quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

O Alcance das Elevações







O Alcance das Elevações  

por Charlotte Von Troeltsch e Susanne Schwartzkopf

Sinopse de Fatos Transcorridos: Na decisão desde a infância de servir o Altíssimo, ainda contida do jovem Miang, após ter seu avanço no estudo inicial concluído, conseguiu em seguida se tornar aluno de Fong, que depois como príncipe afastado voltara com a difícil missão de dirigir seu reino sem mais poder ensiná-lo, mantendo, entretanto sua vontade dando-lhe ordens como seu mantido mestre; pelas quais na tarefa de mensageiro, empreendia sempre novas viagens com aventuras, em cuja uma delas, encontrou para se instruir por um longo tempo o seu terceiro mestre (Huang), estando na situação atual de socorrer pessoas comuns do cotidiano...

A missão de Miang nessa localidade parecia terminada, somente uma coisa ainda o ocupava muito: a crença da volta ao “reino intermediário”. Ele pediu clareza ao seu amigo luminoso sobre estas questões e ela também foi lhe dada.
Foi lhe permitido ver o caminho seguido pela alma de Hung, que estava partindo, quando esta pôde deixar seu corpo. Não podia afastar-se muito de seu invólucro antigo. Muitos fios resistentes, densos, ainda a deixavam presa a ele, pois os olhos da alma estavam direcionados para a matéria e para o retorno à Terra. Finalmente, ficaram mais fracos e caíram secos, pois a alma começou a observar o seu novo ambiente. Um grande número de figuras e formas a cercavam. De início, não conseguia orientar-se. Esse, portanto, deveria ser o “reino intermediário”! Porém, se era apenas um “reino intermediário”, situado entre dois reinos, dos quais um deveria ser a Terra, onde então estava o segundo?
Quando Miang chegou a essa ponderação, abriu-se uma fenda no “céu” que cobria o reino intermediário, e ele avistou muito distante desse mundo, uma luz brilhante e maravilhosos jardins, nos quais seres humanos felizes estavam atuando diligentemente. O coração de Miang jubilava. Esses luminosos jardins pareciam-lhe familiares, nestes deveriam ser o destino de muitas almas humanas que vagavam e procuravam no reino intermediário, sem saber o que realmente lhes faltava.
“Olhem para cima!” tentou Miang gritar para elas, mas ninguém o escutava. Quais formigas, que entram em seu formigueiro e dele saem novamente, assim pareciam a Miang as numerosas almas, que lá se detinham sem poderem prosseguir. De tempos em tempos desaparecia uma alma e Miang podia ver como ela retornava à Terra e lá iniciava uma nova vida. Mas o que adiantava a nova vida, se ela não chegasse a novos reconhecimentos? Deveria continuar um constante perambular entre a Terra e o reino intermediário? Qual seria o sentido disso?

Tristeza queria apoderar-se de Miang, sobre a inutilidade de tal vida humana, mas depois ponderou: “Para isso o Altíssimo enviou-me aos seres humanos, para que eu lhes mostre aonde deve levar a sua caminhada, sem que sejam retidos no reino intermediário, em continuando, ascendendo para os jardins eternos.”
Cinzento e turvo parecia tudo no reino do meio, nas alturas, porém, havia luz clara, beleza e alegria. Quem chegasse lá em cima, este certamente não precisaria retornar à Terra, este teria encontrado sua meta e poderia ser um servo do Altíssimo em felicidade e alegria. Miang estava agradecido pelo novo saber. Agora poderia ajudar aos homens ainda melhor, poderia adverti-los, para que não se prendessem à Terra, e mostrar-lhes o caminho para os jardins celestes.
Animado, retomou novamente a sua caminhada, que o levava ainda mais para o sul. O solo tornava-se cada vez mais fértil, a colheita era mais abundante, as árvores estavam carregadas de frutos doces. Que seres humanos felizes deviam morar neste paraíso! Ao passar, Miang os observava mais atentamente. Estavam vestidos mais ricamente e mais bonitos, portavam a cabeça mais erguida do que os pobres pastores no alto das montanhas e suas moradias demonstravam riqueza. Entretanto, eram eles também mais felizes? Com toda essa beleza que os cercava, deveria pairar sobre eles um brilho como o do sol. Mas nada disso se via. Ao contrário, aborrecidos olhavam por sobre todo esse esplendor que parecia não alegrá-los. Qual seria o motivo?
Miang aproximou-se de um pequeno templo, para o qual afluíam pessoas com grinaldas de flores nos cabelos e nas mãos. Entrou junto com elas. O ambiente era despojado e feio. Somente no fundo alguns degraus conduziam para um pedestal, entronado por uma imagem horrível. Era, em traços grosseiros, uma espécie de figura feminina, pintada toscamente. Diante dessa figura as pessoas colocavam suas flores, ajoelhavam-se e murmuravam algumas palavras, que deveriam formar uma oração. Depois se levantavam com fisionomias impassíveis e deixavam novamente o templo. Miang assustou-se profundamente. Isto seria um templo, um local de adoração? Como isso era possível? Para ele seria impossível orar neste ambiente. Sufocante era a opressão de muitas figuras grotescas, que estavam penduradas nas paredes e que também se prendiam nas pessoas presentes no templo.

