Nosso Lar
André Luiz é o nome fictício dado pelo autor ao personagem central
para narrar suas reais experiências pessoais após a sua morte, cujas descrições
foram ditadas por ele próprio e psicografadas por Chico Xavier, as quais deram
origem ao livro: “Nosso Lar”:
(continuação)
No Gabinete do Ministro
Cercado de enfermos, não podia aproximar-me, como noutros tempos, sendo
o amigo, o médico e o pesquisador. Ouvindo gemidos incessantes nos apartamentos
contíguos, não me era lícito nem mesmo a função de enfermeiro nos casos de
socorro urgente. Claro que não me faltava desejo. Minha posição ali, contudo,
era assaz humilde para me atrever. Lísias, então esclareceu:
–
Por que não pedir o socorro de Clarêncio? Atendê-lo-á por certo. Peça-lhe
conselhos. Ele pergunta sempre por sua pessoa e tudo fará a seu favor.
Animou-me grande esperança. Consultaria o Ministro do Auxílio.
Decorridos
muito tempo, era a minha vez.
Estava
no gabinete em companhia de uma senhora idosa, que seria atendida primeiro.
–
Nobre Senhor Ministro – começou a senhora –, venho pedir a favor de meus dois
filhos. Desejava – replicou, aflita – que me concedesse recursos para
protegê-los na Terra.
Quantos
bônus-hora3 poderá apresentar pela sua pretensão?
–
Trezentos e quatro.
– É de lamentar, pois aqui se hospeda, há mais de seis anos, e apenas
deu à colônia, até hoje, trezentos e quatro horas de trabalho?!
– Mas quem os tolerará fazer o serviços que me incumbiram, senão os
santos? – inquiriu a pedinte rebelde – fiz o possível, entretanto, aquela
multidão de almas desviadas assombra a qualquer um!
Depois
de pequena pausa, continuou:
– Que fará, pois, na Terra se não aprendeu ainda a suportar coisa
alguma?
Volte
aos Campos de Repouso, onde se abrigou ultimamente, e reflita. Examinaremos
depois o seu assunto.
Sentou-se
a mãe inquieta, enxugando lágrimas copiosas.
Em
seguida, o Ministro fitou-me compassivamente e falou:
– Aproxime-se, meu amigo!
Elucidações do Ministro de Auxílio
Pulsava-me
precipite o coração, vendo aquela mulher em lágrimas, tremia arrependido de
haver marcado aquela audiência. O Ministro do Auxílio, como se adivinhasse minha
sensação mais íntima, exclamou em tom firme:
– Pronto a ouvi-lo.
Ia solicitar instintivamente qualquer serviço médico em “Nosso Lar”,
embora a indecisão que me dominava eu falei:
– Tomei a liberdade de vir até aqui, rogar para que me reintegre no
trabalho. Qualquer trabalho útil me interessa desde que me afaste da inação.
–
Já sei. Verbalmente pede qualquer gênero de tarefa; mas, no fundo, sente falta
dos seus clientes, do seu gabinete, de serviço com que o Senhor honrou sua
personalidade na Terra. Não teria ainda condição de ser médico em “Nosso Lar”,
mas poderá assumir o cargo de aprendiz, oportunamente. Aprenderá lições novas
em “Nosso Lar” e, depois de experiências úteis, cooperará eficientemente
conosco, preparando-se para o futuro infinito.
Sentia-me radiante. Pela primeira vez, chorei de alegria na colônia.
A Visita Materna
Atento às recomendações de Clarêncio, procurava reconstituir energias
para recomeçar o aprendizado. Noutro tempo, talvez me sentisse ofendido. Agora,
Clarêncio tinha dobradas razões para falar-me com aquela franqueza. No íntimo,
grande ansiedade de rever o lar terreno. Abstinha-me, porém, de pedir novas
concessões. Calava-me, então, resignado e triste. Lísias fazia o possível por
alegrar-me com os seus pareceres consoladores.
Um dia, contudo:
– Adivinhe
quem chegou à sua procura!
Olhos
arregalados de alegria, vi minha mãe entrar de braços estendidos.
– Filho!
Meu filho! Vem a mim, querido meu!
Não posso dizer o que se passou comigo. Apenas senti-me criança
Abracei-me a ela carinhoso, chorando de júbilo.
