segunda-feira, 3 de julho de 2017

Celtas & Druidas XXVII





Sobre a vida dos Celtas –XXVII

Por Charlotte von Troeltsch e Suzanne Schwartzkoff

Para leitura do episódio anterior: Sobre a Vida dos Celtas XXVI

Anteriormente: Durante a noite, uma figura luminosa  apareceu para Etelbert, com a mensagem: O inimigo se encontra do outro lado do muro. Em alguns dias ele terá tudo preparado para atravessá-lo e atacar a vós, julgando-vos despreparados. Vossas vidas, vós tereis que entregar. É da vontade do Pai Eterno que vós abandoneis esta Terra. Ele tem outro trabalho para vós. Ide corajosa e alegremente ao encontro disso, vós povo de Seabhac.



— “Algo grandioso eu pude ver hoje a noite” começou ele finalmente. Um mensageiro luminoso veio até mim quando eu estava orando, ajoelhado junto ao meu leito e depositando aos pés do Pai Eterno o desejo de nosso povo. O luminoso tomou-me pela mão e conduziu-me pairando bem para o alto a um jardim grande e suntuoso, assim me parecia. Seres bem-aventurados se encontravam lá, muito ativos.
— “Olhe ao redor de ti, sacerdote” disse o luminoso todas essas eram pessoas que haviam pedido poder servir ao Filho de Deus. Muitas delas terão de descer antes mais uma vez e talvez mais outra ainda para a Terra antes que estejam de tal forma preparadas para encontrar a realização de seu anseio. Mas já agora elas são bem-aventuradas no saber de que um dia poderão servir.
Entre esses seres será o vosso lugar, povo de Seabhac, quando o príncipe Etelbert receber a ordem do Pai Eterno, que lhe será dada hoje à noite...
— “Eu a recebi, nós a seguiremos!” exclamou Etelbert quase fora de si. “Por nenhum momento nos viria à mente refletir. Nós faremos o que o Pai Eterno deseja. Todos, todos irão entregar alegremente suas vidas, já que é da vontade do Pai Eterno.”

Comovido, Dunstan olhava para o entusiasmado.
— “Se isso é assim, então eu posso anunciar adiante, meu amigo” disse ele. “O luminoso havia prometido que todos nós poderemos viver entre esses seres bem-aventurados por causa de nosso anseio. Eu imaginei: o que poderíamos desejar de melhor? Mas eu não disse isso por palavras, pois o luminoso prosseguia: “Se Etelbert tiver tornado sua a vontade do Pai Eterno, então o povo de Seabhac irá tombar um dia. Ele abandonará junto esta Terra, a fim de adentrar junto o reino luminoso do Pai Eterno. Lá eles poderão esperar num alegre trabalhar a época em que novamente o Filho de Deus irá pisar sobre a Terra. Então, o Pai Eterno os enviará à Terra, para que eles O sirvam em pureza e cheios de boa vontade. Ele poderá confiar neles, pois eles foram fiéis, sem ter estado presente. Então eles poderão ver e sua fidelidade irá resplandecer sobre a Terra. Ele, o eterno Filho de Deus os encontrará entre todas as pessoas e o povo de Seabhac poderá se alegrar.
Dunstan silenciou, mergulhado em reflexões, mas Etelbert não se conteve por longo tempo.
— “Tu disseste, o Filho de Deus irá vir? Quando Ele irá vir? Ele poderá trazer mais uma vez a Luz ao mundo? Nós poderemos auxiliá-Lo ou seremos sua proteção terrena, que o rodeia para que as mãos sujas do mundo não possam atingir o Puro?”
— “Tu perguntas muito, amigo Etelbert” respondeu Dunstan seriamente. “Eu não sei a resposta para tudo isso. O que nós viremos a ser quando nossos pés tocarem novamente a Terra, isto está oculto ao meu olhar. Isto também é indiferente se apenas nos for permitido servir.

