quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Por Confiança no Senhor





Por Confiança no Senhor   

por Charlotte Von Troeltsch e Susanne Schwartzkopf

Sinopse de Fatos Transcorridos: Vindo de origem das altas montanhas nevadas por decisão de servir o Altíssimo, ainda buscava o jovem Miang, que após estudo com seu primeiro mestre, se tornou aluno de Fong, o qual em seguida provou ser um príncipe na difícil situação de defender seu reino sem mais poder ensiná-lo, ainda ministrava ordens também para o seu antigo pupilo; obediente, servia-lhe de mensageiro, se encontrando agora numa súbita missão, enquanto viajava rodeado de assaltantes de percurso...

“Quem te envia?” foi a próxima pergunta, à qual Miang respondeu com toda a calma: “Meu Senhor.”
“E quem é o teu senhor?”
Com estalo o chicote de couro batia nas altas botas, bem próximo a Miang.
“O Altíssimo,” foi a breve resposta de Miang.
Ao ouvirem esta resposta todos caíram em altas gargalhadas.
Miang, porém, permaneceu bem calmo.
“Tu até pareces como se tivesses um senhor elevado, rapaz,” riu o líder ironicamente, tendo bem visto que não havia nada para roubar de Miang, gritou: “Levem-no conosco.”
Rapidamente ataram os pulsos de Miang com tiras de couro sem ele se defender. Um cavaleiro colocou-o na garupa de seu cavalo que, por bem ou por mal, Miang teria de acompanhá-los. Não tinha a menor ideia do que iria acontecer com ele, contudo confiava firmemente na proteção do Altíssimo.
Em galope desenfreado seguia o bando todo, que parecia conhecer cada palmo do chão. Eles praticamente voavam no chão plano, desviando depois para um desfiladeiro estreito, que aparentemente levava somente a um amontoado de rochas para dar, então, uma volta fechada ao redor de uma delas mais saliente.
Admirado, Miang avistou um amplo vale, onde pastavam grandes rebanhos. Aqui e acolá havia tendas sujas. Uma delas que, sendo um pouco maior e originalmente mais ornamentada, parecia ser a do líder. Ao menos ele desapareceu nela e não mais voltou.
Miang foi levado a uma tenda mais afastada e lá pôde sentar-se. Soltaram-lhe as amarras e não mais se importaram com ele. Pelo visto, consideravam-no insignificante demais, para dedicarem-se com isso. Pensativo, Miang observou em seus arredores. Aquilo estava ainda pior do que na tenda de Hisor. Isso, porém, não o oprimiu muito. Ele sabia que devia cumprir uma missão, e somente isso importava.
“Toma!” gritou uma voz rude e grossas mãos de homem aproximaram um pedaço de carne e pedaço de pão para Miang.
Miang levantou o olhar. Apesar do embrutecimento exterior, havia algo de bondoso nos olhos da selvagem figura.
“Eu te agradeço, amigo,” disse Miang. O outro abanou a cabeça. “Eu não sou teu amigo, mas deves estar com fome. Permaneça aqui, até que sejas chamado.”

Com isso deixou a tenda, e Miang ficou entregue a si próprio. Seus pensamentos peregrinavam para longe, em procurando Fong. O que este diria se pudesse vê-lo naquele ambiente, como prisioneiro, entre ladrões? Miang teve que rir levemente. Assim Fong certamente não havia imaginado pelo destino de sua caminhada!
Nesse instante abriu-se rapidamente a entrada da tenda, o “amigo” involutário de Miang apareceu novamente ordenando que o acompanhasse. Miang chamou pouca atenção enquanto passavam por entre as fileiras de tendas. Certamente ocorria frequentemente que presos fossem trazidos para cobrança de resgate.
Miang encontrava-se novamente diante do líder, que ainda segurava o chicote de couro na mão direita. Ele examinou Miang minuciosamente, parecendo, porém, não ter chegado a uma conclusão sobre a sua pessoa.
“Qual é a finalidade de tua viagem?” perguntou repentinamente.
Miang hesitou por um momento. O que deveria dizer a esse homem? Ele não o compreenderia. Aí pareceu como que a resposta lhe fosse colocada na ponta da língua e sem  precisar refletir, Miang deu como resposta: “Eu procuro pessoas.”
“Tu procuras pessoas?” repetiu o líder admirado.
 “E como queres encontrá-las aqui nas montanhas? E por que as procuras?”
“Eu as procuro para trazer-lhes tesouros.”
Avidamente brilharam os olhos do ladrão. Miang não tinha a aparência de alguém que carregasse tesouros consigo, falava, porém, tão firmemente, que o ladrão animado o intimou: “Entrega-me os teus tesouros!”
“Isso eu não posso,” foi a resposta de Miang.
“E por que não?” irritou-se o outro.
“Porque são visíveis somente a pessoas com mãos limpas.”
Miang o disse solenemente.
Perplexo, o ladrão olhou-o fixamente e depois involuntariamente para suas mãos.
“Isto eu não compreendo,” disse ele.
“Não, isto tu não podes compreender, pois as tuas mãos não estão limpas. Sujaste-as com roubo e furto.”
Destemido, Miang proferiu essas palavras graves, o ladrão parecia não se incomodar com isso.
“Eu gosto dessa vida,” disse impassível. “Eu estou bem, nós buscamos aquilo que precisamos.”
“E tornam outras pessoas pobres e infelizes,” prosseguiu Miang. “E se viesse uma tribo ainda mais forte e despojasse-os da mesma maneira? Como seria isso?”
“Pah,” disse o ladrão e cuspiu desdenhosamente no chão,
“Não existe ninguém que seja mais forte do que eu.”
“Estás enganado,” disse Miang e ergueu-se. “Sim, existe alguém mais forte do que tu, diante do qual tu não és mais do que um grão de areia sob seus pés!”

