quarta-feira, 22 de março de 2017

Em Tempo de Edificação





Em Tempo de Edificação 

por Charlotte Von Troeltsch e Susanne Schwartzkopf

Sinopse de Fatos Transcorridos: Desde criança na decisão de servir o Altíssimo, o jovem Miang, após instrução inicial, teve estudos com Fong, que na condição de príncipe voltou a comandar seu reino, contudo, sem deixar de direcioná-lo, o qual como mensageiro, sempre encontrava aventuras, em cuja uma delas, conheceu seu terceiro mestre (Huang), com quem aprendeu a virtude e o domínio do Silêncio. Em nova fase na vida herdou o reino do povo amarelo como legado de Fong. Convicto de ser um servo do Altíssimo, já denominado Miang-Fong, se afastara da Corte para se tornar um discípulo de Zoroaster, que após concluir sua iniciação espiritual partiu, na missão providencial de libertar o Tibete das Trevas...


Aquela região ainda era mais intocada por estar mais afastada. A população não era numerosa e estava igualmente afastada tanto da riqueza como da pobreza. Esta média saudável havia favorecido também o seu equilíbrio interior, de modo que Miang-Fong nunca havia encontrado almas tão abertas como aqui em Lao-tschang.
Mas, então, sobreveio repentinamente uma grande desgraça a estes seres humanos, como nunca haviam vivenciado. Irrompeu entre eles uma epidemia, a qual não conseguiam controlar. Atacava inicialmente as crianças, espalhava-se depois também entre os adultos e ceifou muitos deles em curto espaço de tempo. Não havia sacerdotes por perto, que pudessem combater a epidemia com fórmulas e bebidas mágicas, os conhecimentos das pessoas, porém, não eram suficientes para combater a doença. Assim, consideravam Miang-Fong como um enviado do céu, quando veio em seu auxílio e, cheios de confiança, solicitaram sua ajuda.
Miang-Fong foi ver os doentes e reconheceu o perigo que essa epidemia representava. Caso não fosse detida logo, em breve toda a região estaria desabitada. Mas ele também reconheceu a causa: tratava-se de uma doença transmitida pelo leite dos animais. Quem se abstinha de consumir o leite, restabelecia-se em pouco tempo. Para os outros não havia salvação. Uma doença do sangue, que se manifestava em inúmeras úlceras purulentas, tirava todas as forças e deixava o corpo apodrecer. De onde, porém, vinha essa doença até dos animais? Miang-Fong investiguou e solicitou esclarecimento ao seu guia. Então, foi-lhe mostrado uma planta, que neste ano vicejava abundantemente, e cuja seiva provocava essa doença febril. Mas enquanto não fazia mal aos animais, o ácido venenoso transmitia-se através de seu leite para os seres humanos e os matava.

Após Miang-Fong ter chegado a esse reconhecimento, ordenou que os moradores de Lao-tschang conduzissem seu gado para pastos situados em altitude maior, onde essa planta não crescia e onde encontrariam alimento melhor. Acontece que houve, naquele verão, um clima adverso nessa planície, e somente a planta nefasta sobreviveu à seca e vicejou. Aos moradores, no entanto, ordenou que se abstivessem do leite por algum tempo, então o sangue iria purificar-se novamente e eles se restabeleceriam. Nem todos se submeteram à essa ordem, mas quem o fez, logo mais colhia a recompensa pela sua obediência, enquanto os outros continuavam sucumbindo à doença.
Abriram-se, então, os olhos dos moradores de Lao-tschang, uma vez que viam como Miang-Fong e seus alunos eram incansáveis no auxílio aos doentes, cuidavam deles, lavavam e davam banho a eles, colocavam compressas aliviando e encorajavam-nos. Abriam-se também os corações, deixando entrar muitas sementes, que brotavam no solo fértil. Quando a epidemia havia sido extinta, os moradores de Lao-tschang queriam que Miang-Fong permanecesse com eles.
“Fique conosco, ó grande mestre,” os suplicavam, “ensina-nos como devemos adorar o teu Deus. Tu és mais sábio do que todos nós. Caso nos atingisse novo infortúnio, estaríamos desamparados sem ti.”
Miang-Fong, porém, não queria continuar morando entre eles. Já sentia dolorosamente a falta do silêncio e solidão da natureza intocada, onde se sentia tão mais perto de Deus. Sabia, também, que seus alunos necessitavam de isolamento e silêncio para poderem assimilar e desenvolver-se, e isso ele explicou aos moradores de Lao-tschang. Eles o compreenderam e ofereceram-se para ajudá-lo a construir um local, onde pudesse morar com os seus alunos, sem serem incomodados por eles.
 Miang-Fong indicou para a montanha em terraços distante e disse:

