terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Sobre a Vida dos Celtas





Sobre a vida dos Celtas


por Charlotte von Troeltsch e Suzanne Schwartzkoff


O mar lançava suas ondas espumando e bramindo contra a costa rochosa. Este molhava e respingava as pedras lisas com milhares de pingos, os quais eram retidos pelo musgo que se encontrava entre as pedras. De forma maravilhosamente verde reluzia o musgo nos raios do sol do meio dia.
De tempo em tempo pássaros voavam para lá, pousando ali onde podiam encontrar um lugar para descansar e picar zelosamente o musgo. Eram pássaros belos, branco-acinzentados, com asas grandes, olhos claros e com um bico um pouco curvo. Cada vez mais e mais eles se reuniam, comprimindo-se uns aos outros, procurando apoio ou por um sentimento de pertencer ao conjunto.
De repente alguns se puseram a ouvir atentamente: um novo ruído podia ser percebido. Não vinha do mar, mas as pedras soltavam nitidamente um som do lado da praia. Um grito de advertência: e todos os pássaros lançaram-se ao ar, como uma grande nuvem branco-prateada, ainda antes que o homem, que havia ocasionado esse voo impetuoso, pudesse ser avistado.
Agora ele contornava o recife. Era um grande e distinto homem de pele bem clara e cabelos avermelhados e encaracolados, os quais brilhavam como ouro no sol. Na mão forte e branca ele trazia a lança de caçar, que ao mesmo tempo parecia lhe servir como apoio nas peregrinações.
Suas vestes eram nobres. Ele tinha calças longas, em cima mais largas, embaixo estreitas, as quais envolviam a parte de baixo de sua figura, enquanto que a parte superior do corpo estava coberta por uma apertada jaqueta, a qual tinha mangas especialmente largas. Sobre o tecido estavam pintadas figuras coloridas: um grande sol amarelo, alguns círculos vermelhos cortados por pretos.
Abaixo do queixo a jaqueta estava trabalhada em ouro formando colarinho. O adorno trazia no centro uma pedra preciosa, tão azul como os olhos do homem.

Ele pôs-se então de pé, sobre uma pedra abandonada a pouco pelos pássaros e sentia sobre a mesma o calor do sol captado por ela, por meio dos pés descalços.
— “Pai Eterno a Ti agradeço” disse ele em meia voz com o olhar alegre para o céu “por Tu nos enviardes diariamente sempre de novo Tua grande luz para nos vivificar e nos aquecer.”
Protetoramente ele colocou então a mão fazendo sombra nos olhos e olhava distante.. Pequenas e leves nuvens andavam pelo céu azul, uma delas parecia mais clara do que as outras. Rapidamente ela aumentou de tamanho, enquanto que, ao mesmo tempo, parecia se aproximar. O homem aproximou-se ainda mais da beirada da pedra, tudo nele era uma tensa expectativa.
Então era como se a nuvem o envolvesse por um breve momento. Depois disso, ela desaparecera. Ao seu lado, porém, encontrava-se um grande ser luminoso com forma humana.
Ambos cumprimentaram-se, eles pareciam já se conhecerem bem.
— “Seabhac, Habicht” falou o luminoso ao homem que aguardava. “Tu fizestes o certo ao terdes atentado ao meu chamado e vindo até aqui.”
— “Sabes algo de novo para mim, Nuado Silberhand?” perguntou Seabhac ansioso. “Passaram-se algumas luas desde a última vez que eu pude te ver. Eu receei que tu não viesses mais.”
— “Ainda não chegou a hora ser humano para a grande obra que tu deves realizar segundo a vontade do Pai Eterno. Assim também não é necessário que eu te procure mui frequentemente. Tu tens Gobban que vos instrui. Ele também pode relatar a respeito de mim assim que houver algo a comunicar.”
Serena e equilibradamente soava a voz no ouvido interior de Seabhac, desempenhando uma influência aliviadora sobre a impetuosidade. Nuado partiu com passos leves, os quais mal pareciam tocar o solo, indo terra adentro, onde uma belíssima floresta de carvalhos propiciava sombra e quietude.