Mas eu pude vê-Lo, Aquele que irá vir em pompa e magnificência, para imperar sobre a Terra, para julgar tudo o que é vivo e tudo que fora. Ele se encontra sentado sobre um trono de ouro. Luminoso é Ele e a irradiação de Seus olhos penetra tudo e outorga força ao mesmo tempo. Seu nome é mais sagrado do que tudo. Ninguém tem permissão para dizê-lo. Ele é Aquele que foi anunciado por todos os videntes. Ele irá vir e nós poderemos vir com Ele, para servi-Lo, nós povo bem-aventurado de Seabhac!”
— “Nós queremos falar ao povo sobre isso” propôs o príncipe. “Eu sei, eles entregarão alegremente sua vida, já que é da vontade do Pai Eterno. Mas eles ficarão extremamente felizes quando souberem que recompensa lhes aguarda.”
Dunstan concordou e eles reuniram o povo na casa de Deus. Admirado, o povo seguiu o chamado. Jamais havia ainda acontecido que a casa de Deus fosse aberta em hora tão pouco comum.
Contudo, apenas os homens haviam sido convidados. Também isso ainda nunca havia acontecido. Cheios de expectativa todos os olhos estavam dirigidos para Etelbert, que numa tranquila dignidade dirigiu-­se ao altar.
De forma simples, e por isso atingindo plenamente os corações, ele relatou sobre a ordem do Pai Eterno que lhe fora transmitida nesta noite. Como ele havia esperado, exclamações a favor seguiam suas palavras. Entusiasmados, os homens concordavam com isso. Mas para agir de forma bem segura o príncipe pediu àqueles que fossem de vontade diferente, para darem calmamente isso a conhecer, deixando a casa de Deus. Impetuosamente eles disseram-lhe que nenhum queria ficar para trás, quando o Pai Eterno chamar.

Depois disso, Dunstan dirigiu-se ao altar e relatou a sua visão. Então os homens emudeceram comovidos interiormente. Sobre algumas faces corriam lágrimas de profunda comoção. Então eles ajoelharam-se, seguindo o exemplo de seu príncipe e ergueram as mãos ao Pai Eterno, agradecendo-Lhe pela graça não merecida. “Que venham os inimigos” exclamou de repente um senhor de idade com cabelos brancos “e mesmo que eles nos despedacem. Nós rejubilaremos e vibraremos de felicidade.” Guiados por Etelbert e Dunstan eles saíram para o local livre, e fora resolvido que eles partiriam de manhã ao alvorecer para nunca mais voltarem.
— “Que devemos dizer às nossas esposas?” perguntou um dos homens
— “Nada” exclamaram os outros. “Elas apenas nos amoleceriam os corações com despedidas e lágrimas. Nós iremos como sempre. O resto fica nas mãos do Pai Eterno.”
— “Nós queremos dizer à sacerdotisa o que nós ficamos sabendo. Se não voltarmos, então ela deve comunicar isso às nossas esposas, contudo, não antes. Então nossas esposas encontrar-se-ão fortes e suas dores serão dominadas pela alegria de saber que nós nos encontramos no plano luminoso” propôs Etelbert.
Assim aconteceu. No alvorecer da manhã seguinte o grupo bem preparado partiu, de forma tão bem-aventurada como se eles fossem ao encontro de uma festa. Eles chegaram na hora certa. Exatamente na hora em que a outra tribo se preparava para expulsar os inimigos, chegou o desejado auxílio.
Dura foi a luta, dura e sangrenta. Mas Roma não se tornava senhor. Tanto quanto as legiões romanas se precipitavam, da mesma forma elas eram rechaçadas. Não havia nenhum passo adiante para eles. Por fim eles se precipitaram numa fuga selvagem dali.

As tribos Celtas deveriam se reunir da maneira habitual. Então se mostrou que o povo de Seabhac, que havia lutado numa imensa valentia nas fileiras da frente, havia perdido todos os homens, não restando um sequer. Todos se encontravam mortos. Mas cada rosto individual estava clarificado por imensa felicidade, de modo que os amigos não conseguiam nem se lamentar.
— “Eles partiram com prazer pelo nosso país” disse o príncipe da tribo que sobrevivera. “Nós, porém, queremos lhes agradecer cuidando de suas esposas e de seus filhos. Nós queremos administrar o reino deles para os seus filhos.” E isso estava certo assim para todos.
Na manhã seguinte a vidente chamou as mulheres do povo de Seabhac na casa de Deus. O que haveria ela para anunciar? Elas vieram apressadamente e perguntaram:
— “Anuncias tu, nossa vitória?”
A sacerdotisa superior confirmou com a face séria e, contudo, irradiante. Depois ela disse:
— “Vós, mulheres do povo de Seabhac, posso vos anunciar hoje três visões. Vós sois pássaros selvagens acostumados às agruras, assim eu sei que vos posso falar a verdade sem esperar que vós vos torneis fracas.”
E ela relatou da mensagem que Etelbert havia recebido. Aí soou daqui e dali: “Está certo que nossos homens tenham seguido o chamado do Pai Eterno.” “Eles não pertenceriam ao povo de Seabhac se tivessem agido diferentemente.”
Uma única e diminuta voz soluçava: “Então nenhum deles retornará novamente?”
Mas ela se aquietara rapidamente. Onde o Pai Eterno chamava ninguém deveria pensar em si e em sua felicidade.
Depois a sacerdotisa anunciou a respeito da visão de Dunstan, que apesar de ser druida lutou junto e morreu junto. 


