quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Grãos Dourados de Semeadura







Grãos Dourados de Semeadura  

por Charlotte Von Troeltsch e Susanne Schwartzkopf

Sinopse de Fatos Transcorridos: Por influência infantil em busca do Altíssimo, se dedicava o jovem Miang, indo após etapa inicial, seguir estudo com Fong, o qual na responsabilidade de retornar ao comando de seu reino distanciara-se dele, mantendo, contudo seu ensino objetivamente direcionado, como pela situação na tarefa de mensageiro, ele sempre realizava viagens de aventuras, em cuja uma delas, expandiu o seu saber por algum tempo ao lado de seu terceiro mestre (Huang). Nova fase de efeito culminante despontara em sua vida, ao herdar o reino do povo amarelo deixado por Fong. Como sua meta ainda era outra, na condição de servo do Altíssimo, reconhecido assim pela denominação Miang-Fong, deixara toda a gloria da Corte, em busca de seu mestrado de nível universal, conforme ousava se tornar ainda: um discípulo de Zoroaster, em cujo estudo no nível de elite tivera seu pedido como aluno, recusado...


Zoroaster estava prestes a se voltar novamente aos seus alunos e considerava o assunto como resolvido, quando o jovem forasteiro disse, em sílabas um pouco quebradas, no entanto compreensíveis:

“Mestre, deixe também que o pássaro estranho pique dos grãos dourados!”

Com essas palavras rompeu um véu diante dos olhos de Zoroaster e ele lembrou-se novamente do quadro que lhe fora mostrado, do pássaro estranho que tinha se juntado aos nativos e diligentemente picava junto o alimento espalhado.

Zoroaster não se arrependeu em nenhum momento de ter aceitado Miang-Fong, pois o jovem silencioso exercia a mais forte influência sobre os seus companheiros. Uma força partia dele, que nenhum dos outros possuía, mas os estimulava a imitá-lo. Sedento, Miang-Fong absorvia cada palavra do Zoroaster em sua alma e processava-a em seu íntimo, transformando-a em sua propriedade imperdível e acumulava, dessa forma, tesouros para toda a sua vida.
Ele não fazia parte daqueles, que imitavam como escravos aquilo que lhes era ensinado, que só obedeciam com o raciocínio. Sempre era impelido a continuar no caminho que Zoroaster trilhava com eles. Para ele, todos os ensinamentos eram grãos dourados de semeadura, que deviam ser cuidados, para crescerem e tornarem-se árvores que ofereciam sombra. Também o seu saber sobre o Altíssimo, que Zoroaster chamava de Ahuramazda, crescia e firmava-se como tesouro maior, adquiria convicção.

Demasiadamente rápido passou o tempo de aprendizado no belo país da Pérsia. Miang-Fong agora estava pronto, preparado para a verdadeira missão de sua vida: levar a luz da verdade para um povo, que sem essa ajuda deveria afundar na noite mais escura. Por força própria não eram mais capazes de ajudar-se a si mesmo, pois as trevas já tinham cravadas suas garras profundamente em seu corpo. Extenuado até a morte estava o corpo desse povo, repleto de graves feridas purulentas. Caso podia sarar novamente, então estava na última hora de auxiliá-lo, senão extinguir-se-ia o derradeiro brilho da luz de sua alma.
Todos de lá na Pérsia ainda sentiam dolorosamente a falta do jovem silencioso, que lhes tinha repassado tanta força com o seu silêncio. As poucas palavras que pronunciava, sempre traziam clareza onde os outros não conseguiam prosseguir. Sempre, porém, o que ele dizia era totalmente diferente daquilo que todos de pronto aguardavam. Eram novos caminhos no pensar e agir, mais inovadores que diante dos demais, foram trilhados por Miang-Fong.
Assim, certa vez diante da pergunta de que, qual seria a melhor forma de ajudar às pessoas respondeu:

“Deixem-nas passar fome!”

