quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Superar Desafios de Salvamento





Superar Desafios de Salvamento   

por Charlotte Von Troeltsch e Susanne Schwartzkopf

Sinopse de Fatos Transcorridos: Das altas montanhas nevadas com a decisão desde criança de servir o Altíssimo, ainda peregrinava o jovem Miang, na ordem de sua formação inicial concluída, tendo após elevação de ensino como aluno de Fong, que depois provou ser também um príncipe com a difícil tarefa de comandar seu reino sem mais poder ensiná-lo, estando mesmo assim a ditar-lhe ordens; pelas quais na missão de mensageiro, permanecia entre autênticas aventuras vividas em suas súbitas viagens para lugares estranhos, em cujas situações inesperadas ele também encontrou e conviveu durante algum tempo o seu terceiro mestre (Huang), tendo a vantagem de aprender com ele, a preciosa Arte do Silêncio, até o momento certo de deixá-lo, em seguindo seu caminho...

Alegremente caminhava Miang naquela bela manhã, disposto a servir e a ajudar.
Miang tinha alcançado uma nova etapa de sua vida, isso ele sentia nitidamente. Qual um botão de uma flor, que rompe os seus invólucros protetores, estava seu espírito prestes a desabrochar completamente. Os ensinamentos do sábio Huang foram o sol da primavera, que fez com que os invólucros se rompessem. Miang nunca havia se sentido tão leve como agora, quando descia as encostas íngremes da cordilheira, em direção ao sul. Novamente a vida estendia-se diante dele como um enigma não solucionado. O que esta lhe reservaria para o futuro?
Desta vez, não tardou muito até encontrar seres humanos. Eram pastores outra vez, porém, vestidos de modo diferente dos até agora conhecidos, e seu idioma já se diferenciava do da tribo amarela e dos Waringis. Os sons soavam mais suavemente, porém ainda era possível uma boa comunicação. Amavelmente eles ofereceram a Miang pão, leite talhado de égua e queijo que, agradecido, aceitou o alimento. Teve dificuldade de conversar com as amáveis pessoas por longo tempo. Estava demasiadamente desacostumado de falar. Mas eles também não o exigiam, respeitosamente observavam o jovem, cujos olhos claros testemunhavam o espírito incandescente no seu íntimo. Eles o percebiam, sem mais tecer pensamentos a respeito.
Depois mais e mais desceu Miang cordilheira abaixo, ao encontro de novas vivências. Ele não questionava, não cismava, seguia a voz do seu íntimo, que ainda continuava indicando para o sul. Aos poucos, as encostas se tornavam mais formosas, cobriam-se de arbustos floridos. As montanhas ficavam mais baixas, em compensação, o capim era mais suculento e abundante, para os rebanhos mais numerosos. Satisfeitas pareciam as pessoas que moravam aqui, em povoados fixos, com casas com telhados planos, que se acomodavam, de preferência, nas fendas da cordilheira. Ainda mais estranhos soaram as palavras de seu idioma ao ouvido de Miang, mas inconscientemente acostumava-se aos novos sons e não teve dificuldade de se fazer entender. Solicitamente as pessoas ofereciam provisões ao viajante calado, quando chegava a eles silenciosamente. Através de esse caminhar em silêncio, Miang absorveu muitas coisas em sua alma. Eram vivências totalmente novas, as quais ainda não conseguiam expressar em palavras, mas que mais tarde lhe seriam de grande valia.

Certo dia, ao entardecer, chegou a uma povoação maior, na qual havia grande agitação. Muita gente estava aglomerada e discutiam aos gritos. Apontavam em direção ao oeste, sem Miang conseguir compreender o motivo dessa agitação. Calado, ficou parado nas proximidades da aglomeração de pessoas. Nesse instante, uma mulher com uma criança no colo distanciou-se da multidão. Soluçando fortemente, ela ia passando por Miang, sem o perceber. Aí, seguindo a um sentimento irresistível, ele colocou sua mão direita levemente sobre o braço dela, e algo tão dominador estava nesse movimento calmo, que a mulher involuntariamente parou, levantando seu olhar cheio de lágrimas para Miang.
“Qual é a tua dor, irmã?” perguntou Miang, e seu olhar tranqüilo pousou qual bálsamo sobre sua alma.
Soluçando, a mulher respondeu: “Eles querem me tirar o meu filho, dizem que era impuro e traria desgraça a todos nós. Mas eu não o entrego, certamente que não. Prefiro que me matem!”
“Acalma-te,” disse Miang com voz sonora. “Ninguém pode tirar-te o teu filho, que o Altíssimo te deu de presente, para que faças dele um ser humano.”
Ao ouvir essas palavras, a mulher começou a soluçar mais fortemente e a criança, um menino de aproximadamente três anos, que até então havia escondido seu rosto no pescoço da mãe, virou-se para Miang. Este assustou-se profundamente, pois nos olhos da criança estava o olhar indomado de uma fera. Nunca havia visto algo semelhante.