Surpreso, o ladrão encarou Miang.
“Nunca encontrei ninguém mais poderoso do que eu,” tentava convencer Miang, mas este não se deixava calar.
“Tão verdadeiro como o sol se encontra no céu, tão certo a existência de Um, que é Senhor sobre nós todos, ao qual devemos obediência! Quem se rebela contra Ele, a este Ele poderá destruir!”
Havia algo na postura e nas palavras de Miang, que não deixava de impressionar também este coração endurecido. Ele abaixou o olhar diante dos olhos brilhantes de Miang e disse quase tímido: “E tu conheces este grande Senhor?”
“Sim, eu O conheço e sou Seu servo, assim como, Seu emissário! Ele enviou-me até aqui, para advertir-te! Afasta-te do teu erro, senão acabarás mal!”
O ladrão pulou do assento e levantou o chicote. “O que te atreves, forasteiro? Eu vou te mostrar que ninguém manda em mim!”
O chicote baixou zunindo, mas Miang desviou habilmente e o braço do ladrão caiu para o lado. Ele mesmo não sabia o que lhe devia acontecer.
“Tu não podes me fazer mal, se o meu Senhor não o permitir”, disse Miang calmamente.
O ladrão quis avançar sobre ele, mas o seu pé enroscou-se no tapete que estava estendido no chão, tombando no lance pesadamente. Parecia que estava ferido, pois não levantou logo. Miang ajudou-o a se erguer. Constatou-se, então, que não podia firmar o pé direito no chão, devia estar fraturado.
“Reconheces agora o poder do meu Senhor?” perguntou Miang.
 O ladrão olhou fixamente para ele, coisa igual nunca havia vivenciado.
“O que queres dizer com isso?” balbuciou ele. Não era capaz de formular um pensamento claro. Miang logo aproveitou a ocasião.
“Eu quero dizer que o Senhor poderoso, de quem eu falei e que é o meu Senhor, mostrou a ti que Ele me protege,” disse.
O ladrão não sabia o que responder. Miang, porém, prosseguiu:
“Se tivesse sido a vontade do Altíssimo, então Ele também poderia ter te matado. No entanto, não é Sua intenção matar pessoas.
Ele quer melhorá-las, torná-las pessoas melhores, às quais é permitido viver nesta Terra em alegria e felicidade. Podes entender isso?”
Estupidamente o ladrão olhou para Miang. Tudo aconteceu muito rapidamente, ele não conseguia assimilar as palavras de Miang. Miang percebeu que, primeiramente deveria ajudar de outra forma. Ele chamou por auxílio e alguns homens levantaram o seu líder e colocam-no sobre um leito de peles macias e cobertores, rapidamente preparado. Ele gemia de dor.
“Chamem o médico!” ordenou Miang aos homens perplexos. “O pé está fraturado, algo deve ser providenciado imediatamente.”
 Um dos homens saiu e, após instantes, voltou com um ancião de barba grisalha, que cuidadosamente examinou o pé e depois, com habilidade, endireitou o osso fraturado. O enfermo soltou um grito de dor, mas silenciou em seguida. O pé foi entalado com um sarrafo de madeira e depois enfaixado. Até então tudo estava em ordem. O que deveria acontecer agora? Por longo tempo Huda, o líder, não poderia subir num cavalo. Quem deveria liderar a tribo em seu lugar? Olhares interrogativos dirigiam-se ao enfermo, este, no entanto, parecia não estar disposto a dar uma resposta.
“Deixem-me sozinho com este aí!” ordenou e indicou com o dedo indicador preto-marrom para Miang.