Ninguém conseguia entender isso, até que esclareceu: “Uma pessoa faminta pede ardentemente por comida, pois a fome a tortura. Entretanto, se ofereceres comida ao farto, então ele a despreza. Se uma pessoa acredita ter encontrado a verdade, então dificilmente ele a aceitará de vós, mesmo se a verdade dele for uma ilusão. Somente quando reconhecer que estava enganado, ele abrir-se-á para a vossa verdade.”
Isto estava claro e era inequívoco, mesmo assim um dos alunos ainda perguntou: O que queres dizer com deixar passar fome, Miang-Fong?
Outra vez, igualmente claro veio o novo esclarecimento: “Não faz sentido oferecer a verdade, se somente a fome por ela abre as almas. Portanto, não doem ao farto a vossa ajuda, até que por ela ele peça, mesmo quando dela ele afirmar necessitar urgentemente.”
Também Jadasa afeiçoou-se ao jovem de os olhos escuros e sérios.

Foi mostrado a ela um quadro, no qual braços suplicantes se estendiam ao encontro dele e vozes aflitas chamavam-no. Ela viu-o escalando o planalto do Tibete, com um claro lume na mão, que iluminava todos os precipícios e abismos escuros. Mas viu também figuras horríveis, manchadas de sangue, que se interpunham em seu caminho, e seu coração tremeu de compaixão pela miséria que ele haveria de ter que vivenciar.
Silencioso e discreto como havia chegado, Miang-Fong deixou o local de sua última preparação. Ele sabia que nunca mais voltaria a este lugar, nunca mais voltaria a ver as pessoas que se tornaram caras para ele. Porém, muito acima de todos os desejos humanos estava aquilo, para o qual ele foi designado: ser porta-archote da Luz e conduzir um povo da escuridão novamente para o dia claro. A despedida foi calorosa e cordial como nunca antes vista. Por longo tempo os olhares acompanharam o jovem, ao qual, todos tinham dado sua afeição e que, agora, novamente trilhava seu caminho tão solitário. No coração de Miang-Fong vivia a alegria! Agora podia dedicar-se completamente àquilo que ele tanto ansiara por toda sua vida: ao Altíssimo, que o havia escolhido como Seu servo.
Duraram vários meses até que Miang-Fong chegou ao pé das altas montanhas, que circundavam o planalto com seus cumes cobertos de gelo, numa fase de aprofundamento interior, como último fortalecimento. Certo dia, ao anoitecer, chegou a um pequeno povoado nas montanhas, onde sopravam ventos frios. Choupanas baixas, sujas, espremiam-se junto às paredes das encostas das montanhas, com uma apertada à outra, como se quisessem proteger-se mutuamente. Telhados planos, cinzentos fechavam-nas em cima. A aldeia parecia deserta, somente a alguma distância ouvia-se sons estranhos, como estalos, choros e gritos estridentes intercalados. Não soava nada atraente, mesmo assim, Miang-Fong dirigiu seus passos para o lugar de onde vinham os barulhos.

Apresentou-se a ele um quadro horroroso. Um monte de gente tremendo apinhava-se diante de algumas figuras selvagens que, com ruidosas matracas na mão apresentavam danças, cujos movimentos lembravam os de animais selvagens, que querem atirar-se sobre sua presa, mas que sempre são detidos no último momento. De suas bocas também saíam os sons estridentes, que mudavam novamente para tons de invocações. Pintadas com cores berrantes, vestidas com peles e plumas, essas figuras proporcionavam um aspecto repelente. Um deles puxou de lá uma faca de sua cinta e queria dar um golpe rápido. Agarrou alguém do amontoado de gente e puxou-o, paralisado de medo, para o seu lado. Miang-Fong via aquilo com pavor.
“Pára!” exclamou com voz estrondosa e com o braço levantado.
O que era isto? Admirado, o sacerdote mago deixou cair os braços. Nunca antes havia acontecido ali algo semelhante. Mas antes que pudesse refletir, lá já estava Miang-Fong diante dele que lhe tirou a faca. Ameaçadoramente mirava-o de cima a baixo.
“Como te atreves?” berrou o sacerdote mago querendo apanhar a faca. Entretanto, uma chama de ira sagrada tão forte chamejava dos olhos de Miang-Fong, que ele deixou involuntariamente a mão já levantada, cair e retrocedeu um passo.
Miang-Fong tomou a mão da vítima, ainda paralisada de medo, e a confortou amavelmente.
“Não tenhas medo, ele não pode fazer-te nenhum mal!” prometeu-lhe e dele partiu tamanha força, que todos os moradores da aldeia suspiraram aliviados. Como um Deus, descido do céu, assim lhes parecia Miang-Fong e eles caíram de joelhos diante dele e queriam venerá-lo. Ele, porém, proibiu e lhes disse:
 “Venham e mostrem-me onde moram. Eu quero ficar junto de vós e ajudar-vos.”

