terça-feira, 28 de março de 2017

Sobre a Vida dos Celtas XIII





Para leitura do episódio anterior: Sobre a Vida dos Celtas XII

Sobre a vida dos Celtas –XIII

Por Charlotte von Troeltsch e Suzanne Schwartzkoff

Anteriormente: A tribo sob o comando de Seabhac Habicht se destacara por um desenvolvimento espiritual no período sem precedentes, com povos celtas de todos os lugares, vindo estudarem com os druidas da região; que a princesa Meinin também até surpreendeu, ao anunciar sensitivamente, a vinda promissora do Filho do Pai Eterno, para o auxílio da criatura humana, carente de luz, decaída... 

Meinin silenciou novamente. Ela tremia de comoção interior. De forma totalmente forte ela vivenciava novamente o que havia podido ver. E aquilo que vibrava tão poderosamente nela, arrebatou os ouvintes com grande força. Eles encontravam-se como que em um encanto sagrado. Aqui e acolá alguém erguia os braços como que em oração para o céu, mas ele não sabia disso.
Nenhum barulho fazia-se ouvir quando a princesa começou novamente:
Então, logo se realizará o que fora resolvido no mais sagrado amor, em uma incompreensível misericórdia. Logo chegará a época em que o eterno Filho do Pai Eterno, uma parte Dele próprio, irá descer à Terra. Os céus anunciá-lo-ão, as estrelas contarão a respeito do que irá acontecer. Todos os seres humanos devem saber que o Filho de Deus se juntará à eles.
Aí as árvores e as flores inclinar-se-ão em devoção. As águas ficarão em silêncio por um instante, abaladas pelo indizível acontecimento. Depois, murmurando, elas anunciarão o que ocorrera. Os animais louvarão o Pai Eterno com o seu agir. Todos os servos luminosos apressar-se-ão para difundir a notícia, transbordando em júbilo e louvor.
E os seres humanos? Quem pode dizer o que os seres humanos farão, cegos e deturpados como são? Quem quer imaginar quanto tempo irá demorar até que os seres humanos compreendam a incomensurável graça do Pai Eterno?
Ó vós, seres humanos! Preparai-vos para receber o Filho de Deus! Onde quer que Seus pés sagrados pisem sobre a Terra, vós podeis recebê-Lo. Aguardai em trêmula alegria, com uma existência grata e humilde, pois a vinda acontece por causa de vós. Orai ao Pai Eterno e falai:
— “Pai Eterno, Tu nosso Senhor sagrado, nós Te agradecemos por Tua bondade e graça. Nós somos muito fracos para compreendê-las, mas nós as veneramos. Tu queres enviar Teu sagrado Filho como anunciador aos seres humanos. Prepara nossos corações para que nós O reconheçamos e O sirvamos. Esta é a única maneira como nós podemos lhe agradecer.
Meinin silenciou. Sagrado estremecimento pairava sobre as pessoas reunidas, que ainda permaneceram por curto tempo juntas. Depois Donald disse com uma voz suave, a qual não lhe era habitual: “Deixai-nos ir e vivenciar em silêncio aquilo que agora nos fora presenteado.”
De mãos dadas com Seabhac, Meinin deixou o local de devoção. Ambos estavam profundamente comovidos para proferirem palavras, mas um fluxo da mesma intuição perpassava-os.
Durante dias pairava como que ainda um sagrado encanto por sobre toda a tribo. Os alunos de outras tribos, porém, ansiavam que Meinin fosse até eles e lhes anunciasse também tal semelhante coisa.
— “Isto vós deveis fazer” falava Donald em concordância com Nuado. “Vós não podeis exigir da delicada princesa esta longa viagem. Ide, cada um de vós à vossa pátria e anunciai o que vos foi permitido ouvir. Depois podeis retornar novamente, cada um de vós, ou enviar outro em vosso lugar. A escola aqui sempre estará aberta para todos os Celtas que tiverem vontade pura.”
Eles ainda fizeram uma tentativa, a fim de incitar Donald a ir junto, mas ele permaneceu firme e esclareceu-lhes apenas ainda que, esta era a maravilhosa missão, para cada um deles individualmente, levar aquela alegre mensagem à sua tribo.
No mesmo dia, então, todos partiram e a aldeia dos druidas ficou vazia. Todos sentiram falta dos alegres jovens. Estranho pareceu-lhes não ter agora nada mais o que ensinar. Então Nuado chegou com uma nova missão. Eles deveriam, por algum tempo, sair de seu isolamento e se misturar entre o povo. Eles deveriam instruir o povo, de modo a aproveitar, a trabalhar e a cuidar melhor o solo. Eles, os druidas, já faziam isto a muitas gerações, mas nunca haviam pensado que os homens do povo poderiam trabalhar o solo da mesma forma que eles. Eles também deveriam incitar-lhes para que tivessem melhores cuidados com as cabras e ovelhas. De forma pobre vivia o povo. Seria bom se se difundisse o certo estado de bem-estar, apenas até em certa quantidade, para aliviar a preocupação referente ao pão de cada dia e tornar livre os pensamentos por coisas melhores. Muitas capacidades belas ficavam estagnadas porque as pessoas não tinham nenhum tempo para elas.
