segunda-feira, 10 de julho de 2017

Amor Além da Vida








Amor Além da Vida


Pode o amor durar além da vida? Existe, aliás,  uma continuação da vida depois da morte? Para onde vamos e o que podemos levar junto conosco em nosso passo para o Além, depois da morte? Por que a palavra morte nos é hoje tão dolorosa e a própria morte tão difícil de ser aceita?
Na Bíblia podemos ler um sábio conselho que nos foi dado:

“Não ajunteis tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem corroem, mas ajunteis tesouros no Céu, onde nem a traça, nem a ferrugem corroem.”




E é justamente por isso que a morte se tornou um processo tão triste e difícil nos dias atuais. Nós estamos ajuntando tesouros apenas na Terra e nos esquecemos dos tesouros do Céu, ou os colocamos em último plano. Ou seja, o ser humano se materializou demasiadamente hoje e não se preocupa mais em reunir tesouros para a vida além da morte, muitas vezes nem acreditando mais que existe uma vida depois da morte. Talvez, até seja por isso que muitos preferem acreditar que tudo se acaba com o falecimento terreno, pois não possuem nada de valor consigo e temem o que possam encontrar do outro lado. Mas o Além existe e quando falecemos e passamos para o outro lado, não temos nada conosco, e este Além se nos torna terrível e escuro por falta de valores e tesouros que deveríamos levar conosco.
Abdrushin nos diz a esse respeito em sua Mensagem do Graal:

Feliz daquele que pode denominar suas, muitas e tão fortes vivências, quer tenham sido de alegria ou de dor suas origens, pois essas impressões serão um dia o que de mais valioso uma alma humana levará consigo em seu caminho para o Além.(Dissertação: “Era uma vez...”)


A Mensagem do Graal é, assim, hoje, a nossa mais forte aliada para conseguirmos reconhecer muitos erros desenvolvidos ao longo dos anos e também para que consigamos ajuntar tesouros no céu, que possam ser utilizados depois de nossa morte.


Temos, portanto, que nos lembrar e pensar sempre na morte - pois um dia teremos que dar esse passo inevitável – e assim estaremos também preocupados em reunir tesouros, a fim de levá-los conosco e podermos habitar planos melhores e mais luminosos. Há uma passagem muito interessante a tal respeito no livro do sábio chinês Lao-Tsé, onde está escrito:

“Se não levares a morte a sério
A vida te pesará em sua seriedade.
Se viveres com o pensamento na morte,
A vida não te atingirá.
Se caminhares pela vida,
Não olvidando a morte nem o depois,
A vida passará sem que lhe sintas as agruras.” – – –





E se quisermos hoje procurar em meio aos muitos filmes existentes, algo que tenha fundamento e nos possa transmitir ao mesmo tempo algum valor sobre o sentido da vida e a vida depois da morte, então iremos nos deparar com um trabalho dificílimo. Ou encontramos filmes que tentam ser cheios de ação, com histórias de fantasmas e cheios de efeitos especiais sem fundamento ou encontramos temas que carecem de toda a lógica. Isso, porém, não é de se admirar, devido a decadência cultural do ser humano. Onde devemos encontrar uma ideia fundada, por exemplo, sobre o Além e a morte em um filme, se mais da metade do mundo vive num vazio e nega uma vida depois da morte?

Quem não conhece a meta não pode ter o caminho.

E se os produtores de filme não querem ter uma ideia mais profunda sobre a vida e nem desejam ver além da matéria, o resultado para os tele-espectadores é uma materialização barata dos fatos.
Hoje em dia parece que as maiores perguntas de nossa existência não são mais levantadas de modo sério, degenerando-se em bobagens devido a decadência espiritual da atualidade.




Tanto mais entusiasmante e contrario à ideia contemporânea é a interpretação do cinema da questão “Para onde vamos depois da morte?”. O filme “Amor Além da Vida” não nos mostra apenas como a morte tem um profundo sentido, ele também nos dá, além disso, a ideia de como a vida depois da morte pode continuar. Neste filme o autor não se contenta em fazer um romance com um “final feliz”, não, ele vai além disso e procura surpreender e levar seus espectadores à uma reflexão mais profunda.
O filme “Amor Além da Vida” pode nos auxiliar a ampliar um pouco mais a visão referente à morte. Apesar de nem tudo no filme ser verdadeiro e real, há muitas coisas e fatos que condizem com a realidade e podem nos auxiliar a começar a ter um melhor relacionamento com o mundo do Além e com a vida depois da morte.




O filme “Amor Além da Vida” ou “Por detrás do Horizonte”, como é chamado em alemão, surgiu de um debate intensivo sobre as concepções do Além de diversas religiões. Segundo isso, o mundo físico é apenas uma pequena parte na imponente obra da Criação, e o corpo do ser humano apenas um instrumento do núcleo espiritual imaterial. O ser humano cria, por si próprio, com seu querer, pensar e atuar tanto o céu quanto o inferno. Nos limites bem altos de esferas da Criação, inimaginavelmente grandes e maravilhosas, existe um reino na proximidade de Deus, o Paraíso, o qual é a mais elevada meta para o ser humano atingir. Em contraste a isso, nosso pensar e querer também podem criar horríveis planícies do Além, as quais mantêm o ser humano preso, necessitando aplicar muitíssima força e reconhecimento, devendo também haver amor de nossos semelhantes para se poder sair novamente dali.