Com passos rápidos que testemunhavam força humana o homem o seguiu. Ele que era chefe de uma grande tribo de celtas. Ele mantivera o coração e os sentidos puros, assim como lhes haviam sido presenteados outrora pelo Pai Eterno. Por isso, em tudo o que ele realizava, podia se alegrar com a assistência dos elevados servos Dele. Estes lhe eram familiares, bem como os pequenos, que labutavam na floresta, na água e no ar.
Sorrindo Seabhac olhou agora para alguns desses pequenos seres, que se esforçavam zelosamente por seu guia, o luminoso Silberhand, a fim de preparar um local para descanso.
Um aceno de Nuado fez com que eles se retirassem para suas fendas e seus esconderijos, e Seabhac sentou-se sobre o monte de terra chamado pelo povo de Monte dos Elfos. Atentamente ele ouvia o que Nuado tinha para lhe instruir. Ele lhe dizia que o Pai Eterno não mais iria tolerar os sacrifícios humanos.
— “Já desde anos nós apenas sacrificamos presos inimigos”, defendeu-se Seabhac. “É-nos repugnante sacrificar companheiros da tribo sobre o altar.”
— “Então permiti que vossa repugnância cresça ainda mais, de modo que ela também não queira mais sacrificar os inimigos” aconselhou Nuado. “Não agrada ao Pai Eterno essas mortes. Vós não fazeis o certo, querendo averiguar a vontade do Pai Eterno por meio das contrações daquele que está morrendo ou pelo tamanho e pela forma de seu coração. Isto é uma transgressão ao Mandamento do Pai Eterno: Não causai sofrimento a nenhuma criatura. Tu não sabes como podes realmente tomar conhecimento de forma autêntica sobre sua vontade?

Os olhos do ente luminoso penetraram qual raios na alma do interrogado e despertaram lá a resposta: “Em minha alma repousa o saber a respeito dos Mandamentos do Pai Eterno. Se eu ouvir de forma pura e alegre dentro de mim, então eu ouvirei o que Ele espera de mim. Desta forma tu me ensinaste. Assim eu faço sempre que estou em dúvida.”
O homem havia dito isto de forma totalmente simples e natural. lhe Havia se tornado vivência o que Silberhand o havia comunicado outrora.
— “Contudo, ainda parece não te bastar, se tu ainda necessitas de mais confirmações por meio de perguntas a respeito dos sacrifícios” criticou suavemente o ser luminoso.
— “Não sou eu quem interroga a respeito dos sacrifícios, são os druidas que o fazem. Eles dizem que devido à sua dignidade sacerdotal eles têm de agir assim, pois do contrário os homens não mais acreditariam neles.”
— “Seabhac responda: Quem é o príncipe e o chefe em vosso reino, tu ou os druidas?”
— “Ainda sou eu” exclamou o homem e bateu fortemente com a lança no solo macio da floresta, de modo que a enfiou um bom pedaço terra adentro. Ele não percebeu isso. “Ainda sou eu, e eu não quero ver aquele que quiser se voltar contra mim.”
— “Os druidas vão se voltar contra ti, ser humano” instruiu-lhe Silberhand e sua tranquilidade atuou momentaneamente sobre o chefe. “Se tu deixar eles procederem e imperarem como eles quiserem, então isto é uma prova que tu obedeces mais a eles do que ao Pai Eterno. Então o Pai Eterno retirará Sua poderosa mão de ti. E depois os druidas tornar-se-ão os senhores do reino Celta e não apenas sobre o teu.”
Seabhac ficou fortemente assustado. Ele sabia que o que Nuado dizia era a mais pura Verdade oriunda do Pai Eterno.

(continua)

Texto da série especial denominada: Escritos Valiosos