“Essa montanha foi escolhida pelo Altíssimo para ser nossa moradia. Situa-se bem acima das atividades e pensamentos dos seres humanos, no entanto, possivelmente ainda acessível deles. Se vós estais dispostos a ajudar-me, então queremos construir lá um mosteiro, no qual poderei morar com os meus alunos.”
Isso alegrou os moradores de Lao-tschang que, diligentemente, ofereceram sua ajuda. A partir daquele dia começou um laborioso edificar na montanha do Altíssimo, Tao-Schan, como foi chamada dali em diante. De noite, foi mostrado um quadro a Miang-Fong, sobre como deveria ser o mosteiro e ele deu instruções aos construtores de como deviam construí-lo. Havia, porém, alguém entre eles que também tinha o dom de ver quadros, que lhe eram mostrados de noite, e ele sabia como empregar e conduzir as pessoas, para que surgisse uma cópia fiel daquilo que havia sido mostrado do Alto. Devagar, mas continuamente aumentava a construção no Tao-schan. O prédio ficou maior do que, por enquanto, era necessário para Miang-Fong e seu pequeno grupo, mas ele sabia que em breve mais pessoas viriam até ele. Muito importante era, também, a criação de jardins, pois tinham que providenciar a produção do próprio alimento. Foram criados vários deles no lado sul da montanha, em terraços diferentes, para grãos e hortaliças. Também foram plantadas árvores frutíferas. Min-fu foi incumbido da supervisão dos jardins. Ele tinha se fortalecido muito durante os anos de peregrinação. Simples e modestos eram todos eles. Em cima, na parte plana da montanha, foi instalado um jardim ao redor do mosteiro, para o qual também foi mostrado um modelo a Miang-Fong. Essa instalação tinha por base um profundo significado. Este jardim deveria lembrar àqueles, que o frequentassem, os eternos jardins celestiais. Por isso, deveria ser enfeitado com muitas flores, e cercas vivas de arbustos verdes deviam dividi-lo em muitas partes, das quais cada uma seria mantida, predominantemente, numa cor só.
“A cor azul”, assim explicava Miang-Fong a seus alunos, “deve lembrar-vos da verdade eterna, que é tão clara e transparente e tão imutável como o céu azul acima de vós”.

“A cor vermelha fala-vos do amor do Altíssimo, que nos guia e conduz. Quente é essa cor e ela brilha até longe. Assim, também deve o nosso amor pelas pessoas estender-se para longe e fazer bem a elas”.
“As flores amarelas sejam para vós a imagem da luz celeste. Muito significativa é essa cor, pois a luz, eterna em seu brilho radiante, deve levantar-se agora sobre este país e deve expulsar a escuridão do mesmo. Onde a luz chegar, ali desaparecerá a escuridão, ela é afugentada pela luz. Esta é a nossa missão daqui por diante – espalhar a luz ao nosso redor e para distâncias longínquas”.
“O verde, porém, que não faltará em nenhum dos jardins, é como a mão auxiliadora, que nós queremos estender às pessoas. O verde liga todas as cores entre si. Silenciosa e modestamente ela está aí, ela mesma não quer ser nada e, no entanto, nenhuma flor seria verdadeiramente bonita sem suas folhas verdes, sem o gramado verde, onde ela se encontra. O verde dos campos alimenta o gado. Verde é aquilo que o solo produz para a nossa alimentação em grande parte, nós não podemos carecer do verde”.
“Vamos, portanto, assimilar a verdade eterna do Alto, encher nosso coração com amor cálido, para que possamos levar a luz para a escuridão e tornar-nos auxiliares dos seres humanos”.
Afortunados, os alunos acolheram dentro de si o novo saber. Nunca mais o esqueceram e tornou-se a base para sua divisão em grupos distintos.
“Primeiramente deveis procurar pela verdade com toda a ânsia de vosso coração,” ensinou Miang-Fong. “Esvaziai o vosso íntimo, para que possa encher-se com os tesouros da verdade. Quanto menos estiverdes preenchidos com saber próprio, tanto mais podereis assimilar daquilo que o Altíssimo nos doa. Por isso, não deixeis que vossos pensamentos vaguem procurando por aí – eles ficariam presos à Terra. Não deveis preencher-vos com pensamentos, mas com a Verdade que essa é saber. O saber, porém, não pode ser encontrado, ele nos será presenteado do Alto, se estivermos abertos para isso.”

