quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Transição Inevitável





Transição Inevitável  

por Charlotte Von Troeltsch e Susanne Schwartzkopf

Sinopse de Fatos Transcorridos: Disposto desde a infância em servir o Altíssimo, assim ainda era o jovem Miang, após ter concluído seu estudo inicial, conseguiu depois se tornar aluno de Fong, o qual era um príncipe afastado com a difícil missão de voltar a dirigir seu reino sem mais tê-lo como aluno, continuando, contudo a dar-lhe ordens com seus direcionamentos; pelas quais na tarefa de mensageiro, ele empreendia sempre viagens com aventuras, em cuja uma delas, encontrou para se especializar por algum tempo o seu terceiro mestre (Huang), estando na situação atual atendendo pessoas do povo, se tornara um peregrino, transmitindo seus ensinamentos de ordem espiritual...


Um sacerdote fanático, o mesmo que não resistiu à força espiritual de Miang, foi escolhido para assassinar Miang. O seu paradeiro era conhecido. Devia acontecer numa noite sem luar. Mas o Altíssimo mandou advertir o seu servo. Quando o assassino entrou silenciosamente pela janela, o leito estava vazio e, decepcionado, teve que voltar. Um pensamento surgiu nele: será que o Deus dele era realmente tão forte que Ele o protegia? Mas logo rejeitou esse pensamento. Isso não podia ser verdade! Ele deveria repetir sua tentativa num outro dia, então certamente teria mais sorte.
Aquele, que ele procurava e pretendia matar, já havia sido retirado e se encontrava distante de seu poder. Miang caminhava já sobre outros rumos, ao encontro de novas missões. Antes de partir, procurou alertar Ma-tschi, para que fielmente continuasse firme na verdade agora encontrada. Auxílio ele receberia para que pudesse penetrar cada vez mais profundamente, e pudesse reconhecer cada vez mais. Com pesar no coração, despediram-se, Ma-tschi de Miang. Com ele, via desaparecer algo que nunca mais encontraria e vivenciaria. Mas conformou-se sem reclamar, pois sabia que podia dirigir-se, a qualquer momento, para onde estava o maior poder: ao Altíssimo. Muitos pensamentos ocupavam Miang, quando novamente caminhava solitário e distraído pela estrada. O que seria das pessoas em cujos corações possivelmente ele acendera o raio da verdade? Eram elas fracas e muitas lutas teriam pela frente. Poderiam elas resistir? Mas Miang também sabia que isso não era mais tarefa dele. Ele havia feito o que devia. O que disso resultaria, sobre isso ele não tinha que decidir. Assim, alegremente levantou novamente o olhar e observou mais atentamente a paisagem que atravessava. Chegou agora a uma terra totalmente plana. Grandes búfalos da água puxavam baixas carretas, carregadas com a colheita das lavouras. Os homens trabalhavam ativamente nas lavouras de arroz, um sol forte brilhava sobre eles. Sua pele era marrom-escura e o suor corria-lhes pelas faces. Pesado era esse trabalho, mas trazia também alimento para um longo período.

