terça-feira, 4 de abril de 2017

Sobre a Vida dos Celtas XIV







Para leitura do episódio anterior: Sobre a Vida dos Celtas XIII

Sobre a vida dos Celtas –XIV

Por Charlotte von Troeltsch e Suzanne Schwartzkoff


Anteriormente: A tribo sob o comando de Seabhac Habicht é reconhecida por entre os povos celtas de outras regiões respeitosamente, pela grande valor espiritual, ainda mais por significar a anunciação da vinda promissora do Filho do Pai Eterno...

Seabhac, em família, vive um período de muita paz...
Despreocupadamente cresceram os quatro irmãos: Pieder, Cuimin, Brigit e Fionn, uns com os outros. O exemplo dos pais, melhor do que quaisquer palavras eram capazes, ensinava-os a viver em humildade, pureza e em devoção. Alegria e felicidade vinham por si mesmas, elas cresciam no solo que as almas infantis preparavam por meio de sua espécie.
Na hora certa Pieder chegou às mãos de Donald, o qual sabia muito bem que preciosidade lhe era confiada com isso. Seabhac, segundo o conselho de Nuado, enviou os gêmeos a outra tribo que se situava bem ao sul. Lá eles podiam aprender outros costumes e outras maneiras.
De fato, lá os homens não eram assim tão puros e infantis como em sua própria tribo, mas Nuado esclareceu que os jovens estariam suficientemente firmes para resistir a quaisquer tentações. Eles teriam de provar que também seriam capazes, vivendo no meio de pessoas com pensamentos diferentes, de se firmar naquilo que haviam aprendido e absorvido em si.
Assim tornou-se solitário em volta do casal de príncipes. Apenas o ser alegre e equilibrado de Brigit é que os alegrava. A filha provia os pais que haviam envelhecido e procurava com redobrado fervor e amor substituir os irmãos. Meinin também podia falar com ela a respeito daquilo que a preenchia sobremaneira: a maravilhosa profecia que há alguns anos ela pudera anunciar a sua tribo. Essa notícia havia se difundido por todas as tribos Celtas, todos os habitantes acreditavam firmemente nisso e alegravam-se pela época, na qual o sagrado Filho do Pai Eterno pisaria sobre a Terra. Quando se daria isso? Será que por ocasião desse acontecimento aqueles que agora envelheciam, ainda estariam vivos, a fim de vê-Lo, Aquele que haveria de vir aos seres humanos por misericordioso amor?

Meinin não ousava questionar a esse respeito. Nela vivia o pensamento que apenas seriam dignos de ver o maravilhoso, aqueles que pudessem se desenvolver totalmente nas leis do Pai Eterno. Nesse sentido ela direcionava seu próprio agir e pensar. Jamais ela pudera ver novamente a maravilhosa imagem, tão forte como no primeiro dia quando ela ainda se encontrava diante de sua alma.
Também para Seabhac e Donald isto havia se tornado uma estrela guia, mas de outra forma. A eles não bastava entregar sua própria vida e esforço ao Pai Eterno. Eles queriam preparar seu povo para se tornar o solo, no qual os sagrados pés pudessem pisar. Cada vez mais exigentes tornaram-se seus mandamentos, cada vez de forma menos condescendente eles castigavam as transgressões. Mas o povo sabia por que motivo isto acontecia e curvava-se obediente. “Quando o Filho de Deus estiver sobre a Terra” isto também havia se tornado o ponto central de todo pensar, mesmo nas pessoas mais simples.
De fato, isto também se dava em todas as tribos Celtas, mas em nenhum lugar de forma tão forte e viva como no povo de Seabhac. Por isso neles também floresciam de forma totalmente especial. O Pai Eterno deveria olhar com agrado para o povo que vivia aplicadamente no presente e olhando cheio de fervor para o futuro, assim pensavam os druidas. Uma tarde, Seabhac e Meinin caminharam com Brigit em esecial pelo jardim. Ambas se mostravam alegres pelos arbustos floridos que ornamentavam os caminhos. Seabhac estava mergulhado em seus pensamentos procurando se elevar. Então uma tímida pergunta de Brigit interrompeu-o: “Vocês acham que o Filho de Deus irá nascer em nosso país?”

Isto ambos não acreditavam em tamanha bênção, que como inacreditável graça, Seabhac não ousava nem supor. Meinin, porém, lembrando-se da anunciação disse: “Ele pisará sobre a terra, distante da gente, mas a irradiação de Sua presença divina irá chegar até nós. Se nós mantivermos nossas almas amplamente abertas e enviarmos o anseio por meio de fortes vibrações até Ele, então Ele nos enviará de volta algo de Sua eterna força e de Seu sagrado amor, tanto quanto Lhe for possível enviar. Então comparticiparemos das mais ricas bênçãos.”
Todos os três silenciaram e trabalhavam interiormente com estas palavras. Cada um, porém, assimilava-as de maneira diversa. Enquanto Meinin já julgava sentir como tudo que partisse do Filho de Deus perpassava purificando as almas de todas as culpas, queimando tudo que fosse errôneo e fazendo com que o que fosse bom fosse lançado para o alto com grande força, o príncipe imaginava como iria surgir um reino do Pai Eterno sobre a Terra e paz e a justiça seriam as forças motrizes. Por toda a parte os seres humanos tornar-se-iam verdadeiros servos, que auxiliariam a construir o sagrado reino, baseado na força e na alegria.
A intuição de Brigit ia de encontro a Ele com amor. Àquele que queria vir. Os seres humanos deveriam preparar-se para recebê-lo dignamente. O sagrado Amor faria com que, qualquer sentimento terreno, antes teria de se purificar e se clarificar, a fim de poder se elevar ao encontro Dele.
— “Nós temos que fazer algo para o Filho de Deus!” exclamou a moça, a partir dessa transbordante intuição.
Os pais olharam-na admirados. Eles não estavam habituados a tal expressão direta por parte dela.
— “Como tu imaginas isso, filha?” perguntou o pai amavelmente.

