quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Morrer e Tornar-se







Morrer e Tornar-se


por August Manz


“O movimento existe em todas as espécies da Criação, desde o Puro Espiritual até a Matéria Grosseira, o mistério da pulsação para o morrer e  o tornar-se segundo as Leis Primordiais Eternas da Criação.” – Assim o Filho do Homem nos revelou. O movimento é chamado de mistério – algo que não pode ser compreendido pelo espírito humano -, porque o ser humano nunca pode compreender algo que se situa acima de sua origem, porque ele jamais estará em condições de assimilar algo que tenha seu ponto de saída no Divinal e porque o início primordial do movimento reside no próprio Deus. Isto nos foi revelado de forma clara pela Mensagem na dissertação “A Vida”.

Lá está escrito:

“Deus, a Luz viva, a Força viva não pode evitar irradiações. ... Essa irradiação, contudo, é para a Luz um efeito evidente. ... A intensidade da irradiação é, pois, nas proximidades da Luz, evidentemente mais forte, de maneira que ali não pode haver nenhum outro movimento senão o absoluto e rigoroso movimento para a frente, que reside na irradiação.”

E assim nos é ilustrada a esfera Divina, a qual é eterna junto com o próprio Deus. E nesta esfera o movimento é algo eterno. Esse movimento Divino vem, portanto, para a Criação, reside como base da Criação. Pois

“Somente quando Deus, em Sua Vontade, emitiu a grande expressão: “Faça-se a Luz!” as irradiações se lançaram além do limite até então desejado, para o espaço sem Luz, trazendo movimento e calor.”


O incondicional lançar-se para a frente, o movimento, que reside na irradiação da Luz equivale a uma pressão contínua e inimaginável. Por meio da atuação conjunta desse lançar-se para a frente e a atração, que reside igualmente na força viva, portanto, no próprio Deus, surge – como nos é revelado adiante -  um movimento circular de forma elíptica, no qual a enorme pressão da irradiação imediata havia diminuído. Através disso surgiu, por sua vez, um leve resfriamento e disso em certo sedimento.
E assim são formados os reinos ou planos individuais da Criação um após o outro. Pois o movimento criador da força impulsionante da irradiação  continua sempre  e sempre de  novo atuando e, na atuação conjunta com a atração, surge um movimento circulante. E através dos sedimentos desenvolve-se um plano elipticamente circulante após o outro.

O movimento oriundo da Luz Primordial perpassa assim toda a Criação, atua em toda a Criação. O espírito humano, porém, só pode compreender e assimilar as formas de manifestação do movimento, só pode observar e constatar como ele se mostra e como atua. Contudo, tem de lhe permanecer um eterno mistério, o que ele é: a sua essência oriunda do Divinal, ele jamais poderá abranger.
Como principal forma de manifestação que o ser humano pode compreender e assimilar, podemos citar os altos e baixos do desenvolvimento na Criação, a contínua criação, o semear, o amadurecer, o colher e o fenecer, que é efetuado pelo movimento. Pois o movimento é a pulsação desse gigantesco “morrer e tornar-se”. Unicamente o movimento cria o circular eterno da Criação e unicamente no movimento realiza-se em toda a Criação o ininterrupto formar-se, decompor-se, para outra vez tomar nova forma.
Portanto, no “morrer e tornar-se” reside a Lei do Desenvolvimento  que abrange tudo: a Criação em sua totalidade e cada parte individual em si. Dessa forma reside aí também a Lei para o desenvolvimento do germe espiritual humano. E hoje iremos observar como se efetua esse “morrer e tornar-se” para o ser humano, qual exigência ele nos apresenta, qual significado ele possui para nós e para toda nossa existência.
Devemos, então, partir aqui do reconhecimento, que já encontramos como Lei Primordial da Criação: a evidência do movimento, que se resulta como efeito inevitável da irradiação da Luz Divina na esfera Divina. E dessa forma o movimento, que foi implantado na Criação pela Vontade de Deus, é também uma evidência natural na Criação que surgiu ai. Unicamente movimento é, portanto, tudo; imobilidade e estagnação são nada. Erroneamente os seres humanos chamam o movimento de vida e a estagnação, a imobilidade de morte. Na realidade aquilo que os seres humanos chamam de vida, nada mais é do que um movimento impulsionado, que só deve ser considerado como um efeito natural da verdadeira vida, como efeito da irradiação de Deus. Uma verdadeira morte, uma absoluta imobilidade, um absoluto nada, porém, não existe de jeito nenhum na Criação. Pois também a decomposição é na realidade apenas uma modificação, que significa a oportunidade para um novo desenvolvimento.


