terça-feira, 28 de novembro de 2017

IS-MA-EL IX








Leitura do trecho anterior

IS-MA-EL


Is-ma-el viu com dor a tristeza da entealidade, o seu espírito clamou. Uma dor sem igual apoderou-se dele, quando ele sofreu junto aquilo entristece a entealidade. Primeiramente ele foi conduzido até as profundezas da Criação posterior, vendo ainda épocas desaparecidas, nas quais já poderiam ter vivido seres humanos. Ele olhou cheio de alegria para os quadros luminosos de tempos passados, que ainda teciam ao redor da Terra, aquela pequena estrela nas profundezas da parte do Universo Éfeso.
“Tu és tão pequena como um grão de areia na interminável distância dos mares do Universo e, apesar disso, tão grande na graça do Senhor e, contudo, eu mal consigo ver as claras pegadas de um criado luminoso reluzir dos mundos primordiais de teu desenvolvimento! O que fizeste tu com os frutos de teus auxiliares luminosos, tens tirado proveito do auxilio de um herói luminoso, iluminado, como foi Hjalfdar?”
Por que Is-ma-el foi atraído poderosamente até a pequena Terra, ele não sabia. O saber sobre o desenvolvimento e o envio no futuro lhe estava oculto. Desde que ele estava envolvido no cumprimento de seu tempo de experiência, muito lhe foi tomado do amplo saber de sua espécie. Ele deveria saber apenas o que lhe era necessário no momento. Por isso ele sentiu-se preso como que com pesadas correntes, pois ele estava consciente de sua atual estreiteza de livre movimentação. Ele estava como numa peregrinação através do deserto. A sensação de sofrimento apoderou-se de Is-ma-el. Nostalgia de sua igual espécie estava nele e seu espírito sofreu com saudade de Parsival, que parecia crescer continuamente. Nenhuma notícia vinha de cima. Is-ma-el estava só.

Ele percorreu a Criação na vontade do Senhor. Primeiro em sua profundeza. Para onde seu destino queria, para lá sua vontade o dirigia. Ele viu a beleza, a riqueza e o perigo da Terra, e vivenciou junto o sofrimento de todo o enteal, que tece em estreita ligação com a matéria.
A irradiação de Lúcifer aumentou, pois os espíritos humanos, em sua maior parte, sucumbiram ao seu querer. A natureza começou a sofrer. O animal, que os seres humanos haviam domesticado, foi o primeiro a adoecer. Tornou-se obstinado, e o ser humano respondeu a ele com o poderio de sua prepotência na força do intelecto, ao invés de como outrora, através do auxílio equilibrador e do amor.
Is-ma-el viu que os enteais começaram a anular o saber sobre essas capacidades do equilíbrio que surge do tecer da ligação entre animal e ser humano, ao não mais nutri-lo.
Então surgiu uma ruptura nesses fios entre ser humano e animal, a qual o ser humano, em seu domínio, procurou transpor com violência.
Lúcifer nutriu os fios do poder cada vez mais. O ser humano parecia invencível.
Para suas grandes e gigantescas construções os seres humanos necessitavam das forças enteálicas. Ainda restavam resquícios do manejo dessa força, ancorada no saber dos seres humanos, ainda lhes era possível ver e utilizar os gigantes. Porém ele não mais o fazia com amor, pois por toda a parte ele sentia e topava com dificuldades, as quais, do contrário, os gigantes teriam eliminado.
Mas desde que o ser humano começou a maltratar os animais, ele perdeu a simpatia dos gigantes. Ódio contra os poderosos e vigorosos auxiliares surgiu no ser humano, e seu intelecto travesso tramou como ele poderia fazer para dominar os gigantes. Os gigantes, porém, deram as costas aos seres humanos, desaparecendo e nunca mais foram vistos por eles.
Is-ma-el mergulhou na imensidão do desconhecido e como espírito vivenciou com plena compreensão, a qual vai muito além de espaço e tempo, os acontecimentos imensuráveis grandezas da Criação.
De vez em quando era obrigado a travar forte luta com as correntes provindas de Lúcifer, as quais ele combatia de bom grado para evitá-las contra o espírito humano. Às vezes ele ficava observando e vivenciando diante do apóstata e enfrentava o terrível sofrimento, o qual Lúcifer preparou para si. Frio gélido soprava até ele, rígido como gelo, igual aos olhos do belo decaído, era tudo, o que ele criou para si.

Calor intenso e gélidos calafrios eram os extremos que teciam em volta de Lúcifer, suscitando turbilhões de êxtase e forçando a fria morte de todos os sentimentos. A irradiação de Lúcifer girava em torno de si próprio e, na pressão sufocante, gerou a mentira.
Na cintilante branco-esverdeada fumaça espessa e venenosa ela brotou para cima, preenchendo em sua expansão tudo o que se estendia a sua frente. Então Lúcifer deixou-a subir.
Com o ofuscado poder do intelecto, ele a dotou. Para onde o hálito de sua boca acertava, o qual uma vez podia igualar-se à boca feia de um sapo mucoso e repugnante, e outra a uma bonita boca de mulher, vermelho-cereja, gerou desgraça. Para onde sua força esguichasse, a qual seguia como baba pela língua bipartida, ali cresciam suas formas reluzentes e, qual pelaria narcótica, envolviam as suas vítimas.
Vítimas, as quais procuravam acusar-se mutuamente.
Quando Is-ma-el viu o atuar da mentira, ele foi acometido pela dor do desespero, e do fundo de seu poderoso espírito manifestou-se com pedido após pedido, um pedido pela força para a salvação!
Lúcifer caía cada vez mais fundo.
“Por que eu tenho que ver isso? Por que padecer no conhecimento da gravidade do pecado contra Deus?”
Ele estava solitário, e deveria ver o horror da morte eterna.
Em seu espanto ele ainda não havia notado que o pecado e a mentira eram femininos, que em esplendor reluzente, em beleza, se soergueu para ser companheira de Lúcifer. Como tentadora ela apoiou o falso princípio, “Lilith”.



Trecho extraído da obra IS-MA-EL (em manuscrito):