“O que há com teu filho?” perguntou suavemente e a mulher relatou:
“Hun-fu era uma criança querida, sempre calma, até há pouco. Ele obedecia de bom grado e era a minha única alegria, pois sou viúva. Meu marido despencou nas rochas e ficou lá embaixo destroçado, quando quis salvar um animal perdido. A partir daquele dia Hun-fu modificou-se. Ficou doente de susto, pois presenciou quando trouxeram o cadáver despedaçado de seu pai para casa. Ele caiu em convulsões e, quando acordou, mordia e arranhava a quem queria aproximar-se dele. Os outros dizem, agora, que um espírito mau entrou nele, e que sua alma havia seguido o pai para o reino intermediário. Eu, porém, amo meu filho e não quero perdê-lo.”
E afetuosamente apertou o menino em seus braços. Este, no entanto, ficou inquieto. Parecia como se não suportasse a proximidade de Miang. Ele quis se desvencilhar da mãe e bateu nela, quando esta não quis soltá-lo. Miang, entretanto, viu algo que ainda nunca havia visto antes. Ele viu a alma tímida e medrosa da criança, mal animada pela vida, empurrada para o lado por uma sombra escura, que deitou em cima dela e a privava da respiração. E a sombra escura golpeava em sua direção e gritava-lhe palavras más e ignominiosas, das quais a mãe se assustava.
“Deixe-nos ir,” pediu ela, mas Miang abanou a cabeça.
“Eu quero ajudar a ti e ao teu filho,” disse ele e, fixando bem a criança, obrigou a sombra escura a dobrar-se diante de sua vontade. Reunindo toda a força de sua alma, Miang levantou os braços e rogou:
“Altíssimo, olha do alto por nós! Veja esta pobre criança, à qual se aproximou o demônio! Livra-a de sua carga.”

Fervorosamente rezava Miang, e como fascinados escutavam as pessoas circundantes que haviam se aproximado. E quando Miang rezava, o espírito mau dentro do menino gritava e queria defender-se. Miang, porém, colocou sua mão sobre a cabeça do menino. Força do alto atravessava-o ardentemente e transmitia-se à criança. Com um grito de raiva o trevoso soltou a sua vítima e a criança caiu, sem sentidos, nos braços da mãe.
“Ele irá curar-se,” disse Miang com voz sonante e tão grande era a força que partia dele, que ninguém se atreveu a contestar.
“Deixa dormir o teu filho por longo tempo,” disse à mãe. “Depois ele será te presenteado de novo. Mas depois o protege de tudo o que é mau, para que este não torne a apoderar-se dele.
Profundamente emocionada, a mulher afastou-se em direção à sua casa. De Miang, no entanto, aproximou-se um homen e perguntou: “Forasteiro, quem és tu? E o que fazes aqui em nosso povoado?”
Miang dirigiu seu olhar claro para o interrogador.
“Tu também necessitas de ajuda, porque assim me perguntas?
“Certamente, deves ser um sábio, pois adivinhas os meus pensamentos,” respondeu o homem, admirado. “Em casa está a minha esposa, doente há semanas, não reconhece ninguém e recusa todo tipo de alimento. Ninguém conseguiu ajudá-la. Permitas-me de pedir a tua ajuda?”

Confiança estava nas palavras do pedinte e Miang soube que aqui aparecia uma nova oportunidade para atuar. Solicitamente acompanhou o homem que seguia feliz na sua frente, até uma choupana pobre, localizada um pouco afastada. No seu interior estava abafado. O ar no ambiente revelava a presença de uma pessoa muito doente. Miang aproximou-se. Inquieta, remexia-se uma mulher, relativamente jovem, em seu leito. Seus lábios murmuravam palavras incompreensíveis. Silenciosamente o homem chegou perto dela e dirigiu-lhe a palavra. Ela parecia não ouvi-lo. O olhar de seus olhos arregalados era vago. Parecia que enxergava algo a grande distância, do que seu olhar não conseguia desvencilhar-se e que preenchia-a de terror.
Miang recolheu o seu íntimo em prece fervorosa. Depois pegou uma das mãos irrequietas na sua e segurou-a com calma. Imediatamente sossegaram-se os movimentos  estremecidos do corpo, que feliz o homem constatou-o. Mal ousava respirar. Fixamente fitava Miang. O que ele faria agora? Miang fechou os olhos, enquanto segurava a mão da mulher na sua. Silenciosamente pedia força para poder ajudar essa alma e livrá-la de seu sofrimento. Insurgiam quadros aos olhos internos de Miang. Ele via a mulher, como moça jovem vivaz, no círculo de seus irmãos. Ela parecia ser uma das mais alegres. Ele a via no próprio lar, ao lado de seu esposo, feliz e satisfeita. Então uma sombra apoderou-se dela. A ela se agarrava. Com um grito ela caiu pela mão escura a apertar sua garganta, que mal podia respirar.