Morrer e tornar-se! Contudo “morrer” não significa morte no sentido da transição para o nada, mas sim, analisado de forma correta, a possibilidade de desenvolvimento para algo mais elevado, para o “tornar-se” através do contínuo movimento desejado por Deus, o qual também atua no processo de modificação.
A evidência do movimento que atua por toda parte na Criação, deve residir, portanto, como base de todo o processo de desenvolvimento do germe espiritual humano. Isso é uma lógica de acordo com as leis da Criação e desejada por Deus. Apenas no movimento o germe espiritual, de início inconsciente e que foi expelido do Reino Espiritual Inconsciente, pode se desenvolver em um “eu” espiritual plenamente consciente.
Nós sabemos pela Mensagem que no germe espiritual inconsciente reside vida e que a vida, de acordo com a Vontade Divina, se impulsiona em toda a Criação para o movimento. Para o desenvolvimento, para a autoconsciência.  Contudo, tornar-se consciente só pode advir por meio de experiências. As experiências, por sua vez, só podem ser obtidas pela peregrinação do germe espiritual pelos diferentes planos de movimento da Criação, em especial pelos reinos da matéria fina e grosseira, nas quais se resulta por si próprio a necessidade de defesa e de luta contra as influências que lhe vem ao encontro desses ambientes mais baixos e onde ele penetrou como estranho.
Em outras dissertações já tratamos mais pormenorizadamente sobre a necessidade de ter de movimentar-se. E sempre tivemos de reconhecer, que o ser humano só pode através disso levar as capacidades nobres e puras, que lhe foram presenteadas, para um desenvolvimento desejado, de modo a fazer essa dádiva crescer corretamente, isto é, ao mexer-se e movimentar-se espiritualmente. Unicamente o inserir-se no ritmo das leis naturais do movimento traz beneficiamento e amadurecimento; estagnação por si só já traria retrocesso e, por fim, decomposição. Movimento, ao contrário, torna as capacidades latentes no germe ativas, desperta-as, fortalece-as e as faz crescer. Portanto, o desenvolvimento e o amadurecimento tem de ser adquirido lutando pelo ser humano, através do movimento espiritual. Isto é a tarefa principal de sua existência na Materialidade.
Um ser humano que não se movimenta espiritualmente, que não luta, é envolvido por uma indolência mortífera. A mensagem nos anuncia:



Já há muito o ser humano teria caído no sono indolente da ociosidade, ao qual deve seguir a podridão, se não existisse ainda na Criação, felizmente, o impulso para a luta, que o obriga, mesmo assim, a se mexer!

Se hoje não existisse mais na Criação o impulso para a luta, a que tantos indolentes denominam como cruel, há muito tempo a matéria já se encontraria em apodrecimento e em decomposição. Atua ainda como algo conservador, de modo anímico e físico, jamais como algo destruidor. De outra maneira não haveria nada mais que conservasse essa inerte matéria grosseira em movimento e, com isso, saneada e vigorosa.


O movimento também não iria desaparecer da Criação, ou deixar de atuar nela, se a humanidade inteira da grossa-materialidade, por indolência espiritual, apodrecesse. Evidentemente o movimento continuaria, pois ele é uma Lei Primordial eterna da Criação. Só a humanidade pereceria, arrastada para dentro de um processo de transformação de um Juízo Final, que iria dissolver a parte do Universo e as personalidades de todos os seres humanos individuais. Mas o movimento deixaria novamente surgir algo novo a partir da semente primordial e os germes espirituais que se tornaram inconscientes, iriam transfundir-lhe com forças espirituais. O processo de acontecimento do morrer e tornar-se, produzido pelo movimento iria continuar ininterruptamente.
A necessidade incondicional de movimentar-se espiritualmente já reconhecemos até aqui. Mas esse reconhecimento é ainda mais aprofundado pelas palavras “morrer e tornar-se”. Torna-se a nos ainda mais clara, a forma como o ser humano deve se movimentar, como ele deve se enquadrar do ritmo do movimento, se ele quiser amadurecer.