O sol queimava agora tão inclemente, que Miang procurou um local onde poderia encontrar alguma sombra. Viu, então, à beira do caminho uma árvore frutífera com grande copa e, aliviado, sentou-se embaixo dela. Ela protegia-o dos ardentes raios do sol. De cansaço, seus olhos iam-se fechando, quando se assustou com uma voz rouca, que a ele dirigia insultos. Não deveria ter descansado aqui? Ele levantou o olhar e viu um rosto vermelho de raiva. Não conseguiu entender as palavras que o agricultor seminu a ele dirigia, mas compreendeu que ele não lhe permitia ficar ali e, sem proferir nada, cansado, levantou-se novamente para continuar a caminhada.
Nesse momento veio correndo uma pequena menina pegando-o pela mão puxou-o para que a acompanhasse. Cheia de compaixão, ela presenciara o que havia acontecido e conduziu o forasteiro até uma casa próxima, convidando-o a sentar-se num banco à sombra da casa. A seguir, correu celeremente para o interior da casa e voltou com um copo com leite fresco e o ofereceu sorrindo gentilmente. Agradecido, Miang aceitou pela sua sede. Quando, porém, quis levantar-se novamente e seguir a caminhada, a pequena não o consentiu. Ela o fez sentar-se novamente no banco e exclamou: “Não vá embora, forasteiro! Oha vai chamar a mãe.” Com isso desapareceu novamente na casa. Miang contentou-se, pois o calor o havia cansado muito. Também não demorou muito e apareceu uma mulher jovem, que tinha o mesmo sorriso amável da filha e deu a entender a Miang, que poderia permanecer ali.
“Quando meu marido voltar do trabalho, irá fazer-te muitas perguntas,” disse alegremente. “Tu pareces ter vindo de longe e, certamente, terás muito a narrar.”
Miang agora já estava acostumado que pessoas o retivessem em seu caminho e assim concordou a permanecer até de noite.
As horas passaram rapidamente e Oha, a pequena, pulava alegremente de um lado para outro entre ele e a mãe; depois lhe trouxe flores, mostrou-lhe pedras coloridas e conversava sem parar. Quando o sol começava a desaparecer, o agricultor voltou todo empoeirado e suado. Atrás dele veio seu companheiro, o fiel búfalo, que puxava a sua carreta e já conhecia sozinho o caminho para a estrebaria.

Surpreso, viu o forasteiro sentado em frente da casa, mas sua mulher esclareceu tudo e ele se deu por satisfeito. Ele gostava de conversar de tardezinha após o trabalho e, quando apareceu a lua., todos estavam sentados sossegados no banco da casa desfrutando da paz ao seu redor. Miang contou que havia sido rudemente afugentado, quando quis descansar durante o meio-dia embaixo de uma grande árvore e a pequena o confirmou, exclamando: “Era Mi, o velho mau, que não queria vê-lo lá!
“Por que ele não quis que eu descansasse embaixo de sua árvore?” perguntou Miang, que não conseguia entender.
“Porque ele não dá nada a ninguém, nem a sombra de suas árvores!” exclamou o agricultor.
“Mas ele não perde nada com isso?” perguntou Miang mais uma vez espantado.
“Ele está de tal modo possesso pela avareza, que até gostaria de ele mesmo não comer e beber, somente para não gastar nada,” riu o agricultor, pois, para ele, isso não era novidade.
Miang , porém, abanou a cabeça: “Então ele é tão pobre?”
“Ao contrário, ele é rico, mas a riqueza tornou-o duro. Nunca dá uma esmola a um pobre, espantam-os todos com seus cachorros.”
“Pobre homem!” deixou escapar Miang e, com isso, deixou os seus ouvintes muito surpresos.
“Pobre, o rico Mi?” Como isso faz sentido? Miang, porém, explicou-lhes que eles eram ricos em amor, mas o outro não e que aquele que não conhece o amor, era muito pobre...
“Sua riqueza ele pode perder e o que lhe resta então? Ele não fez amizades com isso.”
Isso, a boa gente teve que confirmar. Eles ofereceram um pernoite a Miang, que o aceitou de bom grado. Parecia-lhe que alguma coisa ainda o prendia ali. Durante a noite, ele foi acordado por grande gritaria e quando se levantou e olhou pela janela, viu um clarão vermelho no céu. Involuntariamente, teve que se lembrar do rosto vermelho de raiva. Por longo tempo Miang ficou olhando para fora, até que o clarão diminuiu. Depois, deitou novamente e dormiu tranquilamente até de manhã. Quando levantou, soube dos seus hospedeiros que, durante a noite, houve um incêndio na casa de Mi, o rico agricultor e que o fogo tinha se espalhado tão rapidamente, que não foi possível salvar coisa alguma.