Texto da série especial denominada: Escritos Valiosos

Personagens e fatos processados dentro do contexto deste episódio:

Seabhac, Habicht: Se trata do personagem de destaque nos acontecimentos, que se situa como soberano de uma comunidade celta.

Muirne: velha mãe do príncipe dos celtas Seabhac, Habicht 

Meinin: esposa de Seabhac, Habicht que veio de outro reino salva e aceita para proteção.

Padraic: É o nome principal do ancião que surge neste episódio como druida da comunidade celta, sendo, portanto um personagem influente de seu meio.
Donald: Escolhido como novo Superior dos Druidas (após morte misteriosa d Padraic)
Nuado Silberhand: No folclore irlandês, era reverenciado como rei e grande líder dos Tuatha Dé Danann. Possuía uma espada invencível, vindo da cidade de Findias e que fazia parte dos Tesouros de Dananns. Na primeira Batalha de Magh Turedh perdeu o braço ou a mão, órgão que foi restituído, mas fez com que ele perdesse o trono da tribo. Ficou conhecido como "Nuada, Braço de Prata" ou "Nuada, Mão de Prata". Nuada era o Deus da justiça, cura e renascimento; irmão de Dagda e Dian Cecht.
Pelo direcionamento dado a este enredo pelas autoras, este personagem se trata de um enteal de certa forma importante em sua ligação com os seres humanos.

Goban: deus ferreiro dos Tuatha Dé Danann; com Credne e Luchtain formavam o "Trí Dé Dana"; fez as armas que os Tuatha usaram para derrotar os Fomorianos. Equivalente a Goibniu e Govannon (galês).
Na mitologia irlandesa Goibniu ou Goibhniu era um dos filhos de Brigid e Tuireann e ferreiro dos Tuatha Dé Danann. Ele e seus irmãos Creidhne e Luchtaine tornaram-se conhecidos como os Trí Dée Dána, "os três deuses de arte", que forjaram as armas que os Tuatha Dé usaram para combater os Fomorianos. Suas armas eram sempre letais e seu hidromel concedia invulnerabilidade a quem o bebesse.

Brigit, é a Deusa dos ferreiros, dos artistas, das artes e da cura. Sendo uma Deusa solar, ela é padroeira do fogo e de tudo que envolva Inspiração e Artes. É uma Deusa tríplice, tendo três faces, a poetisa, a médica e a ferreira.

Lug: ou Lugh - filho de Cian (Kian) dos Tuatha Dé Danann e Eithne (também Etaine), filha de Balor (rei dos Fomorianos). Comandou as forças dos Tuatha na vitoriosa Segunda Batalha de Mag Tuireadh (Moytura) contra os Fomorianos, na qual matou o avô Balor. É a figura extraordinária do Deus jovem irlandês que suplanta o Deus Velho; está associado à habilidade e à técnica; é conhecido como Lugh Samhioldanach (de muitas artes) e Lugh Lámhfhada (de mão comprida). Raiz da palavra gaélica que significa Agosto (Lúnasa), isto é, Lughnasadh (festa de Lugh). Corresponde ao Lleu Llaw Gyffes galês.

Pieder – príncipe filho de Seabhac, Habicht e Meinin

Cuimin – príncipe filho de Seabhac, Habicht e Meinin

Brigit – príncesa filha de Seabhac, Habicht e Meinin

Fionn – príncipe filho de Seabhac, Habicht e Meinin

Golin – salvo de naufrágio no reino de Seabhac, Habicht, vindo da longínqua Gálea; era construtor.