O caminho de desenvolvimento do germe espiritual pelos mais densos degraus da Criação, na Matéria Grosseira, é um processo de fermentação, do qual o ser humano  só sai corretamente purificado, se ele compreende a Palavra da Verdade e vive corretamente de acordo com ela. E para tanto o ser humano que está carregado de carga tem de se submeter a esse processo de modificação, onde tudo o que é errôneo deve morrer e o correto tornar-se novo.
Morrer e tornar-se. Nós sabemos que as condições de desenvolvimento para o espírito humano na matéria fina e grosseira são diferentes; uma consequência natural da diferença de espécie da materialidade. Na matéria grosseira as condições para o amadurecimento são em si mais favoráveis. Na Terra a matéria fina no ser humano ainda encontra-se protegida pelo seu corpo, como através de uma firme âncora. Na matéria fina o perigo da queda ou de ficar preso é bem maior, já que lá a Lei da Atração da Igual Espécie, sem a proteção do corpo terreno, atua sempre de forma imediata.
Por isso, o ser humano tem, antes de mais nada, que utilizar a peregrinação pela matéria grosseira para sua ascensão. E como já reconhecemos, a isso pertence, como primeira pré-condição, que ele se submeta a um completo processo de transformação, a fim de deixar morrer em si tudo o que é falso e errôneo e que ele havia até então adquirido em sua peregrinação. Ele tem de incinerar, aniquilar tudo de errado e incorreto,  que se aderiu a ele. Ele tem de realizar o “morrer” através de uma completa modificação de seu íntimo e o “tornar-se” através da construção de um interior totalmente novo, no sentido desejado por Deus, o qual nos é revelado pela Mensagem do Graal.
“Tudo tem de se tornar novo”, exige o Filho do Homem sempre de novo. E o novo que é bom e correto só pode florescer, se o velho, falso e incorreto for totalmente destruído.


Morrer. Os pontos de vistas dos seres humanos sempre ficaram, segundo os acontecimentos de até agora, bem distante da realidade e em discordância com a Vontade Divina. E desses pontos de vistas errôneos resultou-se, como consequência, também um agir errôneo. Errados são os caminhos que os seres humanos trilham, falsas as metas que eles aspiram.

Quais insetos esvoaçam e formigam assiduamente em confusão, como se valesse, para alcançar o alvo máximo, fervorosa lufa-lufa e correria. Tão logo, porém, seus alvos forem examinados mais de perto e com maior atenção, mostra-se logo o vazio e a nulidade desse febril esforço, que realmente não é digno de tal fervor.

Tal atividade é, portanto, errada. E tudo o que está errado e que é falso e errôneo de suas concepções e de seu aspirar, tem de ser submetido ao processo de purificação e de transformação, o qual se resulta da exigência “morrer”. Somente então o solo estará corretamente preparado para a construção do novo.
E os seres humanos, tanto individual quanto coletivamente, podem avançar em direção da realização do “tornar-se” com aquela atividade, que agora pode atuar no sentido certo, no ritmo harmônico do movimento da Lei Primordial Divina da Criação. -
No mesmo sentido Jesus Cristo disse uma vez aos seus discípulos – como está escrito no Evangelho de Mateus, capítulo 10:

“Quem achar sua vida, perdê-la-á;
 e quem perder sua vida por mim, achá-la-á.”

Pois se uma pessoa entrega sua vida errada de até agora, se ela deixá-la morrer, perecer, sucumbir, então há de encontrar a vida correta segundo a Vontade de Deus. E quem faz isso, por ter reconhecido a Verdade Divina, trazida outrora pelo Filho de Deus e agora pelo Filho do Homem, encontrará a verdadeira vida, que se enquadra harmonicamente na Vontade de Deus, no movimento desejado por Deus. Quem, porém, não quiser se enquadrar no ritmo do movimento desejado por Deus, quem não se submeter ao processo de transformação, suceder-lhe-á como Jesus igualmente revelou:

“Quem quiser manter sua vida” – sua sintonização falsa e errônea de até agora – perdê-la-á.

Pois ele será então arrastado junto para a decomposição da materialidade, que aniquila seu “eu” com a força primordial do movimento.
“Morrer e tornar-se”. Quem tiver compreendido corretamente o significado dessa exigência e agir de acordo, quem destrói o velho e permite surgir o novo, construiu para si o primeiro degrau para sua ascensão ao encontro da Luz. Ele amadurecerá espiritualmente como consequência natural da aniquilação do que é mal e do surgimento do que é bom. E, assim, ele pode finalmente ingressar no Reino Espiritual. Pois o Senhor fala:


“Eu sou o Deus de Abraão e o Deus de Isaac e de Jacó. Deus, porém, não é um Deus dos mortos, mas dos vivos” – que se movimentam
corretamente em Sua Criação.