frações
de segundo; podemos senti-las e observá-las, uma vez que o queiramos, em nós
mesmos, nos animais, nas árvores, nas flores, em todas as fibras de qualquer
folha quando rompe o invólucro em procura da luz.
Não é cegueira opor-se à existência dessa Força,
quando está ao alcance de qualquer pessoa, até mesmo desses negadores teimosos;
sem certificar-se e convencer-se de sua realidade?
Que impede de dar a denominação “Deus” a essa Força assim
reconhecida?
Teimosia infantil ou uma espécie de vergonha, por
terem que confessar que está patente e incontrastável o que por tanto tempo
procuraram negar como existente?
Certamente
nada disso. A causa se encontraria provavelmente no fato de terem sido
apresentadas à humanidade tantas
deformações da Divindade que se torna impossível conciliá-las, mesmo que se
empregue boa vontade e sinceridade para isso. A Força Divina que tudo abrange e
em tudo penetra, fica diminuída e desvalorizada sempre que a comprimem numa
determinada imagem!
A
reflexão aprofundada não consegue amoldar nenhuma imagem justamente porque
todos os indivíduos têm em seu íntimo o pensamento da Divindade, razão por que
se opõem apreensivamente contra a restrição dessa Força grandiosa e
incompreensível que gerou e conduz.
O
dogma é grandemente culpado em relação aos que, no conflito interior, procuram
ira além de toda medida, até mesmo com prejuízo das próprias convicções.
Aproxima-se,
porém, a hora do despertar espiritual!
A
hora em que interpretaremos com acerto as Palavras do Salvador e sua grande
Obra de redenção, porque Cristo nos trouxe a libertação da Trevas ao
apontar-nos o caminho da Verdade, mostrando-nos como homem o caminho para as
alturas luminosas! Foi com seu sangue na Cruz que ele imprimiu o selo de suas
convicções.
A
Verdade jamais deixou de ser o que então era e ainda hoje é e o que será daqui
a dezenas de milhares de anos, porque a Verdade é eterna!
Por
esse motivo aprende a conhecer as Leis que se encontram no grande livro da
Criação. Submeter-se é-lhes amar a Deus! Com isso não ocasionarás nenhuma
desarmonia no conjunto, mas contribuirás para que o acorde vibrante atinja toda
a sua amplitude.
Quer
digas: “Submeto-me voluntariamente às Leis da Natureza porque assim fazendo
contribuo para o meu bem”, ou declares: “Entrego-me à Vontade de Deus, revelada
nas Leis da Natureza, ou à Força inapreensível que impulsiona as Leis
Naturais”... haverá diferença em seus efeitos? A Força aí está, e tu a
reconheces; precisas reconhecê-la, porque não poderás deixar de fazê-lo, uma
vez que reflitas... e com isso reconheces teu Deus, o Criador!
Essa
força atua em ti também ao pensar. Por esse motivo não a degrades para o mal,
mas pensa sempre para o bem. Jamais esqueças: aplicas Energia Divina sempre que
pensas, força que te torna capaz de alcançar o que há de mais elevado e puro.
Não
esqueças também de que todas as consequências de teu pensamento recairão sempre
sobre ti, segundo a força, a grandeza e a extensão de seu efeito tanto para o
bem como para o mal.
Uma
vez que o pensamento é espiritual, as consequências também serão. Atingir-te-ão
por consequência, quer te encontres na Terra, quer seja depois de tua partida,
no Espiritual. Por serem espirituais não encontram ligadas à matéria. Isso
indica que a decomposição do corpo não exime do pagamento. A recompensa de
retorno é fatal, mais cedo ou mais tarde, nestas ou naquelas condições. As
ligações espirituais se afirmam em todas as tuas obras, porque até mesmo as
ações terrenas, materiais, se originam do espírito por intermédio do pensamento
que as ocasiona, e persistem até mesmo quando houver passado toda a porção
terrena. Daí a veracidade do dito: “tuas obras te esperam, uma vez que ainda
não te atingiram pela ação de retorno.”
Se
no decorrer dessa ação te encontrares ainda ou novamente sobre a Terra, as
consequências se farão sentir no ambiente ou diretamente sobre teu corpo por
intermédio das relações apontadas conforme a espécie, benignas ou maléficas.
Mais
uma vez seja aqui apontado muito especialmente o seguinte: a verdadeira vida se
processa no Espiritual, e esta desconhece o tempo e o espaço, e, por isso
mesmo, separação. Encontra-se acima dos conceitos terrenos. As consequências te
atingirão onde quer que te encontres, quando pelas Leis eternas a ação voltar
ao ponto de partida. Nada se perde,infalivelmente tudo volta.
É
isso que vem responder à pergunta tantas vezes enunciada de como é possível que
indivíduos visivelmente bons tenham que suportar sofrimentos na vida terrena, o
que faz pensar numa injustiça. É o desempenho do que lhe tinha que atingir!
Agora
conheces a resposta a essa pergunta; teu corpo ocasional não representa nenhum
papel em tudo isso. Não és teu corpo; este não é o teu “eu”, senão um simples
instrumento que escolheste ou que foste obrigado a tomar segundo as Leis
oscilantes da vida espiritual a que poderás também dar o nome de Leis cósmicas
se assim achares mais compreensível. A vida terrena é um breve espaço de tempo
de tua existência real.
Semelhante
asserção seria verdadeiramente aterradora se não houvesse nenhuma saída,
nenhuma força que a neutralizasse. Quantos deveriam desanimar ao despertarem
para o espiritual, desejando que ainda perdurasse o sono da rotina! Ignoram
tudo o que os espera, o que ainda os atingirá pela ação de retorno, ou, como em
geral se diz, “o que ainda têm que remir!”
Confiança!
Porque com o despertar é-te indicado na sábia disposição da grandiosa Criação
um caminho, graças àquela força do bem querer, a que já me referi
particularmente, que atenua os perigos do Carma compensador, quando não os
neutraliza. Também isso te foi dado pelo Espírito do Pai. A força do bem querer cria em teu redor um
círculo capaz de destruir a ação nociva do mal, ou a atenua consideravelmente,
do mesmo modo que a camada de ar protege a Terra. A força do bem querer, porém,
esse anteparo poderoso, é estimulada e reforçada pelo poder do silêncio.
Por
esse motivo, com empenho, advirto mais uma vez aos que procuram:
Conservai pura a
sede de vossos pensamentos, praticando antes de tudo o grande poder do
silêncio, se quiserdes progredir.
O Pai já vos deu em
mãos a Força apropriada! Basta somente saberdes utilizar-vos dela.
O conteúdo deste livro como
tradução nos conformes da obra original: Na Luz da Verdade escrita por
Abdrushin, publicada na íntegra, sem alterações, exclusivamente pela edição de
1931, se deve ao resgate da cópia do primeiro volume em português publicado em
1934, portanto, com aspecto de autêntica raridade para a Mensagem do Graal no
Brasil.