“Agora ele ficou bem pobre,” acrescentaram com pesar. “Não mais pobre do que já era antes,” disse Miang e eles o compreenderam.
Agora, porém, Miang devia continuar sua caminhada, pois tinha que aprender e assimilar. Ele ainda devia conhecer e vivenciar a insensatez humana e sua correspondente desgraça, para disso tirar sabedoria e abrir ainda mais seus olhos e ouvidos interiores.
Ainda por muito tempo Miang percorreu essa terra fértil. Raramente permanecia por tempo mais longo em uma das localidades. Somente quando encontrava pessoas que ansiavam pelo saber e pela verdade, então permanecia e ajudava. Havia se tornado mais forte, mais enrijecido, despretensioso durante este tempo de caminhada e aprendizado. Cada vez mais se aprofundava nas almas das pessoas, sempre mais reconhecia sua indolência interior, que os impedia de progredir e a qual os espíritos trevosos aproveitavam para exercer domínio sobre elas. Muitas vezes sentia tristeza, quando sempre de novo encontrava os mesmos defeitos, e às vezes parecia-lhe quase impossível de remediar o mal. Mas então ouvia novamente a voz suave, que sussurrava: “Não desanime, Miang, o Altíssimo ajuda-o, confia Nele!”
Então continuou sua caminhada, fortalecido e encorajado. Certa noite, porém, alcançou-o o chamado de que deveria retornar e voltar para Fong. Fong havia ficado velho e necessitava dele. Na mesma hora Miang partiu e dirigiu-se novamente para o norte, em direção às altas cordilheiras do Karakorum. De boa vontade deixou as planícies quentes atrás de si. Ele era um filho das montanhas e sentia falta de sua brisa fresca e áspera. Ansioso, inspirava o ar fresco das montanhas quando começou a escalá-las. Sem perigo e sem vivências especiais, alcançou sua pátria terrena, a tribo amarela.

Encontrou-a em profundo pesar, pois Fong preparava-se para deixar a Terra. Abatido, com os olhos fechados, estava deitado em seu leito. Ao seu redor encontravam-se os mais nobres da tribo em profundo luto. Em suas feições havia paz. Quando Miang aproximou-se, em silêncio, ele abriu os olhos e um sorriso feliz de reconhecimento cobriu seu rosto.
“Tu vieste, Miang, meu filho?” exclamou feliz e levantou-se um pouco. Parecia que, com a alegria, tinha recobrado novas forças.
“Deixem-me sozinho com ele,” pediu aos nobres e estes obedeceram.
Perscrutador, o olhar de Fong dirigia-se para Miang e o que viu devia ser de seu agrado. “Agora tu amadureceste,” disse ele, “agora tu podes assumir a liderança da tribo amarela, quando eu não mais estiver aqui. Cuide para que ela permaneça pura e conserve a sua fé. Tu poderás instruí-la ainda melhor do que eu o consegui, pois o Altíssimo tem te abençoado ricamente, Miang, meu filho!”
Profundamente comovido, ajoelhou-se Miang ao lado do leito do amigo paternal e protetor, recebendo a sua bênção. Na presença de seus conselheiros e pessoas de confiança, Fong investiu Miang como seu sucessor. A seguir, fechou os olhos para sempre.

(continua)

Trecho extraído do livro: Miang Fong, como relato sobre a vida do grande Portador da Verdade, que libertou o Tibete das trevas.

NARRATIVAS DESDE O INÍCIO PELO ÍNDICE (POR DATA) 

No próprio título encerram em síntese os acontecimentos anteriores:

O Menino e os Gigantes – 04/09/16
Os Gigantes Moram ao Lado – 16/09/16
Adeus aos Gigantes – 23/09/16
O Primeiro Mestre – 29/09/16
Pela Nova Busca... – 07/10/16
Servir o Altíssimo Como Serviçal – 13/10/16
Decisão nas Alturas – 20/10/16
A Graça Vinda do Trabalho – 26/10/16
No Momento certo se esclarece – 03/11/16
Surpresa e Renovação Imediata – 10/11/16
É Só Deixar-se Conduzir – 17/11/16
Quem Procura Encontra – 24/11/16
Graça Vinda do Altíssimo – 01/12/16
Servir Com Sensação de Alegria – 08/12/16
Com a Bolsa Vazia – 15/12/16
Outro Caminho a Seguir – 22/12/16
Por Confiança no Senhor – 28/12/16
Do Tirano ao Paciente – 04/01/17
Superar Desafios de Salvamento – 11/01/17
Um Auxílio Redentor – 18/01/17
O Alcance das Elevações – 25/01/17