Os outros obedeceram, mesmo que visivelmente contrariados. O respeito por Huda não parecia ser demasiado. Miang, porém ficou calado, ele podia esperar. Por longo tempo houve silêncio na tenda, até que Huda finalmente decidiu quebrá-lo e dar início à conversa.
“O que disseste há pouco de um grande Senhor?” indagou.
“Como O chamaste?”
Miang alegrou-se sobre esta pergunta, e respondeu solicitamente.
“Seu nome é “o Altíssimo,” porque Ele é mais elevado e mais sublime do que todos os príncipes da Terra. A Ele eu sirvo e Ele te mostrou como pode proteger os Seus servos. Estás, assim deitado aqui sem forças no teu leito, incapaz de levantar-te e a dar um passo sequer. Sentes agora o Seu poder?”
Huda silenciou novamente. Longo tempo considerou sobre a pergunta de Miang.
Depois disse inesperadamente: “Então eu também quero ser Seu servo!”
“Tu acreditas que então estarias também protegido de todos os perigos, e dessa proteção também gostarias de assegurar-te?”
Huda acenou. Isso parecia ser muito simples. Se existia Um mais forte do que ele, o rude ladrão, então o melhor seria tornar-se servo desse mais forte. Miang leu os seus pensamentos na testa.
“Acreditas tu, que ao Altíssimo interessam servos, que Dele somente desejam exigir algo? O que tu dás a Ele para que Ele te proteja?”
Isso era algo totalmente novo para Huda, que até agora sempre somente tinha exigido e tomado, nunca dado alguma coisa.
“Se devo alguma coisa a Ele, então me diga o que devo pagar,” disse ele, e com isso novamente tudo parecia esclarecido. Uma proteção tão forte resultaria para ele também em tesouros maiores, portanto, ele bem que poderia prometer em ceder algo dos mesmos.
Mas Miang novamente deu uma resposta bem inesperada.
“O Altíssimo não quer tesouros de seus servos, exige algo diferente do que um pagamento em troca!”
“E o que isso seria?” perguntou Huda ansiosamente.
“Ele exige deles obediência e fidelidade” disse Miang enfaticamente. Obediência e fidelidade – estes eram conceitos do quais Huda não havia tomado conhecimento em toda a sua vida.
“Mas o que Ele ordena?” perguntou desconfiado.
Certamente era de ponderar se devia colocar-se sob a proteção desse poderoso. Mas a dor no seu pé lembrou-o novamente do acontecido.
“Ele ordena que os homens devam ajudar-se mutuamente e não prejudicar-se reciprocamente. Ele ordena a paz e não o roubo! Pois todas as pessoas são Suas criaturas, também tu, Huda! E eles devem viver em paz e ajudar-se mutuamente.”
Isso não era do agrado de Huda. Onde ficaria então a sua vantagem? Mas queria continuar ouvindo.

“Conte-me mais do Altíssimo,” pediu ele e, de muito bom grado, fez Miang o que lhe foi solicitado. Ele descreveu Deus como o Altíssimo, que tudo criou e a quem tudo pertencia. Ele falou de seus servos, dos gigantes e dos pequenos na montanha e no vale, na água e no fogo, e Huda escutou, sem perguntar. Seus olhos sempre mais se arregalavam e, como numa criança, estavam fixos nos lábios de Miang.
“Por hoje chega,” disse Miang finalmente. “Deves descansar agora. Amanhã voltarei a narrar-te.”
Huda concordou, tinham sido muitas as novidades, e não demorou muito e ele estava dormindo sossegado no seu leito.
Porém, no lado de fora havia visível agitação entre os seus súditos. Os homens discutiam gesticulando muito. Provavelmente brigavam para decidir quem agora iria liderar no lugar de Huda. Um homem de aparência rude subiu numa pedra alta e gritou para a multidão:
“Sigam-me, eu sei um local onde se encontra pastagem gorda e onde poderemos ficar em segurança, até que tivermos espreitado para onde devemos nos dirigir com a nossa próxima pilhagem.”
Alguns gritaram aplaudindo, muitos, porém, distanciaram-se dele, o impaciente devolveu-lhes a razão. Eles queriam aguardar o que Huda iria determinar.

(continua)

Trecho extraído do livro: Miang Fong, como relato sobre a vida do grande Portador da Verdade, que libertou o Tibete das trevas.

NARRATIVAS DESDE O INÍCIO PELO ÍNDICE (POR DATA) 

No próprio título encerram em síntese os acontecimentos anteriores:

O Menino e os Gigantes – 04/09/16
Os Gigantes Moram ao Lado – 16/09/16
Adeus aos Gigantes – 23/09/16
O Primeiro Mestre – 29/09/16
Pela Nova Busca... – 07/10/16
Servir o Altíssimo Como Serviçal – 13/10/16
Decisão nas Alturas – 20/10/16
A Graça Vinda do Trabalho – 26/10/16
No Momento certo se esclarece – 03/11/16
Surpresa e Renovação Imediata – 10/11/16
É Só Deixar-se Conduzir – 17/11/16
Quem Procura Encontra – 24/11/16
Graça Vinda do Altíssimo – 01/12/16
Servir Com Sensação de Alegria – 08/12/16
Com a Bolsa Vazia – 15/12/16
Outro Caminho a Seguir – 22/12/16