sexta-feira, 27 de julho de 2018

Zanoni XXII








Zanoni

por Edward Bulwer-Lytton

Livro Terceiro

Capítulo II

Com a Mais Bela Sensação

“Gilding pale streams with heavenly alchemy”. Shakespeare

“Douradas, pálidas correntes com alquimia celestial”.


Quem é tão feliz como Viola, agora? Parecia que lhe havia arrancado um enorme peso do seu coração. Quando tornou à casa, o seu passo era ligeiro a airoso; tinha desejos de cantar, tanta era a sua alegria. 
Para quem ama com coração puro, pode haver maior felicidade do que crer na superioridade e no sublime valor da pessoa amada? 
Podiam existir, entre os dois, alguns obstáculos humanos, - como a riqueza, a posição social, o pequeno mundo dos homens, - porém não existia mais aquele negro abismo, em que se perde a imaginação, que separa para sempre uma alma da outra.

Zanoni não correspondia ao amor da jovem. Amá-la! Mas pedia Viola amor? Amava ela mesma realmente? 
Não; se o tivesse amado, não teria sido tão humilde e tão ousada ao mesmo tempo. Como radiante lhe parecia o aspecto do mais vulgar transeunte!
Ao entrar no jardim, Viola olhou a árvore da rocha que estendia vigorosamente os seus ramos fantásticos ao sol.

Sim, minha irmã! - disse-lhe a jovem, rindo de prazer. -

Como ti, tenho eu lutado pela luz!

Nunca, até então, como sucede com as instruídas Filhas do Norte, Viola tinha provado esse delicioso prazer de transladar seus pensamentos para o papel, escrevendo suas memórias. Agora, de repente, o seu coração sentiu um impulso; um instinto recém-vindo, que lhe inspirou o desejo de olhar no mais recôndito do seu coração como através de um cristal. Este instinto era o fruto do abraço do Amor e da Alma, - de Eros e de Psychê, - era o Gênio! 
Enquanto Viola escrevia, suspirava, corava e estremecia. E do novo mundo que acabava de criar para si, teve que se transladar o teatro. Como lhe parecia insulsa, agora, a música, e sem atrativos a cena, que outrora achava tão deliciosas e deslumbrantes! O teatro, tu és o País das Fadas para as pessoas que amam a glória do mundo! Tu, porém, Imaginação, cuja música não é percebida pelos homens e cujas decorações não podem ser mudadas pela mão dos mortais, como o teatro representa ao mundo no tempo presente, tu és o futuro e o passado!

(continua)


Os capítulos deste romance fazem parte da coleção do G +Zanoni