terça-feira, 25 de abril de 2017

Sobre a Vida dos Celtas XVII







Sobre a vida dos Celtas –XVII

Por Charlotte von Troeltsch e Suzanne Schwartzkoff

Para leitura do episódio anterior: Sobre a Vida dos Celtas XVI

Anteriormente: A princesa Brigit, pelas suas visões do mar, em vista de forte tempestade, anunciou um pequeno barco, em sérias necessidades de socorro, cujo alarde sobre a provável tragédia, motivou o próprio Seabhac Habicht, junto de outros, a enfrentar a situação, na tentativa de realizar um salvamento...

Depois de indizíveis esforços os três homens haviam conseguido salvar aquele que teimava com seu barco nas grandes ondas, exatamente no momento em que este se despedaçou contra os recifes. Ele havia sofrido graves ferimentos, mas ainda vivia.
Cuidadosamente os homens levaram-no à cabana, onde tudo estava preparado sob a supervisão de Brigit. Donald fora chamado, pois ele entendia de ferimentos e colocava cuidadosamente ataduras.
Apenas então tiveram tempo de observar o homem que se encontrava deitado, como que sem vida sobre o leito. Loiros eram os seus cabelos, sua altura era equivalente a do povo de Seabhac. Mas um Celta ele não era. A formação de sua cabeça era totalmente diferente, mais arredondado parecia o seu rosto, e o nariz menor do que o dos homens da tribo. Também seus trajes diferenciavam-se muito dos deles. Na verdade, este já se encontrava rasgado, não dando mais para reconhecer quão precioso era, mas o material parecia macio e brilhante e, nos pés, o homem trazia invólucros especiais de couro.
Será que ele compreendia o idioma deles? Apenas o seu despertar é que iria mostrar isso. Todos aguardavam curiosos por esta hora. Era algo novo possuir esse tal hóspede. Toda aldeia participava desse fato.
Sua impaciência, porém, não deveria ser tão rapidamente satisfeita. O homem salvo caiu em uma forte febre, na qual ele não parava de falar impetuosas palavras, mas ninguém podia compreendê-lo.

Então se seguiram dias de total apatia. Quando, porém, depois da tempestade o sol apareceu novamente pela primeira vez, brilhando alegremente e de forma quente, o enfermo abriu os olhos sob seus raios. Eles eram marrons! Também os cabelos não eram assim tão loiros como haviam parecido quando estavam molhados. Eles eram castanho claro.
Fionn que se encontrava justamente junto ao leito do homem quando este voltou a si, fez todas estas constatações, tendo perguntado cordialmente a ele como é que se sentia.
Com um pouco de dificuldade ele respondeu que não sabia onde estava e como havia chego ali. Ao invés de lhe responder, Fionn apressou-se a sair do aposento e comunicar aos outros que o homem estava desperto e falava o idioma deles.
Isto era uma notícia bem-vinda!O próprio Seabhac foi ter com o seu protegido, contudo, encontrou-o novamente adormecido. Ao meio-dia o homem despertou de um sono fortificante. Agora ele deveria alimentar-se, o que fez com muito apetite. Depois ele já estava disposto a dar informações como também de recebê-las.
Ele vinha de um longínquo país, chamado Gálea. Seu nome era Golin, sua profissão, construtor. Um príncipe estranho havia invadido seu país e feito uma grande quantidade de prisioneiros. Por ocasião da terrível tempestade no mar o grande navio em que as pessoas de seu país haviam sido levadas, para onde elas não sabiam, havia naufragado. Como que por milagre ele havia conseguido alcançar um pequeno bote, no qual ele teve que se deixar impulsionar, já que não possuía remos e nem podia fazer nada contra a tempestade.
— “Sim, um milagre” disse Fionn suavemente em agradecimento ao Pai Eterno por ter ouvido seu pedido.
A partir de então ele tomou o doente aos seus cuidados e procurava descobrir se ele acreditava no Pai Eterno. Depois ele ansiava por saber se ele já havia construído alguma vez uma casa de Deus com árvores de pedra. O homem que de fato falava em outra língua, tinha dificuldade por compreender o que Fionn desejava saber. Quando, porém, entendeu, ele pediu giz e uma pedra plana, desenhando com alguns riscos uma construção redonda sustentada por “colunas”, como ele as chamava.