Apenas bem poucos druidas não seguiram essa ordem com alegria e exatamente esses poucos podiam ficar para trás, a fim de prover a aldeia com jardins e o gado. Eles obtiveram o que eles próprios desejaram, mas depois notaram que haviam escolhido a pior parte. Enquanto os demais, depois de passado o tempo determinado pelo Pai Eterno, retornavam preenchidos de alegria e felicidade, se refrescando no pensamento referente às bênçãos que eles puderam transmitir, caso alguns haviam se entediado, se aborrecido e envelhecido além do devido. Donald não silenciou a esse respeito falando-lhes que eles próprios eram os culpados por esse estado. Ele lhes mostrou que o ser humano sempre age mal quando ele quer antepor sua própria vontade à vontade do Pai Eterno. Agora eles haviam vivenciado isso e não esqueceriam tão rapidamente.
Aos poucos os alunos retornavam novamente. Alguns dos mais velhos voltavam de novo, a maioria das tribos, entretanto, enviavam novas pessoas, pois achavam que seria ideal quanto mais gente pudesse aprender. Então, deu-se um novo impulso para a escola. Também a escola de Meinin experimentou algo novo. Os jovens haviam contado em suas tribos a respeito da possibilidade de instrução para as moças. Agora as tribos enviavam muitas de suas moças com os jovens para que Meinin as instruísse. Ela aceitou as moças com prazer. Seabhac mandou construir uma escola semelhante à dos alunos. Novamente estes puderam participar no trabalho de construção, o que uniu todo o grupo, a princípio estranho entre uns aos outros. Até que a construção estivesse de pé os jovens tinham que dormir ao ar livre, pois as moças utilizavam os quartos da casa da escola.
Com o decorrer de tudo a pequena princesa Brigit completara sete anos de idade. Ela era a imagem da bela mãe, mas não era bela apenas por fora. Sua jovem alma levava uma vida rica e Meinin observava alegremente como surgia na filha uma auxiliar, sim, provavelmente também sua sucessora.
Os irmãos amavam a irmãzinha acima de tudo. Sobretudo, porém, era seu irmão Pieder de 12 anos que compreendia Brigit em cada comoção. Muitas vezes eles imaginavam que tudo eles gostariam de fazer pelo povo, quando se tornassem adultos. O pai surpreendeu-os, uma vez, na ocasião em que faziam tais planos e perguntou de bom humor: “Alegras-te pelo tempo em que tu te tornarás príncipe?”
— “Pai” exclamou o rapaz fervorosamente “não me deixe tornar príncipe! Cuimin é mil vezes mais apropriado do que eu para isso. Eu quero me tornar druida como Donald. Deixa-me ser o sucessor dele.”
— “Isto não está em minhas mãos Pieder” disse o pai seriamente. “Eu posso tornar Cuimin príncipe, se eu ver que ele é apropriado para isso. Eu posso deixar que tu te tornes druida, mas druida superior é o Pai Eterno quem deve te nomear,  pois isto eu não posso.”
— “Se tu me deixares tornar druida, então tudo o mais virá por si mesmo” exclamou Pieder confiante.
— “Tu não pensas pouco a respeito de ti” retrucou o pai.
Então o rapaz corou e disse suavemente: “Perdão pai, por isso tem de parecer assim. Eu sei através de um mensageiro luminoso que o Pai Eterno me escolheu para ser druida superior. Já há muito tempo nós sabemos disso, eu e Brigit, por isso que agora nos sobrevêm isso de forma totalmente natural.”
Então Seabhac não falou nada mais contra isso, contudo, à noite perguntou a Nuado que mensageiro luminoso falava com seu filho. Nuado informou-lhe:
— “É um dos servos do Pai Eterno, abaixo de mim. Ele tem a incumbência de preparar o espírito deste rapaz para a missão que um dia o homem terá de cumprir. Cuimin tornar-se-á um bom príncipe, assim como Muirne havia pressentido. Também ela, às vezes, podia olhar no futuro e ela havia visto que um filho com nome de Cuimin seria teu sucessor. Por isso ela não compreendeu que tu desses um outro nome para o teu primogênito, do que aquele opinado por ela.”
— “E Fionn?” perguntou o príncipe, que possuía um amor especial por esse rapaz alegre e bem dotado.
— “Também Fionn receberá sua missão. Como portador da Verdade ele irá a outros povos, bem ao norte, no gelo e na neve e lhes anunciará a respeito do Pai Eterno. Mas isso irá despertar em sua alma. Tu não deves desempenhar nenhuma influência sobre ele. Deixai-o aprender assim como os outros.”