Assim e de forma similar ensinava Miang-Fong seus alunos. Todas as noites, quando o trabalho penoso estava concluído, ele os reunia em sua volta e lhes falava e, agradecidos, acolhiam cada uma de suas palavras.
Principalmente Dak sabia escutar e assimilar, melhor que qualquer outro. Seus olhos tornavam-se cada vez mais brilhantes, somente poucas palavras saíam de sua boca. Pois Miang-Fong continuou ensinando: “Quando tiverdes recebido da verdade, não a transmitis logo em seguida. Não a deixais voar que nem os filhotes de pássaros, que esvoaçam do ninho. Eles ainda não podem voar, quando recém saíram do ovo. Primeiramente devem crescer e suas asas devem poder suportá-los, antes que possam arriscar seu primeiro vôo. Portanto, deixai crescer e fortalecer o saber da verdade dentro de vós, antes que o transmitais a outrem. Silenciai a respeito, até que o tenhais compreendido completamente.”
Assim ensinava Miang-Fong seus alunos a reconhecer o poder do silêncio e, logo, estavam acostumados a permanecer em silêncio após os ensinamentos noturnos. E Miang-Fong continuou: “Quando o vosso corpo descansa de noite, então aquilo, que está vivo em vós, vós próprios podeis deixá-lo. Pois o corpo é somente vosso invólucro, do qual vós necessitais como proteção aqui na Terra, e esse invólucro necessita de repouso. Vós próprios, porém, deveis pedir de noite o caminho para os jardins eternos, deveis procurá-lo, pois lá no Alto é a vossa pátria. Tentai, já agora, aproximar-vos um pouco. Vós o podeis, mesmo que não o compreendêsseis de dia. Procurai os jardins em silêncio, sem palavras, mas elevai o vosso espírito ansiosamente ao encontro deles, para que não errais o caminho, quando um dia deixardes o vosso invólucro terreno.”
“Mestre,” perguntou Su, “é-nos permitido retornar aos jardins eternos quando ficarmos velhos e nosso invólucro terreno quebrar? Não precisaremos voltar?”

(continua)


Trecho extraído do livro: Miang Fong, como relato sobre a vida do grande Portador da Verdade, que libertou o Tibete das trevas.

NARRATIVAS DESDE O INÍCIO PELO ÍNDICE (POR DATA) 

No próprio título encerram em síntese os acontecimentos anteriores:

O Menino e os Gigantes – 04/09/16
Os Gigantes Moram ao Lado – 16/09/16
Adeus aos Gigantes – 23/09/16
O Primeiro Mestre – 29/09/16
Pela Nova Busca... – 07/10/16
Servir o Altíssimo Como Serviçal – 13/10/16
Decisão nas Alturas – 20/10/16
A Graça Vinda do Trabalho – 26/10/16
No Momento certo se esclarece – 03/11/16
Surpresa e Renovação Imediata – 10/11/16
É Só Deixar-se Conduzir – 17/11/16
Quem Procura Encontra – 24/11/16
Graça Vinda do Altíssimo – 01/12/16
Servir Com Sensação de Alegria – 08/12/16
Com a Bolsa Vazia – 15/12/16
Outro Caminho a Seguir – 22/12/16
Por Confiança no Senhor – 28/12/16
Do Tirano ao Paciente – 04/01/17
Superar Desafios de Salvamento – 11/01/17
Um Auxílio Redentor – 18/01/17
O Alcance das Elevações – 25/01/17
Transição Inevitável – 01/02/17
Nome Promulgado de Realeza – 08/02/17
Grãos Dourados de Semeadura – 15/02/17
Pelo Poder da Coragem – 22/02/17
Enviado Pelo Altíssimo – 01/03/17
Entre Rivais e Desafios – 08/03/17
Pelo Domínio do Fogo – 15/03/17