Agora descobriu, atrás do ídolo, uma figura que lhe passara despercebida na turva penumbra do templo. Estava aí, imóvel, com os braços levantados. Parecia que toda vida tinha se evadido dela. Cheias de veneração, olhavam as pessoas para essa figura petrificada. Parecia-lhes algo magnífico, poder “rezar” dessa forma. Miang, porém, viu que a alma desse homem estava tão enrijecida quanto o seu corpo, que não havia mais vida nela e ele se horrorizou. O que poderia ser feito aqui?
Miang não conseguia desviar seu olhar dessa figura petrificada e parecia que o seu olhar ia perpassando a armadura dessa alma sem vida. O sacerdote começou a movimentar-se e, contrariado, voltou-se para Miang, deixou cair os braços e atravessou-o, por sua vez, com seu olhar. Era uma luta entre alma e alma, na qual o sacerdote foi vencido. Ele baixou os olhos e, aborrecido, deixou o templo por uma entrada na parede dos fundos.
Um homem aproximou-se de Miang.
“Tu foste mais forte do que o sacerdote!” sussurrou para Miang e indicou com a cabeça para o templo.
 Miang estava um pouco desconcertado.
“O que queres dizer com isso, amigo?” perguntou ele, para ganhar tempo.
“Ora, tu o expulsaste, tua força era maior. Isto ainda ninguém havia conseguido. Posso acompanhar-te por um trecho?”
Miang olhou o homem mais detalhadamente. Havia uma súplica em seus olhos, que exortou Miang a concordar. O homem conduziu-o, através de ruelas mais calmas, até uma casa situada num jardim grande.
“Entre em minha casa!” convidou a Miang e este aceitou. Ele ainda não sabia o que o aguardava lá, mas parecia-lhe correto atender o convite. Sentaram-se num aposento fresco, sombreado e, hesitante, o acompanhante de Miang começou a falar: “Eu te observava hoje no templo, ó forasteiro! Tu parecias ser diferente das pessoas daqui, diferente, principalmente, do sacerdote e tu não tinhas medo dele. Eu gostei disso, pois eu também não posso curvar-me diante do que os sacerdotes exigem de nós. E, principalmente, eles não conseguem me dar respostas às minhas perguntas.”
O homem fez uma pausa. Ele não sabia como fazer com que Miang percebesse qual era a sua ansiedade íntima. Miang, no entanto, viu o espírito atado que lutava para libertar-se e um desejo fervoroso de assisti-lo acordou logo em seu íntimo.
“O que te oprime, amigo?” perguntou cordialmente, e parece que essas palavras soltaram a língua do outro. Ele externou a ansiedade de seu coração com as palavras:

“Todos os dias eu vou ao templo, procuro rezar, trago minhas oferendas e ainda sempre volto com o coração vazio. O sacerdote está mudo, não me dá respostas, é assim também a divindade – será que não há ninguém que possa me dar respostas? Eu sou somente um pequeno homem, eu não posso ajudar a mim mesmo, eu necessito de alguém mais forte para me conduzir. Mas onde está esse tal mais forte? Por toda a minha vida eu o procurei, mas ninguém pôde mostrá-lo. Agora vieste tu hoje e foste mais forte que o sacerdote, eu o vi bem. Agora te peço: ajuda-me!”
Essas palavras continham um pedido tão suplicante, que Miang soube: lá ele poderia abrir o tesouro de seu saber e dar com mãos cheias.
Ansioso, Ma-tschi assimilava cada uma de suas palavras, não se cansava de escutar e profunda alegria o preenchia. Seus olhos brilhavam, tinha vontade de abraçar Miang. Algo, porém, o reteve. Apesar de sua juventude, pairava uma nobreza sobre Miang, que excluía qualquer intimidade. Por longo tempo os dois conversaram e cada vez mais leve, mais feliz, ficou o coração de Ma-tschi. Ele pediu a Miang para permanecer alguns dias com ele, pois ainda queria convidar amigos para que se deixassem instruir por Miang.
“Eles sentem o mesmo que eu,” disse Ma-tschi, esclarecendo, e Miang ficou satisfeito.
Ma-tschi era um comerciante abastado. Pela primeira vez em sua vida, Miang podia gozar do conforto e da comodidade de um lar rico.
Todos os ambientes eram ricamente ornamentados com tapetes macios, tecidos de seda e vasos preciosos. Beleza cercava-o nesta casa e ele alegrou-se com isso, sem que surgisse nele o desejo de querer possuir algo disso. Também, o que ele, em sua caminhada, poderia fazer com essas coisas belas, mas incômodas? Ao tentar imaginá-lo, Miang teve que sorrir. Não, quanto menos ele possuísse, tanto melhor seria para ele, mais desimpedido ele poderia entregar-se à sua missão.
Era uma noite de outono quente e úmida, em que Miang, Ma-tschi e alguns de seus amigos estavam reunidos na sala à meia luz. Servos tinham acendido um lampião suspenso, de cujas janelas de papel colorido a luz transparecia suavemente.
Ma-tschi foi o primeiro a falar: “Amigos,” disse ele, “vejam aqui o sábio, do qual vos relatei. Ele está disposto a ensinar-nos. Escutemos as suas palavras.”
Todos os olhares dirigiram-se para Miang, que ainda refletia em silêncio. Novamente surgiram imagens diante de sua alma. Ele viu diante de si uma montanha alta, íngreme, em cujo pico brilhava uma luz clara. Espalhava seus raios por sobre todas as encostas até ao vale lá embaixo, onde não se via nenhuma outra luz. Muitas pessoas caminhavam lá embaixo sem rumo. Alguns dirigiam seu olhar interrogativo para o alto, porém, a luz parecia-lhes muito alta e muito distante para que pudessem alcançá-la. Então surgiram de cavernas escuras da montanha, figuras com longos trajes. Carregavam figuras esculpidas diante de si e colocaram-nas sobre pequenas elevações no vale e chamavam as pessoas para junto de si.