– Se é possível aproveitar estes minutos rápidos, em expansões de
amor, por que desviá-los para a sombra das lamentações? Regozijemo-nos, filho,
e modifica a atitude mental. Conforta-me tua confiança em meu carinho, experimento
sublime felicidade em tua ternura filial, mas não posso retroceder nas minhas
experiências. Amemo-nos, agora, com o grande e sagrado amor divino.
Aquelas
palavras benditas me despertaram.
Minha mãe me contemplava desvanecida, mostrando belo sorriso.
Ergui-me, respeitoso, e beijei-a na fronte.
Confidências
Consolou-me
a palavra maternal.
Minha mãe comentava o serviço como se fora uma bênção às dores e
dificuldades, levando-as a crédito de alegrias e lições sublimes. Inesperado e
inexprimível contentamento banhava-me o espírito. Sentia-me outro, mais alegre,
animado e feliz.
–
E meu pai? – perguntei – Onde está? Por que não veio com a senhora?
– Ah! Teu pai! Teu pai!... Há doze anos que está numa zona de trevas
compactas, no Umbral.
Muitíssimo
impressionado, perguntei:
–
Não há, porém, meios de subtraí-lo a tais abjeções?
–
Ah! Meu filho – elucidou a palavra materna –, eu o visito frequentemente. Ele,
porém, não me percebe. Seu potencial vibratório é ainda muito baixo. Tento
atraí-lo ao bom caminho, pela inspiração, mas apenas consigo arrancar-lhe
algumas lágrimas de arrependimento...
Depois
de longa pausa, suspirou, continuando:
– Talvez não saibas ainda que tuas irmãs Clara e Priscila vivem hoje
igualmente no Umbral, agarradas à crosta da Terra. Meu único auxílio direto era
tua irmã Luísa, que sempre foi meu braço forte nos trabalhos ásperos de amparo
à família terrena. Ultimamente, contudo, voltou a semana passada, a fim de
reencarnar entre eles, num gesto de sublime renúncia.
A
palestra estendeu-se ainda longa. Depois ela despediu-se.
–
Meu filho, Esperam-me com urgência no Ministério da Comunicação, além disso,
preciso ainda visitar o Ministro Célio, para agradecer a oportunidade desta
visita.
E, deixando-me n'alma duradoura impressão de felicidade, beijou-me e
partiu.
Em Casa de Lísias
Lísias
me veio buscar, a chamado do Ministro do Auxílio. Segui-o, surpreso.
Recebido
amavelmente pelo magnânimo benfeitor, esperava-lhe as ordens com enorme prazer.
– Meu amigo, doravante está autorizado a fazer observações nos
diversos setores de nossos serviços, com exceção dos Ministérios de natureza
superior. Henrique de Luna deu por terminado seu tratamento, e é justo, agora,
aproveite o tempo observando e aprendendo. Guarde este documento, com ele, poderá
ingressar nos Ministérios da Regeneração, do Auxílio, da Comunicação e do
Esclarecimento, durante um ano. Decorrido esse tempo, veremos o que será
possível fazer conforme seus desejos. Instrua-se, meu caro. Não perca tempo.
Lísias,
porém, cortou-lhe a palavra, exclamando:
– Se possível, estimaria recebê-lo em nossa casa, enquanto perdurar o
curso.
Passados alguns minutos de caminhada, estávamos à porta de graciosa
construção.
–
Mãe! Mãe!... – gritou Lísias, apresentando-me alegremente.
– Seja bem-vindo, amigo! – exclamou a senhora, nobremente – Esta casa
é sua.
Em
seguida aos conceitos obrigatórios de apresentação, com que relacionei minha
procedência, vim a saber que a família de Lísias vivera em antiga cidade do
Estado do Rio de Janeiro; que sua mãe chamava-se Laura e que, em casa, tinha
consigo duas irmãs, Iolanda e Judite.
Respirava-se, ali, doce e reconfortante intimidade.
Tudo
simples, mas confortável.
Não voltara a mim da admiração que me empolgava, quando a senhora
Laura convidou à oração.
Naquele momento, sentia-me dominado de profunda e misteriosa alegria.
Amor, Alimento das Almas
Terminada
a oração, a dona da casa, serviu-nos caldo reconfortante e frutas perfumadas.
