domingo, 12 de fevereiro de 2017

Consciência Pessoal do Ser Humano





A Consciência Pessoal do Ser Humano

por August Manz

A vontade de Deus estabeleceu como a meta mais elevada do germe espiritual humano, que ele se desenvolva a um “eu” consciente e, com sua personalidade atuando na livre força de resolução e responsabilidade, para ingressar novamente ao reino espiritual. Através da Mensagem nós conhecemos todo o caminho que o germe espiritual tem de trilhar desde o momento de sua expulsão natural do Reino Espírito Enteal Inconsciente até seu retorno à sua pátria espiritual, o Paraíso. E nós sabemos que a meta final de todo este desenvolvimento que é a maturidade mais elevada, deve ser alcançada “na azáfama das experiências com a necessidade que aí surge de defender-se e de lutar contra as influências oriundas do ambiente inferior, no qual penetra como estranho.”
Sobre todo esse processo de desenvolvimento Abdrushin nos dá uma síntese, com a mais clara visão geral na dissertação: “Desenvolvimento da Criação”, quando diz:

Desde o instante do expelir natural sucedem-se, com o peregrinar de tal germe espiritual através da entealidade e das materialidades da criação posterior, não somente uma, mas sempre mais e mais necessidades urgentes de uma estada nesses planos inferiores da Criação para o seu desenvolvimento progressivo e elevação, que, por sua vez atuam retroativamente, de modo a fortalecer e firmar esse germe, contribuindo não somente para o desenvolvimento dele próprio, para a sua auto-conscientização, mas, antes de tudo, possibilitando isso.
É um colossal atuar e tecer, milhares de vezes entrelaçado, mas apesar de toda a sua automática vivacidade, engrena-se de modo tão categórico com seus efeitos recíprocos, que um único percurso de um desses germes espirituais até a sua conclusão se apresenta como parte de um tapete multicolorido, feito por hábil mão de artista, seja ascendente com a conscientização, seja descendente com a decomposição que se segue para a proteção dos outros.

O germe espiritual do ser humano traz desde o início em si, como consequência natural de sua espécie, a força da livre resolução, que também resulta em responsabilidade. Mas no início de seu desenvolvimento todas as propriedades e qualidades repousam nele só como germe e, através de todo um caminho, primeiramente de modo natural necessitam serem levados ao amadurecimento e à perfeição. E unicamente a luta e as dificuldades até a maturidade plena é que permitem ao ser humano alcançar realmente sua meta elevada, deixando que se forme a personalidade consciente, o ‘eu’ que é do agrado de Deus, o qual pode ser aceito no Reino Espiritual.
A consciência pessoal – da forma como é do agrado de Deus se dá, portanto,  de acordo com o ideal que o ser humano deve alcançar e realizar.
Na observação de hoje queremos nos ocupar em averiguar, como esse ideal deve ser constituído. E, comparando, constatar, o que a humanidade fez disso. –

(verificar na dissertação: “Desenvolvimento da Criação”; livro: Na Luz da Verdade – de Abdrushin – Edição: 1931).






A consciência pessoal exige antes de tudo, que o ser humano individual intua, sinta e pense como um ser que se distingue singularmente dos outros; como um ser com livre arbítrio, independente em si na escolha de suas resoluções; que possa escolher por si próprio o caminho de seu desenvolvimento, caminho esse que quer trilhar e deve trilhá-lo totalmente sozinho, por conta própria.
Até que ponto esse ser individual tem e deve se enquadrar no ambiente de seus semelhantes e até que ponto ele tem de se relacionar e atuar como membro do conjunto, só entra em questão em segundo plano. Observando de forma espiritual cada ser humano é uma personalidade individual, cujo desenvolvimento próprio diretamente lhe diz respeito. Um peregrino solitário através dos diversos planos da Criação. Mas um peregrino que também – observado de forma espiritual – pode agir e atuar de forma realmente plena naquilo que quiser, como um peregrino com destacada autonomia e liberdade de pensar e de agir.
Se em contraste a isso observarmos aqui o que a humanidade fez com a consciência pessoal, talvez se nos tornará ainda mais claro, no que consiste esse ideal.
Sempre de novo a humanidade tentou tornar duvidoso o direito de cada um em relação à sua própria personalidade. Precisamos pensar aqui apenas nas diversas formas de escravidão, que deixaram amadurecer toda espécie de excrescências duvidosas. Muitas vezes os escravos nem eram considerados como seres humanos, mas apenas como objetos, com todas as consequências impeditivas oriundas dessa concepção em privando qualquer direito de uma formação autônoma e de desenvolvimento de uma convicção própria.
E pior foi a escravidão espiritual da idade média, na qual os servos eram obrigados eles mesmos a se despojarem também de qualquer direito na livre convicção (pela própria escolha pessoal).
Bem conhecido é o provérbio que satiriza toda a liberdade espiritual, como todo o esforço por uma autônoma formação do desenvolvimento da própria personalidade: “Cuius régio, eius religio”, isto é, ”quem domina o país, também determina a religião”.  Esse princípio do sistema territorial da igreja foi estabelecido na “Paz religiosa de Augsburg”, portanto nas primeiras épocas da Reformação. E milhares de fiéis foram assim obrigados a trocarem suas confissões de acordo com o desejo de soberanos e, frequentemente, mais do que uma vez. Ninguém questionava aí pelo direito da personalidade individual desejado por Deus em relação a um desenvolvimento espiritual livre e independente.
Ainda pior foi o que a igreja católica fez na época da inquisição, onde cada pessoa que pensava diferentemente, cada um que se libertava da coação da religião, cada um que queria procurar Deus por si próprio, era torturado e até assassinado.
E hoje, a coação no sentido que uma igreja ainda exerce sobre seus adeptos, designando-se como a única que pode trazer a bem-aventurança, é por acaso diferente em seu conteúdo do que a escravidão espiritual da inquisição?
Não é sem razão que Abdrushin nos exclama:

“Que são hoje as religiões? Tolhimentos do espírito livre do ser humano, escravização da centelha de Deus que habita em vós; dogmas que procuram restringir a obra do Criador e também Seu Amor imenso nas formas estreitas do sentido humano.”

Livre encontra-se o “eu” ideal na Criação, podendo procurar seu caminho sem qualquer restrição degenerada. Isto é então a consciência pessoal, que o ser humano tem de amadurecer, em contraste às concepções alheias, para escravizar e sem sentido, que fazem com que o “eu” se dobre voluntariamente a elas, ou deixando que ele se adapte por covardia.
Essa submissão a uma vontade alheia tem de fato muitas vezes, exteriormente, a aparência de uma livre resolução – de uma consciência pessoal, que parece totalmente consciente à responsabilidade de seu livre-arbítrio. Mas também só aparenta. Pois numa averiguação mais profunda tem de se reconhecer que também aqui só a falta de liberdade interior é que impera, a qual não deixa surgir nenhum pensamento autônomo e vivo, nem nenhuma consciência pessoal do agrado de Deus, mas que se deixa coagir em um mundo estranho de pensamentos, que apenas torna exteriormente como seus, sem verdadeiramente a convicção interior.
(verificar a dissertação: “O Que Procurais?”, do livro: Na Luz da Verdade – de Abdrushin; edição 1931)






Livre, portanto, deve se encontrar o “eu” em sua espécie própria na Criação – mas o “eu” individual também tem de se tornar consciente, já que cada pessoa é um ser humano espiritualmente livre. E tem de reconhecer e respeitar a liberdade do outro. Exatamente a falta de conhecimento dessa necessidade fez com que surgisse a escravidão espiritual errônea e transviada, que relembramos a pouco na história de desenvolvimento do gênero humano. Tentou-se dar uma justificativa interior à voz da consciência e assim cunhou-se a palavra jesuítica que a finalidade justificaria os meios. Nós sabemos pela Mensagem que as situações de tais transvios e conduções errôneas vingam-se, de acordo com a Lei, em seus disseminadores e reconhecemos também que o “eu” do ser humano individual não pode ser restringido e influenciado espiritualmente por ninguém, sem as piores consequências para ambas as partes.
Cada influência obrigatória sobre o espírito de outra pessoa é errado e isto também se refere, naturalmente, à influência hipnótica. Abdrushin nos advertiu incisivamente sobre o “crime de hipnose” em sua dissertação. Pois a hipnose trabalha exatamente ao contrário de uma das mais importantes leis do desenvolvimento espiritual: a exigência incondicional da liberdade espiritual.
Quem aplica a hipnose em outra pessoa ata, com isso, o espírito dela e impede assim o desenvolvimento da consciência pessoal desejada por Deus. Este atamento é, portanto, um delito ou crime espiritual – assim diz Abdrushin expressamente:

“Cada atamento do espírito”, assim está escrito nessa dissertação, “seja qual for a finalidade de uma realização, constitui um embargo absoluto na possibilidade do progresso indispensável. Cada um que seja submetido a uma hipnose eficiente ficou, portanto, impedido mais ou menos fortemente no progresso real de seu núcleo mais profundo. O espírito tem que permanecer livre em todo o caso, porque afinal de contas se trata única e exclusivamente dele!” (dissertação: “O Crime da Hipnose”; Na Luz da Verdade; edição 1931)