(continua)



Personagens e fatos processados dentro do contexto deste episódio:

Seabhac, Habicht: Se trata do personagem de destaque nos acontecimentos, que se situa como soberano de uma comunidade celta.

Muirne: velha mãe do príncipe dos celtas Seabhac, Habicht  

Meinin: esposa de Seabhac, Habicht que veio de outro reino salva e aceita para proteção.

Padraic: É o nome principal do ancião que surge neste episódio como druida da comunidade celta, sendo, portanto um personagem influente de seu meio.
Donald: Escolhido como novo Superior dos Druidas (após morte misteriosa d Padraic)
Nuado Silberhand: No folclore irlandês, era reverenciado como rei e grande líder dos Tuatha Dé Danann. Possuía uma espada invencível, vindo da cidade de Findias e que fazia parte dos Tesouros de Dananns. Na primeira Batalha de Magh Turedh perdeu o braço ou a mão, órgão que foi restituído, mas fez com que ele perdesse o trono da tribo. Ficou conhecido como "Nuada, Braço de Prata" ou "Nuada, Mão de Prata". Nuada era o Deus da justiça, cura e renascimento; irmão de Dagda e Dian Cecht.
Pelo direcionamento dado a este enredo pelas autoras, este personagem se trata de um enteal de certa forma importante em sua ligação com os seres humanos.

Goban: deus ferreiro dos Tuatha Dé Danann; com Credne e Luchtain formavam o "Trí Dé Dana"; fez as armas que os Tuatha usaram para derrotar os Fomorianos. Equivalente a Goibniu e Govannon (galês).
Na mitologia irlandesa Goibniu ou Goibhniu era um dos filhos de Brigid e Tuireann e ferreiro dos Tuatha Dé Danann. Ele e seus irmãos Creidhne e Luchtaine tornaram-se conhecidos como os Trí Dée Dána, "os três deuses de arte", que forjaram as armas que os Tuatha Dé usaram para combater os Fomorianos. Suas armas eram sempre letais e seu hidromel concedia invulnerabilidade a quem o bebesse.

Brigit, é a Deusa dos ferreiros, dos artistas, das artes e da cura. Sendo uma Deusa solar, ela é padroeira do fogo e de tudo que envolva Inspiração e Artes. É uma Deusa tríplice, tendo três faces, a poetisa, a médica e a ferreira.

Lug: ou Lugh - filho de Cian (Kian) dos Tuatha Dé Danann e Eithne (também Etaine), filha de Balor (rei dos Fomorianos). Comandou as forças dos Tuatha na vitoriosa Segunda Batalha de Mag Tuireadh (Moytura) contra os Fomorianos, na qual matou o avô Balor. É a figura extraordinária do Deus jovem irlandês que suplanta o Deus Velho; está associado à habilidade e à técnica; é conhecido como Lugh Samhioldanach (de muitas artes) e Lugh Lámhfhada (de mão comprida). Raiz da palavra gaélica que significa Agosto (Lúnasa), isto é, Lughnasadh (festa de Lugh). Corresponde ao Lleu Llaw Gyffes galês.