segunda-feira, 13 de agosto de 2018

África XXI






Nas Florestas da África

Episódio XXI

Incauta Demonstração de Fé

por Charlotte von Troeltsch

Sinopse de Fatos Transcorridos: Bu-anan, também chamada de “mãe branca” num instante tomado de indizível devoção, acolheu no vislumbre de um raio da luz, a tocante mensagem sobre o nascimento do filho de Anu na Terra, cuja notícia se espalhou de imediato na tribo...

(continuação)

“Então veria nossa alegria”, disse Ur-an alegremente. “Não achas que Ele se alegraria conosco, Bu-anan?"


“Oh, grandes crianças”, pensou Bu-anan, contudo ela não disse.
Ela fez o sinal para oração e intimamente fluíam as palavras de agradecimento, por sobre seus lábios, pela graça Divina, que fora dada a todos.
Apesar da grande excitação, na qual as almas sempre ainda vibravam, as pessoas caminharam para casa como estavam acostumadas.
A Mãe Branca, porém, ainda ficou por longo tempo encostada à sua cabana e olhava o céu estrelado, e muitos pensamentos moviam-se em sua alma. Também ela não conseguia imaginar como o Filho de Anu viria até eles. Contudo, nem por um minuto duvidou que estivesse correto dissuadir as pessoas a sair procurar o Eterno sobre a Terra.
“Anu, auxiliai, para que todas estas almas permaneçam dignas da elevada graça. Elas estão cheias de boa vontade, elas são puras!” —
Se até então o povo Tuimah havia vivido no pensamento da vinda do Enviado de Deus, então, a partir de agora tudo se dirigia segundo a notícia: Nós poderemos vê-Lo!
As cabanas e a aldeia estavam sempre limpas, e agora as mulheres se esforçavam como que de aposta, para fazerem tudo ainda mais belo e melhor.
Os homens saíam para caçar e separavam mais tarde os mais belos pedaços da carne para ser conservada para o tempo em que o Filho de Deus viria.
As moças teciam uma peça do mais puro e branco tecido para uma vestimenta para Ele. Deveria ser ainda mais bela do que a vestimenta de Bu-anan, nenhuma falha deveria ser vista.

A cada um sobrevinha algo que ele poderia fazer ainda mais bonito e bem feito do que até agora. Cada um queria preparar um presente qualquer conforme sua capacidade num amor sobrepujante.
Uma manhã Bu-anan ouviu, como Ur-an falava mais forte do que até então. O que teria acontecido?
Ela foi em direção do som das vozes – pois também outros falavam ativamente – e chegou à vala de espinhos. Então ela logo viu o que havia despertado a indignação de Ur-an. Os vigias da última noite organizaram cuidadosamente a passagem de tal forma e cortaram os espinhos que avançavam e se lançavam por cima, que a passagem estava totalmente aberta e visível a todos os olhos na luz do Sol.
Aborrecido, Ur-an virou-se para Bu-anan:
“Veja o que esses ignorantes fizeram! É um dano que só será reparado após muitas luas! Qualquer espião que passar por aqui será cordialmente convidado a entrar e nos visitar!”
Tão zangado ninguém ainda havia visto o líder, em geral tão calmo.
Bu-anan teve que lhe dar razão. Fora realmente muita ignorância, o que havia ocorrido aí.
“Por que vós fizestes isso?” ela perguntou aos homens, os quais em sua presença não ousavam mais se defender.
“Nós queríamos aplainar o caminho para o Filho de Anu, para quando ele viesse até nós”, relataram eles. “Fomos aplicados para que o caminho fique livre e nem levamos em conta os maus espinhos.”
Eles indicavam para seus membros vermelhos e feridos pelos espinhos.