Chris Nielsen (Robin Williams), um médico de sucesso, conhece em uma viagem romântica a atrativa artista Annie Collins (Annabella Sciorra). Vemos aqui como a força do destino entra em jogo e faz com que o casal se encontre e se apaixone de uma forma bela, pura e nobre. Eles então se casam, têm dois filhos e levam uma vida harmônica de amor exemplar, até que... um dia os dois filhos vêm a falecer num trágico acidente de carro e tudo o que era maravilhoso parece ter um fim. Annie faz graves auto-acusações por não ter dirigido o carro naquele dia, mandando a empregada em seu lugar. Por meio do amor dedicado de seu marido a artista consegue superar sua profunda depressão e, depois de muito tempo, toma novamente animo. Contudo, logo depois segue outro golpe do destino: por meio de outro acidente de carro seu marido também vem a falecer.
Agora, porém, a história de Chris continua do “outro lado”! Ele desperta no Além, em um ambiente alegre e colorido, que em alguns lugares parecem como as imagens dos quadros de sua esposa – um sinal da forte ligação entre ambos e a expressão de que o mundo interior de pensamentos do ser humano se torna realidade no mundo do Além.




O processo da morte, propriamente, nada mais é do que o nascimento para o mundo da matéria fina. Semelhante ao processo do nascimento para o mundo da matéria grosseira. Durante algum tempo depois do desenlace, o corpo de matéria fina permanece ligado ao corpo de matéria grosseira. (Dissertação: “A morte”)




No Além, desde o início, encontra-se ao lado dele um acompanhante de nome Albert Lewis (Cuba Gooding Jr.), uma espécie de anjo protetor, que saúda Chris e o auxilia a se familiarizar com o novo mundo, tornando-se-lhe, por fim um amigo fiel. Chris o vê de início apenas borrado, pois ainda não abriu totalmente seu olho de matéria fina.


Solitária e sem compreender nada se encontra uma alma no recinto de morte. Sem compreender nada, porque o ser humano que jaz no leito se recusou, durante a sua vida terrena, a acreditar na continuação da vida após deixar o corpo de matéria grosseira, jamais pensando  nisso com seriedade e zombando de todos quantos falavam a tal respeito. Confuso, olha ao redor. Vê a si próprio no leito de morte, vê à sua volta pessoas conhecidas que choram, ouve as palavras que elas dizem e intui também decerto a dor que elas sentem nas lamentações por ele haver morrido. Tem vontade de rir e clamar que ainda vive! Chama! E nota, admirado, que não o ouvem. Repetidamente chama alto e cada vez mais alto. As pessoas não escutam, continuam a lamentar. Medo começa a brotar nele. Pois ele ouve a sua própria voz bem alto e sente também distintamente o seu corpo. Mais uma vez grita angustiadamente. Ninguém lhe dá atenção. Olham, chorando, para o corpo inerte que ele reconhece como sendo o seu, e ao qual, no entanto, considera de repente como sendo algo estranho, que não lhe pertence mais, pois se encontra com seu corpo ao lado, livre de toda a dor que até então sentia.
Com amor chama então o nome de sua mulher, ajoelhada ali rente ao que até agora era seu leito. Mas o choro não cessa, nenhuma palavra, nenhum movimento denota que ela o ouviu. Desesperado, aproxima-se dela, sacudindo-a rudemente pelo ombro. Ela não percebe. Ele não sabe, pois, que tocou no corpo de matéria fina da esposa, sacudindo-o, e não no de matéria grosseira, e que sua esposa, que igualmente a ele nunca pensou existir algo mais do que o corpo terreno, também não pode sentir o toque em seu corpo de matéria fina. (Dissertação: “O Falecido”)

Chris tenta de início, com toda sua vontade, entrar em contato com sua esposa que ainda vive sobre a Terra. E, devido a sensibilidade e fragilidade da artista por causa da morte de seu marido, ele também consegue um pequeno contato com ela e lhe insufla uma frase, que ela anota em uma folha de papel:





Eu ainda existo!

Contudo, Annie não reconhece que Chris está perto dela, pois, primeiro, ela não acredita que ele ainda vive e que exista uma continuação da vida além da morte e, segundo, ela está voltada demasiadamente para si mesma. Assim os pensamentos dela em seu falecido marido, só a tornam ainda mais desesperada.
Por fim, Chris corta, por amor, a ligação com ela, a fim de não causar mais dores à sua amada esposa, apesar de suas boas intenções. Annie, porém, afunda cada vez mais em suas auto-acusações e em uma profunda depressão, de onde, por fim, ela não encontra outra saída, além do suicídio. Depois do suicídio ela vai para um plano sombrio, portanto, a um ambiente que corresponde ao seu mundo interior e ao seu delito contra as Leis da Criação.