Surpreendido, ouvi a senhora Laura observar com graça:
– Afinal, nossas refeições aqui são muito mais agradáveis que na
Terra. Há residências, em “Nosso Lar”, que as dispensam quase por completo;
mas, nas zonas do Ministério do Auxílio, não podemos prescindir dos
concentrados fluídicos, tendo em vista os serviços pesados que as
circunstâncias impõem. Despendemos grande quantidade de energias. É necessário
renovar provisões de força.
– Isso, porém – ponderou uma das jovens –, não quer dizer que somente
nós, os funcionários do Auxílio e da Regeneração, vivamos a depender de
alimentos. Todos os Ministérios, inclusive o da União Divina, não os dispensam,
diferindo apenas a feição substancial. Na Comunicação e no Esclarecimento há
enorme dispêndio de frutos.
Sorriam
todos da minha natural perplexidade, mas a mãe de Lísias veio ao encontro dos
meus desejos, explicando:
– Nosso irmão talvez ainda ignore que o maior sustentáculo das
criaturas é justamente o amor. De quando em quando, recebemos em “Nosso Lar”
grandes comissões de instrutores, que ministram ensinamentos relativos à
nutrição espiritual. Todo sistema de alimentação, nas variadas esferas da vida,
tem no amor a base profunda. Quanto mais nos elevarmos no plano evolutivo da
Criação, mais extensamente conheceremos essa verdade.
Decorridos
momentos, a senhora Laura falou sorridente:
– Todos vocês trabalharam muito hoje. Utilizaram o dia com proveito.
Não estraguem o programa afetivo, por nossa causa. Não esqueçam a excursão ao
Campo da Música.
Saíram todos, em meio do júbilo geral.
– Vão em busca do alimento a que nos referíamos. Os laços afetivos,
aqui, são mais belos e mais fortes. O amor, meu amigo, é o pão divino das
almas.
A Jovem Desencarnada
–
Sua neta não vem à mesa para as refeições? –
– Por enquanto, alimenta-se a sós – esclareceu dona Laura –,continua
nervosa, abatida.
Manifestei desejo de visitar a recém-chegada do planeta.
–
Este amigo, Eloísa – indicando-me –,voltou da esfera física, há pouco tempo.
A moça fitou-me curiosa.
– Donde vem você, Eloísa? – interroguei.
– Do Rio de Janeiro.
– Você é muito feliz. Desencarnou há poucos dias, está com os seus
parentes e não conheceu tempestades na grande viagem...
– Não imagina, o quanto tenho sofrido. Oito meses de luta com a
tuberculose, fora os tratamentos... ainda transmiti a moléstia a minha
carinhosa mãe... Além disso, fiz sofrer o meu pobre noivo...
– Ora, ora, não diga isso observou a senhora Laura a sorrir.
– Arnaldo, vovó, ficou sem consolo, desesperado.
– E acreditas sinceramente nessa impressão? – perguntou a matrona com
inflexão de carinho. Observei teu ex-noivo, diversas vezes, no curso da tua
enfermidade. Reconfortar-se-á muito depressa; quando puderes excursionar às
esferas do planeta, em nossa companhia, já o encontrarás casado com outra.
– Será possível?
Vendo que a neta deseja provas, a senhora Laura insistiu, muito
meiga:
–
Não te recordas da Maria da Luz, a colega que te levava flores todos os
domingos? Pois quando o médico anunciou a impossibilidade de restabelecer-te o
corpo físico, Arnaldo, começou a envolvê-la com vibrações mentais diferentes.
– Ah! Que horror, vovó!
Enquanto
Eloísa chorava, a mãe de Lísias convidou-me ir à sala de estar.
– Minha neta chegou profundamente fatigada. A rigor, o lugar dela
seria em qualquer dos nossos hospitais; entretanto, julgou-se melhor situá-la
junto ao nosso carinho. Isso, aliás, é do meu agrado, porque minha querida
Teresa, sua mãe, está a chegar. Um pouco de paciência que é uma questão de
tempo e serenidade.
Noções de Lar
Desejando
colher valores educativos da senhora Laura, perguntei curioso:
–
Desempenhando tantos deveres, a senhora ainda tem atribuições fora de casa?
– Sim; vivemos numa cidade de transição; e as almas femininas, aqui,
assumem numerosas obrigações, preparando-se para voltar ao planeta ou para
ascender a esferas mais altas.
