Encontro com o Senhor:
Meu Empenho na Libertação do Senhor II
Por Hellmuth Müller − Schlauroth
(continuação)
Eu fora
intimado para às 10:30 horas. Na porta da sala estava escrito: Lojas e
Sociedades Semelhantes. Após tomarem os meus dados pessoais, fui posto frente à
frente com o substituto de Himmler. Isso aconteceu por iniciativa de Grete
Hess. Sem sua intercessão, certamente, não teria avançado tanto. O
interrogatório, que mais parecia um diálogo, seguiu mais ou menos o seguinte
rumo:
Ele: Como pode o Sr., sendo um antigo
companheiro de Partido, intervir a favor de um homem como esse Bernhardt?
Eu: Por que não? O Sr. Bernhardt é um
ótimo escritor, é dono de um amplo saber e seus escritos somente proporcionam
paz e são benéficos.
Ele: Seus escritos são subversivos, e
além disso ele tenta explorar financeiramente as pessoas, enganando-as até
fraudulentamente.
Eu: Subversivos? Eu conheço todos os
seus escritos e sei que não são subversivos. O Sr. Bernhardt distancia-se de
tudo que tenha cunho político. No que diz respeito a exploração e fraudes,
trata-se de acusações, a velha maneira, feitas por adeptos desligados que
tentam vingar-se, pois vêem-se frustrados em suas esperanças de conseguirem,
através do Sr. Bernhardt, quaisquer vantagens em proveito próprio.
Ele: Mas de qualquer forma a
comunidade do Graal é uma seita, e para essas coisas não há espaço no Estado
Nacional Socialista.
Eu: Nesse caso o Sr. está muitíssimo
enganado. As pessoas que vivem em Vomperberg não são adeptas de uma seita. A
Colônia formou-se através do desejo dessas pessoas, as quais sentiram-se
atraídas pelos escritos do Sr. Bernhardt, e quiseram viver perto dele.
Ele: Tanto faz, seja como for, mas
acima de tudo, e isso é decisivo, Bernhardt é judeu.
Eu: (Gargalhando ruidosamente) Se
Bernhardt é judeu, então o Sr. e eu também o somos. Conheço sua casa paterna em
Bischofswerda, na Saxônia, não muito longe da minha propriedade, próximo de
Görlitz. Seu pai era curtidor de peles e paralelamente ao seu ofício
mantinha uma hospedaria, e sua mãe descendia de camponeses de um sítio
localizado nas proximidades de Bautzen. Portanto, essa afirmação é
determinantemente infundada, e se ela é decisiva, então o Sr. Bernhardt deveria
ser posto em liberdade imediatamente.
Ele: O Sr. tem uma grande dose de
descaramento. Não sabe que põe em risco a sua liberdade?
Eu: Por quê? Será que vivemos num
país onde não se pode dizer a verdade? Eu não acredito nisso. Posso contestar
facilmente os argumentos que o Sr. apresentou contra o Sr. Bernhardt. Se,
porém, o Sr. Bernhardt, através de seus escritos, realmente atacou alguém, foi,
no máximo, as igrejas das duas religiões, e com razão. Mas eu não posso
imaginar que esse seja, de sua parte, o motivo da acusação, pois o Sr.
seguramente não representa as igrejas aqui. Por esse motivo peço o favor de
libertar o Sr. Bernhardt. Posso responsabilizar-me por ele e também estou
disposto a acolhê-lo na minha propriedade em Schlauroth, comarca de Görlitz.
Ele: Está bem, vou refletir e
trocar ideias a respeito. Caso o Sr. Bernhardt for libertado, então somente com
a condição de o Sr. ficar responsável, garantindo com sua própria vida e seus
bens, que Bernhardt não fuja. O Sr. receberá mais notícias por escrito.
E assim
fui dispensado.
No início
de agosto, através da Polícia Secreta da repartição de Görlitz, comunicaram-me
que o Sr. Bernhardt seria libertado sob minha garantia pessoal. Ele poderia
escolher hospedar-se em Igls, próximo de Innsbruck, ou em Schlauroth, na minha
propriedade. Com essa notícia viajei para Innsbruck, onde me encontrei com as
senhoras, para juntos visitarmos o Senhor no cárcere policial. Desta vez o
Senhor fora conduzido até nós por uma pequena porta que se encontrava naquela
grade alta, e que por ocasião de minha primeira visita nem tinha reparado.
Também o guarda retirou-se desta vez; podíamos falar livremente. Comuniquei ao
Senhor − que sob a longa detenção tinha sofrido visivelmente − que ele logo
seria libertado. Poderia até decidir ir para Igls ou para Schlauroth. O Senhor
decidiu com surpreendente rapidez e disse textualmente: “Se não for pedir
demais, então eu gostaria de ir junto com o senhor para Schlauroth.” Esta imediata
e livre resolução foi para mim uma grande alegria e ao mesmo tempo uma grande
honra. Viajei logo para Schlauroth e encaminhei a decisão do Senhor para a
Gestapo em Görlitz.
O
primeiro a chegar em Schlauroth foi o Sr. Alexander com seu carro, acompanhado
de Walter Fox. Walter Fox trabalhava na Colônia de Vomperberg como empregado.
Ele era acompanhante do Sr. Alexander. Como na minha fazenda havia muito
trabalho ele ficou como meu empregado, naturalmente com remuneração integral. O
carro do Sr. Alexander estava lotado com malas e outras bagagens do Senhor e de
sua família.
O Senhor e as senhoras chegaram em Görlitz na
sexta-feira, dia 9 de setembro de 1938, por volta das 18 horas. O Dr. Hütter
fora avisado da chegada, de forma que, para a recepção, ele se encontrava ao
meu lado na estação de trem. Entre os viajantes recém-chegados localizamos
imediatamente o Senhor e as senhoras. O Senhor estava visivelmente nervoso.
Após rápida saudação ele me disse: “Aconteceu um milagre, eu lhe agradeço.
Queremos, porém, sair rapidamente daqui.” Evidentemente o Senhor encontrava-se
sob a pressão do ambiente do presídio, e acreditava que comissários da Gestapo
o vigiassem na chegada. Mas esse não era o caso. Chegando em Schlauroth
conduzimos logo o Senhor e sua família para seus aposentos.
(continua)
Trecho do texto: Encontro Com O Senhor - (nas Recordações
e pensamentos do discípulo: Hellmuth Müller – Schlauroth)
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