segunda-feira, 17 de julho de 2017

Martin Luther





Martin Luther



por Herbert  Vollmann



“Se eu não estivesse convicto, pela testemunha da Bíblia sagrada ou por nítidas razões do raciocínio permaneceria vencido pelas passagens mencionadas por mim das escrituras. Minha consciência permanece presa na palavra de Deus, e eu não posso nem quero revogar, sendo que é penoso, não é bom e é perigoso, agir contra a consciência. Que Deus me ajude, Amem!”



Esta resposta foi dada por Martin Luther na Assembléia de Worms, na presença do imperador Carlos V e todos os grandes do reino ali reunidos, em 18 de abril de 1521, quando foi intimado a revogar as suas escritas. O imperador pronunciou uma contra declaração dizendo entre outras: “Assim estou decidido de assegurar firmemente tudo que foi alcançado desde o concílio de Konstanz. Porque é certo que um único monge se engana, quando está contrário a opinião de toda a cristandade, caso contrario a cristandade teria se enganado durante mil anos ou mais”.




Luther obteve apos a justificação diante da assembléia de Worms, o prometido livre acompanhamento, mas sua vida terrena estava consumida. Ele foi proscrito do império e proclamado, que qualquer um poderia matá-lo corno a um cão raivoso, onde quer que o encontrassem, com outras palavras, ele era um fora da lei. O príncipe Friedrich von Sachsen mandou simular a prisão do banido e proscrito na sua viagem de retorno, e ordenou, que o levassem para o seguro castelo “Wartburg”. Assim, Luther foi preservado da morte, por uma determinação superior, e ao mesmo tempo viu‑se obrigado a se dedicar a uma tarefa, devido aos acontecimentos, cuja realização ainda esperava por ele: a formação de uma nova língua alemã.





No Castelo de Wartburg, Luther chamava este refúgio de seu, Patmos ‑ ele podia, no silencio e solidão, desenvolver plenamente o seu trabalho linguístico, e o seu empenho na tradução da Bíblia de torna‑la compreensível a todos, foi-lhe uma ajuda certa. Pois naquela época, havia ainda grandes diferenças entre os diversos dialetos. Com isto o entendimento era muito dificultado, principalmente na língua falada. Em seus discursos de mesa Luther opinou pessoalmente sobre isto dizendo: “Na língua alemã existem muitos dialetos, modos diferentes de falar, de maneira que, muitas vezes, um não entende bem o outro, assim como, os Bávaros não entendem bem os Saxões, especialmente aqueles que não haviam viajado.”

Também a língua tem suas leis de desenvolvimento. Dialetos deveriam ser apenas degraus no caminho do aperfeiçoamento de uma língua, onde não se deve parar. Portanto, havia chegado o tempo de formar dos dialetos alemães a base para uma língua alemã uniforme. Esta era a missão para a qual Luther havia sido convocado. A zona linguística em que ele vivia, oferecia-lhe condições favoráveis ao seu trabalho para o qual ele colocou como base a linguagem da chancelaria da Saxônia. e aquela de Meissen.. Além do mais se esforçava na reformulação da língua usando a maneira mais simples e popular possível. Isto lhe era facilitado pela sua convivência com muitas camadas da população, podendo observar também os hábitos de falar dos homens simples.

O quanto Luther e seus colaboradores eram conscienciosos quanto a expressão linguística, nota-se pelas suas palavras: “Eu me esforcei na tradução para oferecer um alemão puro e nítido. E muitas vezes nos ocorreu de procurarmos e perguntarmos por uma única palavra durante 15 dias, três a quatro semanas, sem as vezes conseguirmos encontrá-la”...




Uma comparação da primeira tradução da Bíblia em 1522 com as seguintes edições nos indica nitidamente o incansável atuar de Luther na formação da língua, que obteve mais tarde também influência sobre a união nacional.
A última edição revisada por Luther foi publicada em 1545.
Nesta edição de ultima mão, ele anotou como um legado para os alemães, as palavras:

“Credes na Luz, enquanto a tendes, a fim de serdes filhos da Luz”.
(João 12, 36).

A nova língua alemã, criada por Luther, foi propagada em quase todas as terras alemãs, principalmente pela tradução de sua Bíblia. Foi um memorável acontecimento, quando em setembro de 1522 foi publicado em Wittenberg o seu “Novo Testamento Alemão”, que ele havia traduzido em poucos meses no Castelo de Wartburg. Em menos de 3 meses, após a primeira, foi publicada a segunda edição melhorada linguisticamente. Por uma feliz coincidência, a arte de imprimir livros havia sido inventada há algumas dezenas de anos, e já havia sido consideravelmente melhorada até a tradução da Bíblia de Luther que se propagou com surpreendente rapidez nas terras alemãs.

Martin Luther influenciou decisivamente o desenvolvimento da língua alemã. Ele formou das existentes pedras fundamentais linguísticas, que ele lavrava e polia, e as quais acrescentavam outras, uma base para uma unificada e elevada língua alemã, com a qual futuros convocados poderiam continuar atuando. Assim formou-se uma língua predestinada para grandes obras.




UMA NOVA REFORMA?

Numa época em que, em terras alemãs, se lutava por novos conhecimentos espirituais, Martin Luther apelou à consciência de seus contemporâneos novamente para o evangelho de Cristo, de que o homem poderia encontrar o caminho ao reino de Deus, sem a igreja; Ele exigia a abolição de intermediários humanos entre Deus e os que procuravam por Deus.


Com isto, ele indicou, a seus próximos, o caminho que haviam perdido para a liberdade espiritual, que teria sido capaz de mudar o destino do povo alemão para o bem. Mas muitos não seguiram o caminho indicado e disputas, brigas, separações, divergências e mesmo guerras religiosas foram as tristes consequências deste clamor de alerta espiritual. Os homens cristãos se esqueceram rapidamente da liberdade de sua consciência, aprisionando seu espírito pela rigidez de raciocínio. A penosamente alcançada liberdade foi comprimida em letras, doutrinas e fórmulas de tal modo, que Lessing, duzentos anos mais tarde, escrevia:




 “Luther! Grande homem incompreendido. Livraste-nos do jugo da tradição: quem nos livra do insuportável jugo da letra! Quem nos traz finalmente um cristianismo, assim como o próprio Cristo nos ensinaria!”


Hoje o aprisionamento do espírito, seu acorrentamento à matéria é tão grande, que a libertação, sem o auxilio de Deus, não é mais possível. A decadência da humanidade progrediu tanto, que as palavras transcendentes pronunciadas antes do dilúvio poderiam ser repetidas:

“Então arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem sobre a Terra, e isso pesou-lhe em Seu coração” (Gênesis 6, 6).




A procura por Deus tornou-se uma procura onde prevalece o raciocínio, o qual deveria ser apenas um instrumento para o que é transitório, mas que foi colocado pela livre vontade dos homens no trono do espírito.





Refere-se ao terrível animal do Apocalipse (13, 1), que João viu elevar-se do mar da matéria. Se hoje é discutida uma nova reforma, uma reforma do século 20, então se dever ia primeiramente falar de uma renovação do espírito eterno, isto é, do interior do homem: Ele tem que se livrar das algemas do transitório, para que também, a intuição e a consciência se livrem novamente do domínio do raciocínio. Agora não se trata de fixar novas doutrinas, que conforme o sistema metódico alemão servirão para novos desdobramentos e conflitos. Hoje em uma época de enormes transformações em todos os setores da vida, trata-se, como jamais em tempo algum, na história da humanidade, da existência ou exterminação da mesma.



A luta do século 20 é determinada pela saudade da verdade, de toda a verdade do ser humano nesta criação, com a finalidade de um verdadeiro reconhecimento de Deus. É por isto que esta luta está acima das confissões.
Somente pela humildade é que o espírito humano, nesta dura luta, poderá encontrar um Deus misericordioso!


Por último, adveio por Lutero (no Pai Nosso)
a confissão jubilosa do conhecimento do auxílio
para tudo aquilo que o colóquio encerra,
do recebimento da força para o cumprimento daquilo
que a alma prometeu ao seu Deus.
E o cumprimento tem de levar então a alma
ao Reino de Deus, ao país da alegria eterna e da Luz!
(Dissertação: Pai Nosso).