– Quando o Ministério do Auxílio me confia crianças ao lar, minhas
horas de serviço são contadas em dobro, o que lhe pode dar ideia da importância
do serviço maternal no plano terreno. Entretanto, quando isso não acontece,
tenho meus deveres diuturnos nos trabalhos de enfermagem, com a semana de
quarenta e oito horas de tarefa. Todos trabalham em nossa casa. A não ser minha
neta convalescente, não há qualquer pessoa da família em zonas de repouso. Oito
horas de atividade no interesse coletivo, diariamente, é programa fácil a
todos. Sentir-me-ia envergonhada se não o executasse também.
Continuando a Palestra
– Como se
encara o problema da propriedade na colônia? Esta casa, por exemplo,
pertence-lhe? – indaguei.
– Tal como se dá na Terra, a propriedade aqui é relativa. Nossas
aquisições são feitas à base de horas de trabalho. O bônus-hora, no fundo, é o
nosso dinheiro. Nossa morada foi adquirida pelo trabalho de meu esposo, que
veio antes de mim. Minhas lutas na viuvez haviam sido intensas. Muito moça ainda,
com os filhos tive de enfrentar serviços rudes.
– E ele onde está? Como estimaria conhecê-lo!...
– Ricardo partiu há três anos. Nós combinamos novo encontro nas
esferas da crosta. Temos trabalho, muito trabalho, na Terra. Quanto a mim,
seguirei dentro de breves dias. A mãe de Eloísa, minha neta, não tardará. A
passagem pelo Umbral será somente de algumas horas, em vista dos seus
sacrifícios. Poderei, depois, transmitir-lhe minhas obrigações no Auxílio e
partir sossegada.
O Bônus-Hora
– Que me diz do bônus-hora? Trata-se de alguma moeda de metal? –
perguntei.
– Não é propriamente moeda, mas ficha de serviço individual,
funcionando como valor aquisitivo; em “Nosso Lar” a produção de produtos
elementares pertence a todos em comum. O celeiro fundamental é propriedade
coletiva. Todos cooperam no engrandecimento do patrimônio comum e dele vivem.
Os que trabalham, porém, adquirem direitos justos. Cada habitante de “Nosso
Lar” recebe provisões de pão e roupa, no que se refere ao estritamente
necessário; mas os que se esforçam na obtenção do bônus-hora têm suas
vantagens. Quem não trabalha, poderá ser abrigado aqui, no entanto, os que
cooperem podem ter casa própria. Quanto maior o valor do bônus-hora, maiores
aquisições podemos fazer. Compreendemos, aqui, que nada existe sem preço e que
para receber é indispensável dar alguma coisa.
– E o
problema da herança? – inquiri de repente.
– Vejamos, por exemplo, o meu caso. Aproxima-se o tempo do meu
regresso aos planos da crosta. Tenho comigo três mil Bônus-hora-Auxílio. Não
posso legá-los a minha filha que está para chegar, por que esses valores serão
revertidos ao patrimônio comum, permanecendo minha família apenas com o direito
de herança do lar
Saber Ouvir
Lísias entrou em casa visivelmente satisfeito.
– Venha ao jardim, pois ainda não viu o luar destes sítios.
O espetáculo apresentava-se soberbo! Habituado à reclusão hospitalar,
entre grandes árvores, ainda não conhecia o quadro maravilhoso da noite clara.
– Nunca
presenciei tamanha paz! Que noite!...
O
companheiro sorriu e acentuou:
– Há compromisso entre todos os habitantes equilibrados da colônia, de
não emitirem pensamentos contrários ao bem. Esse esforço da maioria se
transforma numa prece quase perene. Dai nascerem as vibrações de paz que
observamos.
Depois dentro de casa, Lísias se aproximou de pequeno aparelho de
rádio na sala.
Aguçou-me
a curiosidade. Que iríamos ouvir? Mensagens da Terra? Ele esclareceu:
– Não ouviremos vozes do planeta. Nossas transmissões são forças
vibratórias mais sutis que as da esfera da crosta.
– Mas não
há recurso – indaguei – para recolher as emissões terrestres?
– Sem dúvida que temos elementos para fazê-lo, entretanto, no
ambiente doméstico o problema de nossa atualidade é essencial. A programação do
serviço necessário, as notas da Espiritualidade Superior e os ensinamentos
elevados estão muito acima da terrestre.