Eles ficaram radiantes, os dois sacerdotes, porém, afastaram-se furtivamente. Tinham ficado com medo. Miang-Fong ia, rodeado pelos moradores, em direção à aldeia. Ninguém queria deixá-lo, todos estavam presos aos seus olhos, e de sua boca aguardavam o que ainda diria.
“Onde podemos conversar?” perguntou Miang-Fong e, procurando, olhou ao redor. Eles apontaram para uma casa um pouco maior. De boa vontade o proprietário abriu a porta e todos entravam, empurrando-se. Rapidamente acenderam o fogão, que lançava luzes avermelhadas sobre os rostos dos presentes, aquecendo-os. Sentaram-se no chão, outros permaneceram em pé no vão da porta ou ficaram aglomeradas no lado de fora,.
Agora, Miang-Fong começou a falar.
“Digam-me, gente, o que aconteceu há pouco lá fora? O que fostes fazer lá, e porque o homem vestido com peles queria matar um de vós?” Adiantou-se um homem de mais idade, inclinou-se levemente diante de Miang-Fong, como se um respeito desconhecido o obrigasse a fazer esse movimento inusitado, e começou a falar:
 “Forasteiro, tu viste como um sacerdote mago, com seu ajudante, queria novamente roubar uma pessoa e sacrificá-la. Insaciável é ele em suas exigências. Ele nos havia chamado, ameaçando, que invocaria a ira dos deuses sobre nós, se não o obedecêssemos.”
“E o que teria acontecido com a vítima? perguntou Miang-Fong abalado.”
“Teria sido abandonada e suas posses para o sacerdote,” explicou o homem.
“Vós realmente acreditais, que deuses exigem tal sacrifício?” perguntou Miang-Fong.
“Nós não o sabemos. Os sacerdotes assim o dizem e ameaçam-nos maldizendo-nos, quando não obedecemos.”
“E aí ficam com medo?” perguntou Miang-Fong novamente.

(continua)


Trecho extraído do livro: Miang Fong, como relato sobre a vida do grande Portador da Verdade, que libertou o Tibete das trevas.

NARRATIVAS DESDE O INÍCIO PELO ÍNDICE (POR DATA) 

No próprio título encerram em síntese os acontecimentos anteriores:

O Menino e os Gigantes – 04/09/16
Os Gigantes Moram ao Lado – 16/09/16
Adeus aos Gigantes – 23/09/16
O Primeiro Mestre – 29/09/16
Pela Nova Busca... – 07/10/16
Servir o Altíssimo Como Serviçal – 13/10/16
Decisão nas Alturas – 20/10/16
A Graça Vinda do Trabalho – 26/10/16
No Momento certo se esclarece – 03/11/16
Surpresa e Renovação Imediata – 10/11/16
É Só Deixar-se Conduzir – 17/11/16
Quem Procura Encontra – 24/11/16
Graça Vinda do Altíssimo – 01/12/16
Servir Com Sensação de Alegria – 08/12/16
Com a Bolsa Vazia – 15/12/16
Outro Caminho a Seguir – 22/12/16
Por Confiança no Senhor – 28/12/16
Do Tirano ao Paciente – 04/01/17
Superar Desafios de Salvamento – 11/01/17
Um Auxílio Redentor – 18/01/17
O Alcance das Elevações – 25/01/17
Transição Inevitável – 01/02/17
Nome Promulgado de Realeza – 08/02/17