“Aproximai-vos,” ouvia-se de sua boca, “ajoelhai-vos e adorai!”
E agitavam incensórios nas mãos, dos quais se elevava densa fumaça cinzenta, que se deitava, entorpecendo, sobre coração e mente das pessoas. Neste atordoamento, muitas ficavam paradas e obedeciam ao que lhes era ordenado e as figuras nas vestimentas longas acendiam pequenas lamparinas e gritavam: “Vejam a luz, a grande luz!”
No entanto, mal iluminava o ambiente próximo às imagens esculpidas e, poucos passos adiante, tudo permanecia no escuro. O coração de Miang estremeceu. Assim acontecia aqui nesta Terra, com estes seres humanos! Eles quase nada sabiam da luz clara, forte e pura no pico da alta montanha, porque fixavam seus olhos somente na Terra e abriam seus ouvidos somente às palavras dos sacerdotes da caverna. Agora Miang sabia o que tinha a fazer e a falar.
“Queridos amigos,” começou, e muita bondade estava contida no tom de suas palavras. “Todos vós sabeis que estais numa caminhada nesta vida. A caminhada já começou com o vosso nascimento e não termina com a vossa morte, pois, quando a vossa alma deixa o corpo terreno, ela ainda não alcançou a sua meta e não terá paz nem sossego até tê-la alcançado.”
Os homens escutavam atentos, familiares lhes soavam essas palavras.
“Vejam este aposento,” continuou Miang. “Lá fora é noite, tudo está no escuro e vós vos esforçais por espalhar um pouco de claridade ao redor de vós, para que não precisais permanecer no escuro. Mas veja como é fraca a vossa luz! Esta mal ilumina suficientemente o ambiente para se distinguir todos os objetos.
Porém, sendo dia e brilhando o sol, podeis enxergar claramente, não somente cada objeto, mas também a sua cor até o mínimo detalhe. Tudo ao redor de vós começa novamente a viver o que antes parecia cercar-vos sem vida. Não é assim?”
Tiveram que concordar com ele, e um homem mais jovem, com vivacidade em sua expressão, exclamou: “Está tão escuro no nosso interior, porque não temos um sol que nos ilumine!”
“No entanto, existe um sol grande, poderoso, luminoso, que pode tornar o vosso interior claro como o dia, desde que vós o deixeis entrar!” continuou Miang radiante. E ele descreveu-lhes a imagem que há pouco lhe foi mostrada. “A grande e clara luz ainda está em cima de nós, ela brilha e irradia para o espaço e ilumina tudo, como o faz o sol no céu. Porém, se escondermo-nos em cavernas escuras ou baixarmos o olhar constantemente para o solo, então não podemos vê-la e ela não nos fará alegres.”
Isto todos compreenderam e Miang continuou a contar-lhes de Deus, o Altíssimo, o Qual, como um grande sol, brilha sobre tudo o que é criado. “Para Ele vós deveis orar, Ele pode ajudar-vos!” exclamou Miang entusiasmado, “não para a figura repugnante no templo, confeccionada por homens!”
Foi Ele que te fez tão forte assim?” queriam saber os homens, aos quais Ma-tschi tinha contado sua vivência no templo.
“Sim!” confessou Miang. “Somente Dele recebi a força e também vós a podeis receber, se a Ele pedirdes.”

Miang encontrou um solo já preparado nos corações desses homens. Somente faltara ainda a mão do semeador, que deitasse as sementes douradas no solo. A semeadura logo brotou e cresceu. Foi um trabalhar e atuar alegre para Miang, mas não devia ficar assim por muito tempo. Pois devido ao seu esclarecimento contraiu a inimizade dos sacerdotes, que temiam perder sua influência sobre as pessoas. Ma-tschi e seus amigos pertenciam aos mais ilustres habitantes da cidade, e eles não guardaram segredo sobre aquilo que vivenciavam. Dessa forma propagou-se rapidamente a notícia do grande sábio e sempre mais pessoas afluíam para ele. Como que acordando de um pesadelo, assim se sentiam as pessoas, quando Miang anunciava Deus. Bem no fundo essas almas ainda não enrijecidas traziam uma saudade, não, um saber do Ser altíssimo, que era o Senhor de todos eles. Um profundo alívio foi sentido por esses seres humanos e os seus templos sombrios, com as horríveis imagens de ídolos, não os atraíam mais. Esvaziavam-se e os sacerdotes espumavam de raiva.
Eles deliberaram entre si e chegaram à conclusão de que Miang devia ser eliminado, como perigo para a fé e pelo seu poder sobre as pessoas.

(continua)


Trecho extraído do livro: Miang Fong, como relato sobre a vida do grande Portador da Verdade, que libertou o Tibete das trevas.

NARRATIVAS DESDE O INÍCIO PELO ÍNDICE (POR DATA) 

No próprio título encerram em síntese os acontecimentos anteriores:

O Menino e os Gigantes – 04/09/16
Os Gigantes Moram ao Lado – 16/09/16
Adeus aos Gigantes – 23/09/16
O Primeiro Mestre – 29/09/16
Pela Nova Busca... – 07/10/16
Servir o Altíssimo Como Serviçal – 13/10/16
Decisão nas Alturas – 20/10/16
A Graça Vinda do Trabalho – 26/10/16
No Momento certo se esclarece – 03/11/16
Surpresa e Renovação Imediata – 10/11/16
É Só Deixar-se Conduzir – 17/11/16
Quem Procura Encontra – 24/11/16
Graça Vinda do Altíssimo – 01/12/16
Servir Com Sensação de Alegria – 08/12/16
Com a Bolsa Vazia – 15/12/16
Outro Caminho a Seguir – 22/12/16
Por Confiança no Senhor – 28/12/16
Do Tirano ao Paciente – 04/01/17
Superar Desafios de Salvamento – 11/01/17
Um Auxílio Redentor – 18/01/17