terça-feira, 7 de março de 2017

Sobre a Vida dos Celtas X








Para leitura do episódio anterior: Sobre a Vida dos Celtas IX

Sobre a vida dos Celtas –X

Por Charlotte von Troeltsch e Suzanne Schwartzkoff

Anteriormente: Fiel ao seu guia luminoso, para atender as ordens do Pai Eterno, Seabhac Habicht realiza mudanças na comunidade; de agora em diante as mulheres já podem participar das solenidades espirituais...


“Vede aqui! Donald não ficou a falar continuamente, ele agiu. Ele será futuramente vosso superior, segundo a ordem do Pai Eterno!”

Então todos os demais druidas se assustaram muito. Os mais jovens estavam convictos de que o Pai Eterno não os escolheria para tal cargo, eles se consolaram rapidamente. Diferente se dava com os mais velhos. Eles estavam convictos que cada um servia melhor para ser druida superior do que Donald. Mas contra a ordem do Pai Eterno eles não ousavam dizer nada.
Eles ficaram ainda mais surpresos quando Seabhac lhes esclareceu que aquela suposta incumbência fora apenas para prová-los. Ninguém necessitaria partir, nem mesmo Donald.
Este deixou então a apertada cabana, na qual ele havia morado com outros três e mudou-se para a ampla cabana do druida superior. O próprio Seabhac instruiu-o em seu cargo e apresentou-o na próxima solenidade como o novo druida superior.
Donald assumiu com muita seriedade seus deveres, de modo que para Seabhac restou pouco trabalho, especialmente depois que se mostrou como Donald era capaz e também agraciado a receber as ordens do Pai Eterno, por meio dos seres luminosos.
Outras missões, porém, aguardavam Seabhac. O Pai Eterno ordenou-lhe que com o auxilio de Nuado instruísse os homens adultos de sua tribo na utilização da espada. Até agora eles só haviam portado armas de caça e realizado alguns negócios de tribo para tribo.
— “Guerreiros irão vir, bem equipados e que sabem lutar. Eles estão cobiçosos por vosso país. Mas não é da vontade do Pai Eterno que ele lhes seja dado. Por isso vós deveis lutar. Contudo, contra as espadas deles as vossas armas de caça não poderão realizar nada. Gobban vos ensinará a forjar espadas e a formar escudos. Nuado vos instruirá como se utiliza as armas e como obter proteção atrás do escudo. Tu deves ser capaz de conduzir aos guerreiros inimigos uma tribo preparada para a luta, quando eles chegarem a vós pelo mar ou por terra.”
Isso deu serviço para os próximos dois anos. Dos homens um pouco preguiçosos tornaram-se, com o auxílio dos servos luminosos do Pai Eterno, lutadores prontos para a luta, preparados para defender o país e seus filhos.
Na cabana de Seabhac, Cuimin e Fionn haviam ingressado, contudo, haviam chegado juntos. O chefe da tribo estava orgulhoso por seus três filhos, que eram meninos saudáveis e fortes. Meinin, porém, florescia no trabalho pelos outros e era a alegria de toda tribo.
Apesar de todos os preparativos guerreiros ninguém mais acreditava realmente na vinda de lutadores estranhos, já que tudo continuava tranquilo, assim como sempre o fora.

Então, um dia, Nuado trouxe a ordem do Pai Eterno, que Seabhac deveria partir com todos os homens armados, a fim de expulsar o inimigo para fora do país. Ele devia levar tranquilamente todos os homens consigo, pois ali não aconteceria nada de mal nesse meio tempo.
Também não ocorreria a ninguém ficar para trás por ocasião do chamado do Pai Eterno. Em boa ordem Seabhac partiu ainda no mesmo dia com seus inúmeros guerreiros. Donald e Meinin iriam cuidar daqueles que ficavam. Os homens tinham que abrir seu caminho por regiões inóspitas, o qual se dirigia em sentido sul, ao encontro do mar. Parecia-lhes como se já estivessem andando há semanas, sim há meses, sem que tivessem encontrado um inimigo. Mas eles ouviam a respeito dele. Ao sul ele havia dominado tribos aparentadas, que unificadas por Cassivellau, o nobre príncipe, haviam oferecido resistência.
Infatigavelmente peregrinavam aqueles homens, que haviam perdido o cálculo do tempo e também qualquer saudade referente à pátria. Seabhac os estimulava ardentemente, seguindo o conselho de Nuado. Então, um dia, surgiu visível para todos Nuado diante deles.
— “Vós, homens valentes, é hoje o dia! O exército inimigo já dominou grandes partes do país. Ele quer se estabelecer ali com seus guerreiros. O Pai Eterno vos incumbiu de impedi-los nisso. Do outro lado, junto ao mar, encontram-se seus navios, junto à praia ele instalou o depósito para suas armas e provisões. Eu vos indicarei como podereis ter acesso a isso, da melhor forma. Colocai então fogo nas cabanas e voltai-vos contra os navios!”
Eles estavam tão alegres pela marcha ter chegado ao fim e por poderem começar a verdadeira missão, que eles teriam ao chamado de Nuado com entusiasmo flamejante. Eles estavam mui contentes por terem podido vê-lo. Nenhum deles pensava na morte ou em ferimentos, só sentiam-se sob a proteção da Luz.
Aquilo que se apresentava diante dos olhos deles quase os fizera esquecer, de tamanha admiração. Gigantescos navios balançavam ao mar e suntuosas tendas erguiam-se na praia. Mas pelo chamado de Seabhac recobraram a consciência. Eles realizaram a obra a que haviam sido incumbidos e a realizaram tão bem que o grande exército do inimigo, chamado de César, largou com a maior pressa suas conquistas e correu para salvar os navios em perigo. Das cabanas e provisões nada mais eles puderam salvar. Haviam sido consumidas pelas chamas, as quais haviam realizado seu trabalho igualmente muito bem, assim como os homens que as acenderam.
Vários navios encontravam-se igualmente incendiados. Apenas dois deles, as legiões de César puderam salvar. Por sua ordem todos embarcaram neles na maior pressa. O grande chefe deles achava que o pequeno grupo de guerreiros se tratava de um poderoso exército, depois dele já ter vencido em uma batalha, doze vezes mais guerreiros. Ele também havia trazido reféns, contudo de que eles lhe valiam, se nenhum romano podia ficar para confirmar a conquista do país. Um suspiro de alívio perpassou as tribos Celtas. Todos admiraram a tribo de Seabhac, que realizou algo tão grandioso, de forma tão objetiva e simples. De preferência todas as outras tribos teriam, em conjunto, deposto o príncipe Cassivellau e colocado em seu lugar Seabhac. Mas este recusou, depois de ter conversado com Nuado.
— “O que eu posso fazer pela minha tribo, não posso, por isso, fazer a todas as outras. Eu sou um chefe simples e só vos decepcionaria.”