O “eu” ideal é livre de qualquer atamentos, restrições e limitações e escolhe por si próprio o caminho, como deve também observar e respeitar o “eu” do próximo, sem tentar obter qualquer tipo de influência espiritual, cuja vantagem imprópria iria impedi-lo em sua ascensão ou até o ataria e o escravizaria.
O “eu” ideal plenamente consciente de sua livre vontade e da sua responsabilidade ligada a isso, utiliza, porém, essa livre vontade também de forma sempre correta – quando guiado por sua intuição e pelo reconhecimento da Verdade Divina. E essa utilização correta consiste – como a Mensagem sempre de novo nos revela – no fato do ser humano individual se enquadrar nas leis da Natureza e tornar útil o seu atuar. Obedecendo à intuição, à voz interior, o “eu” amadurecido enquadra-se alegremente na Vontade de Deus, no decurso natural das leis Divinas. A base para suas resoluções e decisões é unicamente o impulso por um desenvolvimento espiritual mais elevado, a fim alcançar a Luz.
E no aperfeiçoamento de seu “eu” desponta o correto ser humano, que se desenvolve e amadurece em direção à única meta do crescimento e fortalecimento de sua consciência pessoal. Totalmente ao contrário do desenvolvimento da consciência pessoal de todas as pessoas que torceram e degradaram a finalidade Divina, presa a Terra na materialidade.
Do “eu” ideal e do agrado de Deus, o qual intui sua consciência pessoal como algo evidente, ordenando-se assim no acontecimento natural, o ser humano fez – como em tudo – uma caricatura: um “eu” que se coloca fora dos procedimentos naturais por vontade própria, num total desconhecimento de sua finalidade da vida; um “eu”, cujas decisões em proveito próprio de qualquer espécie se tornaram decisivas: um “eu” que constrói sua autoconsciência sobre a vaidade, o mal do gênero humano fundamental.





O esforço ideal pelo aperfeiçoamento espiritual interior do próprio “eu” está torcido, sendo agora um esforço egoístico, que coloca o “eu” em primeiro plano em tudo. Nós já observamos uma vez esse lado do desenvolvimento na minha dissertação: “Eu sou e eu posso, eu tenho e eu quero, as ciladas de Lúcifer”.  Aí chegamos a reconhecer que a causa interior desse desenvolvimento errôneo do “eu” deve ser procurado no raciocínio do ser humano propenso ao egoísmo preso à Terra, raciocínio esse que é um produto da matéria grosseira, do cérebro atado ao espaço e ao tempo. Com isso desenvolveu- se uma sintonização intelectual e terrena, ao invés de espiritual e intuitiva.
Como consequência natural desta sintonização tinha de resultar em um atamento terreno para todas as aspirações, as quais se contrapõem à possibilidade de ascensão espiritual. E ao invés de desenvolver a consciência pessoal de forma mais elevada, tornou-se consequentemente, em seu desenvolvimento, restrito e impedido. Portanto, diante do desenvolvimento de amplitude infinita e ilimitada encontra-se o desenvolvimento do “eu” restrito e atado à Terra, que na verdade se expandiu terrenalmente na satisfação de seu egoísmo, de seu poder e valor material, mas que na realidade, se desviou do caminho certo, e é pobre espiritualmente. Neste desenvolvimento falso o “eu” do ser humano fica no ponto central de todo o pensar e agir, de modo arrogante, dominando tudo e subjugando tudo a si. Nem entra mais em questão aqui o enquadrar-se às leis Divinas, o enquadrar-se ao decurso natural dos acontecimentos. O “eu” se revolta contra esse enquadramento natural, ficando estagnado no âmbito grosseiro e só vê e aspira ainda o sucesso terreno.
E com isso fica pronta a imagem torcida do verdadeiro ideal, de forma completa e desanimadora diante de nossos olhos. Uma consciência pessoal, que numa auto-presunção chega tão longe a ponto de se colocar contra Deus e a elevar o seu próprio “eu” como único deus e soberano do mundo. Uma consciência pessoal que só conhece a si própria de forma irrestritamente egoísta; uma consciência pessoal que não desenvolveu exatamente aquilo que seria de sua finalidade existencial: o “eu espiritual”.
  Mas esse “eu” preso à Terra reluz e cintila diante de sua pessoa com uma grandeza e atitude, enganando o tal ser humano que enveredou por caminhos errados, grandeza e altitude essas que ele até pode ter terrenalmente, mas que perdeu espiritualmente. Assim também o orgulho justificado, que ele poderia possuir como soberano da Criação conforme a Vontade de Deus – como nos foi revelado – foi torcido e transformado em uma arrogância vaidosa, intimamente oca e injustificada.
O reluzir e cintilar dessa consciência pessoal só é, portanto, bastante fraca de uma luz enganosa e ludibriosa. Para aquele que reconhece e aspira corretamente é um vergonhoso contraste em relação ao brilho claro, sereno e tranquilo que o ser humano desenvolve para si na consciência pessoal e espiritual, que é do agrado de Deus e que conduz para cima, às alturas luminosas do Reino Espiritual que constitui sua meta.
A humanidade, na verdade, desaprendeu a desenvolver a consciência pessoal corretamente. Somente a Mensagem do Graal nos abriu novamente os olhos sobre a meta que devemos alcançar e o caminho que nos conduz até lá. A venda caiu, mas nós temos também de nos mostrarmos dignos da graça que nos foi outorgada. Nós temos de acolher a Mensagem desenvolvendo a Palavra de forma viva e viver de acordo. Então ao ser humano, como um ser intuitivo, que quer unicamente ainda o que é puro e nobre, com plena consciência de sua responsabilidade, desenvolvendo seu “eu” a um ideal, ser-lhe-á permitido um dia ingressar no Reino luminoso do espírito.