Brigit superou a timidez segurando a mão da mãe e disse meio gaguejando: “Eu imagino que nós deveríamos Lhe construir uma morada.”
— “Uma morada?” perguntou Seabhac tenso. “Ele certamente jamais irá vir até nosso reino. Para que então, uma morada?”
— “Mãe!” disse Brigit suplicante. Ela estava segura que a mãe já a havia compreendido e pudesse transmitir melhor em palavras a sua intuição. Meinin também a auxiliou realmente com isso.
— “Brigit está imaginando que se a grande força flui para nós em abundância, deve existir algum receptáculo para acolher essa força. Interpretei corretamente minha filha?”
— “Sim, mãe, assim penso eu. Nós precisamos construir um recinto sagrado, no qual podemos ingressar a fim de acolher a força. Eu sei que o Filho de Deus, também aqui embaixo, continuará a ser Deus, mesmo que Ele desça para se tornar ser humano. E se Ele é Deus, então Ele não está preso ao local em que Ele peregrina terrenalmente. Ele também pode se encontrar ao mesmo tempo junto a nós, na forma divina, invisível, mas, contudo, sensível. E para isso Ele deveria ter uma morada para quando vier.”
Fora o diálogo mais longo que a moça até então realizara. Mas ambos os pais sentiam a força que a impulsionavam a isso.
— “Tu tens razão, Brigit” confirmou o pai. “Seria belo se nós construíssemos esse tal lugar sagrado. Deixai-nos pensar como ele teria de ser.”
— “Eu o estou vendo! Eu o estou vendo!” Jubilaram ambas as mulheres, se expressando ao mesmo tempo.

 (continua)

Personagens e fatos processados dentro do contexto deste episódio:

Seabhac, Habicht: Se trata do personagem de destaque nos acontecimentos, que se situa como soberano de uma comunidade celta.

Muirne: velha mãe do príncipe dos celtas Seabhac, Habicht  

Meinin: esposa de Seabhac, Habicht que veio de outro reino salva e aceita para proteção.

Padraic: É o nome principal do ancião que surge neste episódio como druida da comunidade celta, sendo, portanto um personagem influente de seu meio.
Donald: Escolhido como novo Superior dos Druidas (após morte misteriosa d Padraic)
Nuado Silberhand: No folclore irlandês, era reverenciado como rei e grande líder dos Tuatha Dé Danann. Possuía uma espada invencível, vindo da cidade de Findias e que fazia parte dos Tesouros de Dananns. Na primeira Batalha de Magh Turedh perdeu o braço ou a mão, órgão que foi restituído, mas fez com que ele perdesse o trono da tribo. Ficou conhecido como "Nuada, Braço de Prata" ou "Nuada, Mão de Prata". Nuada era o Deus da justiça, cura e renascimento; irmão de Dagda e Dian Cecht.
Pelo direcionamento dado a este enredo pelas autoras, este personagem se trata de um enteal de certa forma importante em sua ligação com os seres humanos.

Goban: deus ferreiro dos Tuatha Dé Danann; com Credne e Luchtain formavam o "Trí Dé Dana"; fez as armas que os Tuatha usaram para derrotar os Fomorianos. Equivalente a Goibniu e Govannon (galês).
Na mitologia irlandesa Goibniu ou Goibhniu era um dos filhos de Brigid e Tuireann e ferreiro dos Tuatha Dé Danann. Ele e seus irmãos Creidhne e Luchtaine tornaram-se conhecidos como os Trí Dée Dána, "os três deuses de arte", que forjaram as armas que os Tuatha Dé usaram para combater os Fomorianos. Suas armas eram sempre letais e seu hidromel concedia invulnerabilidade a quem o bebesse.

Brigit, é a Deusa dos ferreiros, dos artistas, das artes e da cura. Sendo uma Deusa solar, ela é padroeira do fogo e de tudo que envolva Inspiração e Artes. É uma Deusa tríplice, tendo três faces, a poetisa, a médica e a ferreira.

Lug: ou Lugh - filho de Cian (Kian) dos Tuatha Dé Danann e Eithne (também Etaine), filha de Balor (rei dos Fomorianos). Comandou as forças dos Tuatha na vitoriosa Segunda Batalha de Mag Tuireadh (Moytura) contra os Fomorianos, na qual matou o avô Balor. É a figura extraordinária do Deus jovem irlandês que suplanta o Deus Velho; está associado à habilidade e à técnica; é conhecido como Lugh Samhioldanach (de muitas artes) e Lugh Lámhfhada (de mão comprida). Raiz da palavra gaélica que significa Agosto (Lúnasa), isto é, Lughnasadh (festa de Lugh). Corresponde ao Lleu Llaw Gyffes galês.