Sempre de novo eles procuravam convencê-lo. Então Seabhac lhes disse que eles poderiam ser igualmente vitoriosos como seus homens se eles se tornassem verdadeiros servos do Pai Eterno. E sobre um grande campo, no qual ainda se podiam ver os vestígios de uma grande luta, Seabhac começou a anunciar a respeito do Pai Eterno. Os homens ouviam tensos. Quando ele havia terminado, os chefes de todas as tribos pediram para que ele fosse até eles e lhes contassem mais. Assim, ninguém ainda lhes havia transmitido o saber a respeito das coisas eternas.
Dava-se o fato de que sua tribo se posicionava mais ao norte do que todas que estavam envolvidas naquela batalha. Era muito bem possível retornar com todos os guerreiros para casa e ensinar pelo caminho, ficando na pátria de cada tribo individual por um breve espaço de tempo. Seabhac fez esta proposta que foi aceita alegremente por todos.
Se a saída da tropa até a praia havia demorado longo tempo, então a volta para casa demorou pelo menos cinco vezes mais. Mas aos guerreiros ela pareceu mais curta, pois eles estavam igualmente participando com toda a alma e anunciando aos outros o que eles sabiam. Eles também contaram da aparição de Nuado e as outras tribos admiravam-nos como especialmente agraciados.


(continua)


Texto da série especial denominada: Escritos Valiosos

Personagens e fatos processados dentro do contexto deste episódio:

Seabhac, Habicht: Se trata do personagem de destaque nos acontecimentos, que se situa como soberano de uma comunidade celta.

Muirne: velha mãe do príncipe dos celtas Seabhac, Habicht  

Muirne: esposa de Seabhac, Habicht que veio de outro reino salva e aceita para proteção.

Padraic: É o nome principal do ancião que surge neste episódio como druida da comunidade celta, sendo, portanto um personagem influente de seu meio.

Donald: Escolhido como novo Superior dos Druidas (após morte misteriosa d Padraic)

Nuado Silberhand: No folclore irlandês, era reverenciado como rei e grande líder dos Tuatha Dé Danann. Possuía uma espada invencível, vindo da cidade de Findias e que fazia parte dos Tesouros de Dananns. Na primeira Batalha de Magh Turedh perdeu o braço ou a mão, órgão que foi restituído, mas fez com que ele perdesse o trono da tribo. Ficou conhecido como "Nuada, Braço de Prata" ou "Nuada, Mão de Prata". Nuada era o Deus da justiça, cura e renascimento; irmão de Dagda e Dian Cecht.
Pelo direcionamento dado a este enredo pelas autoras, este personagem se trata de um enteal de certa forma importante em sua ligação com os seres humanos.

Goban: deus ferreiro dos Tuatha Dé Danann; com Credne e Luchtain formavam o "Trí Dé Dana"; fez as armas que os Tuatha usaram para derrotar os Fomorianos. Equivalente a Goibniu e Govannon (galês).
Na mitologia irlandesa Goibniu ou Goibhniu era um dos filhos de Brigid e Tuireann e ferreiro dos Tuatha Dé Danann. Ele e seus irmãos Creidhne e Luchtaine tornaram-se conhecidos como os Trí Dée Dána, "os três deuses de arte", que forjaram as armas que os Tuatha Dé usaram para combater os Fomorianos. Suas armas eram sempre letais e seu hidromel concedia invulnerabilidade a quem o bebesse.

Brigit, é a Deusa dos ferreiros, dos artistas, das artes e da cura. Sendo uma Deusa solar, ela é padroeira do fogo e de tudo que envolva Inspiração e Artes. É uma Deusa tríplice, tendo três faces, a poetisa, a médica e a ferreira.

Lug: ou Lugh - filho de Cian (Kian) dos Tuatha Dé Danann e Eithne (também Etaine), filha de Balor (rei dos Fomorianos). Comandou as forças dos Tuatha na vitoriosa Segunda Batalha de Mag Tuireadh (Moytura) contra os Fomorianos, na qual matou o avô Balor. É a figura extraordinária do Deus jovem irlandês que suplanta o Deus Velho; está associado à habilidade e à técnica; é conhecido como Lugh Samhioldanach (de muitas artes) e Lugh Lámhfhada (de mão comprida). Raiz da palavra gaélica que significa Agosto (Lúnasa), isto é, Lughnasadh (festa de Lugh). Corresponde ao Lleu Llaw Gyffes galês.