sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Zanoni XXIII







Zanoni

por Edward Bulwer-Lytton

Livro Terceiro

Capítulo III

Namoro Enigmático


“In faith, I do not love thee with mine eyes:”

Shakespeare.

“Por minha fé, não te amo com os meus olhos”.

No dia seguinte, ao meio-dia, Zanoni foi ver Viola; e seguiu visitando-a frequentemente; e estes dias pareceram à jovem uma época especial, separada do resto de sua vida.

Todavia, Zanoni não lhe falou nunca na linguagem de lisonja ou de adoração, que estava acostumada a ouvir. Talvez mesmo a frieza deste homem, que era, contudo, tão afável, aumentava-lhe o seu encanto. Ele lhe falava com freqüência do passado dela, e Viola apenas se surpreendia (agora nunca mais lhe vinha o pensamento de terror) ao ver quantos pormenores de sua vida eram conhecidos de Zanoni.

Ele fazia muitas perguntas e observações a Viola a respeito do seu inesquecível pai e gostava de ouvi-la cantar algumas daquelas tempestuosas árias da esquisita música de Pisani, cujos sons pareciam extasiá-lo e fazê-lo cair numa espécie de doce abstração.

A ciência para os sábios - dizia Zanoni - é talvez o mesmo que era a música para seu pai. A sua imaginação necessitava um campo muito vasto; tudo estava discorde com as finas simpatias que ele sentia, com as harmonias que, dia e noite, elevavam a sua alma ao trono do céu. A vida, com suas ruidosas ambições e suas paixões rasteiras, é tão pobre e de tão baixo nível! Pisani sabia criar, de sua própria alma, a vida e o mundo que sua alma necessitava. Viola, você é a filha daquela vida, e será, portanto, habitante daquele mundo.

Em suas primeiras visitas, Zanoni nunca falou de Glyndon; porém, veio o dia em que a ele se referiu. E era tão grande o domínio que este homem chegou a adquirir sobre o coração da jovem que, apesar deste assunto desgostá-la sensivelmente, refreou o seu sentimento e escutou em silêncio.

Prometeu-me - disse Zanoni - que seguiria os meus conselhos; pois bem, se eu agora, Viola, lhe disser que a aconselho a aceitar a mão desse estrangeiro e partilhar com ele a sorte, e se ele lhe propuser, não se recusará a dar-lhe a mão?


Viola reprimiu as lágrimas que lhe invadiam os olhos e, depois de um instante, com um estranho prazer mesclado de dor, - com o prazer de quem sacrifica seu coração a outrem que neste coração domina, - respondeu, com voz desfalecida:

Se é capaz de mandá-lo, então.

Fale - disse Zanoni.

Disponha de mim como lhe agrada, - respondeu a jovem com infinita tristeza.

Viola, - disse Zanoni, com voz trêmula, - o perigo que não estará agora em minha mão evitar, se aproxima cada hora mais, se permanecer mais tempo em Nápoles. Dentro de três dias, a sua sorte deverá estar decidida. Aceito a sua promessa. Antes da última hora desse terceiro dia, suceda o que suceda tornarei a vê-la aqui, em sua casa. Ate então, adeus!



(continua)


Os capítulos deste romance fazem parte da coleção do G +Zanon

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