– Será
tanto assim? E os parentes que ficaram a distância? Nossos pais, nossos filhos?
– Não devemos procurar notícias dos planos inferiores – prosseguiu,
solícito – senão para levar auxílios justos. Convenhamos, porém, que ninguém
auxiliará com justiça, experimentando desequilíbrios do raciocínio. Por isso, é
indispensável a preparação conveniente, antes de novos contatos com os parentes
terrenos.
– Mas,
Lísias, você que tem um amigo encarnado, não gostaria de comunicar-se com ele?
– Sem dúvida, quando merecemos essa alegria. Não devemos esquecer,
entretanto, que somos criaturas falíveis. Necessitamos ter o merecimento de
cada caso.
Saiba que, da esfera superior, é possível descer à inferior com mais
facilidade. Sendo preciso compreender devidamente os que se encontram nas zonas
mais baixas. É muito importante saber
falar como saber ouvir.
E, enquanto ficava em silêncio, Lísias ligou a recepção sob meus
olhos curiosos.
O Impressionante Apelo
Ligado
o receptor, suave melodia envolveu o ambiente, mostrando-se na tela o locutor,
a falar:
– Emissora do Posto Dois, de “Moradia”. Continuamos a irradiar o
apelo da colônia, em benefício da paz na Terra. Concitamos os colaboradores de
bom ânimo a congregar energias no serviço de preservação do equilíbrio moral
nas esferas do globo. Ajudai-nos, quantos puderem ceder algumas horas de
cooperação nas zonas de trabalho que ligam as forças obscuras do Umbral à mente
humana. Negras falanges da ignorância, depois de espalharem os fachos
incendiários da guerra na Ásia, cercam as nações europeias, impulsionando-as a
novos crimes.
Lísias me
explicou:
–
Estamos ouvindo “Moradia”, velha colônia de serviços muito ligada às zonas
inferiores. Como sabe, estamos em agosto de 1939. Seus últimos sofrimentos
pessoais não lhe deram tempo para ponderar sobre a angustiosa situação do
mundo, mas posso afiançar que as nações do planeta se encontram na iminência de
tremendas batalhas.
– Que diz? – indaguei aterrado – pois não bastou o sangue da última
grande guerra?
A
essa altura, Lísias desligou o aparelho e vi-o enxugar discretamente uma
lágrima, que seus olhos não conseguiam conter. Num gesto expressivo, falou
comovido:
– Grandes abnegados, os irmãos de “Moradia”! Tudo inútil, porém –
acentuou triste, depois de ligeira pausa –, a humanidade terrestre pagará, em
dias próximos, terríveis tributos de sofrimento.
Generoso Alvitre
No
dia imediato, muito cedo, fiz leve refeição em companhia de Lísias e
familiares. A senhora Laura encorajou-me o espírito hesitante, dizendo,
bem-humorada:
–
Já lhe arranjei companhia para hoje. Nosso amigo Rafael, funcionário da
Regeneração, passará por aqui, a meu pedido. Rafael é antiga relação de nossa
família e vai apresentá-lo, em meu nome, ao Ministro Genésio.
Não
poderia explicar o contentamento que me dominou a alma.
Lísias, por sua vez, demonstrou grande alegria.
–
Estou informada de que pediu trabalho há algum tempo... Sei, igualmente, que
não o obteve de pronto, recebendo, mais tarde, a necessária autorização para
visitar os Ministérios É justamente neste sentido que lhe ofereço minhas
sugestões humildes. O Ministério da
Regeneração é dado a lutas pesadas, localizando-se ali a região mais baixa de
nossa colônia espiritual. Não se considere, porém, humilhado por atender às
tarefas humildes.
Meus
olhos estavam úmidos. Aquelas palavras, pronunciadas com meiguice maternal,
serviam como bálsamo precioso. Poucas vezes sentira na vida tanto interesse
fraternal pela minha sorte.
– Creio que você não veio a esta casa por casualidade. Estamos todos
entrelaçados por amizade secular. Brevemente voltarei ao círculo da carne, mas continuaremos sempre unidos pelo
coração. Espero vê-lo animado e feliz, antes de minha partida.
Trechos dos mais relevantes da obra “Nosso Lar” – ditada por André Luiz, psicografada por Chico Xavier.