“Tolos!” exclamou Bu-anan. “Vós já sabeis através dos U-aus que os espinhos são venenosos! Teremos que tomar providências imediatas para vossas feridas.
Vós achais que agis certo, mas não esqueçais que uma única pessoa jamais pode fazer algo que atinja o todo a partir de seu próprio pensamento. Devíeis primeiramente ter perguntado a Ur-na. Ide a Ur-ana e deixai que passe um ungüento sobre os braços e pernas.”
Quando os homens se foram, Bu-anan se voltava ao dirigente ainda irritado.
“Eles causaram de fato grande prejuízo, Ur-an”, disse ela amigavelmente. “O pior de tudo isso é que as plantas cortadas necessitarão de um longo tempo para cobrirem novamente a passagem. Seria melhor que mandasse que fossem plantados espinhos também sobre o caminho e nesse meio tempo teríamos que nos contentar apenas com uma entrada e uma saída.”
Ur-an não queria saber nada sobre isso.
“Esta é justamente a passagem mais larga, a qual necessitamos para nosso gado”, disse ele aborrecido. “Se pelo menos fosse a outra, tua proposta seria realizável! Eu estou tão zangado com esses ignorantes.”
“Não esqueça, Ur-an, que o agir deles, apesar de tão errado, surgiu do fundo do coração e da melhor boa vontade. Isso desculpa muito. Não achas que os pequenos poderiam ter impedido se fosse assim tão errado? Se o permitiram deve nos ser um consolo, que não deveremos contar a eles.
Tão bem como pôde ser feito, as laterais da passagem foram replantadas. Ur-an fortalecera a vigilância aí. Ele tinha uma receosa preocupação que não o deixava calmo nem de dia, nem de noite, ele via a aldeia ser assaltada e todos, grandes e pequenos, serem atirados na prisão.

A Bu-anan ele não queria falar nada. Ela era tão inabalável em sua fé na proteção de Anu, que não compreendia sua preocupação. Muitas vezes ele se levantara de noite e verificava os vigias, os quais sempre encontrava alertas, acompanhados pelos muitos vigilantes U-aus.
Durante o dia a passagem era deixada a si própria. Ninguém pensava que também de dia poderia vir o perigo. —
Longo tempo se passou sem que a alegre prontidão pela vinda do Filho de Deus diminuísse.
Aí um dia Bu-anan se retirou para sua cabana. Como ela era bem grande, oferecia também condições para a permanência diária quando a Mãe Branca quisesse se concentrar ou quando recebia mensagem dos reinos luminosos.
Contrário ao seu costume, Bu-anan também não apareceu no dia seguinte junto às pessoas.
 Ur-ana que olhava cheia de preocupação para dentro da cabana, viu-a ajoelhada com o rosto coberto de lágrimas, e retraiu-se de novo silenciosamente. Ela cuidava para que o lugar ao redor do lar de Bu-anan ficasse vazio, e um grande silêncio assim a rodeasse.
“Ela deve ter recebido uma mensagem muito séria e difícil”, disse Ur-ana preocupada. “Eu jamais vi a Mãe Branca assim.”
Uma parte dos homens estava ocupada em preparar o solo para novas plantações, as quais as mulheres, por ordem de Bu-anan, queriam fazer. Os outros estendiam peles e raspavam os últimos resquícios de carne delas. A poucos momentos, eles haviam feito muitas presas.
Então, de repente, fez-se ouvir das grandes cabanas, nas quais os U-aus dormiam de dia, um incrível barulho! Os animais pulavam contra a grande pedra que fora colocada para fechar a entrada da cabana, e deixaram ecoar suas profundas vozes num desesperado uivar.
Ur-an que havia se ajoelhado ao chão para melhor poder realizar seu trabalho, deu um salto.
“Os animais pressentem algo de ruim!” exclamou ele. “Será que inimigos atravessaram nossa vala?”

(continua)









Uma obra traduzida diretamente do texto original alemão de 1937, o qual foi publicado nos cadernos 6 a 12 da revista Die Stimme (A Voz). 
A história está sendo publicada em episódios da coleção do G +: 

África. (Nas Florestas da África)

Por esse mesmo esquema já foram publicadas as obras como coleções do G +: