terça-feira, 27 de junho de 2017

Sobre a Vida dos Celtas XXVI






Sobre a vida dos Celtas –XXVI

Por Charlotte von Troeltsch e Suzanne Schwartzkoff

Para leitura do episódio anterior: Sobre a Vida dos Celtas XXV

Anteriormente: Chegava a notícia que os romanos erigiam um muro atravessando o grande país como divisa, entre eles e as tribos Celtas que ainda não haviam sido subjugadas, com a sensação de grande alegria: assim, nada mais poderia acontecer, pois aparentemente o inimigo havia desistido de conquistar o país. Gulwin faleceu muito idoso. O filho de Gulwin, Etelbert, reuniu todos os homens e perguntou-lhes se eles preferiam esperar inativos até que os romanos os tivessem subjugado ou se eles queriam ir ao encontro deles...

Apesar do povo de Seabhac ter gostado de voltar para casa, eles viam que seu dever exigia aguardar. Eles auxiliavam os moradores da região ainda habitada pacificamente em seus trabalhos no campo e com o gado. Juntamente com isso eles treinavam regularmente o uso das armas.
A muralha estava concluída. E vinham rumores que os romanos haviam dividido seus guerreiros novamente, como era costume, pela província recentemente conquistada. Etelbert podia agora voltar, mas havia recebido a ordem para permanecer. Também os moradores dessa região pediam para que ele ainda não os abandonassem. Ninguém confiava nos romanos, os quais haviam recebido novos reforços. Esses novos guerreiros, porém, deviam ser adeptos do Filho de Deus, pois se denominavam cristãos. Etelbert tomou conhecimento disso e teve desejo de conhecer tais homens.

Ele enviou um mensageiro ao comandante romano e perguntou se entre os cristãos havia um sacerdote que lhes pudesse contar a respeito do Filho de Deus. Pois era para recompensá-lo por sua anunciação com ouro e pedras preciosas.
Isso deixou os romanos cobiçosos. Seriam esses Celtas tão ricos? Ele, porém, ocultou seus pensamentos e enviou seu sacerdote a Etelbert. Era um homem ainda jovem, que certamente sabia lidar melhor com as armas do que com a palavra. Mas os Celtas exigiam tão pouco, se ele apenas lhes quisesse contar a respeito Daquele em cuja força eles viviam.
Ele contou. O povo dos judeus, o povo escolhido, no qual o Filho de Deus havia nascido, teria se tornado desprezível.
Etelbert se irou. Este não poderia ser tão covarde, cobiçoso e ruim como o sacerdote o descrevia, do contrário o Pai Eterno teria enviado Seu sagrado Filho para um bem outro povo. O sacerdote viu que ele tinha de ser cauteloso e começou então a relatar das diversas correntes que haviam se formado dentro da crença cristã.
— “Como isso é possível?” perguntou Etelbert incrédulo. “Vós tendes, pois, a Palavra do Filho de Deus! Se vós vos segurardes nela de forma totalmente simples não pode haver nenhuma briga.”
— “Esta também não existe por causa da Palavra, mas por causa da interpretação da mesma” respondera ele. Isso ele não compreendeu, contudo o entristeceu.
A noite ele atirou-se diante de seu leito ao solo e orou. Ele perguntou ao Pai Eterno se era possível que os seres humanos também destruíssem ainda a última coisa que lhes pudesse salvar.
— “Eterno, Santíssimo” implorava ele “eles fazem isso devido a uma honra vaidosa, por causa de uma vontade maldosa de dominar! O que deve sentir Teu sagrado Filho se Ele olhar agora para baixo, para as pessoas, e ver como elas deterioraram tudo o que Ele semeou.”

Etelbert deu ao sacerdote ricos presentes e enviou-o de volta ao acampamento romano. Ele mesmo, porém, relatou aos seus a respeito daquilo que queria despedaçar a alma. Então todos eles resolveram voltar para casa e levar uma vida totalmente em oração e ligação com o Pai Eterno. Parecia-lhes mais importante construir a ponte para cima e mantê-la do que defender o país contra o inimigo que avançava. Em algum lugar o Filho de Deus deveria encontrar pessoas esperando por Ele, se Ele olhasse para baixo, para a Terra.
Isso animou a todos igualmente. Também não havia nenhum entre eles que havia pensado diferentemente. Eles imploravam ao Pai Eterno, que Ele lhes enviasse notícia da Palavra que Seu sagrado Filho havia semeado sobre a Terra. O que eles ouviram a respeito havia comovido profundamente seus corações, mesmo que não pudessem dar sempre crédito ao parecer do sacerdote. Eles ficaram sabendo que o Filho de Deus havia reunido discípulos em torno de Si. Com que prazer eles teriam pertencido a esses! Seu anseio de servi-Lo tornou-se cada vez mais fervoroso.
Novamente havia surgido entre os druidas um, de nome Dunstan, que fora agraciado para receber notícias do alto de forma pura em si. Também Etelbert ouvia frequentemente vozes que lhe indicavam o que ele tinha de fazer. Dunstan, ao contrário, tomava conhecimento de revelações que relatavam a respeito de elevadas planícies ou a respeito da vontade do Pai Eterno em relação aos seres humanos. Sob jejuns e orações ele preparava-se continuamente para, a qualquer hora, ser o receptáculo, ao qual pudesse fluir o saber do alto.

Etelbert sentia-se especialmente ligado com Dunstan. E o que ele tomava conhecimento sempre compartilhava com o príncipe. Juntos eles trocavam idéias a respeito do que iriam falar ao povo. Eles eram sempre da mesma opinião.
Uma noite eles haviam falado por longo tempo a respeito do anseio de poder servir ao Filho de Deus.
— “Eu estou certo que Ele não irá nos desprezar, mesmo que eu não saiba de que maneira é preciso ser auxiliado” disse Etelbert quando ele se separou do amigo.
No caminho para casa ele depositou o seu anseio e o anseio do povo sob o trono do Pai Eterno e sentiu-se singularmente tranquilo, sim, quase soerguido alegremente, como nunca se sentira a há anos.
A noite uma figura luminosa aproximou-se dele, falando-lhe: “Etelbert, se é firme vontade vossa servir ao Filho Eterno de Deus, então o Pai Eterno convoca a ti e a teu povo para servir!”
Alegremente o príncipe pulou de seu leito e atirou-se aos pés do mensageiro.
— “Bem-aventurada hora em que eu pude receber essa notícia” exclamou ele profundamente comovido.
O mensageiro continuou: “O inimigo se encontra do outro lado do muro. Em alguns dias ele terá tudo preparado para atravessá-lo e atacar a vós, julgando-vos despreparados. Vós deveis ir ao encontro dele preparados. A casa de Deus não deve cair em mãos inimigas. De fato, entre vós e os romanos ainda há uma tribo Celta, contudo ela não é suficientemente forte para resistir ao ataque do inimigo. O Pai Eterno ordena-vos que luteis.”
— “Isto nós queremos, isto nós queremos” exclamou Etelbert entusiasmado. “Ninguém ficará para trás, se o Pai Eterno está a convocar. E mesmo que nós tivéssemos que deixar as nossas vidas!”

— “Vossas vidas, vós tereis que entregar” falou o luminoso seriamente. “É da vontade do Pai Eterno que vós abandoneis esta Terra. Ele tem outro trabalho para vós. Ide corajosa e alegremente ao encontro disso, vós povo de Seabhac.”
Etelbert mal podia esperar o dia para procurar Dunstan. Entretanto este se adiantou a ele. Com o rosto irradiante ele entrou no aposento de Etelbert. Podia-se ver que ele tinha algo grandioso para anunciar.
Ele se encontrava tão solene que o príncipe esqueceu totalmente o que queria lhe dizer. Tenso, ele olhava para o amigo. Contudo, demorou ainda algum tempo até que Dunstan fosse capaz de falar.

Texto da série especial denominada: Escritos Valiosos

Personagens e fatos processados dentro do contexto deste episódio:

Seabhac, Habicht: Se trata do personagem de destaque nos acontecimentos, que se situa como soberano de uma comunidade celta.

Muirne: velha mãe do príncipe dos celtas Seabhac, Habicht 

Meinin: esposa de Seabhac, Habicht que veio de outro reino salva e aceita para proteção.

Padraic: É o nome principal do ancião que surge neste episódio como druida da comunidade celta, sendo, portanto um personagem influente de seu meio.
Donald: Escolhido como novo Superior dos Druidas (após morte misteriosa d Padraic)
Nuado Silberhand: No folclore irlandês, era reverenciado como rei e grande líder dos Tuatha Dé Danann. Possuía uma espada invencível, vindo da cidade de Findias e que fazia parte dos Tesouros de Dananns. Na primeira Batalha de Magh Turedh perdeu o braço ou a mão, órgão que foi restituído, mas fez com que ele perdesse o trono da tribo. Ficou conhecido como "Nuada, Braço de Prata" ou "Nuada, Mão de Prata". Nuada era o Deus da justiça, cura e renascimento; irmão de Dagda e Dian Cecht.
Pelo direcionamento dado a este enredo pelas autoras, este personagem se trata de um enteal de certa forma importante em sua ligação com os seres humanos.

Goban: deus ferreiro dos Tuatha Dé Danann; com Credne e Luchtain formavam o "Trí Dé Dana"; fez as armas que os Tuatha usaram para derrotar os Fomorianos. Equivalente a Goibniu e Govannon (galês).
Na mitologia irlandesa Goibniu ou Goibhniu era um dos filhos de Brigid e Tuireann e ferreiro dos Tuatha Dé Danann. Ele e seus irmãos Creidhne e Luchtaine tornaram-se conhecidos como os Trí Dée Dána, "os três deuses de arte", que forjaram as armas que os Tuatha Dé usaram para combater os Fomorianos. Suas armas eram sempre letais e seu hidromel concedia invulnerabilidade a quem o bebesse.

Brigit, é a Deusa dos ferreiros, dos artistas, das artes e da cura. Sendo uma Deusa solar, ela é padroeira do fogo e de tudo que envolva Inspiração e Artes. É uma Deusa tríplice, tendo três faces, a poetisa, a médica e a ferreira.

Lug: ou Lugh - filho de Cian (Kian) dos Tuatha Dé Danann e Eithne (também Etaine), filha de Balor (rei dos Fomorianos). Comandou as forças dos Tuatha na vitoriosa Segunda Batalha de Mag Tuireadh (Moytura) contra os Fomorianos, na qual matou o avô Balor. É a figura extraordinária do Deus jovem irlandês que suplanta o Deus Velho; está associado à habilidade e à técnica; é conhecido como Lugh Samhioldanach (de muitas artes) e Lugh Lámhfhada (de mão comprida). Raiz da palavra gaélica que significa Agosto (Lúnasa), isto é, Lughnasadh (festa de Lugh). Corresponde ao Lleu Llaw Gyffes galês.

Pieder – príncipe filho de Seabhac, Habicht e Meinin

Cuimin – príncipe filho de Seabhac, Habicht e Meinin

Brigit – príncesa filha de Seabhac, Habicht e Meinin

Fionn – príncipe filho de Seabhac, Habicht e Meinin

Golin – salvo de naufrágio no reino de Seabhac, Habicht, vindo da longínqua Gálea; era construtor.