Miang voltou-se para o homem: “O que aconteceu no dia em que a tua mulher adoeceu?” perguntou severamente.
O homem ficou constrangido.
“Eu não me lembro mais, já faz muito tempo, senhor.”
“Lembra-te, caso contrário tua mulher morrerá,” exigiu Miang.
O homem começou a tremer. Abaixou os olhos. Os minutos passavam, até que o silêncio tornou-se opressivo. Gemendo a doente virava-se de um lado para o outro.
“Fala!” ordenou Miang novamente. “Olha para ela, o corpo não vai agüentar por muito tempo.”
Hesitante, o homem contou: “Ó grande sábio, que tudo vê, eu quero contar-te o que também pesa no meu coração desde aquele dia infausto conforme o que ainda não confiei a ninguém.
Hu-na, minha mulher, esteve cedo no templo, para levar uma oferenda. Ela queria rogar novamente para que nos fosse presenteado um filho, pois ainda estamos sem filhos e essa amargura atormentava diariamente. Era nosso maior desejo e, muitas vezes, já fizemos oferendas para isso, sempre em vão.
“Devemos fazer uma oferenda maior,” disse Hu-na para mim. “Não é suficiente que eu leve frutas e flores para lá. Deve ser alguma coisa viva, se quisermos ser presenteados com um filho vivo.” Mas de onde iríamos tirar um sacrifício? Somos pobres, como vês, ó sábio, e possuímos somente o necessário. Hu-na, porém, não sossegava. Dia e noite torturava-me com o desejo, de ter que fazer um sacrifício de sangue. Finalmente eu prometi e até  consegui um. Furtivamente entrei na propriedade do meu vizinho e roubei uma ovelha e levei-a para minha esposa. Ela ficou muito feliz e, juntos a levamos até o templo, para sacrificá-la. O sacerdote matou-a e nos prometeu que o nosso desejo seria realizado. Porém, esperamos em vão, e Hu-na continuava sem filhos. Como uma doença isso roeu a sua alma. Onde avistava mães com crianças pequenas, ela tinha que desviar os olhos. Ela começou a invejar outras mulheres mais felizes, pela sua sorte. Dia e noite não pensou em outra coisa além de que maneira poderia conseguir um filho.
“E então veio o dia infeliz, o homem hesitou, como se não pudesse continuar a falar. Mas Miang não tirou os olhos dele.

“Minha mulher havia me deixado, por não ter aguentado mais. Quando acordei, seu leito estava vazio. Pressenti algo de ruim. Rapidamente a procurei em todo lugar, mas não pude encontrar uma pista dela. Fui até a frente da casa, mas lá também não encontrei nada que pudesse indicar para onde poderia ter-se dirigido. Aí me lembrei que, ultimamente, olhara muitas vezes para a encosta íngreme, ao lado do nosso vale e muitas vezes mencionara: “Quem lá se jogasse dos altos rochedos, este encontraria a sua paz.” Aí eu supus onde deveria procurá-la e corri atrás dela. Ela já estava muito longe e eu tive que me esforçar ao máximo para aproximar-me dela.
Sem fôlego eu subia, reunindo todas as forças e, quando o caminho estreito dobrava num bloco de rocha, vi minha mulher diante de mim, que ainda corria, sem se virar, sempre mais para o alto, como se um poder invisível a impelisse para o cume mais elevado.
Pressionando firmemente contra si, levava ela uma trouxa. Eu não podia reconhecer o que era que ela estava levando.

(continua)

Trecho extraído do livro: Miang Fong, como relato sobre a vida do grande Portador da Verdade, que libertou o Tibete das trevas.

NARRATIVAS DESDE O INÍCIO PELO ÍNDICE (POR DATA) 

No próprio título encerram em síntese os acontecimentos anteriores:

O Menino e os Gigantes – 04/09/16
Os Gigantes Moram ao Lado – 16/09/16
Adeus aos Gigantes – 23/09/16
O Primeiro Mestre – 29/09/16
Pela Nova Busca... – 07/10/16
Servir o Altíssimo Como Serviçal – 13/10/16
Decisão nas Alturas – 20/10/16
A Graça Vinda do Trabalho – 26/10/16
No Momento certo se esclarece – 03/11/16
Surpresa e Renovação Imediata – 10/11/16
É Só Deixar-se Conduzir – 17/11/16
Quem Procura Encontra – 24/11/16
Graça Vinda do Altíssimo – 01/12/16
Servir Com Sensação de Alegria – 08/12/16
Com a Bolsa Vazia – 15/12/16
Outro Caminho a Seguir – 22/12/16
Por Confiança no Senhor – 28/12/16
Do Tirano ao Paciente – 04/01/17