Os seres humanos colherão o que durante a sua vida terrena semearam por pensamentos e ações. Coisíssima alguma é com isso melhorada ou sequer modificada! Irresistivelmente serão arrastados às engrenagens das Leis da Reciprocidade, em atuação severa, a fim de nelas vivenciar no mundo de matéria fina tudo aquilo que erraram, isto é, pensaram e fizeram por convicção errônea. Têm toda a razão para temer a hora do desenlace do corpo de matéria grosseira, que por algum tempo lhes serviu de anteparo protetor contra muitos acontecimentos de matéria fina. Essa parede protetora lhes foi deixada como escudo e abrigo por um tempo, para que atrás      dela pudessem modificar, em imperturbável tranqüilidade, muita coisa para melhor e até remir totalmente aquilo que, sem essa proteção, deveria tê-los atingido pesadamente. (Dissertação: “A morte”)



Nesse meio tempo Chris vai se ambientando com o mundo de matéria fina, correspondente ao seu estado interior e onde ele vai vivenciando seu novo mundo. Seu anjo protetor vai lhe auxiliando nisso e num diálogo entre ambos ele chama a atenção de Chris, para o que é realmente o seu verdadeiro “eu” interior:

Albert -
O que você quer dizer com você, afinal? Você é seu braço ou sua perna? Se perdesse todos os seus membros, deixaria de ser você?
Chris -
Ainda seria eu.
Albert -
Então o que é o “eu”?
Chris -
Meu cérebro, eu acho.
Albert -
Seu cérebro? Seu cérebro é um pedaço do corpo como sua unha ou seu coração. Por que essa é a parte que você é?
Chris -
Porque eu sou como uma voz na minha cabeça. A parte em mim que pensa, que sente medo, que tem consciência de que eu existo.
Albert -
Então, se tem consciência de que existe, você existe, é por isso que ainda está aqui.

Na Mensagem do Graal encontramos a correta definição para o núcleo interior do ser humano, o espírito:
Espírito não é esperteza nem raciocínio! Tampouco é sabedoria adquirida. Por isso chama-se erroneamente “rico de espírito” a uma pessoa que estudou muito, leu, observou e sabe conversar bem a respeito disso. Ou que então brilhe através de boas idéias e de perspicácia do raciocínio.


Espírito é coisa muito outra. Trata-se de uma constituição autônoma, oriunda do mundo de sua espécie igual, que é diferente da parte a que pertence a Terra e, com isso, o corpo. O mundo espiritual encontra-se mais alto, constitui a parte superior e mais leve da Criação. Essa parte espiritual no ser humano, devido à sua constituição, traz em si a incumbência de voltar ao puro espiritual tão logo se tenham desligado dela todos os envoltórios materiais. O impulso para isso se manifesta num bem determinado grau de amadurecimento, conduzindo então o espírito para cima, para sua igual espécie, elevado por meio de sua força de atração.
(Dissertação: “Era uma vez...”)

Quando Chris toma conhecimento onde Annie se encontra, ele quer descer até lá, para salvá-la do abismo. Apesar de todos os apelos de seu amigo Albert, Chris não muda de idéia: ele tem de ir até lá embaixo, a fim de salvar sua mulher de seu inferno, mesmo que isso possa lhe custar a perda de seu céu.




O plano celestial mostrado no filme é realmente de tirar o fôlego com toda sua beleza e cores. Mas também os planos do submundo são mostrados de forma muito admirável como horripilante, e pelos quais Chris têm de passar para chegar até Annie. Inesquecíveis são os quadros que o médico tem de atravessar com seu amigo, especialmente aquele onde muitas cabeças estão incrustadas ao solo e uma grita: “Eu nunca tirei mais do que 30% dos meus clientes!”. O interessante é que apesar de estar ali, em tal ambiente, não lhe vem o reconhecimento. É por isso que a Mensagem nos diz que é mais rápido e mais fácil um reconhecimento na matéria grosseira do que na matéria fina.
E Chris segue adiante até encontrar finalmente onde Annie está. Ela, porém, está tão voltada para sua dor e para si mesma, que não reconhece nem Chris, nem dá ouvidos às suas advertências e chamados. Por fim, o amor consegue superar o pior obstáculo e inicia-se o despertar.



Os produtores desse filme realmente merecem os parabéns, pois superaram em muito todos os ganhadores de Oscar: eles foram além da vida, além da matéria e conseguiram fazer com que vivenciássemos muitas passagens da Mensagem do Graal. Quando nos ocupamos com a morte, conseguimos mais clareza na vida.






O ser humano que durante sua existência terrena nada quer saber que depois da morte ainda há vida
 e que será obrigado a responsabilizar-se por todas as suas ações, em sua espécie, a qual não se harmoniza atualmente com a concepção terrena,
cego e surdo será na matéria fina, quando tiver que passar para o outro lado.

Abdrushin


Matéria extraída do periódico: Juízo Final nº 201 de 30/05/2006