Fionn tomou a pedra nas mãos como se fosse um tesouro precioso e apressou-se a ir ter com Brigit. Sem uma palavra ele mostrou-lhe o desenho.
— “O Pai Eterno seja louvado!” exclamou a moça felicíssima. “Esta é a casa para o Filho de Deus. Construa-a rapidamente!”
Novamente Fionn apressou-se a voltar a Golin, ao qual ele contava agora a respeito daquilo que lhe felicitava muito. Então o construtor alegrou-se com ele e prometeu auxiliar na sagrada obra.
Então o restabelecimento progrediu rapidamente. Ele mal podia esperar para poder se encontrar entre os trabalhadores e lhes mostrar como deveriam ser confeccionadas as grandes pedras, fazendo-as constituírem colunas. Elas foram feitas quadradas, de forma bem largas embaixo, estreitando-se para cima. Nenhum enfeite as adornava. O povo de Seabhac que jamais havia visto algo semelhante julgava-as extremamente belas. Sempre de novo eles falavam uns para os outros: “Certamente Golin pôde ver isto durante sua doença, nos reinos celestiais.
O construtor, de nome Golin, fazia rápidos progressos no uso do idioma Celta. Seu idioma materno soava bem diferente, apesar de ambos as linguagens terem algo em comum. Agora que ele podia se expressar melhor, ele se alegrava de trocar pontos de vista com Fionn, deixando-se instruir por ele. Em tudo o que dizia respeito ao saber sobre o Pai Eterno, o filho de Seabhac superava amplamente o mais velho. Este só possuía o saber profissional a mais do que ele, mas ele queria aprender, queria se aprofundar na compreensão a respeito das coisas divinas. Sua alma havia se aberto amplamente depois de sua maravilhosa salvação e Fionn ensinava com entusiasmo. A direção da construção não necessitava dele, isso Golin podia fazer bem melhor, mas despertar o espírito adormecido no amigo, esta era uma missão digna do maior esforço. Ele dava tudo de si. Golin havia trazido de sua pátria materna grande atividade e vivacidade intelectuais no falar e agir. Isso atuava vivificando sobre Fionn, que era mais calado e ameno. No intercâmbio ativo ambos cresciam.

Golin também foi o primeiro que tomou conhecimento a respeito do anseio oculto de Fionn. Com entusiasmo ele agarrou o pensamento. Isto, certamente, era desejado pelo Pai Eterno, que o filho do príncipe procurasse países distantes e aprofundasse o saber das pessoas, trazendo-lhes conhecimento sobre as coisas sagradas.
Entretanto, era em vão ele falar com o amigo para que este conversasse com o príncipe a respeito. Um inexplicável temor fazia-o se retrair a esse respeito. Então, Golin resolveu intervir auxiliando, tão logo se oferecesse uma oportunidade.



Texto da série especial denominada: Escritos Valiosos

Personagens e fatos processados dentro do contexto deste episódio:

Seabhac, Habicht: Se trata do personagem de destaque nos acontecimentos, que se situa como soberano de uma comunidade celta.

Muirne: velha mãe do príncipe dos celtas Seabhac, Habicht 

Meinin: esposa de Seabhac, Habicht que veio de outro reino salva e aceita para proteção.

Padraic: É o nome principal do ancião que surge neste episódio como druida da comunidade celta, sendo, portanto um personagem influente de seu meio.
Donald: Escolhido como novo Superior dos Druidas (após morte misteriosa d Padraic)
Nuado Silberhand: No folclore irlandês, era reverenciado como rei e grande líder dos Tuatha Dé Danann. Possuía uma espada invencível, vindo da cidade de Findias e que fazia parte dos Tesouros de Dananns. Na primeira Batalha de Magh Turedh perdeu o braço ou a mão, órgão que foi restituído, mas fez com que ele perdesse o trono da tribo. Ficou conhecido como "Nuada, Braço de Prata" ou "Nuada, Mão de Prata". Nuada era o Deus da justiça, cura e renascimento; irmão de Dagda e Dian Cecht.
Pelo direcionamento dado a este enredo pelas autoras, este personagem se trata de um enteal de certa forma importante em sua ligação com os seres humanos.

Goban: deus ferreiro dos Tuatha Dé Danann; com Credne e Luchtain formavam o "Trí Dé Dana"; fez as armas que os Tuatha usaram para derrotar os Fomorianos. Equivalente a Goibniu e Govannon (galês).
Na mitologia irlandesa Goibniu ou Goibhniu era um dos filhos de Brigid e Tuireann e ferreiro dos Tuatha Dé Danann. Ele e seus irmãos Creidhne e Luchtaine tornaram-se conhecidos como os Trí Dée Dána, "os três deuses de arte", que forjaram as armas que os Tuatha Dé usaram para combater os Fomorianos. Suas armas eram sempre letais e seu hidromel concedia invulnerabilidade a quem o bebesse.

Brigit, é a Deusa dos ferreiros, dos artistas, das artes e da cura. Sendo uma Deusa solar, ela é padroeira do fogo e de tudo que envolva Inspiração e Artes. É uma Deusa tríplice, tendo três faces, a poetisa, a médica e a ferreira.

Lug: ou Lugh - filho de Cian (Kian) dos Tuatha Dé Danann e Eithne (também Etaine), filha de Balor (rei dos Fomorianos). Comandou as forças dos Tuatha na vitoriosa Segunda Batalha de Mag Tuireadh (Moytura) contra os Fomorianos, na qual matou o avô Balor. É a figura extraordinária do Deus jovem irlandês que suplanta o Deus Velho; está associado à habilidade e à técnica; é conhecido como Lugh Samhioldanach (de muitas artes) e Lugh Lámhfhada (de mão comprida). Raiz da palavra gaélica que significa Agosto (Lúnasa), isto é, Lughnasadh (festa de Lugh). Corresponde ao Lleu Llaw Gyffes galês.

Pieder – príncipe filho de Seabhac, Habicht e Meinin

Cuimin – príncipe filho de Seabhac, Habicht e Meinin

Brigit – príncesa filha de Seabhac, Habicht e Meinin

Fionn – príncipe filho de Seabhac, Habicht e Meinin